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sábado, 9 de agosto de 2014

Perdia #Capitulo 2

Saí do escritório um pouco depois das seis — com a cabeça estourando de tantos tecs e plins e recs —, mas não sem antes ligar para o técnico e fazer com que me prometesse entregar meu computador no dia seguinte. Na primeira hora! Peguei um táxi e, assim que entrei na avenida abarrotada de carros, ônibus e pedestres que insistiam em atravessar fora da faixa, me arrependi. Entretanto, não havia o menor perigo para os pedestres, pelo menos não naquela hora, com tudo absolutamente parado como estava. Provavelmente eu poderia chegar em casa mais depressa se tivesse ido a pé também. Mal entrei em meu apartamento e me lembrei de que precisava encontrar uma boa faxineira. Com urgência! Nada estava onde deveria estar. Roupas jogadas por toda a mobília, canecas e copos espalhados pela superfície de quase tudo, pilhas e pilhas de papéis amontoadas desordenadamente em cima da mesa de jantar. O apartamento estava ficando pequeno pra tanta bagunça. Joguei as chaves e a bolsa sobre a mesa entulhada e fui tomar banho. Deixei a água quente escorrer por meu pescoço e minhas costas esperando relaxar. E relaxei um pouco, na verdade. Vesti meu pijama e me joguei no sofá, procurando algo para me distrair enquanto meu jantar girava dentro do micro-ondas. Não encontrei nada na TV, então liguei meu mp3 e abri meu livro favorito.

 Meu livro “livro”, com capa e folhas de papel e tudo mais. Não em meu e-reader. Eu tinha vários livros eletrônicos, inclusive armazenados no celular, mas este livro em especial eu simplesmente não conseguia ler de outra forma que não fosse a tradicional. Ele tinha minhas páginas preferidas marcadas por orelhas e estava todo esfrangalhado por já tê-lo lido tantas vezes. Eu não sabia explicar por que gostava tanto daquele livro, mas era incrível poder me perder em séculos passados, costumes tão diferentes, roupas tão lindas, paisagens bucólicas e tranquilas, o amor sendo posto à prova pela ideia retrograda de que pobres e ricos não se misturavam, o cavalheirismo, a delicadeza do primeiro amor... Glicose da boa!
Realmente não sabia explicar o motivo — já que eu não era uma romântica incorrigível —, mas eu adorava aquele livro. E ficava meio difícil me perder no século dezenove se estivesse lendo em um e-reader!
Senti as juntas de meus dedos doerem quando terminei meu jantar. Seria um alívio nunca mais precisar daquele trambolho centenário outra vez, pensei, enquanto jogava os pratos e talheres dentro da lava-louças.

Meu celular tocou.

— Você vai sair amanhã? — inquiriu a voz antes mesmo que eu conseguisse dizer alô.
— Oi pra você também, Marisa. Como foi o...
— Você vai, não é? — ela me interrompeu apressada. — Não vai me enrolar outra vez, Demetria. Você sempre acaba arranjando uma desculpa pra não sair de casa. Amanhã você vai sair! A voz se tornou mais ameaçadora. — Nem que eu mesma tenha que te buscar à força! Ou posso pedir para o Josh e os amigos dele passarem aí pra...
— Calma, Marisa. Tá certo. Não precisa ameaçar. — não queria nem imaginar Josh e seus amigos trogloditas no meu apartamento minúsculo. Tremi só de pensar. — Tô mesmo precisando sair e beber alguma coisa. Essa semana foi um inferno!

Ela respirou fundo do outro lado da linha. Quase conseguia ver o bico que ela devia estar fazendo.
— Nem me fale! — Outro suspiro. — Por isso mesmo preciso que você saia com a gente amanhã. Quero te contar uma coisa.

Ai, Senhor! De novo?

— Brigou com o Josh outra vez, Marisa? — honestamente, isso já estava passando dos limites.
— Não, não. Quer dizer, não muito. Mas não é sobre o Josh. — ouvi barulho de buzina ao fundo seguido de um grito abafado de Nina: Passa por cima, imbecil! — Não é só sobre o Josh que eu quero conversar. Olha, preciso desligar agora. A gente se vê amanhã lá no Toca, está bem? — mais barulho de buzinas.
— Beleza. — fiquei curiosa com o assunto misterioso da Marisa

Normalmente, ela desatava a falar, mesmo quando eu explicava que não podia conversar por que tinha prazos a cumprir ou por que simplesmente estava no meio de um banho. O que aquela maluca estaria aprontando dessa vez?
Acordei na hora certa, pra variar. Graças a Deus era sexta-feira! Cheguei as oito em ponto ao escritório — sem manchas de lama, com a roupa perfeitamente limpa e passada — e quase gritei de alegria quando vi minha CPU no lugar de costume. Corri até minha mesa e me abracei ao monitor.

— Não me abandone nunca mais! — murmurei aliviada por não precisar mais da máquina torturadora de dedos.
— Tendo um caso com o computador, Demi? Olha, você precisa usar alguma proteção, garota! Sabe como é! Pode acabar pegando um vírus! — era Pedro, o engraçadinho, é claro, gargalhando até perder o fôlego.
— Rá-rá. — foi tudo o que eu disse a ele.

O dia no escritório transcorreu como sempre — sem um único minuto pra pensar em como eu arrumaria uma faxineira e como ganharia mais dinheiro para poder pagar por ela. Meu salário era digno de pena e o trabalho parecia nunca ter fim. Eu tinha que arrumar tempo pra fazer um bico... Só não tinha tempo pra arrumar mais tempo!Saí do escritório, peguei meu carro no estacionamento e fui direto para o bar. O Toca ficava a três quadras do escritório. Um oi meio demorado encontrar uma vaga, parecia que quase todo mundo tinha resolvido sair do escritório e dar uma esticadinha em algum bar ali perto.
O telhado em um grande arco escuro, com pequenas janelas na fachada e uma grande porta em forma de U, deixava o bar parecido com uma toca indígena. Leo's Bar era o nome oficial, mas todo mundo o conhecia como Toca. Era bem rústico, até mesmo em seu interior — as mesas e cadeiras de madeira rústica e sem verniz —, com exceção dos clientes, sempre descolados.Contudo, eu não estava muito descolada. Ainda estava vestida com as roupas de escritório: jeans escuros e camisa branca de mangas curtas, os cabelos presos num rabo de cavalo. Nem muito profissional, nem muito descolada, mas eu não podia furar com Marisa outra vez e não daria tempo de ir até em casa para me arrumar de forma mais casual. E eu queria sair e me divertir um pouco. Estava ficando esgotada e minhas férias estavam muito, muito longe para que eui pudesse sequer começar a planejá-las.

— Nossa! Vai cair um pé d'água! Olha só quem resolveu se juntar aos vivos! — Josh (sempre tão agradável!) praticamente gritou quando me viu, fazendo com que muitas outras pessoas no bar parassem o que estavam fazendo só pra me observar.
— Eu estou viva, Josh! — falei asperamente. — Só não tenho tempo pra sair quando eu bem entender. Eu trabalho, sabia? Você já deve ter ouvido falar a respeito. Algumas pessoas não nascem com a vida toda garantida e precisam ganhar seu próprio dinheiro.
— Hei! Foi só uma brincadeira. Dá um tempo! Não precisa me passar um sermão — reclamou, levantando as duas mãos grandes com as palmas pra frente, como que se rendendo.
Eu realmente precisava beber alguma coisa. Estava começando a ficar implicante e mal-humorada.
Depois de mais ou menos uma hora — e quatro chopes, talvez? —, Marisa aproveitou que Josh tinha ido até a mesa de sinuca (para uma partida rápida, ele disse) pra começar a falar.
— Quero sua ajuda. Sua opinião, na verdade. — seus olhos verdes inquietos.
— Tudo bem. Desembucha aí! — eu estava mais relaxada, o chope começando a agir no meu organismo.
Ela olhou rapidamente para Josh e depois de volta pra mim.
— Eu acho que... Acho que eu...


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Hey meninas,espero que gostem. Volto amanha ou segunda.
  Beijos,Nath 

Um comentário:

  1. Sera que ela ta gravida....kkk
    acho que esse e o segredo....
    ansiosa aqui para saber..
    posta pogoo viu
    beijosss

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