— Quem sabe você pega meu buquê, Demi. — Marisa tentou me animar. Ela me conhecia bem para saber que eu não estava nada bem.
— Quem sabe. — concordei, desanimada.
—Tem uns caras bacanas do Jiu-Jitsu que talvez você goste. Se quiser, posso te apresentar a algum deles. — Logan ofereceu. Marisa contou a ele que eu estava apaixonada,para explicar as minhas ações tão atípicas nos últimos dias. Mas é claro que ela não contou a ele que Joe não morava naquele mesmo século.
Logan pensava que eu tinha tomado um belo pé na bunda.
— Não, não. Valeu pela oferta, mas não, obrigada!
Logan foi até a cozinha pegar os pratos para comermos a pizza. Ele ajudava Marisa em tudo, fiquei surpresa.
— Ele começa a trabalhar nesta segunda. — ela me confidenciou, orgulhosa.
— Isso eu tenho que ver! Quem foi o maluco que deu emprego pra ele?
— Foi o Zezão. O Rafa vai ser personal na academia dele.
— O salário até que é razoável e ele pode acabar conseguindo uns por fora! —sorriu entusiasmada.
— Bacana! Fiquei fora alguns dias e o Logan está trabalhando, casando... e eunão estou trabalhando. O mundo tá mesmo de pernas pro ar! — tentei brincar, mas nãome sentia muito animada.
Marisa notou isso.
—Ah! Dem! — ela lançou seus braços ao meu redor e me apertou firme. — Não podia se apaixonar por alguém mais acessível? — disse, meio brincando, meio lamentando.
— Não tive escolha, Marisa. Não sei como viver sem ele. Tenho que encontrá-la a qualquer custo. Eu tenho que encontrar a tal mulher! E muito rápido. — A cada dia, ficava mais insuportável respirar.
— Humm. — ela resmungou. — E nós vamos encontrá-la. Vamos procurar em cada canto do planeta. Você não vai passar o resto da vida sofrendo assim! — afirmou convicta.
— Valeu, Marisa — eu me apertei mais contra ela. — Eu te adoro.
Voltei para casa tarde da noite e, dessa vez, sóbria.
Ainda era muito cedo. A cidade começava a despertar. Dirigi pelas ruas semi desertas até o apartamento de Marisa.
— Pra onde vamos assim tão cedo? Você encontrou alguma coisa? — ela perguntou, entrando no carro com rapidez.
Eu não tinha encontrado nada. Mal dormi na última noite, mas o pouco tempo em que estava inconsciente eu sonhei com Joe. Estávamos em casa — na casa dele — e conversávamos sobre seus cavalos. Ele estava animado, sorridente, feliz. Seus olhos brilhavam e seu sorriso me hipnotizava. O mesmo de sempre! Mas, então, de repente ele começou a se distanciar. O sofá no qual estávamos sentados começou a se esticar e Joe ficava cada vez mais longe. Eu tentei gritar, chamar por ele, mas minha voz não saiu, ficou presa em meu peito. Tentei me levantar para alcançá-lo, mas minhas pernas pareciam feitas de chumbo e eu não pude movê-las. Ele continuava se distanciando, até que, finalmente, foi engolido pelas sombras. Acordei com o coração batendo rápido, com lágrimas nos olhos e o grito ainda preso em minha garganta.
A dor me apunhalou fundo quando percebi que ainda estava em meu apartamento. Sem pensar, liguei pra Marisa para encontrá-la.
— Não, Marisa, não encontrei nada, mas eu preciso ir até lá. — engoli alto. Até a casa dele. Não vou conseguir fazer isso sozinha. Talvez tenha alguma pista ou... sei lá! Eu preciso ir até lá!
— Acha que a casa ainda existe? — ela perguntou, descrente.
— Espero que sim. — eu disse, pisando no acelerador. Refiz o caminho para a casa de Joe, bem diferente agora — com avenidas pavimentadas e semáforos me perdendo inúmeras vezes antes de encontrar uma ruela estreita. Depois de um tempo, avistei a casa, uma pequena chácara no meio da cidade grande. Era a mesma casa, deteriorada pelo tempo, acinzentada, mas era a mesma, eu tinha certeza. Minhas mãos
começaram a tremer, pensei que a dor fosse me rasgar em duas. Marisa percebeu.
— É ali?
Assenti. Parei o carro perto das escadas envelhecidas sem saber bem o que fazer. Não me importava se o dono chamaria a polícia ou se me levariam para a ala psiquiátrica outra vez, eu tinha que entrar lá.
— O que pretende fazer? — Marisa indagou, observando a casa imponente.
— Eu não sei. Só quero... Só preciso entrar lá! Ver que tudo foi real e... — sacudi a cabeça. Eu não sabia o motivo, mas eu tinha que entrar naquela casa. Era como se me chamasse.
Saí do carro decidida, subi os degraus até alcançar a porta. Marisa me seguiu. Eu bati e esperei.
— O que vai dizer? Por acaso, o Joe ainda mora aqui? — ela sussurrou, meio apavorada.
Não tive tempo para responder. A porta se abriu, um rapaz de cabelos cor de areia, estatura média e olhos de um azul familiar nos observou.
— Oi! — comecei insegura. Será que posso entrar e ver se o cara que eu amo está aí dentro? Você o conhece? Ele mora em 1830! —Eu...Tudo b...
Para minha surpresa, o rapaz sorriu.
— Demi Alonzo — disse de forma muito segura.
Minha boca se abriu. Os olhos de Nina se arregalaram. Demorei um pouco para responder.
— S-sou eu. Como sabe? — perguntei, ainda em choque.
— Entrem. — e se afastou para nos dar passagem. Senti meu coração se encolher dentro do peito ao ver a sala de visitas agora mobiliada com moveis atuais e uma grande TV de plasma bem ao centro dela. Tudo estava diferente, todos os móveis eram contemporâneos, atuais. Até a cor das paredes era diferente.
Também vazia, como eu.
— Estamos esperando por você há muito tempo. Há séculos, na verdade! Eu nem acreditava nas histórias, mas.., ele esticou os braços apontando para mim e sorriu eufórico. — Você está aqui!
E como gostaria de não estar! Estar em casa com Joe conversando sobre qualquer idiotice. Ou até mesmo estar assistindo Teodora discursar fervorosamente sobre a importância da fita no chapéu.
— Ouvi muito sobre você. — ele disse, animado.
— Ouviu? — uma centelha de esperança se acendeu
— Vem comigo. — ele indicou o caminho.
Fui na frente, olhando de vez em quando para ele e Marisa — que parecia aparvalhada, olhando para todos de boca aberta — pra ver de que lado ir. Contudo,depois de algumas portas, eu sabia para onde seguíamos.
Para o meu quarto.
A porta estava trancada.
— Esperem um minuto, vou pegar a chave. — disse o rapaz, saindo pelo corredor que levava até cozinha.
Toquei a porta envelhecida. A mesma porta que tentei fechar e Joe me impediu.
A mesma que arrombou quando pedi a navalha e ele pensou que eu fosse suicida. Tentei me controlar um pouco, respirando fundo diversas vezes, tentando juntar meus cacos. Era doloroso demais estar ali sem ele, sem os móveis, sem Elisa.
— Conhece este quarto? — Nina inquiriu, minha mão ainda na porta.
— É o meu quarto, Marisa . — sussurrei.
O rapaz — que eu ainda não sabia o nome — voltou e colocou a chave na porta.
— Este quarto fica trancado o tempo todo. Apenas a família tem acesso. — me explicou enquanto o abria.
Estava escuro lá dentro, O quarto não tinha luz elétrica como o resto da casa. Fiquei parada na porta, enquanto ele se enfiava na escuridão abrindo as cortinas pesadas. Dei um passo, vacilante, sem saber o que iria encontrar ali. Marisa me seguiu.
Logo fiquei sem ar.
— Puta Merda! — Marisa exclamou.
Estava tudo como antes. Exatamente como eu o deixei! A cama, a banheira, o frasco de xampu, a mesa com o vinho, a poltrona, até a roupa de cama era a mesma, mas agora tinha manchas amareladas causadas pela passagem do tempo. Olhei em volta, sem saber o que procurava, quando encontrei. Minhas pernas falharam.Não. Não estava exatamente tudo igual. Vários quadros haviam sido adicionados ao cômodo. Por um momento, não pude me mover. Senti que meus pulmões não mais sabiam o que fazer. Eu não conseguia respirar. Quando finalmente consegui levar um pouco de ar para dentro, me aproximei da parede.
Eu estava no quadro, com o vestido rosa de Elisa, uma flor presa no cabelo trançado. Hesitante, levantei a mão, que tremia muito, para tocá-lo, exatamente como fiz na noite em que o vi primeira vez. Nenhuma voz pediu para que eu não tocasse a tela porque borraria. O rasgo em meu peito sangrou.
Então, ele terminou o quadro que vi em seu quarto na noite em que fizemos amor. A noite mais mágica de minha vida. Toquei a tela, tentando sentir com as pontas dos meus dedos os lugares exatos onde os seus haviam estado. O quadro era lindo. Ele me retratou de forma deslumbrante. Muito mais do que eu era na realidade. O melhor Photoshop que já vi.
Lágrimas inundaram meus olhos, pisquei diversas vezes para que desobstruíssem minha visão e eu pudesse admirar as outras telas. Meus olhos seguiram a sequência de retratos.
Eu estava em todos eles.
Eu na cama com o cabelo bagunçado e o lençol branco preso entre os braços: a noite em que fizemos amor. Eu na sala de música, com o vestido de baile e olhos assustados: depois que contei a verdade a ele. Meus tênis vermelhos num quadro pequeno onde apenas meus joelhos cobertos pelo vestido azul apareciam: o vestido era curto e os deixou à mostra. Eu com as costas nuas brincando na água fria do riacho: quase pude sentir os calafrios outra vez.
Muitos quadros. A memória de Joe gravada nas telas. Ele se lembrou de cada detalhe meu, cada traço, cada curva, cada expressão.
Meu coração se espremeu ainda mais, até o ponto de latejar.
Meu coração se espremeu ainda mais, até o ponto de latejar.
— Estes quadros foram feitos por meu tio-avô. Tataravô, Eles estão na família há sete gerações. — o rapaz disse.
Não pude vê-lo, meus olhos não conseguiam parar de olhar tantas provas do amor de Joe por mim.
— O que sabe sobre ele? — sussurrei. — O que sabe sobre Joe?
— Bem... — ele não se espantou quando usei seu primeiro nome. — O que meus pais me contaram, que souberam através dos seus, e assim por diante... Joseph Clarke apaixonou por esta mulher, Demetria Alonzo, e a retratou até o fim da vida, numa tentativa de não esquecê-la, eu acho.
Até o fim da vida.
Não pude conter o soluço.
— Ele tinha vinte um quando pintou este. — me virei para acompanhá-lo. Eu sabia qual era o quadro. — Ela estava lá. Minha tataravó a conheceu. — sua testa se enrugou. — Mas ela desapareceu depois de alguns dias e Joe não se recuperou.
— Não! — não era um lamento, nem uma pergunta, era desespero e dor misturados com raiva, agonia e medo.
Marisa me amparou.
— Respire, Semi. Apenas respire. — ela pediu. Tentei obedecer, mas não obtive muito êxito.
— Ele ficou obcecado por ela, a retratou até este aqui, quando tinha trinta e um. — continuou o rapaz, apontando para a outra parede.
Era um quadro branco, muito branco, apenas a silhueta escura de uma mulher envolta na luz branca. Sua última lembrança. Nosso último momento.
— Depois disso, adoeceu. E, como estava fraco demais por culpa de todo o álcool que ingeria, não conseguiu reagir e acabou...
— NÃO! — isso não podia estar acontecendo. Eu precisava acordar daquele
pesadelo.
Tentei engolir e não consegui. Senti meus joelhos faltarem. Marisa me segurou antes que eu caísse. O rapaz a ajudou a me levar até a cama. Respirei várias vezes. Eu não queria ouvir mais nada.
— Elisa ficou arrasada com... Depois que o irmão se foi... — meu corpo tremia muito, como se eu fosse partir ao meio. — Ela viveu com o marido e os filhos nesta casa até o fim. Este quarto se tornou um tipo de herança, que o herdeiro se comprometia a não modificar. Elisa dizia que um dia a garota voltaria, seu irmão insistia nisso. Que um dia ela voltaria à esta casa.
A mão de Marisa subia e descia por minhas costas.
— Ela foi feliz? Elisa foi feliz? — sussurrei. Não tinha forças para nada.
— Sim. Muito feliz. Mesmo depois da m... Ela se casou com meu tataravô aos vinte anos. Eles se conheceram num baile. Foi amor à primeira vista.
— Lucas? — mal pude ouvir o som de minha voz.
Mas o rapaz ouviu, sorriu e balançou a cabeça. Tentei sorrir também, mas acho que não consegui.
—Veja. — ele pegou um papel na mesinha de cabeceira, o livro de capa de couro ainda sobre ela. — Esta é a carta que Joe deixou para a garota. Elisa a guardava como um tesouro.
Olhei para o papel em sua mão e demorei pra entender que deveria pegá-lo. Estava totalmente anestesiada. Marisa percebeu isso e pegou o papel, colocando-o em minhas mãos logo em seguida.
Fechei os olhos e respirei algumas vezes. Meus dedos tremiam muito. Desdobrei o papel antigo e manchado com dificuldade. Sorri tristemente ao ver sua caligrafia perfeita escrita com minha caneta barata.
Demi,
Escrevo esta carta na esperança de que algum dia ela possa chegar as suas mãos .Uma década se passou desde que você apareceu em minha vida. Acreditará se eu lhe assegurar que para mim nada mudou durante este tempo todo? Que não perdi a esperança de que um dia volte? Que ainda sinto seu perfume em minhas lembranças? Que nossa ultima conversa gira em minha cabeça como se tivesse acontecido ainda ontem?
Perdoe-me meu amor por não ter sido capaz de prendê-la aqui. Perdoe-me por não ter sido rápido o bastante. Tudo seria diferente se eu tivesse sido capaz de impedir que fosse levada para tão longe. Contudo eu não lamento nada. Os poucos dias em que passei ao seu lado foram os mais preciosos da
minha existência. Então, agradeço todas as noites por tê-la em minha vida, mesmo que por tão pouco tempo. São as lembranças desses poucos dias que me mantém respirando. Desejo fervorosamente que esteja feliz, onde quer que você esteja agora. Não posso suportar, sequer pensar que você não tenha tido uma vida feliz como merece.
Estou tentando encontrá-la, tenho falado com alguns estudiosos sobre o assunto, mas ainda não obtive nada satisfatório. Talvez acabe encontrando uma solução em breve, algumas coisas evoluíram por aqui. Talvez eu possa ir buscá-la. Nunca desisti de encontrá-la. Por isso, não sou capaz de lhe dizer adeus.
Pois sei que ainda nos veremos outra vez. E se, por sorte, algum dia puder ler estas linhas, não te esqueças que a amei desde o primeiro instante e a amarei
até o ultimo. Talvez até depois. Vemo-nos em breve,
Eternamente seu
J.C
J.C
Meu cérebro parecia mingau. Ele tentaria me buscar? Abandonaria tudo por mim?
É claro que abandonaria! Da mesma forma que eu abandonaria. Mas é claro que ele não encontraria nada. Se nem os banheiros existiam no século dele, quanto mais máquina do tempo!
Dobrei a carta e a guardei. Não sabia o que pensar. Nem mesmo o que fazer. Eu só queria estar com ele outra vez, abraçá-lo e confortá-lo. Fazê-lo sorrir novamente.
— Sempre me perguntei quem era você. — ele começou, depois de um tempo. — Sempre me perguntei quem era a garota retratada há duzentos anos atrás usando All Star vermelho. — ele olhava para o quadro. — Como é possível?
Sacudi a cabeça, sem forças para mentir, não havia necessidade. Ele sabia a verdade.
— Não sei. Apenas sei que até duas semanas atrás eu estava lá, Elisa tinha ido até a casa de Teodora e Joe e eu estávamos no nosso lugar especial. De repente... eu estava aqui outra vez.
Seus olhos azuis, tão dolorosamente familiares, me analisavam atentamente.
— Você realmente esteve lá?
— Estive — sussurrei. — E preciso voltar. Voltar para Joe e... — o soluço me impediu de continuar.
O rapaz delicadamente colocou sua mão em meu ombro,
— Vai ficar tudo bem.
— Não vejo como, — chorei desamparada.
— Nós vamos dar um jeito nisso! —Marisa disse determinada. — Meu Deus, esse homem é louco por você! Você não pode deixá-lo escapar. Vamos encontrar um jeito!
Queria muito ter a mesma convicção que Marisa. Queria desesperadamente.
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Hey gente,ta dificil pra Demi e pro Joe,mais espero que tudo se ajeite. A historia ta acabando,e eu não sei o que fazer,antes de 2014 quero ter terminado a fic. Mais preciso de uma ajudinha,o que fazer depois que Perdida acabar? Deixem a opinião de vocês
Um bom domingo a todas
Beijos
Meu deus fiz um rio aqui com as minhas lágrimas por favor posta logo !!!
ResponderExcluirEu estou tipo chorando muito
ResponderExcluirPor favor posta logo
Oi!! Não tem uma continuação pra essa história?
ResponderExcluirEstou chorando tanto com esse capitulo
ResponderExcluirPosta logooooo
Que emocionante...não tem como não chorar com uma carta dessas !!!
ResponderExcluirPoxa...espero que ela arrume uma solução para isso tudo...eles nasceram para ficar juntos,mesmo estando em séculos diferentes.
Ansiosa aqui para saber mais.
Posta logooo
Beijos
Tem uma lágrima no meu oceano!
ResponderExcluirPosta por favor logo, estou tão curiosa para saber o que vai acontecer
Posta logo flor
Posta logo
ResponderExcluirPerfeito