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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Perdida #5

Que mulher mais sinistra!

— Eu fico com ele então!
— Ótimo! Vou te explicar como funciona. — ela tirou o pequeno aparelho prateado da caixa.
— É tão lindo! — exclamei incapaz de me conter.
— Sim, é. — ela disse rapidamente sem muito entusiasmo. Veja! Apenas dois botões, liga e desliga.

Oh!

— Já vem com a bateria carregada, cartão de memória e o número. Você não poderá trocá-lo. Este aparelho só funciona com este chip.
— Beleza. — meu antigo número boiava em algum lugar no esgoto naquele exato momento. — Ele é touch screen? — perguntei excitada.
—Sim. E as funções estão no manual, mas é bem simples de usar.

O aparelho era lindo. Todo cromado, a tela grande e escura, apenas dois pequenos botões embaixo dela. Muito mais bonito e moderno que o meu antigo.

— Onde eu pago? — eu queria sair logo dali pra poder fuçar nele.
— Aqui mesmo. A forma de pagamento será no cartão? — ela ainda parecia relutante de alguma forma.

Aposto que ela pretendia ficar com ele!

Desgrudei relutantemente os olhos do meu futuro novo monstrinho para procurai meu cartão na bolsa. Remexi dentro dela e não encontrei o cartão. Olhei nervosa para a vendedora, coloquei a bolsa sobre o balcão e tornei a procurar. Batom, blush, chaves, absorventes, lixa de unha, camisinha; eu era uma mulher precavida. Nada de cartão. Continuei procurando, tinha que estar ali! A última vez que usei o cartão tinha sido no almoço do dia anterior e eu tinha certeza de tê-lo guardado de volta na bolsa. Encontrei meu romance estropiado, remédio para dor de cabeça, minha nécessaire de higiene, caneta, elástico para cabelo, sache de ketchup — como é que isso veio parar aqui?

Ah! Encontrei!

— Aqui está! — Eu disse triunfante, entregando o cartão a ela.
— Volto num minuto, Sofia. — ela disse com um sorriso nos lábios.

Espera aí!

— Como sabe meu nome? —perguntei com um pequeno sobressalto.

O sorriso dela desapareceu.

— Está escrito no cartão, querida. — replicou, sem hesitar.
— Ah! — respondi um pouco desconfiada, pois me pareceu que ela não tinha olhado sequer uma única vez para o cartão.

Ela saiu e rapidamente me distrai olhando para meu novo celular. Tão lindo e moderno! Tinha certeza que caberia mais de mil músicas nele. Uma coisa muito importante para mim. Eu era movida a música. Quase literalmente. Usava música para quase tudo: pra me acalmar, pra relaxar, só por ouvir, pra tomar banho, pra ler, pra tudo. Às vezes, quando eu sonhava, alguns sonhos tinham até trilha sonora. Música era importante assim para mim.

— É só assinar aqui. — disse a vendedora, com aquela voz estranhamente agradável.
Peguei meu cartão, assinei a notinha e a devolvi para ela.
— Tudo certo então? — perguntei, guardando o cartão de volta na bolsa enquanto ela colocava a pequena caixa numa sacola.
—Tudo absolutamente certo. Espero que te traga a felicidade que procura. — e me entregou a sacola.
Sorri para ela.
— Ah, vai trazer sim!
Tenho certeza disso. — a voz séria e tão baixa que não tive certeza se tinha ouvido direito.
— O que disse?
— Boa sorte, Sofia. Espero vê-la em breve! — ela sorriu novamente e, quando o fez, seu pequeno rosto se tornou tão angelical, tão bonito, que só pude sorrir em resposta e dizer:
— Claro! Até logo. — e sai da loja apressada

Mulher estranha pensei outra vez. Mas eu tinha coisas mais importantes para ocupar meus pensamentos. Coisas muito importantes. Coisas como ligar meu celular hightech novinho! Eu poderia esperar até chegar em casa como uma pessoa normal faria, mas estava ansiosa demais para vê-lo em ação. Abri a embalagem, peguei o monstrinho e guardei a caixa dentro da bolsa de couro marrom para dar uma olhada no manual mais tarde. Joguei a sacola plástica numa lixeira da rua.

Deus abençoe o inventor das maxibolsas!

Segurei o pequeno aparelho prateado nas mãos e apertei a tecla liga. Nada aconteceu. Virei o telefone em busca de algum outro botão, mas não encontrei nada. Apertei a tecla verde novamente.   Nada! Mas que droga! Não me admira custar tão pouco. Não funciona! Tal vez fosse esse o motivo da vendedora agir de forma tão estranha e relutante. Ela sabia que estava quebrado.
Cheguei à praça praticamente deserta e tentei mais uma vez. Nada!
Nada!
Girei nos calcanhares para voltar até a loja e dizer umas coisinhas para aquela vendedora esquisita enquanto apertava freneticamente o botão verde. Então, de repente, a tela se acendeu. Gradualmente, foi ficando mais clara até se tornar insuportável e eu não consegui mais olhar para ela. Parecia que tudo ao meu redor foi envolvido por aquela luz insuportavelmente forte e branca. Cega pela luz; acabei tropeçando em alguma coisa e cai no chão.
Aos poucos, vagarosamente, a luz enfraqueceu e tentei ajustar o foco dos olhos, mas ainda não era capaz de enxergar nada. Alguns minutos se passaram antes que eu pudesse recuperar minha visão. Quando finalmente meus olhos voltaram ao seu estado normal, vi a pedra em que meu pé se enroscou, a grama debaixo de meu corpo, a luz do sol — natural e confortável outra vez.

O que foi aquilo?

O celular devia ter pifado ou coisa assim. E por que toda aquela luz? Parecia ter saído dele, mas não poderia ser isso, poderia? Não tinha ouvido nada sobre luzes ofuscantes nos novos aparelhos. Talvez tivesse entrado em curto. Ainda no chão, olhei para o celular, que estava apagado outra vez.
Foi então que percebi que algo estava diferente. Muito, muito diferente! Olhei em volta com assombro. Meus olhos procuravam por qualquer coisa familiar. Qualquer coisa que deveria estar ali. Que deveria estar ali e que não estava!
Onde estavam os prédios? Onde estava a rua? Onde estava a praça em que tropecei meio minuto atrás? — perguntei-me desesperada. Eu me encontrava no chão de um vasto gramado — como um campo de futebol — apenas uma árvore de médio porte a alguns metros. Notei uma estreita estrada de terra batida onde deveria estar a rua.
Eu devia ter batido a cabeça com muita força! Só poderia ser isso! Olhei freneticamente em todas as direções e nada estava ali. Nada! As pessoas, a cidade, tudo havia sumido. Quanto eu bebi noite passada? Talvez ainda esteja bêbada! Isso. Com certeza, bêbada!  Eu não conseguia me mover, me levantar e provar que estava tão embriagada que não podia sequer ficar de pé, que estava tão doida que tinha feito tudo desaparecer. Fechei os olhos e os apertei bem forte, rezando para que, quando os abrisse novamente, tudo voltasse ao normal. Então ouvi um barulho. Abri os olhos rapidamente. Avistei um homem em cima de um cavalo marrom claro vindo em minha direção. Estreitei os olhos para entender o que estava vendo.

Realmente era um homem e um cavalo!

Continuei a observar enquanto ele se aproximava e notei que o cavalo diminuía sua corrida. Diminuiu um pouco mais até parar bem perto de onde eu estava.  Olhei para o homem, completamente confusa. Suas roupas eram muito esquisitas e antigas. Muito, muito antigas! Vestia um casaco escuro e comprido, um colete sob ele, gravata — ou talvez fosse um lenço branco amarrado no pescoço — e botas pretas na altura dos joelhos. Ele estaria indo para alguma festa à fantasia? Ou um casamento temático, talvez?   Fiquei observando o rapaz enquanto ele descia de seu cavalo com uma expressão preocupada no rosto.

—Você está bem, senhorita? — ele perguntou, se agachando ao meu lado.

Continuei a encará-lo de boca aberta. Seus olhos procuraram alguma coisa ao redor. Assim como eu, também não encontrou nada ali, apenas a árvore, a pedra e eu, ainda caída no chão. Ele voltou a observar meu rosto, depois seus olhos avaliaram o resto de mim e sua cara assumiu um tom avermelhado quando examinou minhas pernas. Rapidamente, voltou a me encarar, sua face confusa.
— Você está bem, senhorita? — ele repetiu.
Minha cabeça girava, me deixando tonta.
—O-o que? — respondi pateticamente.
— Tem um ferimento na cabeça. Está sangrando muito. — ele moveu sua mão em direção à minha testa, mas não me tocou.
Estava tão confusa que não notei, a princípio, a umidade quente e pulsante em minha têmpora.
— Ah! — eu disse tocando minha testa debilmente. Doeu um pouco
.
Então, eu não estava sonhando! Ou tendo um pesadelo.

— O que aconteceu? Parece assustada e... suas roupas... Hã...
— Cadê a cidade? — inquiri, com a voz quase sem som.
— Foi de lá que a senhorita veio? — sua testa franziu.
— Como foi que eu vim parar aqui? Como tudo sumiu tão depressa? Cadê as pessoas? — disse eu, agarrando com as duas mãos a gola de seu casaco.

Olhei em volta, procurando uma forma lógica para explicar o que estava acontecendo, mas não havia nada ali, além da paisagem rural. Estava assustada demais para entender qualquer coisa. O rapaz se espantou um pouco com minha reação. Mas o que mais eu poderia fazer, além de ter um ataque?

— Melhor levá-la até minha casa e chamar o médico. Depois arrumarei uma carruagem para levá-la até sua casa. — seus olhos me fitavam de uma forma muito estranha. Era muito intenso. Fiquei zonza. Soltei seu casaco imediatamente . Um médico seria bom. Talvez ele me desse alguma coisa que me fizesse acordar ou sair daquele pileque mais depressa.
— Posso ajudá-la a se levantar, senhorita? — e estendeu suas mãos, para que eu as usasse como apoio.

Apenas assenti, confusa. Tinha certeza que não conseguiria ficar de pé sozinha, de toda forma. Meus joelhos pareciam feitos de gelatina. Estiquei meus braços para pegar suas mãos, quando o que ele disse entrou no redemoinho de pensamentos.
— Carruagem?
— Talvez seja mais prudente permitir que o Dr. Almeida lhe examine primeiro. Um ferimento na cabeça pode ser muito perigoso.
— Não é nada. — afirmei. — Nem sei como aconteceu. Você também viu aquela luz? — perguntei, ansiosa para poder encontrar o sentido daquilo tudo.
Ele pareceu confuso.
— Luz? Refere-se à luz do sol?
— Não! —sacudi a cabeça. — A luz branca insuportável que fez tudo desaparecer!
Ele sacudiu a cabeça lentamente.

Eu fui a única que vi, então?

— Vejo que está um pouco atordoada! Vamos até minha casa. Descanse um pouco e, depois que falar com o médico, prometo que farei o possível para ajudá-la, está bem? — sua voz baixa e rouca, os olhos intensos, não me deixaram outra escolha.
Eu nem mesmo tinha outra escolha.
— Tá. — murmurei.
Ele alcançou minhas mãos e me ajudou a levantar.
— Não é prudente que uma jovem como a senhorita fique sozinha neste lugar, ainda mais com seus trajes nestas condições. — ele passou a mão em minha cintura para me dar apoio e começou a me conduzir até seu cavalo. Senti algo muito estranho quando ele me tocou. Tipo um déjavú ou como se já nos conhecêssemos de algum lugar. Fiquei ligeiramente sem equilíbrio.
— Por que está vestido desse jeito? — perguntei, tocando seu casaco. — Estava indo para alguma festa?
— Estou voltando de uma viagem longa. — a desordem em seu rosto era parecida com a que devia estar no meu.
Viajando de cavalo vestido daquele jeito? Ele era louco?
— Não acha que seria melhor uma roupa mais confortável? E porque você foi com o cavalo?
A confusão em seu rosto se aprofundou.
— Creio que estou vestido adequadamente, senhorita. E prefiro ir a cavalo. É bem mais rápido que a carruagem. — um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, meu estômago se agitou. — Contudo, sei que é pouco prudente de minha parte. Muitas coisas mudaram nessa última década. Acredito que não seja mais seguro, com tantos vândalos e golpistas por aí se aproveitando de viajantes solitários. — e me lançou um olhar significativo.
— Ah! Não. Eu não fui atacada por ninguém. Eu não sei o que aconteceu. —parei quando cheguei perto do cavalo, seu braço ainda em minha cintura. —  Num minuto, eu estava na praça e, segundos depois, estava aqui neste... campo e tudo sumiu.
— Tenho certeza que se lembrará assim que sua cabeça melhorar. Mas penso que foi atacada por ladrões sem escrúpulos. Seria essa a única explicação para terem deixado uma dama nestas condições! — ele desviou os olhos.
— Que condições? — perguntei confusa pelo tom reprovador de sua voz.
— Suas roupas, senhorita. — ele murmurou. — Mal posso crer na audácia de tais vândalos!
— O que é que tem minhas roupas? — olhei para elas, para ver se ainda existiam ou se, de repente, não tinham desaparecido como todo o resto. Havia um pouco de grama presa na saia e nos joelhos mas, fora isso, estava tudo normal. Pelo menos com as roupas.
— As coisas mudaram muito depressa, como eu disse. Não acho prudente que mais alguém a veja praticamente sem... — ele pigarreou e baixou tanto a voz que quase não pude ouvir. —... roupas.
— Como assim sem roupas? — de que raios aquele maluco estava falando.
— Não se preocupe com isso! Elisa lhe arrumará algo para vestir. — ele me empurrou gentilmente para mais perto do cavalo.
Eu recuei, me soltando de seu abraço.

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Oi gente,mals a Demora outra vez,fiz um capitulo grande pra adiantar,a historia começa a ficar legal agora,legal e louca kkk. espero que gostem,comentem.
Beijocas,Nath

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Perdida #4

Foi então que ouvi um “ploct”.

Olhei para baixo bem a tempo de ver meu celular — com todos os meus contatos, minha agenda, minhas músicas — cair do bolso da calça, boiar por dois segundos e depois mergulhar dentro do vaso sanitário.

A luz do sol batendo em meu rosto me acordou. Levei alguns segundos para entender onde eu estava
.
Ai, minha cabeça! Quanto eu bebi ontem?

Olhei em volta com os olhos serrados, o sol fazendo minha cabeça latejar ainda mais. Ah! Meu sofá. Minha sala. Meu apartamento. Fiquei deitada por mais um tempinho tentando, sem sucesso, fazer desaparecer a sensação horrível em meu estômago. Ainda estava com as mesmas roupas da noite passada — porém, sem os sapatos. Sentei-me lentamente, sentindo que talvez minha cabeça pudesse explodir em milhares de pedaços. Fui até a cozinha e tomei dois copos grandes cheios de água e um analgésico — talvez isso limpasse meu organismo e diminuísse o barulho dentro da minha cabeça.

Deixei a água quente do meu super chuveiro cair em meu rosto, enquanto a memória da noite anterior enchia minha cabeça latejante. Evidentemente, a comemoração — da qual o Josh não tinha ideia do que fosse, ainda, mas que comemorou com muito entusiasmo mesmo assim — tinha saído do controle. Eu, claramente, tinha exagerado um pouco. Um pouco demais! Mas não era todo dia que sua melhor amiga resolve ser a namorida de alguém, exatamente na mesma noite em que seu celular se afoga numa privada imunda.

Precisava comprar outro. Urgente! O que uma garota podia fazer sem seu celular?

Fechei o registro do chuveiro e fui me vestir. Dei uma olhada pela janela do quarto e aquela manhã de fevereiro parecia agradavelmente quente. Vesti roupas leves — uma regata branca, saia jeans e tênis de lona; não iria usar saltos numa manhã de sábado nem que a rainha de algum lugar exigisse sob a pena de cortar minha cabeça fora! Dei uma última olhada no espelho, que agora mostrava uma imagem bem melhor que a de quando acordei — meu rosto pálido não tinha mais o tom esverdeado — e passei as mãos nos cabelos para arrumar melhor minhas ondas, não havia muito que eu pudesse fazer a esse respeito, meu cabelo tinha vida própria, não importava o que eu fizesse com ele. Há muito havia desistido da briga. Peguei minha bolsa e tomei mais água antes de sair de casa, ainda não era seguro comer. Esperava encontrar meu novo celular rapidamente. Daria um trabalhão colocar todos os meus dados e arquivos nele, já que não pude enfiar a mão na privada e resgatar ao menos o cartão de memória do meu falecido aparelho.

Constatei, assim que sai do meu prédio, que o dia estava realmente agradável, o sol estava quente e confortável e uma brisa suave trazia o perfume das flores da pequena praça próxima ao meu prédio. Um leve aroma de comida no ar fez meu estômago se agitar um pouco, mas a náusea estava ficando mais suportável. Passei pela praça e notei com estranheza, que havia poucas pessoas ali. Normalmente, sempre ficava cheia de ciclistas e pessoas fazendo suas corridas, famílias com seus filhos correndo na grama e até cachorros levando seus donos para um passeio matinal. Naquela manhã, porém, estava quase deserta. Talvez por que já estivesse perto da hora do almoço, pensei. Entrei na primeira loja e fui direto para o balcão dos celulares. Estranhamente, a loja também estava vazia, apenas uma vendedora ali sem cliente algum. Será que era feriado ou coisa assim e eu não estava sabendo?
Deixei o assunto de lado assim que olhei para a vitrine do balcão. Ah! Tantos modelos, tantas funções e ferramentas, tantas possibilidades ao meu alcance — desde que parcelasse no cartão de crédito, claro. Sentia-me como uma criança numa loja de brinquedos.

A vendedora, a única ali, se aproximou com um sorriso no rosto delicado.

— Procurando por algum modelo em especial, querida? — ela perguntou com sua voz suave.
— Hum... Não. Nem um modelo em particular, pra falar a verdade. Eu preciso de um celular que faça tudo.
Ela arqueou as sobrancelhas escuras.
— Tudo?
— É! Tudo. Mp3, wi-fi, 3G, fotografia e filmagem, agenda, alguns jogos, um bom programa de e-mail, essas coisas. — dei de ombros, tentando não demonstrar o quanto estava desesperada para ter um daqueles monstrinhos em minhas mãos.
— Você precisa que o aparelho tenha todas essas funções? — ela indagou de forma curiosa.
— Precisar mesmo, eu não preciso. Mas se já existe um aparelho que tenha tudo, por que não comprá-lo e aproveitar tudo que ele pode me oferecer? — eu ainda olhava para o balcão cheio de possibilidades brilhantes.
Ela suspirou. Me pareceu uma desaprovação. Olhei para ela e seu rosto pequeno parecia mesmo reprovador.
— Parece que você gosta muito de novas tecnologias. — me lançou um olhar meio triste.
— Claro. Quem não gosta? Esta coisinha salva minha vida quase todo santo dia! — quantos problemas, contratos, rescisões resolvi usando apenas o celular no último mês?
— Ok. — ela disse devagar. — Talvez ele realmente salve algumas vidas em certas situações, seria acho um pouco exagerado dizer...
— Em todas as situações! — eu a corrigi. Tudo dependia do celular. O trabalho, os amigos, minha vida toda gravada na agenda. — Eu não saberia viver sem meu celular ou meu computador — pensei por um momento e acrescentei — Ou o micro-ondas!
Eu ri e esperei que ela fizesse o mesmo, mas a vendedora de cabelos e olhos cinzas e bonitas feições apesar de sua idade uns 50 talvez —, não achou graça na minha brincadeira. Seu rosto de repente ficou pesaroso e eu comecei a ficar um pouco tensa.
— Você tem o que eu quero? — perguntei um pouco apreensiva. Ela estava me deixando um pouco estressada.
— Acho que talvez eu tenha exatamente o que você precisa. — ela disse mais para si mesma. Ou pelo menos foi o que me pareceu.
Ela abriu uma gaveta do balcão e retirou uma caixa pequenina. Prendeu minha atenção totalmente.
— Este modelo não está na vitrine. Esta é a última unidade. — falou, se aproximando mais.

Última?

— É um aparelho muito especial. — ela continuou. Não desgrudei os olhos da caixa. — Muito especial mesmo! Apenas algumas unidades foram fabricadas. É muito raro!

Ah! Droga! Raro significa caro.

— E este está na promoção. Um preço muito bom! Quase me sinto mal por vendê-lo a um valor tão baixo.

Uh!

— E parcelamos no cartão, claro. Além disso, ele possui tudo o que você deseja ou precisa. — ela enfatizou a palavra com um sorriso esquisito na boca. — É fantástico. Aposto que mudará sua vida, querida.
Eu observei a caixa nas mãos dela. As palavras “Everything You Need in Just One Click!”(Tudo que você precisa em apenas um clique) me ganharam.
— Acho que vou levar.
— Tem certeza?

Estava ficando irritada com aquela mulher. Afinal, ela queria ou não me vender o telefone?

—Tenho. — confirmei olhando em seus olhos.

Uma expressão estranha cruzou seu rosto. Pena, tristeza e mais alguma coisa. Será que ela pretendia vender o celular para outra pessoa — uma amiga — e agora teria que me vender a última unidade? Ou será que ela pretendia comprá-lo pra si mesma? Mas, então, por que teria me mostrado o aparelho em primeiro lugar?
— Você não poderá devolver nem trocá-lo! Como eu já disse, este é o último aparelho. — disse suavemente.
— Ele está com algum defeito ou coisa assim? Tem garantia? — perguntei um pouco desconfiada.
— Tem garantia, sim. E não tem defeito algum. Apenas por se tratar de uma peça única não poderá ser trocado, pois não existe outro similar a este!
— Mas ele funciona bem? — me certifiquei.
— Perfeitamente bem. Ele possui tudo o que você sempre quis na vida. Tenho certeza que ficará muito satisfeita. — e sorriu, o rosto alegre.

Que mulher mais sinistra!
— Eu fico com ele então!
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Desculpem a demora,estava esperando os coment's aumentarem,como não rolou postei,comentem. beijos
Nath
#votedemilovato


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Perdida #3

Ela olhou rapidamente para Josh e depois de volta pra mim.
— Eu acho que... Acho que eu...
Seus olhos estavam ansiosos, meio inseguros. Ela parecia assustada.

Oh- Oh!

— Meu Deus, Marisa! Você está grávida, não está? — fiquei gelada. Marisa cuidando de um bebê! Um bebê que chora e vaza meleca por vários orifícios diferentes. O tempo todo! Se bem que, se ela era capaz de suportar o Josh com seus quase dois metros resmungando e pedindo coisas o tempo todo, seria capaz de cuidar de um bebê de cinquenta centímetros e que, certamente, reclamaria muito menos.

— Não! — sua voz horrorizada. — Demi você ficou doida? Eu não estou grávida. — seus olhos correram em direção ao Josh para se certificar de que ele não tinha ouvido, e aparentemente ele não ouviu.

— É que você... Eu pensei... Que... Que... Esquece o que eu pensei! Me desculpe, Marisa. Conta logo o que tá te deixando tão apreensiva.

Marisa baixou a cabeça por um instante, observando seu copo quase vazio e depois, com aquele sorriso que dizia aprontei-outra-vez nos lábios, se voltou para mim.

— Acho que vou convidar o Josh pra morar comigo! — ela disse, quicando na cadeira. Seus olhos brilhantes de ansiedade e excitação.
— Ah! — levei meu copo à boca e tomei um grande gole. Rã...

Seu rosto delicado murchou um pouquinho.

— Eu sabia que você não ia gostar — murmurou, baixando os olhos e sacudindo levemente a cabeça, fazendo seus cachos negros tremularem um pouco.

Olhei pra ela, pra minha amiga, minha melhor amiga, que muitas vezes foi minha irmã mais velha. Eu sabia que minha aprovação era importante pra ela. Tentei parecer menos tensa do que na verdade estava.
— Não é isso. É claro que é... legal. Muito legal. tomei outro gole de chope.

 — É só que... Você tem certeza, Marisa? Tem certeza que ele é o cara certo pra você?
—Tenho! — sua voz estava firme e seu rosto sério, mas os cantos de seus lábios cheios teimavam em subir um pouco.
— Mas vocês dois vivem brigando! —constatei o óbvio. — Feito cão e gato! Já perdi as contas de quantas vezes você apareceu lá em casa chorando por causa dele.
— Eu sei Demi. Mas eu estou apaixonada por ele! Não quero ficar longe dele um minuto sequer! Não pode ver isso?

Claro que eu podia. Desde que o conheceu,Marisa ficou maluca por ele. No começo, achei que ela tinha tirado a sorte grande agarrando um cara como Josh grande, forte, loiro, com olhos rápidos e brilhantes e um sorriso debochado —, mas assim que engataram um relacionamento mais sério e ele começou agir de forma infantil e às vezes até rude, mudei de ideia rapidamente.

— Eu sei o quanto você gosta dele. Todo mundo sabe! Mas tem certeza que isso vai dar certo? — tentei falar de forma gentil. Não queria magoá-la dando minha verdadeira opinião sobre ele.
— Não. — Marisa sorriu. — Não tenho certeza. É claro que não! Não se tem certeza de nada quando se esta apaixonada, Demi!
— Ah, se tem sim! Dá pra ter certeza que seu coração será estilhaçado em um milhão de pedaços no final.
Tomei outro gole. Meu copo ficou vazio.
— Demi! Não acontece sempre assim com todo mundo. — ela viu meu olhar cético e continuou. — Não acontece! Existem pessoas que passam a vida toda juntas.
— A-hã!
— Existe sim. Além do mais, nós ficamos juntos o tempo todo, exceto quando estou trabalhando. Metade das minhas coisas estão na casa dele. Facilitaria muito se morássemos debaixo do mesmo teto, e meu apartamento é maior...
— E a outra metade das suas coisas está na minha casa, eu acho...
Humm. Me esqueci de devolver a blusa verde, que ela me emprestou para ir naquele fórum, e a saia. E os sapatos também.

Era uma sorte Marisa ter quase o meu tamanho, apenas centímetros mais alta, porém, era mais curvilínea que eu, fazia o tipo boazuda. Isso pra não falar de sua pele cor de chocolate ao leite, linda e lisa, contrastando com seus olhos de esmeraldas que a deixava parecida com uma deusa africana, enquanto eu tinha olhos castanhos e comuns, pele muito branca e sem graça, sem nenhum atrativo exuberante e cabelos ondulados e indomáveis e sardas

— Eu sabia que aquela blusa não tinha fugido da minha gaveta! — Marisa era um amor. Sempre me socorria nas mais diversas emergências. As de moda inclusas. — Mas o que você acha?
— O que? Sobre roupas fugindo de casa? Acho que faz todo o sentido. Tenho várias delas desaparecidas.
Ela bufou estreitando os olhos.
— Você as encontraria se as dobrasse ao invés de jogar tudo de qualquer jeito.
— fiz uma careta. — Mas não foi isso que eu perguntei.

Eu sabia disso. Sabia que perguntava sobre eles dois morarem juntos. Não queria magoá-la e dizer que realmente achava uma péssima ideia, que toda essa baboseira de amor acaba assim que a rotina aparece. Que só servia pra vender revistas e livros e que na vida real, você sempre acabava sozinha com um buraco no lugar onde costumava ficar seu coração.

— Eu acho... — comecei cautelosa. — Eu acho que se você vai ficar feliz... Se vai te fazer feliz, eu também fico.

Ela pulou da cadeira e me abraçou forte.

— Obrigada, Demi! Você sabe o quanto é importante para mim que você goste da ideia. Você é a única
que não detesta o Josh.

Marisa tinha brigado com seus pais logo depois que se envolveu com Josh. Obviamente, eles também não tiveram uma boa impressão dele e Marisa se recusou a terminar o namoro. Rompeu relações com os pais na mesma época em que perdi os meus — num acidente de carro fatal. Foi um período muito... Ruim. Nós nos apoiamos uma na outra e seguimos em frente. Sendo justa, Josh também me ajudou naquela época. Nem sei o que teria acontecido se eu não tivesse os dois ao meu lado...

— Deixa disso! — eu disse, tentando aliviar o clima, que subitamente ficou mais pesado. Vamos comemorar! Não é todo dia que uma amiga vai passar para o lado das seriamente comprometidas.

Ela me soltou e revirou os olhos.

— Ai, Demi! Às vezes, você fala como se casamento fosse uma sentença de morte.

E não era?

Viver em função de uma só pessoa, como se sua vida apenas tivesse sentido se ela estivesse por perto? Acordar e olhar para a mesma pessoa todo santo dia! Sexo com uma única pessoa pelo resto da vida! Ter que cuidar da casa, do marido, dos filhos, do cachorro, trabalhar... Não era um tipo de sentença de escravidão, pelo menos?
Eu não entendia o que levava uma pessoa lúcida a se casar. Se bem que a maioria delas não parecia gozar de sua plena sanidade quando estavam apaixonadas.

— Não é! — ela afirmou, provavelmente vendo a descrença estampada em meu rosto. — Tenho esperanças de que você encontre o cara certo um dia desses, sabia? Já está na hora de viver uma história de amor de verdade e esquecer as dos livros. Acho que vai ser divertido ver como você vai se sair quando se apaixonar pela primeira vez.
— Eu já me apaixonei uma vez! E não tem nada de errado em gostar de ler histórias de amor, pelo menos nos livros elas tem finais felizes! Não machucam ninguém.

Não gostei do rumo que a conversa tomava.

— Ah! Não! Você não se apaixonou, não!
— Claro que me apaixonei! Você sabe disso.

Estávamos na faculdade. Já éramos amigas na época. Ela esteve do meu lado quando me envolvi com Bruno. Um desses idiotas que sabe-se-lá-por-quê acabei me apaixonando.

— Você não se apaixonou por Bruno. Você gostava dele, sentia atração por ele. Mas não amor. — ela pegou um amendoim e mastigou. — Se você o amasse de verdade, não teria ficado tão tranquila como ficou quando o flagramos aos beijos com a Denise. — ela se recostou na cadeira, o rosto triunfante.
— Só porque não fiquei chorando pelos cantos por décadas não significa que não estivesse apaixonada! Eu fiquei arrasada sim! O que você queria que eu fizesse? Que me atirasse da ponte? Se ele quis outra garota, paciência. A fila anda! — Levei o copo a boca, mas estava vazio.

Droga!

— Exatamente! Se realmente estivesse apaixonada, a fila demoraria um pouco mais para começar a andar. E você ficou arrasada por que foi trocada por outra, não por perdê-lo. Desista, Sofia. Não vai conseguir me convencer. Quando se, apaixonar de verdade, me dará razão.
Não fazia sentindo começar uma discussão com Marisa, ela não cederia. E nem eu. Suspirei derrotada.
— Preciso ir a o banheiro. — o chope precisava sair! E eu queria que o assunto morresse. — Pede mais uma rodada pra gente comemorar.
Eu não estava bêbada — não muito. Dei algumas tropeçadas no caminho, mas isso até era meio normal pra mim. Eu apenas estava um pouquinho mais devagar que o normal, tipo em câmera lenta. Entrei no banheiro lotado e esperei minha vez. Praticamente me joguei dentro do banheiro quando a porta se abriu. Desabotoei rapidamente a calça, me equilibrei meio em pé, meio agachada — não havia condições técnicas pra me sentar ali! — e... Ah! O alívio!

Foi então que ouvi um “ploct”.

Olhei para baixo bem a tempo de ver meu celular — com todos os meus contatos, minha agenda, minhas músicas — cair do bolso da calça, boiar por dois segundos e depois mergulhar dentro do vaso sanitário.


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Hey,desculpem a demora,espero que gostem.
3beijos,Nath

sábado, 9 de agosto de 2014

Perdia #Capitulo 2

Saí do escritório um pouco depois das seis — com a cabeça estourando de tantos tecs e plins e recs —, mas não sem antes ligar para o técnico e fazer com que me prometesse entregar meu computador no dia seguinte. Na primeira hora! Peguei um táxi e, assim que entrei na avenida abarrotada de carros, ônibus e pedestres que insistiam em atravessar fora da faixa, me arrependi. Entretanto, não havia o menor perigo para os pedestres, pelo menos não naquela hora, com tudo absolutamente parado como estava. Provavelmente eu poderia chegar em casa mais depressa se tivesse ido a pé também. Mal entrei em meu apartamento e me lembrei de que precisava encontrar uma boa faxineira. Com urgência! Nada estava onde deveria estar. Roupas jogadas por toda a mobília, canecas e copos espalhados pela superfície de quase tudo, pilhas e pilhas de papéis amontoadas desordenadamente em cima da mesa de jantar. O apartamento estava ficando pequeno pra tanta bagunça. Joguei as chaves e a bolsa sobre a mesa entulhada e fui tomar banho. Deixei a água quente escorrer por meu pescoço e minhas costas esperando relaxar. E relaxei um pouco, na verdade. Vesti meu pijama e me joguei no sofá, procurando algo para me distrair enquanto meu jantar girava dentro do micro-ondas. Não encontrei nada na TV, então liguei meu mp3 e abri meu livro favorito.

 Meu livro “livro”, com capa e folhas de papel e tudo mais. Não em meu e-reader. Eu tinha vários livros eletrônicos, inclusive armazenados no celular, mas este livro em especial eu simplesmente não conseguia ler de outra forma que não fosse a tradicional. Ele tinha minhas páginas preferidas marcadas por orelhas e estava todo esfrangalhado por já tê-lo lido tantas vezes. Eu não sabia explicar por que gostava tanto daquele livro, mas era incrível poder me perder em séculos passados, costumes tão diferentes, roupas tão lindas, paisagens bucólicas e tranquilas, o amor sendo posto à prova pela ideia retrograda de que pobres e ricos não se misturavam, o cavalheirismo, a delicadeza do primeiro amor... Glicose da boa!
Realmente não sabia explicar o motivo — já que eu não era uma romântica incorrigível —, mas eu adorava aquele livro. E ficava meio difícil me perder no século dezenove se estivesse lendo em um e-reader!
Senti as juntas de meus dedos doerem quando terminei meu jantar. Seria um alívio nunca mais precisar daquele trambolho centenário outra vez, pensei, enquanto jogava os pratos e talheres dentro da lava-louças.

Meu celular tocou.

— Você vai sair amanhã? — inquiriu a voz antes mesmo que eu conseguisse dizer alô.
— Oi pra você também, Marisa. Como foi o...
— Você vai, não é? — ela me interrompeu apressada. — Não vai me enrolar outra vez, Demetria. Você sempre acaba arranjando uma desculpa pra não sair de casa. Amanhã você vai sair! A voz se tornou mais ameaçadora. — Nem que eu mesma tenha que te buscar à força! Ou posso pedir para o Josh e os amigos dele passarem aí pra...
— Calma, Marisa. Tá certo. Não precisa ameaçar. — não queria nem imaginar Josh e seus amigos trogloditas no meu apartamento minúsculo. Tremi só de pensar. — Tô mesmo precisando sair e beber alguma coisa. Essa semana foi um inferno!

Ela respirou fundo do outro lado da linha. Quase conseguia ver o bico que ela devia estar fazendo.
— Nem me fale! — Outro suspiro. — Por isso mesmo preciso que você saia com a gente amanhã. Quero te contar uma coisa.

Ai, Senhor! De novo?

— Brigou com o Josh outra vez, Marisa? — honestamente, isso já estava passando dos limites.
— Não, não. Quer dizer, não muito. Mas não é sobre o Josh. — ouvi barulho de buzina ao fundo seguido de um grito abafado de Nina: Passa por cima, imbecil! — Não é só sobre o Josh que eu quero conversar. Olha, preciso desligar agora. A gente se vê amanhã lá no Toca, está bem? — mais barulho de buzinas.
— Beleza. — fiquei curiosa com o assunto misterioso da Marisa

Normalmente, ela desatava a falar, mesmo quando eu explicava que não podia conversar por que tinha prazos a cumprir ou por que simplesmente estava no meio de um banho. O que aquela maluca estaria aprontando dessa vez?
Acordei na hora certa, pra variar. Graças a Deus era sexta-feira! Cheguei as oito em ponto ao escritório — sem manchas de lama, com a roupa perfeitamente limpa e passada — e quase gritei de alegria quando vi minha CPU no lugar de costume. Corri até minha mesa e me abracei ao monitor.

— Não me abandone nunca mais! — murmurei aliviada por não precisar mais da máquina torturadora de dedos.
— Tendo um caso com o computador, Demi? Olha, você precisa usar alguma proteção, garota! Sabe como é! Pode acabar pegando um vírus! — era Pedro, o engraçadinho, é claro, gargalhando até perder o fôlego.
— Rá-rá. — foi tudo o que eu disse a ele.

O dia no escritório transcorreu como sempre — sem um único minuto pra pensar em como eu arrumaria uma faxineira e como ganharia mais dinheiro para poder pagar por ela. Meu salário era digno de pena e o trabalho parecia nunca ter fim. Eu tinha que arrumar tempo pra fazer um bico... Só não tinha tempo pra arrumar mais tempo!Saí do escritório, peguei meu carro no estacionamento e fui direto para o bar. O Toca ficava a três quadras do escritório. Um oi meio demorado encontrar uma vaga, parecia que quase todo mundo tinha resolvido sair do escritório e dar uma esticadinha em algum bar ali perto.
O telhado em um grande arco escuro, com pequenas janelas na fachada e uma grande porta em forma de U, deixava o bar parecido com uma toca indígena. Leo's Bar era o nome oficial, mas todo mundo o conhecia como Toca. Era bem rústico, até mesmo em seu interior — as mesas e cadeiras de madeira rústica e sem verniz —, com exceção dos clientes, sempre descolados.Contudo, eu não estava muito descolada. Ainda estava vestida com as roupas de escritório: jeans escuros e camisa branca de mangas curtas, os cabelos presos num rabo de cavalo. Nem muito profissional, nem muito descolada, mas eu não podia furar com Marisa outra vez e não daria tempo de ir até em casa para me arrumar de forma mais casual. E eu queria sair e me divertir um pouco. Estava ficando esgotada e minhas férias estavam muito, muito longe para que eui pudesse sequer começar a planejá-las.

— Nossa! Vai cair um pé d'água! Olha só quem resolveu se juntar aos vivos! — Josh (sempre tão agradável!) praticamente gritou quando me viu, fazendo com que muitas outras pessoas no bar parassem o que estavam fazendo só pra me observar.
— Eu estou viva, Josh! — falei asperamente. — Só não tenho tempo pra sair quando eu bem entender. Eu trabalho, sabia? Você já deve ter ouvido falar a respeito. Algumas pessoas não nascem com a vida toda garantida e precisam ganhar seu próprio dinheiro.
— Hei! Foi só uma brincadeira. Dá um tempo! Não precisa me passar um sermão — reclamou, levantando as duas mãos grandes com as palmas pra frente, como que se rendendo.
Eu realmente precisava beber alguma coisa. Estava começando a ficar implicante e mal-humorada.
Depois de mais ou menos uma hora — e quatro chopes, talvez? —, Marisa aproveitou que Josh tinha ido até a mesa de sinuca (para uma partida rápida, ele disse) pra começar a falar.
— Quero sua ajuda. Sua opinião, na verdade. — seus olhos verdes inquietos.
— Tudo bem. Desembucha aí! — eu estava mais relaxada, o chope começando a agir no meu organismo.
Ela olhou rapidamente para Josh e depois de volta pra mim.
— Eu acho que... Acho que eu...


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Hey meninas,espero que gostem. Volto amanha ou segunda.
  Beijos,Nath 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Perdia #Capitulo 1

Eu sabia que devia ter voltado pra cama assim que saí de casa e tentei pegar,um táxi; era dia de rodízio. Eu devia ter voltado pra baixo dos meus lençóis assim que aquele motorista idiota passou rente ao meio fio e literalmente ensopou meus jeans dos joelhos pra baixo.

Eu devia ter voltado!

Mas, em vez disso, respirei fundo e o insultei por uns dois minutos com todos os palavrões que eu conhecia. Ignorei claro, os pedestres que me atiraram olhares reprovadores.
Não ficou melhor quando cheguei — vinte minutos atrasada — no escritório e o imbecil, rechonchudo e desalmado do meu chefe me fuzilou com os olhos e depois disse com desdém:

— Além de chegar atrasada, você ainda aparece aqui usando essa roupa imunda? Você devia se vestir um pouco melhor, Demetria. Com o salário que eu te pago...

Ah, sim. QUE SALÁRIO!

Eu mal conseguia pagar minhas contas em dia. Trabalhava naquela empresa desde o estágio na faculdade. Depois que me formei, acabei sendo efetivada e, como não apareceu coisa melhor, me acomodei um pouco. Além disso, eu tinha um plano: Carlos já estava esperando sua aposentadoria e eu tinha grandes chances de substituí-lo. Claro que, antes, teria que passar pela provação de suportá-lo até que isso acontecesse.

— Eu sei, Seu Carlos — comecei. — Mas acontece que um motorista idiota passou...
— Ah! Chega de desculpas. Já estou farto delas. Acha mesmo que eu acredito em suas histórias? Não entendo por que ainda não te demiti! — ele arqueou uma sobrancelha desafiadoramente.

Porque eu sou a mais competente de todo este prédio, seu porco arrogante!

— Me desculpe. Vou pra minha mesa agora mesmo pra compensar o atraso, está bem? — e sem esperar por mais um de seus ataques, marchei em direção à minha mesa, espiando sua reação pelo canto dos olhos. Carlos ficou parado me encarando por um momento, bufou e depois saiu resmungando. Tentei dissolver a pilha de papéis acumulada em minha mesa o mais rápido que pude. Era uma pilha considerável, mas eu era realmente eficiente e terminaria tudo bem rápido.
No entanto, perto da hora do almoço, meu computador travou e depois apagou completamente. Tentei religá-lo, mas nada aconteceu. Estava morto! Bati algumas vezes na máquina tentando fazê-la voltar a vida através de tortura, mas nem uma luz acendeu.

— Preciso desses papéis na minha mesa até as cinco! — Carlos urrou da porta. Devia ter visto meu embate com a máquina.
— Eu sei! Mas não é culpa minha se o computador pifou. Como posso fazer todos os contratos sem o computador?

Ele sorriu ironicamente e apoiou uma mão na porta.

— Como fazíamos antes de inventarem essas máquinas complicadas que sempre deixam a gente na mão.
Olhei pra ele sem compreender. Do que diabos aquele homem estava falando? Carlos notou minha expressão — cética, imaginei — e acrescentou
— É claro que você sabe que os computadores nem sempre estiveram aqui, não é? — ele disse lentamente, como se eu fosse uma débil mental.

Grrrr!

— Claro que eu sei!

Eu preciso deste emprego! Não adianta nada pular no pescoço dele e estrangulá-lo! Repeti para mim mesma várias vezes. Contudo, não me convenci inteiramente.

— Então, mãos à obra, Sofia. Você tem até as cinco. A máquina de datilografia está no armário do almoxarifado. EIa não trava, não dá pau, o cartucho não acaba... Você vai gostar! É muito eficiente. Dá até saudades do tempo em que o escritório era preenchido pelo barulho dos botões. — um sorriso cínico apareceu em seus lábios. Um sorriso que dizia você não vai conseguir!
Vamos ver, careca! — e fui buscar a tal máquina. Era pesada e desajeitada para carregar. Coloquei-a sobre minha mesa e observei.

Hummm... Eu já tinha ouvido falar sobre ela.

Mas cadê o botão pra ligar? Experimentei uma tecla qualquer.
Tec. Tec, tec, tec, tec, tec, plim! Plim? Será que eu quebrei esse troço? Ai, meu Deus! Só me faltava essa!
Joana, que ria alto, provavelmente da minha cara de pânico, saiu de sua mesa — duas atrás da minha — e veio ao meu socorro. Ela era a funcionária mais antiga da empresa, certamente chegou a trabalhar com a coisa pré-histórica.
— Demi, pare de olhar para a máquina com essa cara! — ela disse, empurrando os óculos marrons com o dedo indicador. — Isso não é um objeto alienígena.
— Não. — concordei. — Se fosse, eu provavelmente saberia como usar, O problema é que... — eu estava mesmo com medo daquela máquina barulhenta cheia de tecs e plins, mas precisava terminar meu trabalho. Bem... Eu já vi uma dessas uma vez no museu da tecnologia, mas...

— Você não sabe usá-la. — ela concluiu, ainda rindo. Suas bochechas vermelhas.

As minhas também deviam estar vermelhas, mas de vergonha. Não existia programa algum de computador que eu não soubesse utilizar, sempre aprendia rapidamente assim que um novo aparecia. Mas aquela máquina robusta...

— Eu nem sei ligar essa coisa! — sussurrei. Algumas pessoas nos observavam com olhos curiosos.
Joana explodiu outra gargalha e quase todos no escritório voltaram sua atenção para onde eu estava. Devo ter ficado roxo berinjela!
— É bem simples, Sofia. Você coloca o papel aqui — pegou um papel em branco, enfiou numa fenda e depois girou um botão enorme na lateral da coisa. Rec, rec, rec, rec. — Depois prende com isso — ela ergueu um pequena e fina haste metálica, encaixou a folha e depois soltou a haste, prendendo o papel. — E pronto!
— Ah! Parece fácil!

Joana não pareceu acreditar muito na minha convicção. Voltou para sua mesa sacudindo levemente a cabeça, erguendo os óculos grandes para poder enxugar as lágrimas dos olhos. Que bom que pelo menos ela estava se divertindo!
Concentrei-me na máquina.
Experimentei digitar com certa cautela, e percebi que nada saia no papel.

— Precisa apertar com mais força. — Joana gritou, ainda me observando. — Tem que fazer tec.

Tentei outra vez Ah! Deu certo. As letras apareceram no papel.

Digitei — datilografei — algumas linhas, meio desajeitada, e parei. Observei o teclado atentamente. Não. Não estava lá.
— Joana, onde fica o delete?

Ela ergueu as sobrancelhas e abriu ligeiramente a boca.

— Como? — perguntou como se eu estivesse falando em japonês.
— Não tem delete! Eu errei um número e não tô encontrando a tecla delete em lugar algum!
O escritório todo explodiu em uma gargalhada estrondosa, me deixando com vontade de me enterrar debaixo da papelada que estava à minha frente.
Urgh!!!

Passei a tarde inteira tentando organizar a pilha de contratos, depois de receber uma rápida aula sobre como usar a máquina antiquada. Entretanto, o serviço não rendeu muito já que a máquina era muito lenta. Ou talvez fosse minha falta de habilidade com ela. Como as pessoas conseguiram viver sem o computador por tanto tempo? — pensei. Levaria dias para que eu conseguisse colocar em ordem os meus e-mails, minha conta no Facebook e, provavelmente não conseguiria ler todas as postagens no Twitter. Teria que fazer isso assim que chegasse em casa. Ficar sem internet era como se eu deixasse de existir, não fizesse mais parte do mundo. Completamente isolada virtualmente!
Saí do escritório um pouco depois das seis — com a cabeça estourando de tantos tecs e plins e recs —, mas não sem antes ligar para o técnico e fazer com que me prometesse entregar meu computador no dia seguinte. Na primeira hora!
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Espero que tenham gostado,amanha eu volto. 3 beijos
By: Nath
                                                                     

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Aviso + Nova Fic + Sinopse

       Olá meninas,bom eu sou a Nathalie,ou Nath,sou amiga da dona do blog,ela anda atolada em milhares de coisas e não ta tendo tempo pra quase nada,as vezes nem pra comer,então ela me pediu pra continuar a postar aqui e me deu todas as instruções,so que eu vou mudar a fic,pode ser meio louco,ja que voces estão na metade de uma,mais é que eu vi,que anda tudo tão parado aqui,que resolvi mudar,se não gostarem da nova,eu volto com a antiga. A nova também é uma adaptação de um livro,talvez muitas ate tenham lido ja,mais é tão foda esse livro,e louco . Bom,enfim,era so isso,vou pular para o que interessa.
                                            Perdida.
                                      Sinopse .

Demetria vive em uma metrópole, está habituada com a modernidade e as facilidades que isto lhe proporciona. Ela é independente e tem pavor a menção da palavra casamento. Os únicos romances em sua vida são os que os livros lhe proporcionam. Mas tudo isso muda depois que ela se vê em uma complicada condição. Após comprar um novo aparelho celular, algo misterioso acontece e Demetria descobre que está perdida no século XIX, sem ter ideia de como ou se voltará. Ela é acolhida pela família Clarke, enquanto tenta desesperadamente encontrar um meio de voltar para casa. Com a ajuda de prestativo Joseph, Demetria embarca numa procura as cegas e acaba encontrando algumas pistas que talvez possam levá-la de volta para casa. O que ela não sabia era que seu coração tinha outros planos...


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Hoje a noite,eu ja posto um capitulo,grande para não demorar muito.
           Beijos,da tia Nathalie