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domingo, 23 de novembro de 2014

Perdida #45


Santiago não reagiu aos golpes que recebia. Talvez só gostasse de bater em mulheres. E Joe parecia ainda mais transtornado com o fato de ele não revidar. Nunca tinha visto Joe tão furioso daquele jeito. Cheguei a pensar que, se ninguém o impedisse,acabaria matando aquele homem asqueroso.
—Já chega, patrão. Podemos cuidar disso, — pediu Gomes, com um sorriso estranho nos lábios.

Joe pareceu recuperar a sanidade e parou. Sua mão repleta de sangue do miserável.

— Cuide dele, Gomes. — ele disse, soltando a gola da camisa de Santiago, que havia servido como apoio para seus golpes certeiros, depois se levantou do chão. — Cuidem para que ele jamais volte a dar as caras por estas bandas. — os empregados assentiram, vendo a raiva homicida em seus olhos. Nenhum deles parecia estar aborrecido com a tarefa.
— Espere. — pedi. Joe me olhou confuso. — Espere. Não vai matá-lo, vai?

Por mais que eu gostaria de estraçalhar a cara de Santiago se bem que não tinha sobrado muita cara para ser estraçalhada, — Joe fez um ótimo trabalho — não queria ser a culpada da morte de ninguém.
— Demi , é claro que não! — seus olhos se acalmavam gradualmente. E pareceram sinceros quando me respondeu. — Apenas aprenderá a se comportar perante uma dama!

Concordei com a cabeça. Essa era uma lição que Santiago precisava aprender. Os dois empregados grandalhões rapidamente levantaram o infeliz do chão pelo ombro, começaram a levá-lo meio arrastado.

— Espere. — me levantei do sofá. Percebi que ainda tremia muito. Meus joelhos não estavam prontos para me sustentar. Ian me pegou antes que eu caísse. Endireitei-me e, depois de respirar fundo algumas vezes e arrumar o vestido com a dignidade que me sobrara, andei até ficar cara a cara com Santiago.
— Me diga de onde você veio! — ordenei.

Ele não disse nada, nem mesmo me olhou. Talvez não conseguisse focalizar nada com os olhos tão inchados.

— Posso pedir ao Senhor Clarke para ser mais persuasivo. — ameacei. Precisava ter certeza que ele não era a outra pessoa presa no passado.

Santiago engoliu seco, depois falou.

— De um pequeno povoado na divisa do estado.

Assenti lentamente

— E em que ano? Continuei. Senti todos os olhos na sala grudarem em mim.

Não me importei.
Santiago ficou confuso, não me respondeu

— Em que ano? — repeti trincando os dentes.
— Não sei se entendi sua pergunta.

Respirei fundo.

— Você saiu do povoado em que ano? — eu disse, observando atentamente sua cara desfigurada.
— Neste mesmo ano, em meados de Janeiro — ele se apressou em dizer assim que Joe se aproximou.
— Neste Ano. Você saiu desse povoado em Janeiro de 1830? —fui mais explícita. Não podia haver enganos.
— Certamente. Em 1830. — respondeu, me olhando como seu eu fosse louca.
— Vi um objeto prateado em sua mão naquele dia na vila. Onde ele está?

Lentamente, Santiago alcançou o bolso do casaco e me estendeu o objeto retangular. Não era um celular, era uma caixinha prateada Eu a abri e vi meia dúzia de cigarros ali. Era apenas uma cigarreira.

Respirei fundo novamente e fechei os olhos,

— Então, você realmente foi assaltado quando chegou aqui. Nada de estranho aconteceu? — eu estava confusa demais. Se ele não era a pessoa que estava ali perdida no tempo como eu, então quem era?
— Sim. Fui assaltado por três homens que me levaram tudo, até mesmo meu cavalo. Precisei ficar na cidade por alguns dias a pedido da guarda, no intuito de encontrar os mal feitores. Quando foram capturados, recuperei parte...

Minha cabeça girava, não ouvi sua explicação. Não me interessava. Então, talvez eu não soubesse como voltar. Seria tão ruim assim? Ficar ali com Joe para sempre e poder amá-lo sem medo? Mas e quanto às mensagens no celular?

Esteja preparada, dizia a última. Elas chegaram sem a interferência de Santiago... Joe percebeu minha confusão e me levou de volta para o sofá.

— Levem-no daqui! Pela cozinha, Gomes, por favor! Não quero estragar a festa da minha irmã. — ele entregou a cigarreira para Gomes, a raiva ainda em sua voz me fez estremecer um pouco.

Os quatro homens saíram rapidamente. Gomes fechou a porta ao sair.
Joe tocou meu rosto em chamas.

— Desculpe-me por não chegar a tempo, senhorita — seus olhos ficaram furiosos quando notaram o vermelho em minha bochecha. — A procurei por toda parte e ninguém a viu sair. Estava indo até seu quarto quando ouvi seu grito... — seu rosto transtornado pela fúria.
— Você chegou a tempo. — coloquei minha mão sobre a dele, pressionando-a levemente em meu rosto latejante. — Bem a tempo
— Como se sente? — indagou com delicadeza.Vi que se esforçava para manter-se calmo.— Precisa de alguma coisa? Um vinho, talvez?
— Pode ser. — eu queria tirar o gosto podre dos meus lábios Joe pegou a garrafa perto do piano e a trouxe, me serviu uma taça cheia. Virei tudo num único gole.

Senti o álcool queimar minhas entranhas e afugentar um pouco do tremor.

— Melhor? — perguntou.

Sacudi a cabeça, mais por hábito.

— E agora me explique o que aconteceu. — exigiu, sentando-se ao meu lado novamente. — Por favor — Não é ele! Eu pensei que fosse Santiago, mas não é me enganei. Não é ele a outra pessoa perdida aqui. Ele é como você, Joe. Um homem do século dezenove.
— Não sou como ele! — contestou colérico e ofendido,

Ele não entendeu a palavra-chave. Precisaria ser mais explícita.

— Claro que não! — sacudi a cabeça. — Não foi isso que eu quis dizer. Ele é como você ou Gomes ou Elisa, não como eu. A pessoa que procuro deve ser como eu. Ele me observou por um longo tempo, tentando compreender o que eu dizia. Respirei fundo. Peguei a garrafa de sua mão e enchi minha taça. Bebi um grande gole.

— Exatamente como eu. — murmurei. — Solvi outro gole de vinho. A coragem ainda não tinha dado as caras. Não tive outra alternativa se não seguir adiante sem ela.

Olhei profundamente em seus olhos e soltei a verdade. — Alguém que nasceu no século vinte e um.

Sua testa vincou. Seu rosto ainda mais confuso

— Alguém que também estava em fevereiro de 2014 e veio parar aqui no século dezenove sem saber como voltar. Exatamente como eu!

Ele piscou várias vezes, tentando absorver minhas palavras.

—  Perdoe-me, o que disse? — sua voz tremeu um pouco.
— Vou te contar toda história, Joe. Desde o início. Meu nome é Demetria  Alonzo, nasci nesta mesma região onde, daqui a muitos anos, se erguerá uma enorme metrópole. Foi nela que eu nasci, em 20 de Agosto de 1992. 

Joe abriu e fechou a boca várias vezes — quase como um peixe —, mas  absolutamente nada saiu de seus lábios. Ele pegou a taça de vinho da minha mão e a  esvaziou. 

Esperei nervosa, para que ele pudesse assimilar o que eu havia dito. Ele tornou a  encher a taça e a esvaziá-la rapidamente. Não disse uma única palavra. Tirei minhas  luvas e comecei a retorcê-las freneticamente. Depois de alguns minutos, a impaciência  me venceu. 

— Você ouviu o que eu disse? — perguntei. 

Joe piscou e depois sacudiu a cabeça. 

— Errr... Eu ... Acho... Que... Sim? — ele estava muito confuso. 

Melhor contar tudo de uma vez! 

— Vou te explicar tudo. Preste atenção, é tudo muito maluco! — alertei. 

Ele apenas assentiu. 

— Como eu te disse, eu vivia no ano de 2014 até sábado passado. Tudo isso  aconteceu por que, na sexta passada eu saí com a Marisa e o Logan. Fomos num barzinho  que a gente curte. Foi lá que Marisa me contou que iria convidar Logan para morar com ela  e é claro que comemoramos a notícia... Só que acabei comemorando um pouco demais,  exagerando na bebida. Depois de tanto chope, precisei usar o banheiro e meu celular caiu acidentalmente dentro da privada. Claro que eu não podia enfiar a mão lá dentro e 
pegá-lo! Estava todo pifado, de todo jeito. Já era! Então, no sábado, saí cedo pra  comprar um novo. Eu estranhei que não houvesse mais ninguém dentro da loja e achei a  vendedora que me atendeu muito esquisita. Ela meio que me convenceu a comprar este  celular estranho, sem me dar outras opções. Eu devia ter desconfiado disso! O aparelho  está lá no quarto, posso te mostrar, se quiser. — acrescentei. Joe apenas me observava,  os olhos insondáveis. — Só depois que saí da loja percebi que o aparelho não  funcionava. Eu já estava voltando para pegar meu dinheiro de volta, quando ele  finalmente ligou. Daí apareceu uma luz tipo... Tipo... Muito forte! Não consegui ver  mais nada e quando o clarão desapareceu, eu estava aqui, daí você apareceu e me  encontrou. — estava meio sem ar quando terminei. O rosto de Joe estava impassível. —  Entendeu agora? 

Ele sacudiu a cabeça. 

— O que você não entendeu? — perguntei desesperada. 
— Acho que quase tudo. Celular? 

Ah! 

— Desculpa, Joe. Me esqueci que você não conhece algumas coisas. Celular é  um telefone que pode ser levado para todo lugar. — os olhos grudados em mim não  compreenderam minha brilhante explicação. — Você sabe o que é um telefone, não  sabe? 

Joe sacudiu a cabeça novamente. Eu respirei fundo. Ele devia estar tão confuso  quanto eu fiquei logo que cheguei ali. 

— Telefone é um aparelho que tem um... fone... que você coloca na orelha e  consegue falar com pessoas de lugares distantes. Ou de perto se quiser. Permite falar  com pessoas que não estão presentes. Pessoas vivas, quero dizer. Não vozes do além e  essas coisas... — difícil de explicar! — Acho que é melhor eu te mostrar o meu, só que  o problema é que ele não funciona como um celular comum. Foi ele que me mandou  para cá, tipo uma máquina do tempo. 
— Máquina. Do. Tempo. — ele disse devagar. 
— Sim. — seus olhos opacos não permitiram que eu lesse nada neles. — A tal  vendedora me ligou logo depois que você saiu do quarto naquele dia em que me  encontrou. Nem me pergunte como foi que ele captou o sinal! Deve ser coisa dela!  Sinistro! Mas ela me disse que eu só voltaria pra casa depois de cumprir uma jornada  que eu acho que descobri qual é apenas ontem. Só que, se for o que eu acho que é, Joe,  não faz sentido algum... — por que se Joe era a jornada se eu tinha que realmente  encontrá-lo, como poderia deixá-lo se eu o amava tanto? — E ela também disse que eu não estava nessa sozinha. Vez ou outra, ela me manda uma mensagem, tipo um bilhete,  uma carta, através do celular. A última dizia que passei mais uma etapa e para estar  preparada. Daí, eu pensei que talvez Santiago... mas ele... — sacudi a cabeça, confusa. 

Então quem meu Deus? Quem era a tal pessoa? Onde ela estava? 

— Entendeu agora? — perguntei angustiada. 
— Não sei bem... Você bateu a cabeça ou coisa assim quando... 
— Você não acredita em mim? — minha voz subiu vários decibéis. — Você tem  que acreditar em mim! Não estou mentindo! Eu juro, Joe! Eu sei que é difícil acreditar  em tanta maluquice, mas eu juro que é tudo verdade! 
— Claro que acredito, Demi. Claro que acredito! 

Era bom! Porque se ele, que me conhecia mais que qualquer um ali — e em meu  século também, nem mesmo Marisa me reconheceria agora — não acreditasse no que eu  dizia, não me sobraria nada. Estaria sozinha, perdida, sem saber como voltar e,  provavelmente, na rua. Joe não permitiria que Elisa convivesse com uma maluca. 
— Acalme-se, por favor, — pediu ele. Sua voz retorcida com uma emoção nova. 
— Você precisa acreditar em mim, Joe. Não estou mentindo, nem inventado  nada, eu juro! — eu disse, me agarrando a sua camisa. 
— Eu sei, amor. — ele segurou minhas mãos geladas, mas, pela primeira vez,  suas mãos estavam tão frias quanto as minhas. — Tudo ficará bem. 

Olhei dentro de seus olhos procurando confirmação, mas ainda estavam opacos.  Não me diziam nada. Um arrepio subiu por minha espinha, um daqueles que não eram  nada agradáveis. 

— Ouça-me. Vou até a sala avisar Elisa que estamos aqui. Ela pode nos procurar  e ficará preocupada se não nos encontrar. Voltarei logo, está bem? E então você poderá  me contar tudo com mais calma. — não gostei do tom sua voz. Parecia... Pena. 
—Tá bem. — concordei fracamente. Eu ainda tremia um pouco. — Vou te  esperar aqui. 

E, depois de beijar minha testa mais uma vez e me olhar daquela forma estranha  novamente, ele deixou a sala.  Fiquei ali tentando me acalmar. Senti um imenso alívio por ter contado a  verdade a Joe. Senti-me muito mais leve por não esconder dele o meu grande segredo.  Agora que ele conhecia a história, talvez me ajudasse a encontrar a tal pessoa. 

Ou talvez não procurássemos ninguém! 

Talvez se eu enterrasse o celular em algum lugar, talvez não captasse mais o  sinal “mágico” e eu estaria livre! Talvez eu pudesse ficar ali. Eu poderia morar com Ian  e ajudar na administração dos cavalos ou até mesmo ajudar Gomes a lustrar talheres,  não importava. Poderia cuidar de Elisa até que fosse adulta. Sentiria falta de muitas  coisas, claro; meu banheiro ou qualquer banheiro — o computador a cafeteira, os 
enlatados, a pizza, as lanchonetes, bebidas geladas até do emprego. E sentira falta de  Marisa. Muita falta! Mas ela estava com Logan, iriam morar juntos. Ela seria feliz! Se ao  menos eu pudesse avisá-la que estava bem e feliz... 

E quanto ao resto... 
Eu sobreviveria! 

Quem precisava de cafeteira ou micro-ondas quando se tinha uma Madalena?  Quem precisava de enlatados, quando se tinha legumes frescos todos os dias? Quem  precisava de TV quando se tinha Joe para conversar? Quem precisava viver uma vida  solitária, quando tinha a chance de viver uma vida plena e feliz ao lado do homem que  ama? 
Eu sobreviveria! 
Sim, eu sobreviveria sem tudo aquilo. Só não poderia suportar viver sem Joe

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Hey meninas,perdão a demora kkk,espero que tenham gostado do capitulo ,a fic ta acabando gente,ain que dor que dá no coração </3. E sobre os proximos capitulos,será meio tenso,alias,bastante tenso,espero que gostem ,deixem a opinião de voces,comentem,curtam,kibem.
Beijão,boa madruga
Nath

3 comentários:

  1. ih acho que o joe não acreditou nela não e-e
    bem a historia é bem absurda é obvio que ele não vai acreditar de cara...
    posta mais

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  2. é capaz do joe chamar um medico kkkkk
    posta mais

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  3. Acho que ele vai mandar ela pro manicômio kkk' mas isso não é legal...
    Ou expulsar ela da casa dele...
    Nenhuma dessas opções é legal...
    Mas pra saber o que realmente vai acontecer precisamos de capítulos kk'
    Posta logo ^-^
    Beijos ~

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