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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Perdida #53

Joe estava infeliz por minha culpa. Infeliz por toda uma vida. E a culpa eraminha. Toda minha. Foi um erro ter me envolvido com ele. Jamais poderia ter permitidoque as coisas tivessem ido tão longe quando eu sabia que voltaria. Eu acabaria voltando, de uma forma ou de outra, sempre soube disso e, mesmo assim, correspondi apaixonadamente a seus sentimentos, arruinando sua vida. E agora não podia fazer nada
para reparar isso.
— Como é seu nome? — perguntei ao rapaz, quando consegui me recompor um
pouco.
— Nicholas. — ele sorriu. — Ainda não acredito que isso está acontecendo. Meu pai vai pirar quando souber que esteve aqui. É surreal!
— Nem me fale, — eu disse infeliz.

Levantei-me da cama, tinha que sair dali. A urgência de encontrar a vendedora me dominou por completo. Eu encontraria um meio de reparar as coisas. Mesmo que eu não pudesse voltar. Aquela bruxa teria que consertar a vida de Joe. Ela devia ter poderes para fazer isso.

— Eu preciso ir agora. Obrigada por nos receber e contar o que sabe.

Ele se levantou também.

— Eu é que agradeço. Não imagina quanto tempo fiquei pensando nessa história. — ele sorriu e covinhas apareceram em suas bochechas.

Toquei seu rosto, incapaz de me conter. Toquei o presente que Elisa tinha me deixado.

— Você tem o sorriso dela. De Elisa.

Ele sorriu ainda mais ao invés de se afastar.

— Sério? Olha, volte outras vezes, podemos conversar mais. Meu pai sabe um pouco mais da história da família. Talvez ele saiba alguma coisa que acabe fazendo sentido ou até te ajudando.
—Talvez, — suspirei.

Lutei contra as lágrimas até entrar no carro. Marisa voltou dirigindo, eu não tinha condições para isso. Ela não disse nada o caminho todo, apenas me deixou chorar.

O que foi que eu fiz?

Mutilei o destino e fiz da pessoa que mais amava no mundo miserável. Atordoada como eu estava, acabei me esquecendo de perguntar por minhas coisas. Mas não deveriam estar lá, de toda forma, Joe devia ter escondido para o caso de alguém perguntar o que eram aquelas coisas estranhas.
— O que vai fazer agora? — Marisa  questionou, quando chegamos ao meu apartamento.
—Vou encontrá-la! — eu disse obstinadamente. — É tudo que me restou!

Encontrá-la.

Marisa não voltou para casa, ficou comigo sem me encher de perguntas, apenas estava ali, me emprestando seu ombro cada pouco, até minhas lágrimas secarem. Levou muito tempo para que secassem totalmente. Não dormi quase nada outra vez.

“Para construir uma máquina do tempo, primeiro precisamos de um buraco negro, que será o coração do equipamento. Para consegui-lo, pegue uma estrela dessas bem velhinhas, a maior que você encontrar..”

É claro que isso estava fora de cogitação.

“Um professor de Física norte-americano garante estar construindo uma máquina do tempo...”

Humm... Talvez, se eu ainda não tiver conseguido voltar para Joe nos próximos meses... Talvez eu devesse mandar um e-mail...Este parecia promissor: Como construir uma Máquina do Tempo. Não é fácil, mas também não é impossível.

“Encontre ou monte um buraco de minhoca. Pode ser que buracos de minhoca de grande porte existam no espaço profundo, herança do Big Bang. Se não encontrar nenhum, vamos ter que nos contentar com buracos de minhoca subatômicos. Esses buracos de minhoca pequeninos teriam de ser aumentados por um acelerador de partículas até atingir proporções úteis. Estabilize o buraco de minhoca. Uma infusão de energia negativa, produzida por meios quânticos permitiria a passagem segura através do buraco de minhoca. A energia negativa impede a tendência do buraco de minhoca de se transformar em
buraco negro. Transporte o buraco de minhoca. Uma espaçonave, com tecnologia muito avançada, separaria as aberturas do buraco de minhoca. Uma abertura seria colocada junto à superfície de uma estrela de nêutrons uma estrela de altíssima densidade, com campo gravitacional muito forte. A gravidade intensa faz com que o tempo corra mais devagar. Como o tempo corre mais depressa na outra abertura, os dois extremos do buraco de minhoca ficam separados não só no espaço, mas também no tempo.”

Beleza! Então eu só precisava encontrar um buraco de minhocas um acelerador de partículas um estabilizador de energia quântica, uma espaçonave com tecnologia avançada e uma estrela de nêutrons
Ah! É claro, descobrir como me transformar em uma minhoca!

Suspirei, frustrada.

Não estava dando certo! A internet não me ajudava em muita coisa. Muita baboseira e nada realmente concreto. Pesquisei sobre pessoas que diziam ter viajado no tempo, mas, quando investigava mais a fundo, eram apenas bêbados, drogados, malucos ou idiotas com muita imaginação. Meu desespero aumentava a cada movimento que o ponteiro do relógio fazia, e o tempo estava sendo cruel comigo. Passava depressa
demais. A carta de Joe me motivou ainda mais, porque se ele, que estava num lugar totalmente sem recursos, não desistiu, por que eu desistiria?
Ele queria que eu fosse feliz, mesmo que isso fosse impossível sem tê-lo por perto. Acho que talvez apenas não quisesse que eu fosse miserável. Então, tentei voltar para a minha vida. Tentei mesmo! Só que não parecia mais uma vida. Era como se eu estivesse ligada no piloto automático e apenas seguisse o fluxo.
Não desisti de encontrar a mulher, não desistiria enquanto ainda respirasse. Mas eu não tinha mais ideia de onde procurar. Liguei para o escritório e expliquei que estava tendo problemas pessoais. Não me importei com as ameaças e os berros de demissão de Carlos. Eu disse que tiraria uma licença e voltaria assim que estivesse bem. Joana me visitou e me trouxe chocolates. Fiquei feliz em revê-la. Ela disse que estava preocupada comigo. Inventei uma história qualquer por ter sumido e ela acreditou. Contou-me que o escritório estava insuportável agora, que Carlos berrava mais que o normal e me amaldiçoava todos os
dias, logo seguido por “aquela filha da puta competente”. Gustavo tinha assumido minha tarefas e não estava se saindo muito bem. Carlos estava fazendo da vida dos meus colegas um inferno.

Os dias continuaram passando muito depressa. Mal vi o mês acabar e recomeçar outra vez. Fui fazer a última prova de meu vestido de madrinha seria a madrinha de Marisa junto com Zezão. O casamento aconteceria em uma semana. Foi doloroso e, ao mesmo tempo, prazeroso vestir um vestido longo outra vez.

— Talvez não estejamos olhando a coisa da perspectiva correta. — Marisa  disse, enquanto analisava meu vestido (justo até o joelho, depois se abria graciosamente como um rabo de peixe, de cetim lilás, tomara-que-caia, apenas uma alça finíssima toda bordada transpassando da frente do ombro esquerdo para a parte de trás do direito). Joe teria achado escandalosa a forma como o vestido se agarrava ao meu corpo, mas teria gostado. Quase podia ver o sorriso malicioso que apareceria em seus lábios quando me analisasse.

Suspirei.

— Que outra perspectiva, Marisa? Só tem uma. Ela sumiu. O celular nunca mais fez nada em quase dois meses.
— Não pode ser. — ela sacudia a cabeça. — Se ela é realmente um... — ela diminuiu a voz para um sussurro. — ... ser com poderes para interferir assim no destino das pessoas, não pode permitir que vocês dois sofram dessa maneira.
— Eu não sei o que ela é. — não me importava também, contanto que eu conseguisse encontrá-la e a convencesse a consertar a vida de Joe. — Só queria que ela pudesse arrumar as coisas.
 — Vamos, Dem, ela tem que ter te dado alguma coisa! Pense!

Eu pensei. Outra vez. Pela milionésima vez. Já tinha dissecado nossa conversa milhares de vezes e não tinha nada. Nenhuma resposta oculta, nenhuma pista, nada de nada.
— Não tem nada, Marisa. — eu disse, exasperada. — Além disso, o que eu vivi com ele foi maravilhoso! Isso basta pra mim. Pelo menos, eu tenho as lembranças, não me importo de passar o resto da vida sozinha.— na verdade, trocaria de bom grado o resto da minha vida para poder passar só mais uma tarde junto dele. — Mas preciso fazê-la mudar o destino dele. Ele tem que ser feliz!
— Isso não é justo! Eu quero ver você feliz! — ela ficou desolada, assim como eu sempre estava nas últimas semanas.
— Eu sei. — suspirei. — Obrigada, Marisa
Ela sorriu, tristonha. Pegou uma caixinha na bolsa e me entregou.
—Toma.
— O que é? — perguntei examinando a caixinha. Retirei a pequena fita e abri. Um lindo colar prateado, com um pingente delicado da letra M  brilhava no veludo negro.

Olhei para ela sem entender.

— Comprei um pra mim também. — ela abaixou a gola da blusa, me mostrando o mesmo colar mas o dela tinha um D. — É tipo um colar de irmandade. Caso você precise sair correndo para algum lugar e nunca mais volte. — sorriu triste.

— Ah! Marisa ! Você é incrível! — eu abracei forte. Você é a amiga mais especial de todo o universo. Não preciso de lembretes para não te esquecer. Mesmo que eu pudesse sumir outra vez, jamais te esqueceria!
— Eu sei. E o pior é que eu queria muito que você sumisse de novo. Sou uma péssima amiga! — ela riu desanimada.
— Não é não! — contestei. — É a mais sincera de todas!

Não voltei a casa dele outra vez. Não podia suportar ouvir seus descendentes  contarem histórias sobre seu desespero e, pior ainda, falarem dele como se estivesse  morto. Ele não estava morto!  Parte de mim tentava ser racional e entender que ele nascera há mais de duzentos  anos e que, a essa altura... Mas ele não estava morto! Eu sabia disso. Tinha certeza! Ele  ainda vivia em algum universo paralelo estranho e incompreensível, mas vivia!  Meus dias se tornaram nulos, nada importante acontecia. Ou eu é que não percebia mais os problemas à minha frente. Todos os dias passava horas sentada no  banco perto do cedro imenso, lembrando dos momentos mais felizes que tive na vida. 

Gostava daquele lugar. Era minha ligação com Joe. Nosso lugar especial. Ficava ali por  horas ouvindo nossa música. Peguei carona no carro com a noiva para ir até a igreja no grande dia. Marisa estava deslumbrante! Seu vestido simples e elegante ressaltava ainda mais sua pele cor  de chocolate. Ela estava radiante e mais linda do que nunca.  Fiquei feliz demais ao ver os pais dela ao seu lado no altar. Ambos pareciam  acanhados e ainda se via uma pontada de ressentimento em seus olhos, mas eles  estavam ali, era o que importava. Talvez quando vissem o quanto Logan amava Marisa, o  quanto ele se preocupava com ela, talvez acabassem gostando dele. Pelo menos um pouquinho. 
A cerimônia foi perfeita e eu acabei chorando, o que não era comum para mim.  Até bem pouco tempo, casamentos não me emocionavam, me deixavam apavorada.  Percebi depois que não fui a única a chorar. Logan tentou bravamente esconder as  lágrimas, mas, depois de um tempo, ficou muito evidente em seus olhos inchados. Tive  a impressão de que ele amava Marisa muito mais do que deixava transparecer. 
Tirei centenas de fotos com meu novo e simples celular na deliciosa recepção.  Mas quando os noivos assumiram o centro da pista de dança para a valsa, tive que sair  dali. Não dava para não pensar em Joe vendo os dois rodopiando apaixonadamente pelo  salão. 
Marisa praticamente me acertou com o buquê — de rosas azuis — deixando várias  garotas com cara de desapontadas. 
—Te trará sorte. — ela disse sorrindo. 
— Tomara. Eu tô mesmo precisando de um pouco pra variar. — sorri um pouco.  Mas não precisava ter escolhido as flores azuis por minha causa. 
— Mas eu quis flores azuis! Não tem nada a ver com o que a Mãe Cleusa te disse. Eu quis! 
— Sei. — retruquei desconfiada. 
Marisa tentava me animar de toda forma nos últimos dois meses. Eu tentava  demonstrar um pouco de entusiasmo quando estava perto dela, mas parecia que eu não  tinha mais esta capacidade. 
— Demi será que não seria melhor se... — ela começou insegura. — Sei lá...  você tentasse... esquecer? 
— Não! Eu não quero esquecer, Marisa. Não consigo esquecer o que vivi com Joe  seria como... Como tentar alimentar um tubarão só com legumes. Não dá! Eu não... Eu só... 
— Desculpe, eu não queria te deixar nervosa. Só queria que pudesse ser feliz de  algum jeito. 
— Valeu, Marisa. Mas não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem.  Ela não disse nada, apenas me encarou. Não acreditou na minha mentira  deslavada. Era inútil tentar esconder qualquer coisa dela 
— Eu vou ficar bem. Você vai ver! — emendei, tentando parecer mais segura.  Peguei minha bolsinha sobre a mesa e meu buquê. 
— Tem certeza que não quer ficar um pouco mais? Ainda vai demorar um pouco  para sairmos para a nossa lua de mel. — Marisa revirou os olhos. 
— Tenho. Já está tarde e amanhã eu vou até a divisa do estado. Encontrei uma 
garota na internet que diz ter vivido algo parecido. Quem sabe eu descubro alguma  coisa dessa vez. Além do mais, eu já vi o melhor da festa! — apontei para o Logan no centro da pista dançando animadamente uma música muito rebolativa. 
— Ele sempre se empolga quando bebe um pouquinho a mais... — ela sorriu  encantada, admirando seu marido com olhos brilhantes. 
—Você está feliz, não está? — perguntei, constatando o óbvio, 
— Muito. Imensamente feliz. Acho que eu só poderia estar mais feliz se você  não estivesse tão triste. 
— Esquece isso! Hoje é o seu dia! A sua noite, melhor dizendo! — pisquei pra  ela, forçando um sorriso. 
Ela suspirou. 
— Demi, estou tão cansada que a única coisa que eu vou querer é cama! Pra  dormir e mais nada. — ela fez uma careta, remexendo um dos pés. — Sou capaz de  acertar a cabeça do Logan com o abajur se ele começar com gracinhas. 
— Que belo começo de casamento! — zombei. Depois a abracei. — Boa viagem. Me liga quando voltarem. 
— Adeus, minha amiga! — e me apertou forte. 
— Ai, Marisa, credo! Você só vai ficar fora por uma semana, não precisa fazer  drama. — eu brinquei, mas também a abracei mais apertado. — Te amo, Marisa. Fala que eu disse “boa viagem” pro seu mandão! 
— Deemi! — ela me soltou fazendo uma careta, e depois sorriu, enquanto eu me dirigia para a saída. 

Voltei a pé para casa, não tinha táxi ali perto e não era tão longe assim. E eu  gostei de caminhar com a brisa suave da noite brincando em meu rosto. A imensa lua  branca deixava tudo prateado, como num quadro em branco e preto.  Parei na pracinha, perto da minha pedra que eu ultimamente tinha como meu lar  —, incapaz de resistir. Fiquei no banco por uns dez minutos, contemplando a lua e pensando o que Joe estaria fazendo naquele momento. E então, vindo do nada, a mulher que procurei incessantemente nos últimos dois 
meses se materializou bem diante dos meus olhos. 

— Acredito que esteja procurando por mim. — ela disse e sorriu gentilmente. Levantei-me num salto, eu queria torcer seu pescoço, pisar na sua cabeça até os olhos saltarem. Mas, ao invés disso, apenas encarei a mulher que bagunçou minha vida com toda a raiva que eu sentia. 
— Por que? — perguntei trincando os dentes. 

Ela não respondeu, apenas me contemplava com olhos gentis. Minha raiva aumentou. 

— Por que? — repeti, sentindo o sangue ferver nas minhas veias. — Por que fez  isso? 
— Você tinha que passar por isso. Tinha que conhecer Joe. — ela disse com sua voz suave e musical. 
— E pra que? 
— Ele estava no seu destino. — ela deu de ombros. — Não tive outra  alternativa. Precisei reuni-los como pude! 

Eu não entendia o que ela me dizia. Nada fazia sentido. 

— Vou explicar melhor, querida. Imagine que todas as pessoas tem sua outra 
metade e, que algumas vezes, passam por ela sem nem mesmo notar. Outras pessoas são 
mais atentas e as notam e tem a chance de escolher, de ser feliz por toda a vida. ~ 321 ~
Eu ainda a encarava sem entender. 

— Acontece que ocorreu um pequeno erro e você não teve esta chance. Sua  metade não vivia no mesmo presente que você. Precisei reuni-los para equilibrar as  coisas. 
— Reunir? Você acabou com a vida de Joe  com a de Elisa! E a minha também!  — eu gritei. 

Ela não pareceu abalada. 

— Bem, sim. Mas você aprendeu o que precisava. 
— Aprendi! Aprendi a nunca confiar em estranhas que querem ferrar com sua  vida usando um sorriso gentil no rosto! 

Ela levantou uma sobrancelha. 
Eu bufei. 

— É claro que aprendi. Mas não precisava ter estragado a vida de outras pessoas  para fazer isso, não de pessoas tão boas como eles. Se queria me ensinar a ser menos fútil, podia ter dado outro jeito. 
— Não é bem a isso que estou me referindo. Nunca foi sobre sua futilidade. 
— Ah! Não? E porque você fez aquela cara quando me vendeu o celular? 
— Porque, sendo você como era naquela época, eu sabia que sofreria mais em sua experiência do que outra pessoa. Muitas pessoas estão habituadas a uma vida mais simples. Seria mais fácil se você fosse assim, só isso! — deu de ombros. — Me referia ao seu autoconhecimento. 
— Então... então... — agora é que eu não entendia nada mesmo! 
— Na verdade, Demi, como eu disse, foi tudo um erro de planejamento. 
— Um erro? 
— Sim, querida. 

Ela estava me irritando profundamente com os seus “queridas”. 

— Então, Joe está sofrendo por um erro seu? Como você pode fazer isso com  ele? Por que não me deixou quieta com minha vida vazia? Me deixasse passar pela vida sem vivê-la. Nunca deveria ter me mandado para lá! Nunca! Eu não posso continuar...  Não depois de saber que Joe... — meu peito doía ao pensar que tinha sido infeliz em sua vida. E tudo o que eu mais queria era que ele fosse feliz.
 — É por isso que estou aqui, querida. — ela disse sorrindo maternalmente. —  Vamos consertar algumas coisas? 

Olhei para ela, desconfiada, e querendo muito que não estivesse brincando  comigo. Eu já estava no limite! 

— Não estou brincando. Vamos resolver isso de uma vez. Tenho outros...  Clientes por assim dizer, que preciso visitar. 
— Por falar nisso, quem era a tal pessoa que estava lá também? —perguntei,  querendo resolver finalmente este mistério. 
— Eu não disse que era uma pessoa. — e sorriu. 
— O que? 
— Storm era seu protetor, se tivesse prestado mais atenção teria percebido. — ela disse meio ríspida. 

O cavalo? Meu protetor? 

— Eu procurava por um homem e era um cavalo o tempo todo? 
— Eu jamais te deixaria sozinha, Demi. Mas não podia envolver mais pessoas neste caso. Storm foi perfeito para esse trabalho. Ele te ajudou diversas vezes, não foi?  — apontou. 

Comecei a juntar as coisas: Storm no quadro me deixou fascinada, depois que o  conheci fiquei ainda mais ligada a ele. E foi por culpa de Storm que Joe e eu acabamos nos enroscando e caindo na estrada, o que levou ao nosso primeiro beijo. Ele me encontrou quando tentei fugir e me levou para casa quando chegou a hora de voltar.

— Claro! — eu disse, sacudindo a cabeça tristemente. — Como fui estúpida! 
— Estúpida não. Apenas desatenta. — ela me corrigiu. 
— Como você faz isso? Como sabe o que eu estou pensando? 
— Querida, eu conheço todos os meus... clientes, profundamente. Digamos que eu esteja em sintonia com sua cabeça. — ela sorria pra mim como se fosse minha amiga. — E eu sou! Então, vamos acertar tudo? Agora que se conhece verdadeiramente, me diga o que realmente deseja, Demi
— Quero voltar! — eu disse firme. 
— Não posso permitir que viva essa experiência outra vez. — seu rosto ficou sério. — É contra as regras. 

Assenti, sentindo parte de mim morrer naquele instante.

 — Então faça Joe feliz. Faça com que esqueça que me conheceu ou que se  apaixone por outra garota ou qualquer outra coisa que o deixe feliz. — implorei, cansada. 
— Tem certeza de que quer mesmo isso? — suas sobrancelhas arquearam. — Ele não se lembrará de nada do que viveram juntos. Não se recordará nem mesmo que a conheceu. 
— Eu não me importo! — eu disse abrindo os braços, meus olhos inundados. Eu me lembraria e isso me bastava. —Desde que ele esteja feliz, não me importo com mais  nada. 

Ela me observou por um longo minuto.

— Estou muito orgulhosa de você, Demi! — seu sorriso iluminou seu rosto  delicado. — Muito bem, então! Me devolva o aparelho, por favor? — pediu esticando a mão. 

Abri minha bolsa e peguei o celular que eu passara a gostar. Ele tinha me levado  até Joe e agora estava indo embora para arrumar o estrago que eu causei. Coloquei o  aparelho na mão dela rapidamente. Quanto antes ela fizesse sua mágica mais rápido Joe deixaria de sofrer. 
—Tem certeza? — perguntou mais uma vez. 
— Você não disse que conhece cada segredo de minha alma? — retruquei. —  Faça logo e o deixe viver em paz! 

Ela abriu um enorme sorriso eufórico. 

— Você manda! — disse apertando o botão verde. Obviamente, com ela, o aparelho funcionou. 

A luz branca me cegou. Dessa vez, porém, não me assustei. Esperei que a  cegueira passasse para que eu pudesse voltar para meu apartamento e me enfiar no meu  nada outra vez. Mas quando tentei fazer meus olhos focalizarem a rua, não fui capaz. Não por que ainda estivesse cega ou por não haver luz alguma, mas por que não existia rua alguma. Tudo havia sumido.  Olhei em volta com o coração retumbando no peito, a luz prateada da lua me permitiu ver onde eu estava, ver a pedra perto de meu pé, o cedro ainda pequeno, o 
gramado que cobria todo o chão e a ela que ainda estava ali na minha frente. 

— Mas você disse que... — comecei sem entender. 
— Que não poderia repetir a experiência. E não pode. — ela sorriu. — Mas você  pode escolher, Demi. Agora que você sabe quem realmente é, o que realmente quer,  poderá escolher. Ficar aqui ou voltar para o seu tempo, mas seja qual for sua decisão não haverá retorno. — ela ameaçou. — Não é uma ameaça! Estou apenas te avisando, para que não hajam mais erros.  Eu não precisava pensar. 

— Fico aqui. — eu disse, enfática. Meu coração martelava nas costelas, um sorriso se apoderou de meus lábios. — Fico aqui com Joe

Ela assentiu sorrindo. 

— Imaginei que me diria isso. 
— Posso ir? — eu tinha pressa, passei mais tempo sem ele do que podia suportar. 
— Pode sim, querida. Seja feliz! 

Dei alguns passos, mas depois voltei. Atirei meus braços em volta dela e a apertei forte. 

— Obrigada, seja lá quem você for! Obrigada por trazê-lo para mim!

Ela não pareceu surpresa com minha reação. 

— Sei que os mecanismos de magia se modernizaram um pouco ao longo dos anos, mas não pode ser tanto assim que você não me reconheça! — disse zombeteira. Eu a soltei e olhei em seus olhos. 
— Você é uma... fada? — experimentei dizer. Só podia ser! Como não pensei nisso antes? Talvez por que fosse ridículo demais, mas... 
— Quase isso. Você pode adivinhar. Vamos, Demi, pense! Eu lhe mandei um  príncipe charmoso, um vestido de baile, uma carruagem... — ela sorria divertida. 

A compreensão me atingiu como um raio. 

— Você é minha f... — mas a luz branca voltou e ela desapareceu. Seu riso ecoou na noite prateada. 

Fada Madrinha? Eu tinha uma fada madrinha? Ao que parecia, do tipo mais  estranho que eu já tinha ouvido falar. Que te dava aquilo que você ainda nem sabia que queria. Mas eu estava onde queria estar, então, agradeci por ela existir e, assim que a cegueira passou, me pus a correr em direção ao caminho que me levaria até Joe .Senti saudades dos vestidos s bufantes quando tentei acelerar a corrida e o tecido não permitiu. Droga de vestido apertado! Tirei os sapatos de salto agulha e levantei a saia — o pouco que pude — tentando ganhar mais velocidade. Eu meio corria, meio andava. Parecia um pato descontrolado correndo atrás de uma minhoca voadora mas, a cada segundo, eu me 
aproximava mais de Joe . Meu coração saltou dentro do peito assim que avistei a casa grande, ainda cor de 
creme, ainda sem nem uma ação de desgaste. Tudo estava como deveria estar. Meus pulmões ardiam pelo esforço, mas eu não parei até praticamente arrombar a porta da sala e entrar feito um furacão, assustando Elisa, Teodora e Gomes, que tinha uma bandeja nas mãos e com o susto acabou derrubando tudo mo chão. 
— Elisa! — exclamei sem ar. 
— Demi? — ela perguntou, completamente desnorteada, enquanto me lancei contra ela. — DEEEMI! 
— Elisa! Elisa! — eu a apertei, soltando meus sapatos, minha bolsinha e o buquê, que caíram na bagunça de xícaras e açúcar. — Senti tanto sua falta! Muita mesmo! 

Eu a deixei e abracei Teodora. Estava eufórica demais. 

— E também senti saudades suas, Teodora. Não é estranho? 

Ela me abraçou meio sem jeito. 

— Acho que sim... — mas estava sorrindo. 
— Gomes! Como é bom ver essa sua careca outra vez! — eu disse, enquanto o  esmagava com os braços. Ele ficou meio sem jeito, mas acabou retribuindo meu abraço. 
— Desculpe pelo susto... 
— Que bom que está de volta, senhorita. — disse um pouco acanhado. 
— Onde ele está? — perguntei ainda ofegante. 
— No quarto. Ele não sai de lá. — Elisa disse com os olhos arregalados, ainda  surpresa com meu súbito aparecimento. 

Comecei a correr em direção ao quarto dele quando Elisa gritou: 

— Não no quarto dele! Em seu antigo quarto. 
— Joe! — resmunguei, mudando de direção. 
Não me perdi dessa vez. 
Não me perderia nunca mais! 
Alcancei a porta e tentei abri-la, mas estava trancada com chave. 

— Vá embora! — gritou lá dentro. 

Meu corpo todo estremeceu ao ouvir sua voz, mesmo estando mais rude que de costume. Bati na porta com mais força. 

— Já pedi para me deixar em paz. —ele vociferou.

Não desisti. Continuei batendo insistentemente até que ouvi sons de passos  pesados e sua voz lamuriosa esbravejando outra vez. 

— Eu já disse para ir embora! — berrou ao abriu a porta. Seus olhos furiosos se  arregalaram, depois ficaram confusos. O rosto abatido me examinou por alguns segundos. 

Meu coração batia ensandecido dentro do peito. Ele estava ali, bem na minha frente! 

— Tem certeza? Eu vim de tão longe! Mas se quiser que eu vá emb... — não  pude terminar, seus braços urgentes me puxaram para si e seus lábios esmagaram os  meus com desespero.


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FELIZ NATAL ATRASAAAADO,HEEEEEEEEEEEEEY,COMO FORAM DE NATAL? EU COMI MUITO,CURTI MUITO,CELEBREI MUITO.
Curtam,comentem,deixem a opinião de voces ta?
Mil beeijos,Nath

4 comentários:

  1. Ahhhh estou chorando tanto agora com esse cap! !!!!
    Posta logooop
    O meu natal foi ótimo

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  2. cap perfeito posta logooooooooooooooo

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  3. Graças...a fada madrinha da Demi kkk
    Finalmente esses lindos vão poder ficar juntos.
    Super ansiosa para saber mais ;)
    No natal kkk também comi demais kkk...foi ótimo :)
    Posta logooo viu
    Beijos diva

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  4. Só eu que chorei lendo esse capitulo divo?!!
    Eu estou totalmente viciada nessa história
    Posta por favor logo
    Beijos e eu amo você

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