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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Perdida #30

— Ótimo! — menti, ainda ofegante.
Joe colocou as mãos no bolso da calça e, depois de hesitar, falou novamente.
— Então, me acompanhará amanhã? — a insegurança em sua voz me desarmou completamente.
— Se mantiver suas mãos longe de mim... — dei de ombros. Que soubesse que eu não me importava que não quisesse me tocar outra vez! — Tudo bem.
— Já lhe prometi isso antes. Serei mais cuidadoso daqui em diante, lhe asseguro. — vi seu rosto escurecer como uma nuvem de chuva através da fraca luz das velas. A obstinação que vi nele não deixava dúvidas de que cumpriria sua promessa.

Assenti, frustrada. Eu não sabia mais o que queria...

— Boa noite, então. — e peguei as maçanetas, começando a fechar a porta lentamente.
— Até amanhã, Demi. — ele sussurrou e, enquanto eu observava sua figura desaparecer no corredor, senti que meu mundo, de pernas pro ar há alguns dias, desmoronava de vez.

Fiquei deitada na cama por um tempo, observando os desenhos da luz clara  da manhã — um gracioso balé de luzes brancas e quentes. 

Meus olhos ainda ardiam um pouco, mesmo depois de ter dormido. Engraçado  que eu nunca fui esse tipo de garota, que chorava por qualquer coisa, mas era a primeira  vez que eu me apaixonava de verdade. Não sabia bem o que estava fazendo. 
Eu queria muito sair da cama e encontrar Joe. E também não queria. Sentimentos  novos e contraditórios me deixaram tão desnorteada que eu nem me toquei que já era  quarta-feira. Isso significava apenas mais três dias até Santiago voltar com alguma  notícia. 

Só mais três dias. 

Entretanto, não me animei muito com isso. Na verdade, se deu justamente o  oposto; fiquei irritada e inquieta. Sai da cama e me vesti apressadamente. Olhei no espelho e vi que meu cabelo estava um pouco mais domado. Fiz um rabo de cavalo e, depois de jogar água no rosto, saí dali com muita pressa. Não tinha tempo a perder.

Talvez fossem meus últimos três dias. 

Estranho que certos desejos tivessem mudado tão depressa. No domingo passado, estava desesperada para sair dali o mais rápido possível, nem que fosse numa  mula voadora. E agora estava angustiada por ter tão pouco tempo para ficar. 
— Senhorita Demetria, bom dia! — o mordomo me interceptou no corredor, uma  pilha de lençóis dobrados nas mãos e, ainda assim, conseguiu se inclinar  exageradamente. — Espero que esteja se sentindo bem hoje. 
— Bom dia... Puxa, esqueci seu nome me desculpe. — fiquei constrangida. Era  muita falta de educação de minha parte esquecer o nome dele, mas eu conheci tanta  gente em tão pouco tempo e ainda tinha que assimilar toda essa nova situação com Joe... 
— Gomes, senhorita, a seu dispor. — ele se inclinou novamente. 
— Gomes — repeti para tentar fixar na memória. — Sabe se Elisa já acordou? 
— Sim, ela está na sala de jantar acompanhada pelo Senhor Clarke. 
— Valeu Gomes. Vou até lá. Tô varada de fome. Acabei dormindo sem comer nada ontem. 

Ele apenas sorriu confuso. 

Encontrei Joe e Elisa à mesa, conversando animadamente. 

— Bom dia,Demi ! Está se sentindo melhor? — Elisa perguntou, preocupada. 

Eu me senti mal por ter mentido para ela. Mas o que eu podia dizer? Elisa, tô  saindo fora porque cansei de ver esta piriguete dar em cima do seu irmão. Já te contei  que estou apaixonada por Joe? Claro que não podia dizer isso. E Valentina não era  realmente uma piriguete. 

— Bom dia, Elisa. Estou bem, obrigada. — olhei furtivamente para Joe,  aparentemente minha presença não o importunou. — Oi, Joe. 
— Bom dia, senhorita. — ele disse simplesmente. O rosto impassível. 
— Onde está Teodora? — perguntei a Elisa. 
— Voltou para casa para preparar o vestido para hoje à noite. Ah! Demi, que  bom que está melhor! Assim, poderemos todos nos divertir hoje à noite. Faz muito  tempo que não vamos à ópera, não é, Joe? 

Ele assentiu, os olhos em Elisa. 

— Acho que gostarão desta. Ouvi falar muito bem dela. Parece que fez muito  sucesso na Europa há alguns anos. 
Joe parecia o mesmo de sempre: educado, a voz calma, o sorriso no rosto.  Apenas os olhos estavam diferentes. Pareciam tristes, mesmo quando sorria. 
— Está com fome, Demi ?— Elisa esticou o braço, indicando a cadeira. ~
 — A senhorita Demetria está sempre com fome. — Joe respondeu sem tirar os olhos  de sua xícara. 

Um sorriso involuntário apareceu em meu rosto. Ele estava realmente prestando  atenção nas coisas que eu dizia. 

— Na verdade, estou faminta! — concordei ainda sorrindo. —Ainda bem que  Teodora não está aqui pra me encher o saco. Sou capaz de devorar um boi hoje! 

Elisa sorriu abertamente, exibindo as adoráveis covinhas. Joe tentou esconder o sorriso atrás da xícara, mas vi quando seus olhos se enrugaram nos cantos. 
Servi-me de bolo, leite, café, um pão escuro e meio duro — mas muito saboroso — e algumas frutas. 

— Por que Teodora precisa preparar o vestido? — não tinha entendido essa  parte. 
— É que ela não terá tempo para comprar um novo tão em cima da hora, então  voltou para casa para que sua criada faça algumas alterações em um vestido. Acho que  ela o usou apenas uma vez. 

Minha boca cheia de comida me impediu de perguntar imediatamente. Engoli e,  depois de tomar um pouco do leite, indaguei: 

— Mas pra que tudo isso? — quem se importava que o vestido já tinha sido usado. E apenas uma vez? 
— Ora, senhorita Demetria. Apenas os mais nobres da sociedade vão à ópera. Penso  que é a única maneira de mostrarem o quanto são ricos e importantes uns para os outros.  — ela fez uma careta, isso a divertia. — É o que penso! E creio que já notou o quanto  Teodora adora uma desculpa para comprar um novo vestido! 
— Isso eu notei! 

De vez enquanto, eu olhava furtivamente para Joe, que sempre estava olhando  para qualquer outra coisa, menos em minha direção. 
— Então, eu já entreguei meu vestido para Madalena engomar e um outro para  que ela possa soltar a bainha e deixá-lo mais longo. — o brilho em seus olhos me  deixou inquieta. 
— Você vai usar dois vestidos, Elisa? 
— Não. Apenas um. O outro você usará. — seu sorriso se alargou. 
— Ah! Não! Não mesmo! — minha voz alterada. — Não vou acabar com seus  vestidos e, além disso, Joe me comprou dois vestidos novos. E ainda tem aquele do baile! Não vou pegar outro vestido emprestado de jeito nenhum. Ainda mais agora que estou tão perto de ir embora. 

Duas cabeças se levantaram abruptamente. 

— Perto? — Joe indagou. Sua testa vincada e seus olhos faiscando, a voz apenas  um sussurro. 
— Bom... ainda não tenho certeza mas, se minhas suspeitas estiverem certas,  acho que pode ser neste sábado, talvez domingo. — vi a tristeza invadir seus olhos. Seu  rosto se retorcer em angústia. 

Meu coração bateu dolorosamente mais rápido quando percebi quanto o magoou  saber disso. Joe sacudiu a cabeça lentamente, respirou fundo e, de repente, parecia não  saber o que fazer

— Eu... Hã... Perdoem-me, preciso... Preciso... — ele não terminou, apenas se  levantou e saiu apressado. 
Fiquei olhando até suas costas desaparecerem no corredor. Eu queria correr atrás  dele, abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem. E desejei muito, muito mesmo, que isso  pudesse ser possível, que no final tudo ficaria bem de alguma forma. Mas, apesar da estranha situação em que eu me encontrava, ainda era vida real e não um faz-de-conta. As histórias nunca terminam bem na vida real. 

— Ele a estima muito... — falou Elisa, também triste. — assim como eu... Queria que ficasse mais um pouco. — seu rosto delicado também estava infeliz. E eu  detestava cada vez mais a bruxa vendedora por permitir que pessoas como eles dois  ficassem tristes. 
—Também gosto muito de vocês, Elisa. Demais, na verdade. Mas não posso ficar. Eu nem deveria estar aqui, pra começo de conversa. — minha voz baixa e sufocada pela tristeza que me invadiu. — Queria poder dizer que nos veremos de novo, mas nem isso será possível. Será adeus pra valer. 

Seus olhos brilharam e notei, com horror, que os meus também estavam úmidos. 

— Bem. — eu disse, fungando. — Não vamos perder tempo chorando! Se vamos ter apenas mais alguns dias, vamos aproveitar. 
— Certo. — ela disse, com algum esforço para soar segura. — Então, que tal  começar pelo vestido? 
— Ah, Elisa! — teimosia devia ser herança de família por ali. — Eu já te 
expliquei! 
— Você me magoaria se não aceitasse usá-lo. É apenas um empréstimo. Depois,  peço a Madalena para subir a bainha outra vez. — seus olhos grandes e brilhantes pelas lágrimas.
 —Tá bom. — disse exasperada. Então, me lembrei. — Elisa, eu queria conversar  com você. Só nós duas. — pedi conspitatoriamente olhando para os dois lados. — Num  lugar mais reservado. 
— Podemos falar em meu quarto. — ela sugeriu. 
— Beleza! Quero dizer, ótimo! 

Ela riu. Depois de algumas fungadelas e de secar os olhos, fomos até o quarto de Elisa. Um quarto que parecia ser de uma princesa de conto de fadas, com tecidos  brancos e um rosa delicado cobrindo toda a mobília. Era lindo e acolhedor, assim como sua dona. Depois de passar a chave na porta, Elisa se sentou ao meu lado na cama  grande de dossel. 

— Ninguém nos perturbará aqui. O que quer falar que parece ser tão importante  que ninguém deve ouvir? 
— Errrr... — imaginei que fosse mais fácil começar. — Eu... queria falar sobre uma coisa que... Primeiro, me prometa que não contará a ninguém sobre o que conversaremos! — implorei, agarrando suas mãos. — Principalmente para Joe! Ele me  mata se souber que te contei isso! 
— Eu prometo — ela disse, alarmada. — Estou ficando preocupada, Demi! 
— Não fique, Elisa, não é nada tão horrível assim, mas você precisa saber de  algumas... Coisas que só uma mulher mais velha pode te explicar. E seu irmão deu a entender que ninguém vai ter essa conversa com você. Sua mãe talvez gostasse de te explicar como tudo funciona, mas já que ela...

Não estava dando muito certo. E aquela conversa era muito importante para uma garota. Respirei findo e tentei me lembrar de como foi a minha com a minha mãe. Talvez ela tivesse tido mais tempo para se preparar...  Decidi fazer o que minha mãe fez. Sondei o que Elisa sabia primeiro para ter por  onde começar. 

— Elisa, você sabe o que um homem e uma mulher fazem no quarto quando são casados? 
— Eu acredito que eles durmam? — seu rosto ficou confuso. 
— Sim, — concordei lentamente. — E o que mais? 
—Tem mais? — a voz incrédula. 

Ai, Deus!
—Tem muito mais, Elisa. Tem a parte principal de um casamento! — seria muito complicado. Seria como explicar para uma criança de seis anos, se é que Elisa sabia tudo o que uma criança de seis anos do meu tempo sabia. 

Seus olhos azuis se arregalaram. 

— É mesmo? Ninguém nunca me disse nada! Que parte é essa? — exigiu, agarrando uma de minhas mãos. 
—Já ouviu alguma coisa sobre... Fazer amor? — imaginei que esse fosse o 
termo mais adequado para a época. 
— Hã... Não! 
— E sobre sexo? 

Ela corou um pouco. Talvez soubesse de alguma coisa afinal. 

— Bem... Uma vez, uma professora disse algo sobre homens serem governados pelo sexo, mas não explicou mais nada. Perguntei a Joe o que ela quis dizer com isso, mas meu irmão me deu uma bronca e me deixou de castigo. Disse que jovens de família não deviam usar tais palavras. Nunca! Então, imaginei que fosse uma coisa ruim e não perguntei a mais ninguém. 

Se Joe descobrisse o que eu estava prestes a fazer, me estrangularia, sem dúvida  alguma. 

—É sobre isso que vamos conversar. Sobre sexo. Vou explicar como tudo funciona para que não se assuste com absolutamente nada quando se casar, apenas... se divirta. 

Ela assentiu, o rosto muito sério. 

Respirei fundo e comecei explicando as diferenças físicas entre o corpo feminino  e o masculino. Ela já vira um bebê sem roupas, o que facilitou um pouco a coisa. Quando comecei a explicar sobre o ato, onde cada coisa se encaixava, seu rosto assumiu um tom vermelho intenso, quase roxo, mas eu não parei. Ela tinha que saber como tudo funcionava. Toda mulher precisava saber. Respondi a todas as suas perguntas, coisas de que me lembrava ter perguntado a minha mãe. Dói? Vai sangrar? E se não sangrar, o que ele vai pensar? Preciso tirar toda a roupa? E se eu ficar com medo? Como pode caber? Vou gostar disso? E se eu 
não tiver um orgasmo, significa que tem algo errado comigo? Expliquei tudo: que não precisava temer porque quando encontrasse alguém que realmente amasse, tudo seria natural. Que o corpo dela também iria querer fazer aquilo. Que não era apenas o homem que era governado pelo sexo. Que as mulheres também se divertiam muito, até mais que os homens, já que orgasmos múltiplos eram exclusividade feminina. Outras perguntas, porém, eu não estava preparada. Então se eu me sentar no mesmo lugar onde um rapaz estava sentado, não vou ter um bebê? Eu ri. Ensinei a ela como fazer as contas para evitar a gravidez, fiz com que 
repetisse os cálculos diversas vezes para que não se esquecesse. Expliquei sobre a gestação, mas essa parte eu também conhecia apenas na teoria, porém contei a ela tudo que sabia. Quando terminei, sua expressão era um misto de vergonha, alegria e satisfação. Me fez sorrir — ela estava feliz por saber o que acontecia na cama de um casal. 

— Então, aquela história de que uma jovem pode ter filhos apenas por beijar um rapaz é mentira! —disse ela, abismada. 
— É sim. — daí me corrigi. — Bem, só com o beijo é mentira, se só a língua dele estiver dentro de você... — segurei suas mãos e olhei dentro de seus olhos. — Não 
saia beijando por aí, Elisa! — ela era jovem e precisava de todas as explicações.— Principalmente aqui, onde a reputação de uma garota conta tanto. Sexo é diferente de amor. Sexo é físico, enquanto o amor é emocional. Você pode sentir desejo por alguém sem necessariamente amá-lo. O ideal é que sinta as duas coisas pela mesma pessoa. — exatamente como eu sinto por seu irmão, eu quis acrescentar. 
— Eu entendi. Fique tranquila. — ela sorriu, acanhada. — Não vou beijar ninguém. 

Olhei para ela, seus olhos tão azuis, mas que, de alguma forma, me lembrava os de Joe, me trouxe recordações de outra conversa que tivemos.

— Elisa, me prometa uma coisa. 
— Prometo. — ela concordou solene, antes mesmo de eu dizer o que queria. Ela não tinha a desconfiança que eu tinha das pessoas. Assim como Joe. Talvez o século vinte e um não fosse tudo isso, afinal... 
— Prometa que apenas se casará quando se apaixonar por alguém. Prometa que  só se casará com alguém que realmente ame! Nada de casamento arranjado. 
— Prometo! Ainda mais depois de tudo o que me contou! — e sacudiu a cabeça corando levemente. — Se não amá-lo demais não serei capaz de permitir que veja minha anágua, que dirá sem ela! — disse um pouco escandalizada. — Obrigada, Demii! Eu adoro você! — e lançou os braços em meu pescoço. 
— Eu também, Elisa. Quero que você seja muito feliz! Mesmo que eu não possa ficar aqui pra ver. 
— Ah! Demi! Se pudesse ver o quanto você é importante para meu irmão e para  mim, jamais nos deixaria.

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Hey meninas postei mo tarde ontem ne,mais olha um capitulo lindinho agora,e antes das 18 horas se voces ajudarem como ontem voces fizeram kkkk,cara espero realmente que voces estejam gostando do capitulo minhas lindas,deixem a opinião de voces ook ? É muito importante pra mim saber se voces estão gostando.
Um Beijão,Nath


5 comentários:

  1. Heeey
    "A conversa" kk'
    Tenso isso, mas oks kk'
    Posta mais :)))
    Beijos~

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  2. kkkkk adorei pensava que essa conversa nunca ia acontecer que bom que ela agiu numa boa mas deixa o joe saber disso kkkk
    posta logo pfvr

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  3. amei o cap
    posta mais *-*

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  4. tadinho do joe :c posta mais

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