Páginas

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Perdida #Penultimo

Joe me apertou muito, num abraço quase insuportável, mas não pude ficar mais agradecida. Queria que ele nunca mais me soltasse! Minhas mãos tocaram o máximo dele que conseguiram: seu cabelo, seu pescoço, seu rosto, seus ombros.
— Demi! — ele gemeu vez ou outra sem desgrudar os lábios dos meus.

Senti minha vida se encaixar novamente, exatamente como eu me encaixei em seus braços. Tudo fazia sentindo outra vez.
Joe me beijou, ainda na porta do quarto, até que tudo ao meu redor se tornou um borrão giratório e eu fiquei sem fôlego. Sua boca deixou a minha, mas suas mãos não deixaram meu corpo, ainda me apertavam com urgência.

—Você está aqui! — ele sussurrou colando sua testa na minha.
— Estou! — fechei meus olhos inspirando, deixando seu cheiro invadir meus sentidos. Eu estava finalmente em casa. — Desculpe ter demorado tanto. Mas acreditaria se eu te dissesse que levei dois séculos para conseguir voltar?

Ele levantou a cabeça e me encarou.

— Como? — o sorriso não deixava seus lábios.
— É uma longa história. — sorri, incapaz de não corresponder a seu sorriso.

Ele alcançou a porta e a fechou, me puxando para dentro de meu quarto. Vi com satisfação que tudo ainda estava como deveria estar. Apenas meu retrato com o vestido rosa estava ali já terminado e uma garrafa quase vazia com um líquido âmbar fora colocada ao lado do vinho. Suspirei de alívio. Eu iria mudar o futuro. Ele não se acabaria em tristeza, eu não deixaria isso acontecer. Iria amá-lo tanto que o sufocaria de felicidade, seríamos felizes para sempre. Ficaríamos juntos para sempre.
— Não estou com pressa. — disse ele.
— Ela me procurou esta noite. Consertou as coisas. — falei apressada. Eu estava com pressa! Queria começar de onde paramos de uma vez por todas. Entretanto, ele fechou os olhos e suspirou.
— Quanto tempo desta vez? — a voz embargada.

Toquei seu rosto.

— Não tem tempo. É definitivo desta vez.

Ele abriu os olhos e eu sorri, seu rosto aos poucos se transformou. Um sorriso imenso apareceu ali enquanto ele entendia a nova situação.

— Ficará aqui? — perguntou, parecendo não acreditar no que tinha ouvido. —
Ficará comigo para sempre?
— Essa é a ideia! Ela me deixou escolher onde eu queria viver. E escolhi viver aqui. Não poderei voltar nunca mais. — nenhuma gota de arrependimento em minha voz.

Sua testa vincou.

— Você abandonou toda sua vida por mim? — indagou, apavorado.
— Não! Eu abandonei todo o resto para ficar com a minha vida! — eu o corrigi.
— Você não entende? Não dá pra suportar viver longe de você.

Ele assentiu, provavelmente sentia o mesmo.

—Tem certeza do que fez? Que escolheu corretamente?
— Joe, eu não tenho vida se você não estiver por perto. Simplesmente não rola! — sacudi a cabeça. — Sabia que isso deveria acontecer? Você e eu quero dizer?

Suas sobrancelhas arquearam.

— Deveria?
— Sim, ela me disse que estávamos predestinados. E que, por engano, fui colocada na época errada. — eu ri. Era a minha cara estragar tudo me perdendo para variar. — Então ela me mostrou como deveria ter sido, quando estive aqui da primeira vez. E hoje me deu a escolha de viver onde eu quisesse. Então, Joe, vou precisar de sua ajuda outra vez.

Seus olhos se arregalaram e seu rosto ficou tenso.

— Ajuda? — ele repetiu com a voz instável.
— É. Olha só, eu tô sem emprego, sem casa pra morar e os únicos amigos que eu tenho aqui são Elisa, Gomes, Madalena e você. Talvez Teodora também. Estava pensando se poderia me emprestar este quarto e me dar um pouco de comida até que eu arrume um jeito de ganhar dinheiro. Seu rosto se iluminou, o brilho prateado que senti tanta falta nos últimos dois meses apareceu em seus olhos.

— Creio que posso lhe emprestar este quarto. Talvez possamos fazer um acordo quanto ao pagamento. — ele deslizou os dedos por meu braço e eu estremeci com o toque quente e suave.
— Que tipo de acordo? — perguntei, minha respiração acelerando.

— Humm... Talvez possa me pagar com beijos. — o sorriso malicioso que eu amava deu as caras.
— De acordo! — eu disse, rapidamente me apressando em pagar adiantado.

Obviamente, Joe aceitou sem relutância alguma meu adiantamento. No entanto, depois de alguns minutos ele interrompeu o beijo.
— Então ficará para sempre? De verdade, senhorita? — a felicidade estampada em seu rosto inflou meu coração até quase explodir. Era por isso que eu estava ali!
— Pra sempre! Acho que desta vez terei que me habituar aos vestidos longos de uma vez por todas. — franzi a testa.

Seus olhos voaram instantaneamente para o meu vestido. Ele examinou cada linha de meu corpo, então seus olhos se estreitaram.
— Onde estava antes de voltar para casa? — adorei a forma como ele usou a palavra casa, tão natural, tão seguro de que ali era minha casa. Exatamente como eu também sentia.
— No casamento da Marisa e do Logan. Foi hoje à noite. — Ele ainda examinavam o vestido.
— Este vestido é apropriado para ser exibido em público? — os olhos acompanhando minha silhueta.
— Sim, Joe, — eu ri de sua reação reprovadora. — Eu sabia que você pensaria que este vestido é...
— Indecente! — ele completou sorrindo, enquanto tocava meu rosto. — Perturbador! — seus dedos acompanharam minha clavícula. — Escandalosamente justo! — sua mão deslizou suave e quente até minha cintura enquanto a outra rodeava meu pescoço, me fazendo estremecer.

Tentei não perder o controle.

— Eu ia dizer inadequado. Mas vou guardá-lo, não se preocupe. Só preciso  saber onde estão minhas coisas. — respondi, o sangue voando nas veias enquanto ele  aproximava seus lábios para tocar meu pescoço. 
— Posso ajudá-la a se livrar desta peça horrível, se desejar. — a voz rouca  contra minha pele mandou meu controle às favas. 
— Seria um alívio! — murmurei, fechando os olhos e prendendo minhas mãos 
em seus cachos macios. 
— Será um prazer lhe ser útil, senhorita, — e, com muita delicadeza, me levou  para cama, onde minha vida finalmente começou. 
— Sabe o que eu estava pensando? — perguntei depois de um tempo. 

Joe sorriu largamente, virou-se na cama. 

— Não faço ideia! — e apoiou a cabeça numa das mãos para me observar. 
— Acho que talvez você possa me ajudar a desenvolver um projeto para um  banheiro. Você desenha tão bem! Eu te explico como é e você pode fazer um esboço.  Não pode ser tão difícil fazer algo parecido, já que conheço na prática como ele  funciona. Talvez possamos encontrar um engenheiro para nos ajudar. — a casinha era a  única coisa que me atormentava. 
— Podemos ver isso. — disse ele, pegando meu colar e o analisando com 
curiosidade. — M? — perguntou, arqueando uma de suas sobrancelhas perfeitas, um 
meio sorriso no rosto. 
— Marisa me deu de presente. Tipo um colar de irmandade. Acho que ela  pressentiu o que iria acontecer. 
— E contou a ela sobre mim? — Joe parecia não acreditar que eu tivesse  contado sobre minha viagem maluca a mais alguém e ainda estivesse livre. 
— É claro que contei! Marisa é como minha irmã. Nunca escondi nada dela. E ela  acreditou de primeira! — meus olhos se estreitaram, ele sorriu se desculpando. — O  casamento foi tão bonito, Joe! Queria que tivesse visto, Marisa estava tão linda, tão feliz! 

Ele me olhou por um segundo, seus dedos brincando em minha barriga.  Começava a ficar difícil conversar quando ele me tocava assim. 

— Ela parece ser uma boa amiga! 
— A melhor de todo o universo. — então me lembrei. — E você pode conhecê- la! Quer dizer, por foto. Eu tirei algumas com o celular. Não aquele celular, um normal  que só faz o que tem que fazer. Tá na minha bolsa, acho que a deixei lá na sala. 

Sua testa se enrugou. 

—Você não sabe o que é uma foto, não é? — deduzi. 

Ele sacudiu a cabeça. 

— É um retrato mais fiel, como a capa do meu livro velho, lembra? — ele  assentiu. — Posso ir buscar minha bolsa, se quiser. O celular só vai funcionar mais  alguns dias, depois a bateria vai acabar e não terei como recarregá-la. 

Tentei me sentar, mas ele me abraçou, me impedindo. 

— Pode me mostrar amanhã. Não vou permitir que saia daqui. — e me apertou  mais forte. — Nunca mais! Além disso, posso conhecer Maris através de suas histórias,  se quiser me contar.  
— Claro que vou contar. Parece que terei muito tempo aqui dessa vez. — e sorri. 
— Mas agora é sua vez, me conte tudo que eu perdi. O que aconteceu depois que fui  embora? 

Ele ficou sério. De repente a diversão desapareceu de seu rosto. 

— Eu... Creio que nada aconteceu. — resmungou desconfortável. 
— Como assim? 
— Eu não estava muito atento ao que acontecia por aqui até esta noite. — falou  envergonhado. 

Ele se sentou na cama, abraçou os joelhos e encarou a porta. Observei-o por um  segundo, depois prendi o lençol entre os braços e me sentei também, apoiando minha  cabeça em seu ombro, acariciando sua nuca com meus dedos. 
— Foi tão ruim assim? 

Ele apenas assentiu, ainda olhando para o nada. 

— Me desculpe, Joe. Eu tentei encontrar a fada desde o momento que voltei para  o meu século, mas ela não estava em parte alguma! Até fui internada na ala psiquiátrica  depois de uma pequena confusão numa loja e, se não fosse o Logan  ter me visto e av... 
— Fada? — ele me interrompeu, os olhos descrentes. 
— Não me olha assim outra vez! Estou falando a verdade! 

Ele piscou, parecendo atordoado. 

— Fada? — repetiu. 
— Ela tinha que ser alguma coisa, não tinha? Fala sério, quantas pessoas você  conhece que tem o poder de mandar alguém para uma outra época? Eu não conhecia  nenhuma até pouco tempo atrás! 
— Mas... Fada? 
— Eu sei. Eu acho que é tipo uma fada madrinha. E não faço ideia de por que eu tenho uma. Mas agora eu entendo melhor tudo o que aconteceu, como ela agiu, o que ela fez. Ela me disse que você e eu deveríamos nos conhecer e, por um erro de logística,  por assim dizer, não havia essa possibilidade. Como ela me procurou, imagino que fui  eu que acabei indo parar no lugar errado. E se ela tivesse usado uma abordagem mais  direta, tipo dizer logo de cara que eu devia vir para cá e conhecer o amor de minha vida,  eu tenho certeza que teria dito “vá te catar!” e fugido como uma doida. Eu não pensava  em amor, Joe, não queria me envolver. Mas então eu te conheci e me conheci melhor.  Descobri que eu queria sim, queria muito estar loucamente apaixonada. — beijei seu  ombro. Ele sorriu um pouco. — E voltar para o meu tempo também foi muito...  Esclarecedor. Eu poderia ter seguido com minha vida se eu quisesse. A dor teria que  diminuir depois de um tempo, ou eu me tornaria mais forte a ela, ou essas baboseiras  que as pessoas dizem pra animar quem está sofrendo. Só que eu não queria seguir em  frente. Ficar longe de você me fez ter ainda mais certeza de onde eu realmente queria  estar. Você não pode imaginar o estado em que eu fiquei quando vim até esta casa e a encontrei mudada, envelhecida, vazia, O Nicholas me mostrou sua carta e os quadros, mas  eu... 
— Minha carta? — inquiriu, tão surpreso, que eu tive que rir. 
— Você escreveu uma carta pra mim. Acho que quando tinha trinta anos. 
— Escrevi? E o que eu escrevi nela? — indagou surpreso. 
— Pensei que fosse morrer de tristeza naquele dia. — eu disse, sacudindo a  cabeça. — Você escreveu que ainda me amava, que ainda me esperava, que estava  tentando fazer uma máquina do tempo! Depois, Nicholas me contou o que tinha acontecido  com você. Foi o pior dia da minha vida, juro que desejei estar morta pra não ter que  ouvir aquilo! — sacudi a cabeça, a lembrança ainda fazia meu peito doer. 
— Nunca mais diga isso! Não posso sequer imaginar que você... Nunca mais  repita isso! — ralhou, o rosto sério. Então, uma pequena ruga surgiu em seu cenho. —  O que foi que aconteceu comigo? 
— Não importa mais! Não vai mais acontecer. Eu nunca mais vou sair do seu  lado! 

Ele beijou minha testa. Tentei distraí-lo com assuntos mais leves. 

— Sabia que eu conheci o seu sobrinho-neto. Sobrinho -tataraneto. 
— Meu sobrinho? 
— Ele é um cara muito bacana. Tem o sorriso de Elisa. 
— Você conheceu... O neto... De Elisa? — perguntou descrente. 
— Tataraneto. Maluco, né? — e ri. 
— Ela se casará, então? — e também sorriu. 
— Sim. Eles se apaixonaram no... Quer saber? Acho melhor as coisas seguirem  seu rumo. Não quero interferir em mais nada. Ela será feliz, é o que importa certo? 

Ele assentiu e depois voltou a ficar sério. 

— O que foi? — perguntei tocando seu rosto.
— Lembra-se da última vez que dançamos? — e me observou com olhos  intensos.
 — Claro que sim. — me lembrava de absolutamente tudo, até mesmo da cor rosada do pôr-do-sol. Não entendi a expressão de seu rosto. Era uma lembrança feliz. 
— Lembra-se que lhe fiz uma pergunta? — seus olhos fulguraram nos meus. 

Ah! Isso! 

— Lembro. — murmurei incapaz de desviar meus olhos. — Não podemos viver  dessa forma, Demi! Não posso viver sob o mesmo teto que você desse jeito. Não é honrado de minha parte. Arruinaria a sua reputação e a de Elisa. 
— Oh! murmurei — meio insegura. Não tinha pensado nisso. — Posso... viver  na pensão por um tempo até conseguir um trab... 
— Não foi isso que eu disse. — ele me interrompeu, sacudindo a cabeça. —  Você não entendeu! Não quero que seja minha amante. — meu coração se transformou  numa britadeira assim que entendi o que ele me dizia. — Quero que seja a dona desta  casa, assim como já é de meu coração. Quero que seja oficialmente minha e que todos saibam que existe uma nova Senhora Clarke. 
— Ah, pelo amor de Deus! É mesmo necessário me chamar de Senhora Clarke? Me faz parecer uma velha de sessenta anos! E nem pense que vou chamar o meu marido  de Senhor Clarke! Acaba com o tesão de qualquer uma! — ele arqueou as sobrancelhas. 
— Se você está pensando em me pedir em casamento, acho melhor excluir essa coisa de senhor e senhora do acordo. 
— Não quer ser minha esposa, então? — vi a dor cruzar seu rosto. 
— Não! Quero dizer, sim! — ele piscou confuso. Tentei ser mais clara. — Claro  que eu quero ser sua esposa, Joe! Mas não vão me chamar por aí de Senhora Clarke.  Não vão mesmo! Já vou ter que usar aqueles vestidos gigantes e me virar até que você  me ajude com o projeto do banheiro, então, vê se não complica ainda mais as coisas pra  mim. Acho justo que você também sacrifique alguma coisa. De jeito algum eu iria me transformar na Senhora Clarke! Depois o quê, me preocupar se a fita combinava com o vestido? Nem pensar! 
— Entendo. Então, supondo que eu consiga fazer com que as pessoas não lhe  chamem de Senhora Clarke, aceitaria se casar comigo, senhorita? — ele tentou bravamente não sorrir. Parecia estar se divertindo muito. 

Pensei por um segundo. 

— E se você me ajudar a construir o banheiro! — esclareci meus termos. 

Ele deliberou por um momento, tentando manter a fachada de negociante, mas os cantos de sua boca teimavam em subir.

— Muito justo! 
— E já sabe que eu não entendo nada sobre comandar empregados, entreter convidados e essas baboseiras todas. Não sou uma jovem preparada! 
— Ah! Não diga isso, senhorita, você consegue entreter qualquer pessoa que a  conheça. E seus talentos são infinitamente mais interessantes que os de qualquer outra  jovem que eu conheço. — Joe se virou até seu rosto ficar bem próximo do meu. — E então? 
— Então o que? — repliquei, enquanto me deleitava com a visão de seu corpo  nu. Joe era perfeito! O corpo mais perfeito que já tive o prazer de ver sem roupas. Tudo  nele era perfeito, absolutamente tudo. 

Ele revirou os olhos. 

— Será minha esposa? 
— Sim! A esposa mais despreparada que alguém já viu. — Puta Merda! Como  eu iria fazer isso? — A mais atrapalhada, desastrada e esquisita que já se teve notícias  por aqui. 

Ele sorriu aquele sorriso de fazer minha cabeça girar. 

— A mais petulante, complicada e teimosa, não se esqueça. A mais linda  também! — adicionou carinhoso. 
— Sabe bem onde está se metendo, não sabe? 
— Demi, não tenho escolha! Meti-me na maior confusão de minha vida quando  parei para ajudá-la. — eu fechei a cara. Ele riu. — E vou agradecer todos os dias por ter  feito isso. 
— Vamos ver se ainda vai pensar assim daqui a alguns anos! 
Ele riu e tocou meus lábios suavemente com os seus. 
Reagi imediatamente, deixando os pensamentos de lado, enquanto sua boca 
faminta mordiscava meu queixo. 
— Há mais alguma coisa que deseje? — e, delicadamente, me deitou na cama.  Seus lábios desceram até meu pescoço, fazendo minha respiração voar.  Continuou descendo um pouco mais, sua barba curta pinicava deliciosamente minha  pele. 

— Não. Acho que é tudo. O banheiro e meu nome. — estava muito distraída com suas carícias, mas, com algum esforço, me concentrei em sua pergunta e me lembrei da mais importante de minhas condições. —
Não, espere! Tem mais uma coisa sim! 

Ele levantou a cabeça e me olhou nos olhos, a testa enrugada
— E qual seria? 
— Será que não dava para me casar com você e continuar sendo sua amante? Eu  gosto de ser amante! — e me abracei a seu pescoço. — Gosto demais! 

Vi o sorriso malicioso transformar seu rosto, os olhos brilhando prateado. Seu  corpo quente rolou sobre o meu me afundando um pouco no colchão. 
— De acordo! — concordou sem hesitar. 

-------------------------------------------------
Hey gente,como estão,ultimos dias de 2014. Onde vão virar o ano ? kkkkk
Bem,esse é o penultimo capitulo,e eu to sofrendo,que DOOOOR :(
Se eu achasse a continuação,eu postava,mais enfim. Amanha eu posto umas duas ou 3 opções para a nova historia. Fiquem bem,inté amanha
MIL BEEIJOS

domingo, 28 de dezembro de 2014

Heeey Meninas

Meus amores,nesse domingão eu to aqui pra avisar que os dois próximos capítulos de PERDIDA serão os ultimo ( TO SOFRENDO) ,irei postar o penúltimo amanha e o ultimo na quarta. 

Mas antes de tudo isso,eu irei deixar algumas opções para voces escolherem a próxima historia,assim como perdida será uma adaptação de um livro e vocês também  poderão deixar a opinião de vocês nos comentarios ta bem? Super conto com a ajuda de vocês,não me deixem no vacuo. Estou escolhendo os livros,aqueles que eu mais adorei ler e postarei aqui as opções,enquanto isso deixem a opinião de voces.
                                            Beijãaaaaao



sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Perdida #53

Joe estava infeliz por minha culpa. Infeliz por toda uma vida. E a culpa eraminha. Toda minha. Foi um erro ter me envolvido com ele. Jamais poderia ter permitidoque as coisas tivessem ido tão longe quando eu sabia que voltaria. Eu acabaria voltando, de uma forma ou de outra, sempre soube disso e, mesmo assim, correspondi apaixonadamente a seus sentimentos, arruinando sua vida. E agora não podia fazer nada
para reparar isso.
— Como é seu nome? — perguntei ao rapaz, quando consegui me recompor um
pouco.
— Nicholas. — ele sorriu. — Ainda não acredito que isso está acontecendo. Meu pai vai pirar quando souber que esteve aqui. É surreal!
— Nem me fale, — eu disse infeliz.

Levantei-me da cama, tinha que sair dali. A urgência de encontrar a vendedora me dominou por completo. Eu encontraria um meio de reparar as coisas. Mesmo que eu não pudesse voltar. Aquela bruxa teria que consertar a vida de Joe. Ela devia ter poderes para fazer isso.

— Eu preciso ir agora. Obrigada por nos receber e contar o que sabe.

Ele se levantou também.

— Eu é que agradeço. Não imagina quanto tempo fiquei pensando nessa história. — ele sorriu e covinhas apareceram em suas bochechas.

Toquei seu rosto, incapaz de me conter. Toquei o presente que Elisa tinha me deixado.

— Você tem o sorriso dela. De Elisa.

Ele sorriu ainda mais ao invés de se afastar.

— Sério? Olha, volte outras vezes, podemos conversar mais. Meu pai sabe um pouco mais da história da família. Talvez ele saiba alguma coisa que acabe fazendo sentido ou até te ajudando.
—Talvez, — suspirei.

Lutei contra as lágrimas até entrar no carro. Marisa voltou dirigindo, eu não tinha condições para isso. Ela não disse nada o caminho todo, apenas me deixou chorar.

O que foi que eu fiz?

Mutilei o destino e fiz da pessoa que mais amava no mundo miserável. Atordoada como eu estava, acabei me esquecendo de perguntar por minhas coisas. Mas não deveriam estar lá, de toda forma, Joe devia ter escondido para o caso de alguém perguntar o que eram aquelas coisas estranhas.
— O que vai fazer agora? — Marisa  questionou, quando chegamos ao meu apartamento.
—Vou encontrá-la! — eu disse obstinadamente. — É tudo que me restou!

Encontrá-la.

Marisa não voltou para casa, ficou comigo sem me encher de perguntas, apenas estava ali, me emprestando seu ombro cada pouco, até minhas lágrimas secarem. Levou muito tempo para que secassem totalmente. Não dormi quase nada outra vez.

“Para construir uma máquina do tempo, primeiro precisamos de um buraco negro, que será o coração do equipamento. Para consegui-lo, pegue uma estrela dessas bem velhinhas, a maior que você encontrar..”

É claro que isso estava fora de cogitação.

“Um professor de Física norte-americano garante estar construindo uma máquina do tempo...”

Humm... Talvez, se eu ainda não tiver conseguido voltar para Joe nos próximos meses... Talvez eu devesse mandar um e-mail...Este parecia promissor: Como construir uma Máquina do Tempo. Não é fácil, mas também não é impossível.

“Encontre ou monte um buraco de minhoca. Pode ser que buracos de minhoca de grande porte existam no espaço profundo, herança do Big Bang. Se não encontrar nenhum, vamos ter que nos contentar com buracos de minhoca subatômicos. Esses buracos de minhoca pequeninos teriam de ser aumentados por um acelerador de partículas até atingir proporções úteis. Estabilize o buraco de minhoca. Uma infusão de energia negativa, produzida por meios quânticos permitiria a passagem segura através do buraco de minhoca. A energia negativa impede a tendência do buraco de minhoca de se transformar em
buraco negro. Transporte o buraco de minhoca. Uma espaçonave, com tecnologia muito avançada, separaria as aberturas do buraco de minhoca. Uma abertura seria colocada junto à superfície de uma estrela de nêutrons uma estrela de altíssima densidade, com campo gravitacional muito forte. A gravidade intensa faz com que o tempo corra mais devagar. Como o tempo corre mais depressa na outra abertura, os dois extremos do buraco de minhoca ficam separados não só no espaço, mas também no tempo.”

Beleza! Então eu só precisava encontrar um buraco de minhocas um acelerador de partículas um estabilizador de energia quântica, uma espaçonave com tecnologia avançada e uma estrela de nêutrons
Ah! É claro, descobrir como me transformar em uma minhoca!

Suspirei, frustrada.

Não estava dando certo! A internet não me ajudava em muita coisa. Muita baboseira e nada realmente concreto. Pesquisei sobre pessoas que diziam ter viajado no tempo, mas, quando investigava mais a fundo, eram apenas bêbados, drogados, malucos ou idiotas com muita imaginação. Meu desespero aumentava a cada movimento que o ponteiro do relógio fazia, e o tempo estava sendo cruel comigo. Passava depressa
demais. A carta de Joe me motivou ainda mais, porque se ele, que estava num lugar totalmente sem recursos, não desistiu, por que eu desistiria?
Ele queria que eu fosse feliz, mesmo que isso fosse impossível sem tê-lo por perto. Acho que talvez apenas não quisesse que eu fosse miserável. Então, tentei voltar para a minha vida. Tentei mesmo! Só que não parecia mais uma vida. Era como se eu estivesse ligada no piloto automático e apenas seguisse o fluxo.
Não desisti de encontrar a mulher, não desistiria enquanto ainda respirasse. Mas eu não tinha mais ideia de onde procurar. Liguei para o escritório e expliquei que estava tendo problemas pessoais. Não me importei com as ameaças e os berros de demissão de Carlos. Eu disse que tiraria uma licença e voltaria assim que estivesse bem. Joana me visitou e me trouxe chocolates. Fiquei feliz em revê-la. Ela disse que estava preocupada comigo. Inventei uma história qualquer por ter sumido e ela acreditou. Contou-me que o escritório estava insuportável agora, que Carlos berrava mais que o normal e me amaldiçoava todos os
dias, logo seguido por “aquela filha da puta competente”. Gustavo tinha assumido minha tarefas e não estava se saindo muito bem. Carlos estava fazendo da vida dos meus colegas um inferno.

Os dias continuaram passando muito depressa. Mal vi o mês acabar e recomeçar outra vez. Fui fazer a última prova de meu vestido de madrinha seria a madrinha de Marisa junto com Zezão. O casamento aconteceria em uma semana. Foi doloroso e, ao mesmo tempo, prazeroso vestir um vestido longo outra vez.

— Talvez não estejamos olhando a coisa da perspectiva correta. — Marisa  disse, enquanto analisava meu vestido (justo até o joelho, depois se abria graciosamente como um rabo de peixe, de cetim lilás, tomara-que-caia, apenas uma alça finíssima toda bordada transpassando da frente do ombro esquerdo para a parte de trás do direito). Joe teria achado escandalosa a forma como o vestido se agarrava ao meu corpo, mas teria gostado. Quase podia ver o sorriso malicioso que apareceria em seus lábios quando me analisasse.

Suspirei.

— Que outra perspectiva, Marisa? Só tem uma. Ela sumiu. O celular nunca mais fez nada em quase dois meses.
— Não pode ser. — ela sacudia a cabeça. — Se ela é realmente um... — ela diminuiu a voz para um sussurro. — ... ser com poderes para interferir assim no destino das pessoas, não pode permitir que vocês dois sofram dessa maneira.
— Eu não sei o que ela é. — não me importava também, contanto que eu conseguisse encontrá-la e a convencesse a consertar a vida de Joe. — Só queria que ela pudesse arrumar as coisas.
 — Vamos, Dem, ela tem que ter te dado alguma coisa! Pense!

Eu pensei. Outra vez. Pela milionésima vez. Já tinha dissecado nossa conversa milhares de vezes e não tinha nada. Nenhuma resposta oculta, nenhuma pista, nada de nada.
— Não tem nada, Marisa. — eu disse, exasperada. — Além disso, o que eu vivi com ele foi maravilhoso! Isso basta pra mim. Pelo menos, eu tenho as lembranças, não me importo de passar o resto da vida sozinha.— na verdade, trocaria de bom grado o resto da minha vida para poder passar só mais uma tarde junto dele. — Mas preciso fazê-la mudar o destino dele. Ele tem que ser feliz!
— Isso não é justo! Eu quero ver você feliz! — ela ficou desolada, assim como eu sempre estava nas últimas semanas.
— Eu sei. — suspirei. — Obrigada, Marisa
Ela sorriu, tristonha. Pegou uma caixinha na bolsa e me entregou.
—Toma.
— O que é? — perguntei examinando a caixinha. Retirei a pequena fita e abri. Um lindo colar prateado, com um pingente delicado da letra M  brilhava no veludo negro.

Olhei para ela sem entender.

— Comprei um pra mim também. — ela abaixou a gola da blusa, me mostrando o mesmo colar mas o dela tinha um D. — É tipo um colar de irmandade. Caso você precise sair correndo para algum lugar e nunca mais volte. — sorriu triste.

— Ah! Marisa ! Você é incrível! — eu abracei forte. Você é a amiga mais especial de todo o universo. Não preciso de lembretes para não te esquecer. Mesmo que eu pudesse sumir outra vez, jamais te esqueceria!
— Eu sei. E o pior é que eu queria muito que você sumisse de novo. Sou uma péssima amiga! — ela riu desanimada.
— Não é não! — contestei. — É a mais sincera de todas!

Não voltei a casa dele outra vez. Não podia suportar ouvir seus descendentes  contarem histórias sobre seu desespero e, pior ainda, falarem dele como se estivesse  morto. Ele não estava morto!  Parte de mim tentava ser racional e entender que ele nascera há mais de duzentos  anos e que, a essa altura... Mas ele não estava morto! Eu sabia disso. Tinha certeza! Ele  ainda vivia em algum universo paralelo estranho e incompreensível, mas vivia!  Meus dias se tornaram nulos, nada importante acontecia. Ou eu é que não percebia mais os problemas à minha frente. Todos os dias passava horas sentada no  banco perto do cedro imenso, lembrando dos momentos mais felizes que tive na vida. 

Gostava daquele lugar. Era minha ligação com Joe. Nosso lugar especial. Ficava ali por  horas ouvindo nossa música. Peguei carona no carro com a noiva para ir até a igreja no grande dia. Marisa estava deslumbrante! Seu vestido simples e elegante ressaltava ainda mais sua pele cor  de chocolate. Ela estava radiante e mais linda do que nunca.  Fiquei feliz demais ao ver os pais dela ao seu lado no altar. Ambos pareciam  acanhados e ainda se via uma pontada de ressentimento em seus olhos, mas eles  estavam ali, era o que importava. Talvez quando vissem o quanto Logan amava Marisa, o  quanto ele se preocupava com ela, talvez acabassem gostando dele. Pelo menos um pouquinho. 
A cerimônia foi perfeita e eu acabei chorando, o que não era comum para mim.  Até bem pouco tempo, casamentos não me emocionavam, me deixavam apavorada.  Percebi depois que não fui a única a chorar. Logan tentou bravamente esconder as  lágrimas, mas, depois de um tempo, ficou muito evidente em seus olhos inchados. Tive  a impressão de que ele amava Marisa muito mais do que deixava transparecer. 
Tirei centenas de fotos com meu novo e simples celular na deliciosa recepção.  Mas quando os noivos assumiram o centro da pista de dança para a valsa, tive que sair  dali. Não dava para não pensar em Joe vendo os dois rodopiando apaixonadamente pelo  salão. 
Marisa praticamente me acertou com o buquê — de rosas azuis — deixando várias  garotas com cara de desapontadas. 
—Te trará sorte. — ela disse sorrindo. 
— Tomara. Eu tô mesmo precisando de um pouco pra variar. — sorri um pouco.  Mas não precisava ter escolhido as flores azuis por minha causa. 
— Mas eu quis flores azuis! Não tem nada a ver com o que a Mãe Cleusa te disse. Eu quis! 
— Sei. — retruquei desconfiada. 
Marisa tentava me animar de toda forma nos últimos dois meses. Eu tentava  demonstrar um pouco de entusiasmo quando estava perto dela, mas parecia que eu não  tinha mais esta capacidade. 
— Demi será que não seria melhor se... — ela começou insegura. — Sei lá...  você tentasse... esquecer? 
— Não! Eu não quero esquecer, Marisa. Não consigo esquecer o que vivi com Joe  seria como... Como tentar alimentar um tubarão só com legumes. Não dá! Eu não... Eu só... 
— Desculpe, eu não queria te deixar nervosa. Só queria que pudesse ser feliz de  algum jeito. 
— Valeu, Marisa. Mas não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem.  Ela não disse nada, apenas me encarou. Não acreditou na minha mentira  deslavada. Era inútil tentar esconder qualquer coisa dela 
— Eu vou ficar bem. Você vai ver! — emendei, tentando parecer mais segura.  Peguei minha bolsinha sobre a mesa e meu buquê. 
— Tem certeza que não quer ficar um pouco mais? Ainda vai demorar um pouco  para sairmos para a nossa lua de mel. — Marisa revirou os olhos. 
— Tenho. Já está tarde e amanhã eu vou até a divisa do estado. Encontrei uma 
garota na internet que diz ter vivido algo parecido. Quem sabe eu descubro alguma  coisa dessa vez. Além do mais, eu já vi o melhor da festa! — apontei para o Logan no centro da pista dançando animadamente uma música muito rebolativa. 
— Ele sempre se empolga quando bebe um pouquinho a mais... — ela sorriu  encantada, admirando seu marido com olhos brilhantes. 
—Você está feliz, não está? — perguntei, constatando o óbvio, 
— Muito. Imensamente feliz. Acho que eu só poderia estar mais feliz se você  não estivesse tão triste. 
— Esquece isso! Hoje é o seu dia! A sua noite, melhor dizendo! — pisquei pra  ela, forçando um sorriso. 
Ela suspirou. 
— Demi, estou tão cansada que a única coisa que eu vou querer é cama! Pra  dormir e mais nada. — ela fez uma careta, remexendo um dos pés. — Sou capaz de  acertar a cabeça do Logan com o abajur se ele começar com gracinhas. 
— Que belo começo de casamento! — zombei. Depois a abracei. — Boa viagem. Me liga quando voltarem. 
— Adeus, minha amiga! — e me apertou forte. 
— Ai, Marisa, credo! Você só vai ficar fora por uma semana, não precisa fazer  drama. — eu brinquei, mas também a abracei mais apertado. — Te amo, Marisa. Fala que eu disse “boa viagem” pro seu mandão! 
— Deemi! — ela me soltou fazendo uma careta, e depois sorriu, enquanto eu me dirigia para a saída. 

Voltei a pé para casa, não tinha táxi ali perto e não era tão longe assim. E eu  gostei de caminhar com a brisa suave da noite brincando em meu rosto. A imensa lua  branca deixava tudo prateado, como num quadro em branco e preto.  Parei na pracinha, perto da minha pedra que eu ultimamente tinha como meu lar  —, incapaz de resistir. Fiquei no banco por uns dez minutos, contemplando a lua e pensando o que Joe estaria fazendo naquele momento. E então, vindo do nada, a mulher que procurei incessantemente nos últimos dois 
meses se materializou bem diante dos meus olhos. 

— Acredito que esteja procurando por mim. — ela disse e sorriu gentilmente. Levantei-me num salto, eu queria torcer seu pescoço, pisar na sua cabeça até os olhos saltarem. Mas, ao invés disso, apenas encarei a mulher que bagunçou minha vida com toda a raiva que eu sentia. 
— Por que? — perguntei trincando os dentes. 

Ela não respondeu, apenas me contemplava com olhos gentis. Minha raiva aumentou. 

— Por que? — repeti, sentindo o sangue ferver nas minhas veias. — Por que fez  isso? 
— Você tinha que passar por isso. Tinha que conhecer Joe. — ela disse com sua voz suave e musical. 
— E pra que? 
— Ele estava no seu destino. — ela deu de ombros. — Não tive outra  alternativa. Precisei reuni-los como pude! 

Eu não entendia o que ela me dizia. Nada fazia sentido. 

— Vou explicar melhor, querida. Imagine que todas as pessoas tem sua outra 
metade e, que algumas vezes, passam por ela sem nem mesmo notar. Outras pessoas são 
mais atentas e as notam e tem a chance de escolher, de ser feliz por toda a vida. ~ 321 ~
Eu ainda a encarava sem entender. 

— Acontece que ocorreu um pequeno erro e você não teve esta chance. Sua  metade não vivia no mesmo presente que você. Precisei reuni-los para equilibrar as  coisas. 
— Reunir? Você acabou com a vida de Joe  com a de Elisa! E a minha também!  — eu gritei. 

Ela não pareceu abalada. 

— Bem, sim. Mas você aprendeu o que precisava. 
— Aprendi! Aprendi a nunca confiar em estranhas que querem ferrar com sua  vida usando um sorriso gentil no rosto! 

Ela levantou uma sobrancelha. 
Eu bufei. 

— É claro que aprendi. Mas não precisava ter estragado a vida de outras pessoas  para fazer isso, não de pessoas tão boas como eles. Se queria me ensinar a ser menos fútil, podia ter dado outro jeito. 
— Não é bem a isso que estou me referindo. Nunca foi sobre sua futilidade. 
— Ah! Não? E porque você fez aquela cara quando me vendeu o celular? 
— Porque, sendo você como era naquela época, eu sabia que sofreria mais em sua experiência do que outra pessoa. Muitas pessoas estão habituadas a uma vida mais simples. Seria mais fácil se você fosse assim, só isso! — deu de ombros. — Me referia ao seu autoconhecimento. 
— Então... então... — agora é que eu não entendia nada mesmo! 
— Na verdade, Demi, como eu disse, foi tudo um erro de planejamento. 
— Um erro? 
— Sim, querida. 

Ela estava me irritando profundamente com os seus “queridas”. 

— Então, Joe está sofrendo por um erro seu? Como você pode fazer isso com  ele? Por que não me deixou quieta com minha vida vazia? Me deixasse passar pela vida sem vivê-la. Nunca deveria ter me mandado para lá! Nunca! Eu não posso continuar...  Não depois de saber que Joe... — meu peito doía ao pensar que tinha sido infeliz em sua vida. E tudo o que eu mais queria era que ele fosse feliz.
 — É por isso que estou aqui, querida. — ela disse sorrindo maternalmente. —  Vamos consertar algumas coisas? 

Olhei para ela, desconfiada, e querendo muito que não estivesse brincando  comigo. Eu já estava no limite! 

— Não estou brincando. Vamos resolver isso de uma vez. Tenho outros...  Clientes por assim dizer, que preciso visitar. 
— Por falar nisso, quem era a tal pessoa que estava lá também? —perguntei,  querendo resolver finalmente este mistério. 
— Eu não disse que era uma pessoa. — e sorriu. 
— O que? 
— Storm era seu protetor, se tivesse prestado mais atenção teria percebido. — ela disse meio ríspida. 

O cavalo? Meu protetor? 

— Eu procurava por um homem e era um cavalo o tempo todo? 
— Eu jamais te deixaria sozinha, Demi. Mas não podia envolver mais pessoas neste caso. Storm foi perfeito para esse trabalho. Ele te ajudou diversas vezes, não foi?  — apontou. 

Comecei a juntar as coisas: Storm no quadro me deixou fascinada, depois que o  conheci fiquei ainda mais ligada a ele. E foi por culpa de Storm que Joe e eu acabamos nos enroscando e caindo na estrada, o que levou ao nosso primeiro beijo. Ele me encontrou quando tentei fugir e me levou para casa quando chegou a hora de voltar.

— Claro! — eu disse, sacudindo a cabeça tristemente. — Como fui estúpida! 
— Estúpida não. Apenas desatenta. — ela me corrigiu. 
— Como você faz isso? Como sabe o que eu estou pensando? 
— Querida, eu conheço todos os meus... clientes, profundamente. Digamos que eu esteja em sintonia com sua cabeça. — ela sorria pra mim como se fosse minha amiga. — E eu sou! Então, vamos acertar tudo? Agora que se conhece verdadeiramente, me diga o que realmente deseja, Demi
— Quero voltar! — eu disse firme. 
— Não posso permitir que viva essa experiência outra vez. — seu rosto ficou sério. — É contra as regras. 

Assenti, sentindo parte de mim morrer naquele instante.

 — Então faça Joe feliz. Faça com que esqueça que me conheceu ou que se  apaixone por outra garota ou qualquer outra coisa que o deixe feliz. — implorei, cansada. 
— Tem certeza de que quer mesmo isso? — suas sobrancelhas arquearam. — Ele não se lembrará de nada do que viveram juntos. Não se recordará nem mesmo que a conheceu. 
— Eu não me importo! — eu disse abrindo os braços, meus olhos inundados. Eu me lembraria e isso me bastava. —Desde que ele esteja feliz, não me importo com mais  nada. 

Ela me observou por um longo minuto.

— Estou muito orgulhosa de você, Demi! — seu sorriso iluminou seu rosto  delicado. — Muito bem, então! Me devolva o aparelho, por favor? — pediu esticando a mão. 

Abri minha bolsa e peguei o celular que eu passara a gostar. Ele tinha me levado  até Joe e agora estava indo embora para arrumar o estrago que eu causei. Coloquei o  aparelho na mão dela rapidamente. Quanto antes ela fizesse sua mágica mais rápido Joe deixaria de sofrer. 
—Tem certeza? — perguntou mais uma vez. 
— Você não disse que conhece cada segredo de minha alma? — retruquei. —  Faça logo e o deixe viver em paz! 

Ela abriu um enorme sorriso eufórico. 

— Você manda! — disse apertando o botão verde. Obviamente, com ela, o aparelho funcionou. 

A luz branca me cegou. Dessa vez, porém, não me assustei. Esperei que a  cegueira passasse para que eu pudesse voltar para meu apartamento e me enfiar no meu  nada outra vez. Mas quando tentei fazer meus olhos focalizarem a rua, não fui capaz. Não por que ainda estivesse cega ou por não haver luz alguma, mas por que não existia rua alguma. Tudo havia sumido.  Olhei em volta com o coração retumbando no peito, a luz prateada da lua me permitiu ver onde eu estava, ver a pedra perto de meu pé, o cedro ainda pequeno, o 
gramado que cobria todo o chão e a ela que ainda estava ali na minha frente. 

— Mas você disse que... — comecei sem entender. 
— Que não poderia repetir a experiência. E não pode. — ela sorriu. — Mas você  pode escolher, Demi. Agora que você sabe quem realmente é, o que realmente quer,  poderá escolher. Ficar aqui ou voltar para o seu tempo, mas seja qual for sua decisão não haverá retorno. — ela ameaçou. — Não é uma ameaça! Estou apenas te avisando, para que não hajam mais erros.  Eu não precisava pensar. 

— Fico aqui. — eu disse, enfática. Meu coração martelava nas costelas, um sorriso se apoderou de meus lábios. — Fico aqui com Joe

Ela assentiu sorrindo. 

— Imaginei que me diria isso. 
— Posso ir? — eu tinha pressa, passei mais tempo sem ele do que podia suportar. 
— Pode sim, querida. Seja feliz! 

Dei alguns passos, mas depois voltei. Atirei meus braços em volta dela e a apertei forte. 

— Obrigada, seja lá quem você for! Obrigada por trazê-lo para mim!

Ela não pareceu surpresa com minha reação. 

— Sei que os mecanismos de magia se modernizaram um pouco ao longo dos anos, mas não pode ser tanto assim que você não me reconheça! — disse zombeteira. Eu a soltei e olhei em seus olhos. 
— Você é uma... fada? — experimentei dizer. Só podia ser! Como não pensei nisso antes? Talvez por que fosse ridículo demais, mas... 
— Quase isso. Você pode adivinhar. Vamos, Demi, pense! Eu lhe mandei um  príncipe charmoso, um vestido de baile, uma carruagem... — ela sorria divertida. 

A compreensão me atingiu como um raio. 

— Você é minha f... — mas a luz branca voltou e ela desapareceu. Seu riso ecoou na noite prateada. 

Fada Madrinha? Eu tinha uma fada madrinha? Ao que parecia, do tipo mais  estranho que eu já tinha ouvido falar. Que te dava aquilo que você ainda nem sabia que queria. Mas eu estava onde queria estar, então, agradeci por ela existir e, assim que a cegueira passou, me pus a correr em direção ao caminho que me levaria até Joe .Senti saudades dos vestidos s bufantes quando tentei acelerar a corrida e o tecido não permitiu. Droga de vestido apertado! Tirei os sapatos de salto agulha e levantei a saia — o pouco que pude — tentando ganhar mais velocidade. Eu meio corria, meio andava. Parecia um pato descontrolado correndo atrás de uma minhoca voadora mas, a cada segundo, eu me 
aproximava mais de Joe . Meu coração saltou dentro do peito assim que avistei a casa grande, ainda cor de 
creme, ainda sem nem uma ação de desgaste. Tudo estava como deveria estar. Meus pulmões ardiam pelo esforço, mas eu não parei até praticamente arrombar a porta da sala e entrar feito um furacão, assustando Elisa, Teodora e Gomes, que tinha uma bandeja nas mãos e com o susto acabou derrubando tudo mo chão. 
— Elisa! — exclamei sem ar. 
— Demi? — ela perguntou, completamente desnorteada, enquanto me lancei contra ela. — DEEEMI! 
— Elisa! Elisa! — eu a apertei, soltando meus sapatos, minha bolsinha e o buquê, que caíram na bagunça de xícaras e açúcar. — Senti tanto sua falta! Muita mesmo! 

Eu a deixei e abracei Teodora. Estava eufórica demais. 

— E também senti saudades suas, Teodora. Não é estranho? 

Ela me abraçou meio sem jeito. 

— Acho que sim... — mas estava sorrindo. 
— Gomes! Como é bom ver essa sua careca outra vez! — eu disse, enquanto o  esmagava com os braços. Ele ficou meio sem jeito, mas acabou retribuindo meu abraço. 
— Desculpe pelo susto... 
— Que bom que está de volta, senhorita. — disse um pouco acanhado. 
— Onde ele está? — perguntei ainda ofegante. 
— No quarto. Ele não sai de lá. — Elisa disse com os olhos arregalados, ainda  surpresa com meu súbito aparecimento. 

Comecei a correr em direção ao quarto dele quando Elisa gritou: 

— Não no quarto dele! Em seu antigo quarto. 
— Joe! — resmunguei, mudando de direção. 
Não me perdi dessa vez. 
Não me perderia nunca mais! 
Alcancei a porta e tentei abri-la, mas estava trancada com chave. 

— Vá embora! — gritou lá dentro. 

Meu corpo todo estremeceu ao ouvir sua voz, mesmo estando mais rude que de costume. Bati na porta com mais força. 

— Já pedi para me deixar em paz. —ele vociferou.

Não desisti. Continuei batendo insistentemente até que ouvi sons de passos  pesados e sua voz lamuriosa esbravejando outra vez. 

— Eu já disse para ir embora! — berrou ao abriu a porta. Seus olhos furiosos se  arregalaram, depois ficaram confusos. O rosto abatido me examinou por alguns segundos. 

Meu coração batia ensandecido dentro do peito. Ele estava ali, bem na minha frente! 

— Tem certeza? Eu vim de tão longe! Mas se quiser que eu vá emb... — não  pude terminar, seus braços urgentes me puxaram para si e seus lábios esmagaram os  meus com desespero.


--------------------------------------------
FELIZ NATAL ATRASAAAADO,HEEEEEEEEEEEEEY,COMO FORAM DE NATAL? EU COMI MUITO,CURTI MUITO,CELEBREI MUITO.
Curtam,comentem,deixem a opinião de voces ta?
Mil beeijos,Nath

domingo, 21 de dezembro de 2014

Perdida #52

Fui até o apartamento de Marisa no final de semana, pra conhecer o “novo” ninho de amor do casal, onde fui informada que se casariam oficialmente no próximo mês.

— Quem sabe você pega meu buquê, Demi. — Marisa tentou me animar. Ela me conhecia bem para saber que eu não estava nada bem.
— Quem sabe. — concordei, desanimada.
—Tem uns caras bacanas do Jiu-Jitsu que talvez você goste. Se quiser, posso te apresentar a algum deles. — Logan ofereceu. Marisa contou a ele que eu estava apaixonada,para explicar as minhas ações tão atípicas nos últimos dias. Mas é claro que ela não contou a ele que Joe não morava naquele mesmo século.

Logan pensava que eu tinha tomado um belo pé na bunda.

— Não, não. Valeu pela oferta, mas não, obrigada!

Logan foi até a cozinha pegar os pratos para comermos a pizza. Ele ajudava Marisa em tudo, fiquei surpresa.

— Ele começa a trabalhar nesta segunda. — ela me confidenciou, orgulhosa.
— Isso eu tenho que ver! Quem foi o maluco que deu emprego pra ele?
— Foi o Zezão. O Rafa vai ser personal na academia dele.
— O salário até que é razoável e ele pode acabar conseguindo uns por fora! —sorriu entusiasmada.
— Bacana! Fiquei fora alguns dias e o Logan está trabalhando, casando... e eunão estou trabalhando. O mundo tá mesmo de pernas pro ar! — tentei brincar, mas nãome sentia muito animada.

Marisa notou isso.

—Ah! Dem! — ela lançou seus braços ao meu redor e me apertou firme. — Não podia se apaixonar por alguém mais acessível? — disse, meio brincando, meio lamentando.
— Não tive escolha, Marisa. Não sei como viver sem ele. Tenho que encontrá-la a qualquer custo. Eu tenho que encontrar a tal mulher! E muito rápido. — A cada dia, ficava mais insuportável respirar.
— Humm. — ela resmungou. — E nós vamos encontrá-la. Vamos procurar em cada canto do planeta. Você não vai passar o resto da vida sofrendo assim! — afirmou convicta.
— Valeu, Marisa  — eu me apertei mais contra ela. — Eu te adoro.

Voltei para casa tarde da noite e, dessa vez, sóbria.

Ainda era muito cedo. A cidade começava a despertar. Dirigi pelas ruas semi desertas até o apartamento de Marisa.
— Pra onde vamos assim tão cedo? Você encontrou alguma coisa? — ela perguntou, entrando no carro com rapidez.

Eu não tinha encontrado nada. Mal dormi na última noite, mas o pouco tempo em que estava inconsciente eu sonhei com Joe. Estávamos em casa — na casa dele — e conversávamos sobre seus cavalos. Ele estava animado, sorridente, feliz. Seus olhos brilhavam e seu sorriso me hipnotizava. O mesmo de sempre! Mas, então, de repente ele começou a se distanciar. O sofá no qual estávamos sentados começou a se esticar e Joe ficava cada vez mais longe. Eu tentei gritar, chamar por ele, mas minha voz não saiu, ficou presa em meu peito. Tentei me levantar para alcançá-lo, mas minhas pernas pareciam feitas de chumbo e eu não pude movê-las. Ele continuava se distanciando, até que, finalmente, foi engolido pelas sombras. Acordei com o coração batendo rápido, com lágrimas nos olhos e o grito ainda preso em minha garganta.
A dor me apunhalou fundo quando percebi que ainda estava em meu apartamento. Sem pensar, liguei pra Marisa para encontrá-la.
— Não, Marisa, não encontrei nada, mas eu preciso ir até lá. — engoli alto. Até a casa dele. Não vou conseguir fazer isso sozinha. Talvez tenha alguma pista ou... sei lá! Eu preciso ir até lá!
— Acha que a casa ainda existe? — ela perguntou, descrente.
— Espero que sim. — eu disse, pisando no acelerador. Refiz o caminho para a casa de Joe, bem diferente agora — com avenidas pavimentadas e semáforos me perdendo inúmeras vezes antes de encontrar uma ruela estreita. Depois de um tempo, avistei a casa, uma pequena chácara no meio da cidade grande. Era a mesma casa, deteriorada pelo tempo, acinzentada, mas era a mesma, eu tinha certeza. Minhas mãos
começaram a tremer, pensei que a dor fosse me rasgar em duas. Marisa percebeu.
— É ali?

Assenti. Parei o carro perto das escadas envelhecidas sem saber bem o que fazer. Não me importava se o dono chamaria a polícia ou se me levariam para a ala psiquiátrica outra vez, eu tinha que entrar lá.
— O que pretende fazer? — Marisa indagou, observando a casa imponente.
— Eu não sei. Só quero... Só preciso entrar lá! Ver que tudo foi real e... — sacudi a cabeça. Eu não sabia o motivo, mas eu tinha que entrar naquela casa. Era como se me chamasse.

Saí do carro decidida, subi os degraus até alcançar a porta. Marisa me seguiu. Eu bati e esperei.
— O que vai dizer? Por acaso, o Joe ainda mora aqui? — ela sussurrou, meio apavorada.

Não tive tempo para responder. A porta se abriu, um rapaz de cabelos cor de areia, estatura média e olhos de um azul familiar nos observou.
— Oi! — comecei insegura. Será que posso entrar e ver se o cara que eu amo está aí dentro? Você o conhece? Ele mora em 1830! —Eu...Tudo b...

Para minha surpresa, o rapaz sorriu.

— Demi Alonzo — disse de forma muito segura.

Minha boca se abriu. Os olhos de Nina se arregalaram. Demorei um pouco para responder.
— S-sou eu. Como sabe? — perguntei, ainda em choque.
— Entrem. — e se afastou para nos dar passagem. Senti meu coração se encolher dentro do peito ao ver a sala de visitas agora mobiliada com moveis atuais e uma grande TV de plasma bem ao centro dela. Tudo estava diferente, todos os móveis eram contemporâneos, atuais. Até a cor das paredes era diferente.
Também vazia, como eu.
— Estamos esperando por você há muito tempo. Há séculos, na verdade! Eu nem acreditava nas histórias, mas.., ele esticou os braços apontando para mim e sorriu eufórico. — Você está aqui!

E como gostaria de não estar! Estar em casa com Joe conversando sobre qualquer idiotice. Ou até mesmo estar assistindo Teodora discursar fervorosamente sobre a importância da fita no chapéu.

— Ouvi muito sobre você. — ele disse, animado.
— Ouviu? — uma centelha de esperança se acendeu
— Vem comigo. — ele indicou o caminho.

Fui na frente, olhando de vez em quando para ele e Marisa — que parecia aparvalhada, olhando para todos de boca aberta — pra ver de que lado ir. Contudo,depois de algumas portas, eu sabia para onde seguíamos.
Para o meu quarto.
A porta estava trancada.
— Esperem um minuto, vou pegar a chave. — disse o rapaz, saindo pelo corredor que levava até cozinha.
Toquei a porta envelhecida. A mesma porta que tentei fechar e Joe me impediu.

A mesma que arrombou quando pedi a navalha e ele pensou que eu fosse suicida. Tentei me controlar um pouco, respirando fundo diversas vezes, tentando juntar meus cacos. Era doloroso demais estar ali sem ele, sem os móveis, sem Elisa.
— Conhece este quarto? — Nina inquiriu, minha mão ainda na porta.
— É o meu quarto, Marisa . — sussurrei.

O rapaz — que eu ainda não sabia o nome — voltou e colocou a chave na porta.

— Este quarto fica trancado o tempo todo. Apenas a família tem acesso. — me explicou enquanto o abria.

Estava escuro lá dentro, O quarto não tinha luz elétrica como o resto da casa. Fiquei parada na porta, enquanto ele se enfiava na escuridão abrindo as cortinas pesadas. Dei um passo, vacilante, sem saber o que iria encontrar ali. Marisa  me seguiu.

Logo fiquei sem ar.

— Puta Merda! — Marisa exclamou.

Estava tudo como antes. Exatamente como eu o deixei! A cama, a banheira, o frasco de xampu, a mesa com o vinho, a poltrona, até a roupa de cama era a mesma, mas  agora tinha manchas amareladas causadas pela passagem do tempo. Olhei em volta, sem saber o que procurava, quando encontrei. Minhas pernas falharam.Não. Não estava exatamente tudo igual. Vários quadros haviam sido adicionados ao cômodo. Por um momento, não pude me mover. Senti que meus pulmões não mais sabiam o que fazer. Eu não conseguia respirar. Quando finalmente consegui levar um pouco de ar para dentro, me aproximei da parede.
Eu estava no quadro, com o vestido rosa de Elisa, uma flor presa no cabelo trançado. Hesitante, levantei a mão, que tremia muito, para tocá-lo, exatamente como fiz na noite em que o vi primeira vez. Nenhuma voz pediu para que eu não tocasse a tela porque borraria. O rasgo em meu peito sangrou.
Então, ele terminou o quadro que vi em seu quarto na noite em que fizemos amor. A noite mais mágica de minha vida. Toquei a tela, tentando sentir com as pontas dos meus dedos os lugares exatos onde os seus haviam estado. O quadro era lindo. Ele me retratou de forma deslumbrante. Muito mais do que eu era na realidade. O melhor Photoshop que já vi.

Lágrimas inundaram meus olhos, pisquei diversas vezes para que desobstruíssem minha visão e eu pudesse admirar as outras telas. Meus olhos seguiram a sequência de retratos.

Eu estava em todos eles.

Eu na cama com o cabelo bagunçado e o lençol branco preso entre os braços: a  noite em que fizemos amor. Eu na sala de música, com o vestido de baile e olhos  assustados: depois que contei a verdade a ele. Meus tênis vermelhos num quadro pequeno onde apenas meus joelhos cobertos pelo vestido azul apareciam: o vestido era curto e os deixou à mostra. Eu com as costas nuas brincando na água fria do riacho:  quase pude sentir os calafrios outra vez. 
Muitos quadros. A memória de Joe gravada nas telas. Ele se lembrou de cada  detalhe meu, cada traço, cada curva, cada expressão.

Meu coração se espremeu ainda mais, até o ponto de latejar. 

— Estes quadros foram feitos por meu tio-avô. Tataravô, Eles estão na família  há sete gerações. — o rapaz disse. 
Não pude vê-lo, meus olhos não conseguiam parar de olhar tantas provas do  amor de Joe por mim. 
— O que sabe sobre ele? — sussurrei. — O que sabe sobre Joe? 
— Bem... — ele não se espantou quando usei seu primeiro nome. — O que meus  pais me contaram, que souberam através dos seus, e assim por diante... Joseph Clarke  apaixonou por esta mulher, Demetria Alonzo, e a retratou até o fim da vida, numa tentativa  de não esquecê-la, eu acho. 

Até o fim da vida. 
Não pude conter o soluço. 

— Ele tinha vinte um quando pintou este. — me virei para acompanhá-lo. Eu sabia qual era o quadro. — Ela estava lá. Minha tataravó a conheceu. — sua testa se  enrugou. — Mas ela desapareceu depois de alguns dias e Joe não se recuperou. 
— Não! — não era um lamento, nem uma pergunta, era desespero e dor  misturados com raiva, agonia e medo. 
Marisa  me amparou. 
— Respire, Semi. Apenas respire. — ela pediu. Tentei obedecer, mas não obtive  muito êxito. 
— Ele ficou obcecado por ela, a retratou até este aqui, quando tinha trinta e um.  — continuou o rapaz, apontando para a outra parede. 

Era um quadro branco, muito branco, apenas a silhueta escura de uma mulher  envolta na luz branca. Sua última lembrança. Nosso último momento. 
— Depois disso, adoeceu. E, como estava fraco demais por culpa de todo o  álcool que ingeria, não conseguiu reagir e acabou... 
— NÃO! — isso não podia estar acontecendo. Eu precisava acordar daquele 
pesadelo. 

Tentei engolir e não consegui. Senti meus joelhos faltarem. Marisa me segurou  antes que eu caísse. O rapaz a ajudou a me levar até a cama.  Respirei várias vezes. Eu não queria ouvir mais nada. 
— Elisa ficou arrasada com... Depois que o irmão se foi... — meu corpo tremia  muito, como se eu fosse partir ao meio. — Ela viveu com o marido e os filhos nesta  casa até o fim. Este quarto se tornou um tipo de herança, que o herdeiro se comprometia a não modificar. Elisa dizia que um dia a garota voltaria, seu irmão insistia nisso. Que um dia ela voltaria à esta casa. 
A mão de Marisa subia e descia por minhas costas. 
— Ela foi feliz? Elisa foi feliz? — sussurrei. Não tinha forças para nada. 
— Sim. Muito feliz. Mesmo depois da m... Ela se casou com meu tataravô aos  vinte anos. Eles se conheceram num baile. Foi amor à primeira vista. 
— Lucas? — mal pude ouvir o som de minha voz.

Mas o rapaz ouviu, sorriu e balançou a cabeça. Tentei sorrir também, mas acho  que não consegui. 
—Veja. — ele pegou um papel na mesinha de cabeceira, o livro de capa de couro ainda sobre ela. — Esta é a carta que Joe deixou para a garota. Elisa a guardava como um tesouro. 

Olhei para o papel em sua mão e demorei pra entender que deveria pegá-lo.  Estava totalmente anestesiada. Marisa percebeu isso e pegou o papel, colocando-o em  minhas mãos logo em seguida. 

Fechei os olhos e respirei algumas vezes. Meus dedos tremiam muito.  Desdobrei o papel antigo e manchado com dificuldade. Sorri tristemente ao ver  sua caligrafia perfeita escrita com minha caneta barata.

Demi,
Escrevo esta carta na esperança de que algum dia ela possa chegar as suas mãos .Uma década se passou desde que você apareceu em minha vida. Acreditará se eu lhe assegurar que para mim nada mudou durante este tempo todo? Que não perdi a esperança de que um dia volte? Que ainda sinto seu  perfume em minhas lembranças? Que nossa ultima conversa gira em minha cabeça como se tivesse acontecido ainda ontem? 
Perdoe-me meu amor por não ter sido capaz de prendê-la aqui. Perdoe-me por não ter sido rápido o bastante. Tudo seria diferente se eu tivesse sido capaz de impedir que fosse levada para tão longe. Contudo eu não lamento nada. Os poucos dias em que passei ao seu lado foram os mais preciosos da 
minha existência. Então, agradeço todas as noites por tê-la em minha vida, mesmo que por tão pouco tempo. São as lembranças desses poucos dias que me mantém respirando. Desejo fervorosamente que esteja feliz, onde quer que você esteja agora. Não posso suportar, sequer pensar que você não tenha tido uma vida feliz como merece. 
Estou tentando encontrá-la, tenho falado com alguns estudiosos sobre o assunto, mas ainda não obtive nada satisfatório. Talvez acabe encontrando uma solução em breve, algumas coisas evoluíram por aqui. Talvez eu possa ir buscá-la. Nunca desisti de encontrá-la. Por isso, não sou capaz de lhe dizer adeus. 
Pois sei que ainda nos veremos outra vez. E se, por sorte, algum dia puder ler estas linhas, não te esqueças que a amei desde o primeiro instante e a amarei 
até o ultimo. Talvez até depois. Vemo-nos em breve, 
Eternamente seu 
J.C

Meu cérebro parecia mingau. Ele tentaria me buscar? Abandonaria tudo por mim? 

É claro que abandonaria! Da mesma forma que eu abandonaria. Mas é claro que  ele não encontraria nada. Se nem os banheiros existiam no século dele, quanto mais  máquina do tempo! 
Dobrei a carta e a guardei. Não sabia o que pensar. Nem mesmo o que fazer. Eu  só queria estar com ele outra vez, abraçá-lo e confortá-lo. Fazê-lo sorrir novamente. 
— Sempre me perguntei quem era você. — ele começou, depois de um tempo. — Sempre me perguntei quem era a garota retratada há duzentos anos atrás usando All Star vermelho. — ele olhava para o quadro. — Como é possível? 

Sacudi a cabeça, sem forças para mentir, não havia necessidade. Ele sabia a verdade. 

— Não sei. Apenas sei que até duas semanas atrás eu estava lá, Elisa tinha ido  até a casa de Teodora e Joe e eu estávamos no nosso lugar especial. De repente... eu estava aqui outra vez. 

Seus olhos azuis, tão dolorosamente familiares, me analisavam atentamente. 

— Você realmente esteve lá? 
— Estive — sussurrei. — E preciso voltar. Voltar para Joe e... — o soluço me impediu de continuar. 

O rapaz delicadamente colocou sua mão em meu ombro, 

— Vai ficar tudo bem. 
— Não vejo como, — chorei desamparada. 
— Nós vamos dar um jeito nisso! —Marisa disse determinada. — Meu Deus, esse homem é louco por você! Você não pode deixá-lo escapar. Vamos encontrar um jeito! 

Queria muito ter a mesma convicção que Marisa. Queria desesperadamente.

--------------------------------
Hey gente,ta dificil pra Demi e pro Joe,mais espero que tudo se ajeite. A historia ta acabando,e eu não sei o que fazer,antes de 2014 quero ter terminado a fic. Mais preciso de uma ajudinha,o que fazer depois que Perdida acabar? Deixem a opinião de vocês
Um bom domingo a todas
Beijos

sábado, 20 de dezembro de 2014

Perdida #51

Não! Não! Não! Não!

Por favor, não! Agora não! Eu nem pude dizer adeus! Por favor, não! Quando a luz desapareceu, levou tudo com ela: Joe, o cavalo, o gramado, tudo havia desaparecido.

Tudo!

Eu estava na praça outra vez, debaixo da mesma árvore em que Joe e eu estávamos encostados há alguns minutos, porém, agora era muito maior e a casca envelhecida.

Não! Por favor! Me deixe voltar! Por favor!

Não conseguia pensar direito. Apertei o celular, desesperada, tentando fazê-lo funcionar, tentando voltar. Eu precisava voltar. Aqui não era mais meu lugar. Não era mais minha casa. Nunca foi.
Joe era!
Desesperada, quase cega pelas lágrimas, comecei a correr em direção à loja onde comprei o celular. Ela teria que mandar de volta! Esbarrei em algumas pessoas, que me olhavam com espanto, mas não pude parar
para me desculpar. Não podia perder tempo. Entrei na loja ainda correndo, indo direto para o balcão de celular.

— Onde está a outra vendedora? — perguntei sem fôlego para uma garota.
— Quem? — ela me olhou espantada.
— A outra vendedora! A que me vendeu este aparelho há alguns dias. — eu tremia muito. Quase não conseguia ficar de pé.
— Creio que se enganou de loja, moça. — ela falou, enquanto examinava meu vestido. — Sou a única que trabalha neste setor.
— Não! — teimei. — Estou falando da outra vendedora. Uma mulher mais velha de cabelos grisalhos e com voz suave. A que me vendeu este aparelho! — mostrei

o celular como prova.

A garota olhou em volta, assustada.

— Por favor, se acalme, sim? Vai ficar tudo bem. — ela levantou as mãos espalmadas, me trazendo a nítida lembrança de Joe com as mãos abertas dizendo que não me tocaria depois de me beijar pela primeira vez.

Meu desespero se intensificou.

— Não! Não está tudo bem! — berrei. — Eu preciso encontrar aquela mulher! Ela precisa... Ela tem que me ajudar. Eu tenho que voltar! AGORA!

Eu tremia muito, me apoiei no balcão para não cair. Não vi quando a garota chamou os seguranças, mas lutei contra eles empurrando com toda a força que tinha.
— Me solte. Eu tenho que voltar. Joe está me esperando. — as lágrimas me impediam de ver qualquer coisa. — Ele vai sofrer se eu não voltar. O que pensa que está fazendo? Me solta! — empurrei alguém com tanta força que acabei caindo. Alguém se aproveitou disso e tentou me imobilizar. Debati-me no chão, gritando contra a pessoa, ouvindo muito barulho ao meu redor, mas ainda não conseguia enxergar nada com clareza. Mais mãos tentaram me segurar, até que um tempo depois, senti uma picada em meu braço, e tudo desapareceu outra vez.

A primeira coisa que vi quando abri os olhos foi o teto branco. Um bip  constante perto de minha cabeça me acordou.  Olhei em volta e percebi que estava num quarto de hospital.
Como foi que eu vim parar aqui? 

— Demi? — uma voz suave perguntou. 
Virei-me para o outro lado e a vi sentada numa cadeira ao lado da cama. 
— Marisa ? O que estou fazendo aqui? — perguntei ainda confusa. 

Quando consegui focalizar seus olhos, a memória me invadiu. 

— Marisa ! — gritei me atirando em seus braços surpresos. Eu a abracei com tanta  força que poderia ter quebrado uma costela. Meus olhos arderam e senti as lágrimas  descerem por meu rosto. — Senti tanto a sua falta! Você não pode imaginar a confusão  em que me meti! 
— Posso imaginar, sim! Pode me explicar onde estava todos esses dias e porque  estava usando aquela roupa? E porque deu piti numa loja? A sorte foi que o Logan viu te  colocarem na ambulância e me ligou avisando. Ele está lá baixo resolvendo toda papelada. Por falar nisso, cadê seus documentos?  O Logan estava ali também? 
Eu a soltei para poder ver seu rosto. 

— O que aconteceu? — perguntou, parecendo preocupada. 

 Endireitei-me na cama. 

— Marisa, é uma história muito longa e eu prometo que vou te contar. Mas só depois que eu sair daqui, está bem? 

Sua testa se enrugou. 

— Por que? — perguntou desconfiada 
— Porque é uma história complicada e meio... Doida. Você pode querer não me  tirar daqui. — tinha aprendido minha lição. 
— Claro que não vou te deixar aqui! E nós temos tempo. Você não vai sair do  hospital antes que o médico a libere. Então, vê se desembucha logo, — seu tom duro e, ao mesmo, tempo preocupado 
— Marisa, eu estou bem... — Mentalmente porque eu sabia que só ficaria bem de  verdade se pudesse estar com Joe outra vez. — Eu tenho que sair daqui logo. Tenho que  procurar uma pessoa. 

Suas sobrancelhas se arquearam. 

— Uma pessoa? — repetiu, a voz baixa e desconfiada. 
— Sim. E você vai me ajudar! — afirmei, sem dar a ela a chance de decidir se  ajudaria ou não uma amiga aparentemente surtada. 
— Está bem. — Marisa falou, cautelosa — Eu te ajudo, depois que você me disser  tudo o que está acontecendo. 

Suspirei. Encarei Marisa por um longo tempo, decidindo se contava ou não. Ela  era minha irmã em muitos sentidos, merecia saber a verdade depois da preocupação que  causei — totalmente sem intenção. E ela não me internaria, eu quase tinha certeza disso. 
— Tudo bem, Marisa. O que eu vou te contar não é uma história fácil de engolir.  — ela assentiu, o rosto sério. — Tente manter a mente aberta, tá? 
— Está me deixando preocupada, Demi. Fala de uma vez! 
— Lembra-se da noite em que fomos ao Toca e meu celular caiu na privada? ela  assentiu. — Começou aí! No sábado, eu acordei cedo e fui comprar um novo, você sabe  que eu não sabia viver sem ele. — fiz uma careta ao pensar nisso. Quantas coisas inúteis  pensei serem tão importantes a ponto de não poder viver sem elas! Sacudi a cabeça,  desgostosa. — Então, quando cheguei à loja...
Contei tudo o que aconteceu na loja, depois na praça e como fui parar no século  dezenove. Nesta parte, suas sobrancelhas se arquearam, mas eu não parei. Disse a ela  tudo que passei por lá, a casinha, o pé de alface, a carruagem, as pessoas que conheci, os  vestidos e falei sobre o principal. 
Joe . 
Não pude conter as lágrimas que rolaram continuamente em meu rosto. Falar  dele triplicava a dor intensa que eu já sentia. Narrei como acabei me apaixonando por ele sem me dar conta disso, sobre seu bom humor e seus modos educados, a forma  carinhosa com que tratava a irmã, como cuidou de mim quando estive doente, a noite  mágica que passamos juntos. 

Precisei de alguns minutos para continuar, a dor que invadiu meu peito me tirou  o fôlego. Só consegui soluçar e tremer por um tempo.  Marisa passou seus braços em mim, tentando me acalmar, mas eu não conseguia  nem mesmo respirar. Quando olhei seu rosto e vi que ela também chorava, fiquei ainda  pior, pois eu não sabia se ela chorava por minha dor ou se chorava por mim ou pela  perda da minha sanidade.  Continuei com a história: a noite do baile, o ataque de Santiago, minha fuga.  Contei absolutamente tudo, da dança final perto da pedra até minha volta para cá e o  pouco que me lembrava sobre a confusão na loja. 
Quando terminei, fiquei sentada tentando me controlar. Tentei muito não pensar  em Joe, mas toda vez que eu piscava via seu rosto assustado, sua mão esticada tentando  me alcançar, atrás de minhas pálpebras. Um pesadelo que se repetia a cada vez que eu  fechava os olhos. 

Marisa  ficou em silêncio por alguns minutos, me observando, analisando meu  rosto retorcido pela dor. 
— Demi, preciso te fazer uma pergunta. — sua voz séria, assim como seu rosto.  Apenas a encarei. — Você está usando drogas? 
— Ah! Marisa! Você também não! — eu gemi. 
— Desculpe, Dem. Mas o que acaba de me contar é... — ela me fitou, tentando  encontrar a palavra certa. 
— O que? Surreal? impossível? Maluco? História da carochinha? — ajudei. 

Ela sacudiu a cabeça concordando. 

— Mas é a verdade, Marisa. Você viu o vestido, não viu? 
— Vi, mas... Como? Por que? 
 — Não sei! Não faço ideia! Acho que, se eu conseguir encontrar a vendedora,  talvez ela me explique e me ajude. — por que ela tinha que me ajudar, não tinha? Ela  havia armado a confusão e agora iria consertar!

Ah, se ia! 

Marisa não disse nada, vi a história se repetir de novo e de novo em seus olhos de  esmeralda, tentando encontrar sentido. 
— O que você vai fazer agora? — ela perguntou horrorizada depois de um  tempo. 

Suspirei de alívio. 

— Vou procurar por ela. Vou fazer com que arrume as coisas... Que me mande  de volta. Ela vai ter que consertar isso. De uma forma ou de outra! — eu disse firme,  secando meus olhos. 
— Você pretende voltar? Me deixar aqui sozinha? 
— Você não está sozinha. Tem o Logan, tem seus pais. — seria muito difícil  nunca mais ver Marisa. Éramos tão unidas que, com exceção da minha viagem para o  passado, eu não tinha uma única memória que não a incluísse. Mas ela estaria feliz, eu  sabia disso. Estaria ao lado do amor de sua vida, teriam filhos lindos, brigariam pelo  resto da vida e se reconciliariam todas as vezes, como sempre foi. Não precisaria me 
preocupar com ela. Ainda assim, seria doloroso não tê-la por perto. 

— Não é a mesma coisa. E meus pais não falam comigo, você sabe disso. —  retrucou tristonha. 
— Eu sei! Mas eles podem mudar de ideia e você pode vê-los quando quiser. E  você tem o Logan, que é maluco por você. Imagine se... Imagine se ele precisasse ir morar na... Groenlândia e nunca mais voltasse a pôr os pés aqui. Se tivesse a chance de ir com ele, você iria? 

Ela não respondeu imediatamente. E nem precisava, eu sabia a resposta, assim  como ela. 

—Você entende, Marisa? Eu preciso dele! Claro que eu sentiria uma saudade  louca de você, mas, ao menos, saberia que está feliz. Além disso, se eu não voltar, ele...  — era insuportável imaginar. Doloroso demais imaginar que eu nunca mais voltaria a  ver Joe. Nunca mais ver Elisa, Madalena e todos os que deixei para trás. Minha nova família. E eu não tinha uma há muito tempo. 
— Também morreria de saudades! — ela tocou minha mão gelada. — E tudo o que eu quero é te ver feliz. Mesmo que... nunca mais...Vou te ajudar a encontrar a tal  mulher e vamos obrigá-la a te mandar para lá! Nem que eu tenha que usar a força! —  Marisa era tão exagerada! Mas dessa vez eu estava com ela. 

— Onde estão minhas coisas? 
—Tudo que me entregaram foi isto e aquele vestido estranho. — ela levantou o  celular. 
— Ficou tudo lá com ele. Tudo! — a dor me deixou quase cega, pontos negros  embaçavam minha visão. — Como foi com o Logan? — perguntei, tentando me distrair para não partir em duas. 
— Foi maravilhoso! Bem, quase. Eu estava muito preocupada com você. Não sabia o que tinha acontecido... Te procuramos em hospitais e até em necrotérios! 
— Desculpe, Marisa! Não dava pra te mandar um bilhete. Acho que os correios ainda não fazem esse tipo de entrega. — e sorri, secando os olhos com as costas das mãos. 
— Sua maluca! Não podia se meter em nada menos complicado, pra variar? — ela sorriu também. 
— Ah! Marisa! — Estiquei os braços e a abracei bem forte. —Estou tão feliz por você e o Logan! 

Ela me abraçou também. Depois me olhou espantada. 

— Está chorando? 

Não tinha percebido. 

— É que eu... Não imagina como estou feliz por vocês dois! Serão tão felizes  juntos! São perfeitos um para o outro. 
— Já chega! Quem é você? Onde está minha amiga? — ela disse com a testa  enrugada, depois sorriu. 
— Você tem razão. Não vai acreditar em como eu mudei. Sou uma outra mulher. Uma que é romântica, chorona e melodramática. Tudo que eu nunca fui. Sou uma EMO! 
— Claro que não é. Só está apaixonada. — ela sorriu, depois seus olhos se estreitaram. — Pela primeira vez! 
— Fala logo, — eu resmunguei. 
— O que? — perguntou inocente. — Eu te disse? Que tipo de amiga eu seria se tripudiasse de seu sofrimento dessa forma? 
— Obrigada. — suspirei. 
— Mas eu te avisei! É diferente de eu te disse.
Precisei fazer um teatro para o psiquiatra do hospital, inventado que tinha bebido  demais e estava com stress de trabalho para poder justificar ter pirado, saído na rua  vestida daquele jeito, invadido lojas e agredido pessoas. Prometi procurar um psicólogo para me ajudar a aliviar o stress. Ele até me deu o telefone de um especialista. Saí do hospital com as roupas que Marisa levou para mim, meu vestido e o celular estavam dentro na sacola de plástico. Tive que suportar as piadinhas de Logan durante todo o caminho até meu apartamento. 
Você estava doidona, hein, Demi? O que você usou? Me arruma um pouco! Não seja fominha. Divide o bagulho! 

Entrei em meu apartamento e tudo estava exatamente como eu havia deixado: de  pernas pro ar. Foi estranho entrar ali de novo. Tanta coisa tinha mudado. Eu tinha mudado. A sensação de estar em casa não existia mais. Era apenas um apartamento. 
—Tem certeza de que está bem? — Marisa perguntou pela milésima vez. 
— Tenho! Pode ir. Vocês têm muito o que fazer agora. — eu disse, lhe dando outro abraço. 
— Se precisar, me liga. A qualquer hora! 

Assenti, mas eu precisava ficar sozinha um pouco. Queria botar os pensamentos em ordem, descobrir alguma pista de como encontrar a mulher.  Logan não largou sua cintura em momento algum. Eu sorri. E depois ele me  surpreendeu me abraçando — sufocando — antes de sair. — Se cuida, garota. — ele disse, antes de fechar a porta, já era noite. Fiquei contemplando meu apartamento vazio. Tão vazio quanto eu. Tudo que era meu ficou  com Joe minha bolsa com meus documentos, meu livro, minha nova família, meu coração, minha alma.  Peguei o vestido e o aproximei do rosto. O cheiro dele ainda estava impregnado 
no tecido. Respirei fundo, deixando seu aroma inundar minha cabeça. A única  lembrança concreta que restou. A única coisa que me fazia crer que eu não tinha  imaginado tudo. Que ele era real. Que o que vivemos foi real. Ficava cada vez mais difícil acreditar nisso, estando ali no apartamento repleto de geringonças modernas. Tomei um banho para me livrar do terrível cheiro de hospital, sem me importar 
com o chuveiro ou a privada. Não senti o alívio que imaginei que sentiria ao entrar num banheiro outra vez. Nada mais importava. Embrulhei-me com a toalha e fui pro quarto, incapaz de me conter por mais tempo. Deixei-me cair num canto e não impedi as lágrimas nem a dor dilacerante que rasgou meu peito me tirando o fôlego, nem fui capaz de conter o tremor que se espalhou por meu corpo.Fechei meus olhos e abracei meus joelhos. Repassei mentalmente cada instante que vivi com ele, como um filme. Ao menos, eu tinha isso. Ao menos, eu tive isso. Um amor tão profundo e sincero, mesmo que por poucos dias, que muitas pessoas jamais experimentam durante uma vida inteira. Eu tinha Joe pra sempre, guardado em minhas lembranças. Cada traço de seu rosto, cada expressão de seus olhos negros, cada sorriso divertido, cada linha de seu 
corpo perfeito. Até seu cheiro estava presente em minha memória e fazia meu corpo se arrepiar toda vez que pensava nele. 

Quando dei por mim, o sol já batia na janela e eu ainda estava ali, sentada no chão, tremendo. A luz clareou o quarto e também minha cabeça. Eu tinha que fazer alguma coisa. Não podia ficar ali parada e chorando. Não podia viver apenas de lembranças. Eu queria mais! 

Eu iria lutar! 

Não fui trabalhar naquela sexta-feira. Não me importava como eu pagaria o aluguel. Eu tinha que encontrar a tal mulher. Pensei em pesquisar na internet para descobrir informações sobre ela, mas eu nem mesmo sabia o seu nome. Peguei meu carro e rodei pela cidade, entrando em todas as lojas que vendiam celular, sentindo o desespero me dominar a cada “não”. Ninguém nunca ouviu falar dela. Procurei o dia todo em vão. 

Claro que ela não deixaria rastro depois do estrago que fez. Marisa bancava a detetive virtual, procurava na internet casos de pessoas que diziam ter viajado no tempo, mas sem encontrar nada concreto. 
Procurei por ela durante dias, até mesmo nas cidades vizinhas, até em delegacias. 

Nunca havia nada. Nada de nada. 

Uma semana depois, mudei meus planos. Pensei que a vendedora talvez fosse uma daquelas bruxas que faziam magia. Procurei nas páginas amarelas e visitei cada buraco que pude encontrar o endereço. Numa dessas incursões, fiquei tentada a me deixar levar depois da minha viagem ao passado, não havia mais muita coisa em que eu não acreditasse.
Dentro de uma sala minúscula e repleta de incensos, cristais coloridos e tecidos,  a cigana Odara tentou me convencer de que sabia de alguma coisa. 
— Você está aflita. — ela afirmou. 
— Sim. — confirmei. Mas isso era evidente, então não me surpreendi 
— Vejo que tem assuntos mal resolvidos no passado. — ela disse, com a ponta  dos dedos pressionados contra as têmporas observando uma bola transparente que  soltava faíscas azuis. 
— Tenho. 
— Um homem — ela continuou. — Que você ainda a... 
— É. — eu disse empolgada. 
— Você o quer de volta. Por isso está aqui. 
— Sim, — confirmei. Afinal, o motivo para encontrar a vendedora era para que ela me levasse até Joe outra vez, não era? 
— Posso fazer isso pra você. Posso trazê-lo de volta em três dias. 
— Como? 
— A magia de cigana Odara é muito poderosa. Custará 300 reais. 
—Trezentos? — não que não valesse à pena. Se funcionasse, claro. Mas eu tinha  que me certificar de que ela não era uma espertalhona — Que garantias eu tenho de que está me dizendo a verdade? 
Ela estreitou os olhos verdes carregados de maquiagem. 
— Cigana Odara não mente. Cigana Odara é poderosa. — era tão irritante que se referisse a si própria na terceira pessoa! 
— Tá, mas me dá mais alguma coisa. Mais informações. 
— Muito bem. — ela disse pressionando a testa outra vez. — Ele é bonito e educado, — até aí tudo certo. — Te amava muito. — meu coração começou a bater forte com a esperança. — Mas não foi capaz de resistir à tentação. A culpa foi da outra. 

Murchei. 

— Outra? — repeti desanimada. 
— A outra mulher. Pela qual ele te trocou. 

O complicado de se procurar em lugares místicos é que alguém sempre tenta te  convencer de eles sabem exatamente o que você procura.
Depois de cigana Odara, tomei mais cuidado, prestando atenção nas frases —  quase todas generalizadas: Você está infeliz. Vejo que esta procurando alguém, tem um  homem no seu destino, posso trazê-lo de volta por duzentos. Cem. Cinquentinha e não  se fala mais nisso! Mas, na última espelunca em que me atrevi a entrar, me surpreendi.  Primeiro, por não se tratar de uma espelunca, mas de uma sala agradável, branca com  diversas velas coloridas e algumas imagens de santos. A segunda surpresa foi Mãe  Cleusa não querer me oferecer seus serviços, apenas respondeu que não conhecia  nenhuma outra vidente com as características que eu descrevi a ela. Mas a grande  surpresa aconteceu mesmo quando eu estava de saída. Depois de me dizer para seguir  em paz, os olhos de Mãe Cleusa tremularam e ela ficou diferente, como se não estivesse  ali na sala. Fiquei imóvel. Segundos depois, ela sacudiu a cabeça e piscou. 
— Ele está te esperando. 
— O que? — perguntei insegura. 
— Ele está te esperando. Não desistiu de você. Está esperando que você volte. 
— Está? — senti meus olhos ficarem úmidos. 
— Ele está infeliz. Tanta dor! — ela disse fazendo uma careta, como se sentisse 
dor. — Ele te ama muito, menina. 
— Eu sei. Eu também o amo. Demais! — respondi em meio as lágrimas. Ela  podia estar inventando, mas ouvir aquilo era um alívio. Ele me amava. Ele existia! —  Vê mais alguma coisa, Mãe Cleusa? 
— Um quadro. Ele fica parado olhando para um quadro. 
— Um quadro? — o quadro que ele estava pintando? Meu quadro? 
— É tudo que eu vejo, me desculpe. — e sacudiu a cabeça, 
— Por favor, Mãe Cleusa, não dá pra ver mais nada? Nós vamos nos encontrar outra vez? 
— Não posso ver mais nada, menina. Mas vejo uma flor azul no seu futuro. 
Significa alguma coisa pra você? 
— Não. Não imagino o que possa ser. 
Ela me abraçou, em seguida colocou a mão sobre minha cabeça, fez uma oração  e disse que pediria aos orixás para que me ajudassem. Naquele instante, me senti em  paz. 
Mas a paz não durou muito tempo. Apenas algumas horas e eu estava de volta ao  desespero e agonia
habitual dos últimos dias.

----------------------------------
Hey gente,como tão ? NATAAAL GHEGANDO.  UUUUHL.
Bem,espero que gostem,deixem a opinião de vocês,comentem,curtam,kibem.
Beijooos,Nath
#Ps: fui rapida hoje,porque to quase dormindo aqui.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Perdida #50

( Eu te amo mulher )
Encontrei-me com Joe no estábulo, Storm já estava selado e pronto para o  passeio. De repente, minha coragem vacilou. Storm era grande e assustador demais.  Vi um sorriso desafiador se espalhar nos lábios de Joe. E então, me apoiei em  seu ombro e subi colocando um pé no estribo, toda desajeitada. Joe montou com a  elegância de quem montava desde os dois anos de idade.

Storm se comportou como um verdadeiro cavalheiro, trotando suavemente, me  deixando mais à vontade depois de alguns minutos, e os braços de Joe firmes em minha  cintura me mantiveram no lugar.
— Para onde estamos indo? — perguntei, quando não podia mais ver a casa,  apenas mata e árvores.
— Não sei bem. Por ora, Storm apenas me permite montá-lo, mas ainda é ele  quem decide para onde ir.

Eu ri.

— Muito útil ter um cavalo que não obedece aos comandos.
— Foi muito útil na noite de sábado. — ele não sorriu. Não achava engraçado.  Alisei a crina de Storm.

— Valeu pela ajuda, amigão. — sussurrei para o cavalo. — E obrigada por não  ter derrubado Joe.

Dessa vez, Joe  riu.

Depois de um tempo, comecei a reconhecer o caminho, e soube para onde Storm  estava me levando. Exatamente para o mesmo lugar onde me encontrou no sábado. Para  minha pedra. Paramos um pouco mais adiante, debaixo da árvore.
— Acho que aqui é de alguma forma, o nosso lugar. — disse, depois que Joe  soltou a rédea e Storm saiu trotando feliz.
— De alguma forma. — concordou.

Ele apoiou as costas na árvore e eu me sentei ao seu lado.

— Sabia que gosto muito deste vestido? — ele disse, me encarando com um  sorriso no rosto. Eu vestia o vestido, vinho que tinha a cicatriz das linhas de Madalena  na bainha fechando o buraco que abri quando tentei sair do estábulo há alguns dias  atrás.
— Obrigada. — eu disse, numa mistura de embaraço e prazer.

Ele tocou minha testa, depois suspirou aliviado.

— Eu estou bem, Joe Pode parar de se preocupar, por favor? — resmunguei.
— Desculpe-me, mas não posso! — e me lançou um olhar que implorava  compreensão.

Eu ri.

Peguei minha bolsa e mostrei a ele as coisas que tinha comigo, algumas delas  Joe já tinha visto naquele dia em que lhe dei a caneta, mas dessa vez expliquei para o  que serviam: maquiagem, as chaves de casa, e o maldito sachê de ketchup! Rasguei a  embalagem, coloquei um pouco no dedo e ofereci.

— Prove. — estiquei o dedo.

Ele não hesitou. Rapidamente, pegou minha mão e levou meu dedo a boca.  Claro que todo meu corpo acordou imediatamente com o contato.
— Hum! É meio doce e... azedo!
— É. Fica gostoso em sanduíches e eu amo com batata frita.
— Ficou gostoso com dedo também. — disse ele, brincalhão.

Eu ainda ria quando peguei o celular. Era isso que eu queria mostrar a ele mais  que qualquer outra coisa.

— Meu celular. — estiquei a mão.

Ele pegou o pequeno retângulo reluzente. Seu rosto ficou muito sério. Joe virou  o aparelho muitas vezes nas mãos, analisando cada linha, cada detalhe.

— Foi isto que a trouxe aqui? Esta coisa minúscula? — Assenti ainda o  encarando.

Ele me devolveu o aparelho com cuidado.

— Serei eternamente grato a ele, então.

E, de repente, me dei conta de que eu também! Também estava agradecida a ele,  agradecida pela confusão que tinha me metido, agradecida por tudo que passei ali por  sua culpa.
Ele me trouxe até Joe!

— Eu não sei mais o que esperar, Joe. A última mensagem dizia para que eu  ficasse preparada. Acho que estou perto. — terminei sussurrando.

Ele entendeu o que eu quis dizer imediatamente.

—Talvez signifique outra coisa. Talvez seja... — ele se interrompeu, os olhos  brilhando de ansiedade, tentando encontrar uma explicação lógica e miraculosa,  qualquer explicação que não fosse “você está voltando pra casa”.
— Seja... — instiguei desanimada.
— Você não encontrou o que procurava! — ele disse firme
— Não encontrei a outra pessoa! É diferente. — retruquei,
— O que quer dizer?
— Quando ela me ligou, disse que eu teria que encontrar o que procurava e me  conhecer de verdade para poder voltar. E acredito que as duas coisas já aconteceram. —  eu baixei os olhos, não queria pensar em ir embora. Não agora! Nem nunca!
— E o que você procurava? — perguntou Joe.

Levantei os olhos e o encarei por um tempo. Como demorei tanto para perceber  que aqueles olhos eram a porta de entrada para minha felicidade? Porque não vi logo de  cara que Joe era... meu?

— Você! — eu disse e voltei a olhar para o aparelho. — Parece maluco, mas eu  procurava por você sem saber disso.

Ouvi Joe suspirar ao meu lado
 — Deve estar enganada. Se você precisa encontrar algo para poder voltar para o  seu tempo, como eu posso ser a sua resposta? Não há sentido em me encontrar para  depois me deixar. — sua voz profunda e melancólica cravara uma estaca em meu peito.

Ele sofreria muito se isso acontecesse. Eu simplesmente tinha que ficar ali de alguma  forma, nem que eu tivesse que esganar pessoalmente aquela vendedora.
É claro, que para isso eu teria que encontrá-la primeiro.

— Já pensei nisso também. E também acho que não faz sentido, mas eu sei, eu  sinto, nem sei te explicar como, que é por você que eu procurava. Não agora, não  apenas aqui, Joe, mas sempre. E eu nunca encontrei nada porque você estava um  pouquinho fora de alcance. — brinquei, querendo tirar a tristeza de seus olhos.

Quase deu certo, ele tentou sorrir um pouco.

— É engraçado. Eu sinto o mesmo, que a esperava. Naquele sábado, quando eu  voltava de viagem, me sentia tão nervoso! Pensei que fosse por ter deixado Elisa por  tanto tempo sozinha, mas, então, eu a encontrei e, quando a vi pela primeira vez...  minhas mãos começaram a suar e eu não conseguia pensar com clareza.
— Eu sabia que não fui a única a me sentir estranha naquele dia. Foi como se eu  já te conhecesse! Não é estranho? — eu disse sorrindo. — E você ainda estava usando  estas roupas antigas e carruagens passavam pela rua... Se você tentasse me jogar num  manicômio naquele dia, acho que eu te apoiaria! Estava tão desnorteada que me  perguntei muitas vezes se não tinha perdido o juízo.

O quase-sorriso aumentou um pouco, ainda não dava pra dizer que era um  sorriso, mas era um começo.

— Mas as minhas roupas eram apropriadas, senhorita! E eu também me senti  estranho. Assim que desci do cavalo para ajudá-la e vi seus olhos pela primeira vez, eu  soube que estaria perdido se permanecesse ao seu lado por muito tempo. E, quando  finalmente consegui persuadi-la a aceitar minha ajuda, você ameaçou quebrar meu  nariz... — o sorriso que eu estava esperando finalmente deu as caras... — naquele  instante, eu soube que estava preso a você, que não haveria retorno, e eu nem mesmo  sabia o seu nome!
—Bem que eu desconfiei que não havia necessidade de me apertar daquela  forma! — tentei parecer furiosa, mas não fui capaz. Ouvi-lo dizer que me queria desde  que nos conhecemos me lançou numa espiral de êxtase e felicidade quase tão prazerosa  quanto sexo. Bem, talvez seja um pouco exagerado comparar com sexo, mas foi uma  sensação boa pra caramba!

Joe riu.

— Perdoe-me por isso, mas minhas mãos teimavam em me desobedecer.
— Vou pensar nisso. — eu disse brincando. — Eu queria te mostrar como funciona um celular. Não este, mas um celular normal. Sabia que se pode armazenar  livros dentro deles?
— Livros? Mas é tão pequeno!
— Eu sei. É incrível tudo que esses monstrinhos são capazes de fazer. Eu ainda  prefiro ler o livro de papel, mas é pratico ter um à mão numa fila, num consultório  médico ou no ônibus. Mas o que eu realmente queria te mostrar são as músicas de que  gosto. Tenho centenas delas! Tenho certeza que você gostaria de algumas também... — parei de falar no momento em que a tela do celular se acendeu. Ian se assustou e recuou
um pouco.

Não era uma mensagem dessa vez.
 Ir para música em reprodução?
 Apertei a tela sem entender.

— Calma, Joe. Não se assuste, ele só... — a pasta de música se abriu e só havia uma música na lista. — . . .está me deixando te mostrar uma música? — isso não aconteceu antes.

O que estava acontecendo agora?

Apertei o play. Mal a música começou e Joe se encolheu. Pausei.

— Joe, não se assuste. É apenas uma gravação. Existe como gravar o som de um  show... Ou de uma ópera igual aquela que você me levou! Assim, se pode ouvir a  música sempre que tiver vontade. Não posso te explicar como funciona o mecanismo da  coisa, mas não tenha medo, é apenas um som. Confie em mim!
Ele me encarou por um momento e depois relaxou, só um pouco.

— Lembra-se da música que tentei cantar pra você depois que nós...
— Com muita clareza! — claro que ele se lembraria. Os momentos perfeitos que  passamos juntos não eram importantes apenas para mim. Ele relaxou um pouco mais. —  Estive pensando muito nela, principalmente enquanto esteve doente. Não me lembro de  todos os versos, mas acho que me lembro de grande parte.
— Pois é aquela música que está aqui. É a única que posso acessar. — levantei o celular. — E queria muito que você ouvisse como ela realmente é. Posso te mostrar?
Ele continuou me encarando, mas assentiu lentamente.

Apertei o play. A música suave e harmoniosa — apenas violão no começo,  depois o piano, o violino doce e quase melancólico se juntaram — preencheu o silêncio.  Observei a reação de Joe, que de início ficou de boca aberta, depois, conforme a música  continuava, suave e alegre, me surpreendeu sorrindo para mim aquele sorriso de tirar o  fôlego. Levantou-se rapidamente, se inclinou e me estendeu a mão.

— Me daria a honra?

Agarrei sua mão sem pestanejar, deixando o celular sobre a bolsa.

— Posso te mostrar como se dança no futuro? — perguntei ansiosa.
— Por favor. — ele sorriu e abriu os braços.
Peguei suas mãos e as envolvi em minha cintura. Aproximei-me mais dele,  passado meus braços em seu pescoço. Ele instantaneamente, instintivamente, me  apertou um pouco mais, encostei meu rosto em seu queixo e ele, notando o que eu  queria, se curvou levemente para que seu rosto colasse ao meu. Apesar da música ser  um pouco rápida para dançar tão grudados, não me importei com esse pequeno detalhe.

— Agora, um de cada vez. — sussurrei movendo meus pés. Ele me seguiu com  facilidade e elegância, como em tudo que fazia.

Meu corpo pinicava de contentamento de estar em seus braços outra vez, seu  cheiro e sua respiração em minha orelha me deixaram um pouco tonta.
— Gosto desta dança. — ele murmurou depois - alguns instantes, me abraçando  mais forte. — Gosto muito, realmente.

Sorri de olhos fechados. Nunca havia sido tão feliz em toda a vida. Abracei-o  mais forte, querendo que o tempo parasse, que a vida não seguisse em frente, que nossa  dança nunca terminasse.
— Demi tenho que falar com você. Pretendia ter essa conversa depois que o  baile terminasse, mas as coisas não saíram como eu esperava. — ele disse, com a voz  muito séria.

Lembrei-me que ele havia dito alguma coisa a respeito, mas tanta coisa  aconteceu depois que acabei me esquecendo.
— Tudo bem. Tem algo errado?
—Sim... e não. — ele disse inseguro.

Levantei a cabeça para vê-lo.

— Não entendi Joe
—Você sabe como me sinto, não sabe? Com relação a você? — Seus olhos  negros e intensos me amoleceram os ossos.
— Acho que sei. — murmurei. É claro que não dava para ter certeza.

Não se tem certeza de nada quando se está apaixonada. A voz de Marisa ecoou em minha cabeça de repente. Lembrei que discuti com ela na época. Agora eu sabia  exatamente o que ela quis dizer. Não dava pra ter certeza de nada além do amor louco  que eu sentia por ele.
— Eu a amo, Demi. Vou amá-la para sempre. Não tenho mais escolha. — e  sorriu um meio sorriso. — Mas acho que você deixou bem claro que me odeia. — eu  rosto ficou brincalhão, mas eu vi a dúvida real em seus olhos.
— Você sabe que eu te amo. Loucamente. Desesperadamente.

Joe sorriu, fechando os olhos, sua testa grudou na minha. Dançamos um pouco  mais. A música recomeçava mais uma vez.
— Então... — ele continuou nervoso. — Vamos imaginar por um momento que  você possa ficar aqui, se quiser.
—Tudo bem. — concordei.
— E que quisesse viver aqui para sempre... — disse apreensivo

Comecei a ficar ansiosa também.

— Não entendo onde você quer chegar. — Eu disse sinceramente.
— Imaginando que isso fosse possível, você poder e querer ficar aqui, e desconsiderando o fato de que me conhece há pouco mais de dez dias, você... — ele  parou de dançar, me observava intensamente.
—Eu...?
— Demi, acredita que eu possa lhe fazer feliz? — sua voz distorcida de  ansiedade.

Sorri um sorriso enorme.

— Muito feliz. A garota mais feliz do mundo! — era meio clichê dizer isso, mas  era a mais pura verdade. — A garota mais feliz de qualquer século!
— Poderia ser feliz aqui? — indagou cético. — Pensei que detestasse este lugar.
— Detestava. — concordei. — Mas minha perspectiva mudou muito depois que  te conheci melhor. Não é mais tão ruim assim...

Ele sorriu, mas ainda estava apreensivo.

— Então, se pudesse ficar comigo, se pudesse ser minha... Por toda vida. Se... —  disse apreensivo.

Vi a expectativa em seus olhos. Vi o brilho intenso e o amor sincero que sentia  por mim. Vi que não era apenas uma paixão, coisa de momento, que sua alma me  pertencia, assim como a minha já pertencia a ele. E que seria assim para sempre.

— Sim! — respondi antes que ele pudesse dizer as palavras e tornar tudo real.  Como poderia eu dizer não a ele? Tampouco poderia dizer sim. Eu ainda não  tinha ideia de como me manter ali. Não podia permitir que ele me pedisse com todas as  palavras, para depois...
— Se eu pudesse, seria sim! — era minha única resposta. Se. Apenas se.  Minha visão ficou turva pelas lágrimas e não pude ver quando sua boca me  capturou num beijo desesperado. Respondi com a mesma paixão, como se minha vida dependesse daquele beijo. Joe me apertava tanto que pensei que pudesse quebrar alguma  coisa dentro de mim. Era como se tentasse me segurar ali apenas com a força de seus
braços. E eu queria, desesperadamente, que ele fosse capaz disso, que não me deixasse  voltar, por que eu já estava em casa.  Estava exatamente onde deveria estar! Pensei com tristeza. Ela havia dito isso, 
que eu estava onde deveria estar. E, sem poder esclarecer nem para mim mesma, eu  soube que estava no fim da jornada. 

Eu teria que agir rápido! 

Estava tão absorta que não notei quando a música parou. Mas o barulho seguinte  me trouxe de volta à terra. 

Uma nova mensagem. 
Olhei para Joe, assustada. Seus braços se contraíram em minha cintura. Storm rapidamente se aproximou, relinchando muito. Parou a poucos metros de onde  estávamos. Olhei para Joe, sem entender qual era a do cavalo. O celular vibrou outra  vez. 
—Acho que isto o assustou. — Joe disse, também confuso, indicando o aparelho 
com a cabeça. 
Olhei para o cavalo, que me encarava como se fosse gente, de forma intensa e  assustadora. 
— Melhor ver o que é de uma vez. — eu não queria ler. Não queria saber o que  estava escrito. Queria fingir que a porcaria do celular não existia! — Ele vai continuar  vibrando até que eu leia o que está escrito. 
Suspirei infeliz.
 
Joe me olhou assustado, perturbado. Toquei seu rosto e beijei seus lábios com  delicadeza. Depois me soltei de seus braços relutantes e caminhei até onde estava o  aparelho. 

Apertei ler mensagem. 
 
Jornada concluída com sucesso
 
NÃO! — gritei, me virando para Joe, que correu ao meu encontro. 

Mas era tarde demais. A luz branca me cegou, envolvendo tudo ao meu redor  com sua força ofuscante, levando tudo embora com ela.
( Eu terminei assim,sou muito emotiva )
----------------------------------------------------
GENTE,ME PERDOEEEEEEEEEEEEM,EU TAVA FAZENDO VESTIBULAR EM CIMA DE VESTIBULAR,FOI UMA LOUCURA, MAIS ENFIM ACABOU. ME PERDOEM
MAAAS,voltando pro capitulo,posso falar que sofri com esse?! cara,ela voltou e sinceramente foi um capitulo foda de ler e fazer,coração ficou apertado e a mil. Espero que gostem,e comentem,deixem a opinião e me perdoem pela demora tambem,se der hoje a noite eu posto ou amanha.
Leitoras novas? Sejam MUITO bem vindas,tem espaço pra todas vocês em nosso cantinho e em meu coração,sejam bem vindas.
Um beijão,Nath