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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Perdida #48

Queria muito acreditar que ele me amava, mas então por que não acreditou em mim? Tudo bem que eu mesma tive dificuldades para aceitar a verdade no começo mas, ainda assim, eu esperava que ele já tivesse tido provas o suficiente de que eu era diferente de tudo ali....

Fiquei sentada na cama, tentando não olhar em seus olhos. Eu sabia que, se não evitasse isso, minha resolução de ignorá-lo cairia por terra. Notei, então, que sobre a mesinha de cabeceira onde eu tinha deixado o castiçal, havia uma bacia cheia de água e um pano ensopado.

— Pra febre? — perguntei indicando com a cabeça. Joe assentiu, o rosto muito sério.

Ao lado da bacia, vi a ponta de um livro com capa de couro.

— O que é isso? — me estiquei para pegar o objeto, mas Joe foi mais rápido e o alcançou, me entregando logo em seguida.
— É um livro. Tentei usá-lo para manter-me lúcido, mas não foi de muita ajuda. Não consegui me concentrar em nada, pensei que eu fosse enlouquecer, Demi. Vê-la tão mal e ser incapaz de lhe ajudar... Foram duas noites muito longas. Mas parece que será útil afinal, já que você ficará na cama por um tempo. — seu rosto ainda estava angustiado e mesmo eu estando furiosa com ele, não pude evitar querer confortá-lo.

Olhei para a capa de couro marrom novinha... Minha boca se abriu e acabei deixando uma exclamação de surpresa escapar quando folheei algumas páginas. Era meu livro favorito Orgulho e Preconceito, em inglês, a primeira edição que eu tinha nas mãos.

— Caramba! Valeu, Joe! Isso vai me distrair. Este é meu livro favorito da Jane Austen. Meu livro favorito no mundo todo! — não pude deixar de sorrir para ele. — Já o li umas duzentas vezes. O meu já está todo estropiado.

Observei o livro sob vários ângulos, revirei várias páginas e me surpreendi com a encadernação firme e bem feita.

Seu rosto ficou cauteloso.

— Que foi? — perguntei.
— A autora deste livro não é conhecida. Ela o lançou anonimamente.
— Eu sei. Só muitos anos depois de sua morte a família resolveu dar o crédito que ela merecia.
— Como sabe disso? — perguntou desconfiado.
— Eu sei tudo sobre ela. É minha autora favorita. Este livro foi lançado em 1813, sob o pseudônimo By a Lady, assim como todos os outros. Mas como eu disse, ela ganhará notoriedade daqui a alguns anos. Na minha opinião, ela é a melhor escritora de todos os tempos!

Ele apenas me encarou.

Ah! Chega!

Levantei-me da cama rapidamente e fui até a bolsa outra vez,

— A propósito, o que é isso? — eu disse, tocando o tecido branco do vestido horroroso.
— É uma camisola de dormir. Madalena a vestiu. Ela não permitiu que eu ou Dr. Almeida fizéssemos isso.
— Ah! — dei de ombros. Estava tentando dar um gelo nele, mas quando me olhava daquele jeito, tornava tudo mais difícil!
—Toma. — estendi meu livro surrado e agora um pouco empenado por culpa da chuva. Enfiei-me na cama novamente. O remédio ainda não tinha começado a agir. — Veja você mesmo!

Ele observou a capa do livro, tão diferente da que ele acabara de me entregar. Uma fotografia de Elisabeth e Darcy. Joe abriu o livro e folheou algumas páginas. Sua boca caiu e seus olhos se abriram tanto que achei que pudesse saltar das órbitas.

— Já que você conhece a história, pode notar que está tudo aí, o Senhor Darcy, a Lizzy, Pemberley e tudo mais. E está em português, como já deve ter percebido. Acho que a primeira edição traduzida saiu em 1950, mas não tenho certeza disso. — ele observava a primeira página com atenção.
— É um livro muito bom! Sabia que em 2000 foi considerado o livro mais bem escrito de todos os tempos?

Ele não respondeu, continuava a folhear o livro com olhos incrédulos. Esperei para que pudesse colocar os pensamentos em ordem. Então era para isso que o livro me serviria! Para provar que eu não estava louca!

— É o mesmo livro? — perguntou depois de um curto silêncio, sua voz apenas um murmúrio.
— É. — concordei. Seus olhos encontraram os meus. Mas pode ser que você se contagiou com a minha loucura e começou a imaginar coisas também...

Encaramo-nos por um longo período. Eu sabia o que ele estava pensando. Mas isso é impossível! Da mesma forma que eu pensei quando cheguei ali e percebi que ele não estava brincando quando me disse que estávamos no século dezenove.

— Mas... — ele começou, porém, não continuou. O choque tão evidente em seu rosto o impediu de falar.
— Eu sei. Também não entendo como é possível, mas eu estou aqui!

Ele ergueu uma mão, hesitante, e, dessa vez, não me afastei. Seus dedos quentes tocaram suavemente a lateral do meu rosto. Inclinei a cabeça, incapaz de resistir à sua carícia.

— Mas você é real! — ele exclamou, a voz intensa.

A intensidade de seu olhar derreteu meu ressentimento temporariamente.

—Tenho tentado me convencer disso todos os dias. Que você é real! — sorri timidamente.
— Mas... como? — seu rosto fascinado, espantado e muito, muito confuso.
— Não sei, Joe. Eu realmente não sei. Te contei quase tudo o que sei.

Vi muitas dúvidas atravessarem seus olhos, o conflito sendo substituído pela incredulidade.
— Como é possível? — ele sussurrou. — Eu... Você é tão real! O que eu sinto... — sua mão desceu para meu pescoço, seu rosto se aproximou do meu num piscar de olhos.

Não recuei de seu súbito ataque. Permiti que Joe me beijasse. Fui incapaz de afastá-lo quando senti a fúria, o desespero, a paixão de seus lábios. Meu corpo reagiu imediatamente e, de repente, era eu que o agarrava. Claro que meu coração e minha respiração rapidamente se comportaram como o esperado: o primeiro parecia uma escola de samba no ensaio final e a segunda a, assustou com o batuque, e tentava fugir a qualquer custo, me deixando sem ar.
—Perdoe-me, Demi, — ele murmurou sob meus lábios. — Por favor, perdoe-me por ter sido tão estúpido!
—Tá!
— Eu fui um tolo! Como pude duvidar de sua história. Você é especial, eu sempre soube disso! — Joe colocou as duas mãos nas laterais de meu rosto, sua boca ainda grudada na minha. — Eu a amo tanto!

A convicção de suas palavras afugentou meu medo, meus receios de vez. Ele me amava! É claro que me amava. Como pude duvidar disso? Por que outra razão se daria ao trabalho de me procurar no meio daquela tempestade? Por que outra razão teria me trazido de volta para sua casa? Por que me olharia daquela maneira se não me amasse?

Ele deslizou suas mãos grandes para minha cintura e senti o calor delas sob a camisola. Joe era melhor que os antitérmico. Muito melhor! Esqueci da dor imediatamente. E por um momento, pensei que não seria capaz de parar de beijá-lo nunca mais. No entanto, fui obrigada. Assim que ouvimos passos se aproximando no corredor, Joe me afastou gentilmente com um meio sorriso triste nos lábios. Ele também
não queria interromper o que estávamos fazendo.

Elisa e Teodora entraram no quarto. Souberam da minha melhora e queriam mais noticias. Na verdade, o remédio ou os beijos de Joe. — começavam a fazer efeito. Meu corpo doía menos. A febre devia ter cedido.

— Estou bem! Não se Preocupem. Como foi o baile? — perguntei para as duas garotas, que trocaram um olhar conspiratório. — Foi bom assim? — perguntei baixinho.

Elas sorriram e eu ri da cara de Joe, que claramente tinha detestado cada minuto do baile.
— Podemos lhe contar tudo depois, agora você precisa descansar para se curar.
— Elisa disse. Ela era tão madura para idade! — Mas você está bem mesmo?
— Estou, já disse! Pare de se preocupar. Sempre me recuperei rapidamente das doenças, e foi só um resfriado à toa. Sua testa se enrugou.
— Não foi apenas um resfriado, Demi . O Dr. Almeida realmente ficou alarmado com seu estado. Disse que talvez não conseguisse... — ela não terminou.

Seus olhos ficaram tão tristes quanto os de seu irmão.

— Ai, Elisa! Que exagero! Acha que eu sou assim tão frágil? Vaso ruim nãoquebra fácil! — eu ri, tentando aliviar a tenção do quarto.
— Vaso ruim? — Teodora perguntou confusa. 
— É, Teodora. Já reparou? Se você tem um vaso raro, muito caro, uma relíquia,  ele se espatifa só de olhar, mas se for um daqueles de loja barata. Um vaso bem  vagabundo, não quebra nem mesmo depois de arremessá-lo contra a parede. Entendeu? 

Teodora assentiu, mas não acreditei realmente que tivesse compreendido. 

 — Fico feliz que esteja bem, senhorita Demetria . — e sorriu para mim. 

Achei bacana que seu antagonismo parecia diminuir cada vez mais. 

— Valeu, Teodora! — também sorri para ela. Conversamos mais um pouco até o  médico voltar com Madalena e a sopa. Tomei tudo sem reclamar. Madalena ficou  preocupada de verdade, de uma forma que me fazia lembrar de minha mãe. Fazia muito  tempo que ninguém cuidava de mim daquela forma. Assim que terminei a sopa, me  senti bem imediato. 

O médico tocou minha testa mais uma vez e suas sobrancelhas se arquearam. Sorri um sorriso de “não te disse?” para ele. Seus olhos voaram para a cartela de  remédio sobre a mesa, 

— Bem, parece que funciona. E rapidamente! Então... — ele parecia não saber o  que fazer já que a gosma preta não seria de nenhuma utilidade. — Tome muito líquido e  repouse até que a febre cesse de uma vez. 
— Beleza, doutor. — eu não iria discutir com ele que não era necessário ficar  deitada para o resfriado acabar. Na verdade, me sentia cansada mesmo tendo dormido  dois dias inteiros. Um pouco mais de cama não faria mal. — Acho que amanhã estarei  pronta pra outra. 
— Realmente espero vê-la melhor. Você me deu um susto, minha jovem. — um  sorriso sincero. — Virei visitá-la amanhã de manhã. 
—Tudo bem. 

O médico se despediu de todos, recebeu os agradecimentos fervorosos de Joe com um sorriso satisfeito no rosto, depois fez uma reverência e partiu. Fiquei mais  tranquila depois disso.  

As garotas saíram do quarto a contragosto. Praticamente foram enxotadas por  uma Madalena preocupada que também pudessem adoecer. Joe se recusou  veementemente a me deixar. Alegou que estava ali desde que eu adoecera, se tivesse  que ficar doente já teria ficado e que o risco não o preocupava. Ele deixou muito claro  que não sairia do meu lado por razão alguma. 

No entanto, não ficamos totalmente “sozinhos”. A cada minuto, um empregado  aparecia com um suco, ou um chá, ou apenas para saber se eu estava bem. Madalena  devia ter percebido nosso envolvimento.
Imaginei que Joe não tivesse se preocupado em  esconder nosso relacionamento enquanto eu ardia em febre. 

— Então... — Joe começou quando ficamos sozinhos outra vez. — Como é o  futuro? 

Não pude deixar de sorrir da curiosidade latente em seus olhos. 

 — É muito diferente disso aqui. Mais simples em alguns aspectos, mais  complicado em outros. Tem suas vantagens, mas também desvantagens. 
— Como o que? — perguntou divertido. 
— Como se locomover, por exemplo. Imagine uma carruagem sem cavalo,  movido por um tipo de máquina a óleo e que anda muito rápido. Com um desses,  chegaríamos à cidade em uns trinta minutos. 
— É mesmo? — sua testa vincada. 
— Dependendo do motor, pode ser até mais rápido! 

Expliquei mais detalhadamente sobre os carros, sobre o metrô, as motos, os  aviões. Ele sempre tinha uma pergunta sobre tudo, principalmente sobre o avião. Ficou  fascinado que realmente pudesse voar e acabou um pouco decepcionado quando eu não  soube responder como tanta ferragem podia realmente flutuar no céu.  Revelei a ele como era a vida das pessoas, sempre corrida com tantas obrigações  que mal sobrava tempo para diversão. E quando ele me perguntou como eram as pessoas no futuro e eu disse: “São assim como eu.”, ele gargalhou alto e  respondeu.“Então deve ser muito conturbado por lá. „ e eu corei porque, na verdade, ele  não errou muito.  Narrei a ele como eram as mulheres em meu tempo. Ele ficou horrorizado ao  saber que mulheres também usavam calças, que dividiam a conta no restaurante, que  muitas delas eram as provedoras financeiras de suas casas. Falei também sobre os  homens e suas roupas, o futebol da quarta-feira, a cerveja do fim de semana, como  flertavam com as mulheres. Dessa vez, foi ele quem corou.  Contei sobre os filmes, as peças de teatro, as música que eu gostava. Joe pareceu  gostar e tentei muito explicar a ele como eram os shows de rock, mas envolvia muita  coisa que ele não conhecia. Fiz o melhor que pude, contudo, acho que ele não entendeu direito. 

Falei sobre a comida e o quanto eu sentia falta do gelado: bebida, sorvete,  sobremesa e contei sobre o disk-pizza, sobre lojas de departamento, computador, meu emprego. Expliquei quase tudo que achei relevante, desde utensílios domésticos, como a cafeteira elétrica, até sobre coisas mais banais, como acender uma lâmpada. Joe parecia fascinado com tudo. E eu fiquei feliz por ele não me olhar mais como se eu fosse uma maluca.  Precisei interromper minha aula sobre o futuro, já que Madalena e alguns  empregados apareceram com vários baldes de água para o meu banho. Joe não queria  sair do quarto, estava preocupado que eu pudesse precisar de ajuda. 

— Mas eu ficarei aqui com ela, patrão. Vá jantar com sua irmã. Já é tarde! —  Madalena o persuadiu. 
— Pode ir, Joe. Eu to bem, — assegurei a ele, vendo a dúvida em seus olhos. 

Ele me deu um beijo na testa, sem se importar com a presença de Madalena e  saiu, claramente insatisfeito. Não deixei de notar o olhar de desconfiança que ela lançou  para ele.  Madalena ficou ali para me ajudar, mesmo quando insisti que não era necessário.  Ela evitou me olhar enquanto eu tirava a roupa e depois me ajudou a sair da banheira. Vesti a camisa manchada de Joe. Já começava a escurecer e eu logo acabaria  dormindo de toda forma. Ela não gostou muito, nada para dizer a verdade, minhas  pernas ficavam muito expostas — mas, como eu não tinha muitas outras opções, acabei  convencendo-a que ficaria debaixo dos lençóis, que ninguém veria nada e ela acabou  cedendo. 
Sentei-me na cadeira em frente ao espelho porque ela insistiu em pentear meus  cabelos. Entretanto, foi gostoso, como se eu tivesse seis anos outra vez. Isso me fez  lembrar de meus pais de novo. Fazia muito tempo que eu não tinha tantas pessoas em  minha vida. Como uma família outra vez. 

— Acho que o patrão não deve ficar aqui esta noite, senhorita. Agora que está  consciente, as pessoas podem pensar mal. — ela disse, ainda escovando meus cabelos. 
— Não me importo com isso, Madalena. 

Ela ficou em silêncio por um tempo. 

— O problema, senhorita Demetria , — ela começou cautelosa. — É que acho que  ele está muito... Interessado em sua pessoa. 

Eu ri. 
— Também acho, Madalena. — sua testa se enrugou. —Mas Joe é um cara  especial. Jamais faria qualquer coisa que eu não quisesse. 

Ela não ficou muito satisfeita com minha explicação. Talvez desconfiasse de  mim também. 

— Fique tranquila. Eu sei me cuidar! 

Relutante, Madalena acabou nos deixando sozinhos, mas pela expressão de seu  rosto antes de deixar o quarto, imaginei que receberia uma visita durante a madrugada,  só para saber se, de repente, eu não precisava de um chá!  Joe se sentou ao meu lado encostando as costas na cabeceira da cama, e eu, 
cansada, me arrastei até ele. Descansei minha cabeça em seu peito, sua mão brincava  gentilmente em minhas costas. Estava tão confortável daquele jeito, tão “em casa” que  não demorou muito para que eu ficasse sonolenta. 

— Acredito que a Senhora Madalena irá me passar um sermão se nos flagrar  abraçados desta forma. — pude ouvir zombaria em sua voz. 
— Posso apostar! 
— Talvez ela não venha pessoalmente .Talvez mande algum empregado para  nos vigiar. 

Levantei minha cabeça para observá-lo. Seu rosto estava brincalhão 

— Muito bem! Parece que finalmente aprendeu a tratar seus empregados com  mais dignidade. — eu disse, tentando não sorrir de sua careta. 

Depois voltou a ficar sério. 

—Você me fez enxergar muitas coisas, senhorita! — tocou uma mecha de meu  cabelo e a colocou atrás da orelha. 
—Por falar nisso, quero te fazer uma pergunta. 
— O que quiser. — ele respondeu de imediato. 
— Por que você pensou que eu fosse uma “senhorita” quando nos conhecemos?  Por que não pensou que eu pudesse ser uma “criada”? — isso me intrigava há vários  dias, mas sempre acabava me esquecendo de perguntar a ele. 

Joe riu, fazendo meu corpo sacudir um pouco. 

— Bem, soube que você era uma senhorita porque uma criada jamais seria tão  petulante e teimosa com um cavalheiro. — seus olhos brilhavam de diversão. 
— Eu não fui petulante. Nem teimosa! — retruquei ofendida. 
 — Ah, não. Nem um pouco! Como foi que disse? Ah! Precisa mesmo me apertar  tanto? — ele me imitou, seu sorrio exibiu os dentes brancos e perfeitos. 
— O que você queria que eu dissesse? Eu nem te conhecia e você já estava cheio  de dedos pra cima de mim! Apenas estava me defendendo. 
— Certamente! E depois levei uma eternidade para conseguir convencê-la a  aceitar minha ajuda. Uma criada não hesitaria. — ele tocou meu rosto com delicadeza,  deslizou os dedos de minha têmpora até meu queixo. — E, assim que vi seu rosto, eu  soube que não se tratava de uma criada, mas sim de uma princesa. 

Revirei os olhos e deitei a cabeça em seu peito outra vez. Joe sabia como me enrolar direitinho. Eu já não sentia mais raiva dele. Como poderia?  Ficamos deitados assim por um tempo, Joe  acariciando meus cabelos e a luz  fraca e tremulante das velas me compeliam a fechar os olhos. 

— Demi? — Joe  chamou quando eu estava quase apagando. Sua voz baixa no  quarto mal iluminado parecia uma cantiga de ninar. 
—Humm — respondi meio mole, sem abrir os olhos. 

Ele hesitou por um instante. 

— Ainda me odeia? — sussurrou. 

Sorri com os olhos ainda fechados. 

— Muito! — resmunguei, me apertando mais contra seu peito.

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Hey meninas,como ces tão? tudo bem com vocês? Espero que gostem do capitulo,comentem,curtam,kibem,deixem a opinião de vocês.
Um beijão,Nath

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Perdida #47

Acordei completamente desnorteada, meu corpo todo doía e a luz do sol fazia meus olhos lacrimejarem. Olhei ao redor, estava no meu quarto na casa de Joe . Ele estava ali, assim como o médico. Minha memória voltou como um raio, fazendo minha cabeça latejar. Encolhi-me na cama, como um bicho acuado, sentindo todas as juntas doerem.

— Não vão me levar viva pro hospício! — ameacei, procurando alguma coisa para poder usar como arma, caso eles tentassem me pegar.

Joe se aproximou lentamente da cama, os olhos grudados nos meus. Eu me encolhi mais quando se sentou na cama com deliberada lentidão.

Eu ainda não tinha encontrado nem uma arma.

— Ninguém a levará a parte alguma. — um sorriso agoniado nos lábios. — Jamais permitirei que alguém a machuque.— O Dr. Almeida está aqui porque você está doente. Ardeu em febre por dois dias. — explicou.

Dois dias?

Não me lembrava de quase nada! Tive um sonho estranho, cheio de imagens soltas. Joe me colocando na banheira ainda vestida. Eu podia ver seus lábios se moverem, mas ouvia o que ele dizia, parecia estar muito assustado. Madalena correndo apavorada com uma bacia nas mãos, o rosto de Elisa cheio de lágrimas, o médico tocando meu pulso, uma colher cheia de gosma preta — essa imagem se repetia diversas vezes.— e depois o gosto amargo descendo em minha garganta. Os olhos negros desesperados e úmidos, seu rosto retorcido pela dor, seus lábios tocando as costas de minha mão de novo e de novo. Tudo muito confuso.
— Senhorita Demetria , você teve hipotermia por ter ficado tanto tempo naquela tempestade. — o médico disse sem se aproximar. — Quando finalmente conseguimos aquecê-la, começou a queimar em febre. Imagino que se resfriou.

Funguei um pouco. Meu nariz realmente estava um pouco entupido.

—Pensei que fosse perdê-la. — Joe  sussurrou, a voz cheia de angústia. — Você não reagia, resmungava muito enquanto a febre estava alta, pensei que... — Ele não continuou.

Abaixou a cabeça e deslizou sua mão sobre o lençol à procura da minha. Recuei um pouco e ele desistiu.

— E o pior é que seria por minha culpa! —e fechou os olhos.
— O pior já passou, Senhor Clarke. — disse o médico, se aproximando lentamente. — Não se aflija mais. A melhora dela é visível!

Não tirei os olhos do médico. Esperava que, a qualquer momento, um bando de enfermeiros entraria no quarto e me amarraria numa camisa de força. E o castiçal, que poderia ser tão útil caso isso acontecesse — eu poderia derrubar dois ou três deles antes que me pegassem —, estava sobre a cômoda, ao lado da poltrona, jamais o pegaria a tempo.

— Preciso checar sua temperatura, senhorita, — esclareceu o médico quando me afastei de sua mão.

Fiquei imóvel, mas muito alerta. Pularia pela janela ao menor sinal de enfermeiros. O médico, lentamente, tocou minha testa.
— Ainda está um pouco quente. — ele disse a Joe. — Acho melhor que tome o elixir novamente.

Joe concordou. O médico pegou uma garrafinha e uma colher.

— Creio que ela prefira que você faça isso, Senhor Clarke. — o médico sorriu sem graça.

Joe abriu o vidro escuro e um forte odor atingiu meu nariz.

— Eca! Não vou tomar isso! — cruzei os braços teimosamente.
— Precisa tomar para se curar, amor. — pediu numa súplica. Não deixei de notar a falta de surpresa nos olhos do Dr. Almeida. — Por favor?

Observei a colher cheia de meleca escura.

— O que é essa gosma? — Não sabia o que era, mas sentia seu gosto amargo no fundo da garganta.
— Láudano. Sua temperatura voltará ao normal mais depressa. — explicou o médico. — Eu mesmo o preparei. É uma mistura de ópio, vinho e ervas.

Que maravilha!

— Mas ele não cura nada, apenas alivia a febre? — perguntei apressada. Eu não pretendia tomar a coisa gosmenta.
— Não cura, mas lhe deixará um pouco mais disposta.

Não respondi. Apenas olhei para o médico. Assenti para ele. Joe se aproximou com a colher cheia da gosma outra vez.

—Você pegou minha bolsa ontem, quer dizer, sábado. — Ele suspirou exasperado.
— Sim, eu trouxe suas coisas. Agora, por favor, tome o elixir. — seus olhos suplicantes.
—Desiste, Joe. Eu não vou tomar! Obrigada, Dr. Almeida. — eu disse, olhando para o médico. — Agradeço sua... preocupação e sua ajuda. Mas leve seu remédio para alguém que precise dele, eu tenho algo parecido na bolsa. — mesmo que não tivesse, não tomaria o remédio que ele mesmo preparou. Podia ser algum tipo de truque para me derrubar e, na próxima vez em que eu abrisse os olhos, estaria num quarto branco forrado de espumas enlouquecedoramente brancas.

Arrastei-me para fora da cama, sentindo tudo doer.
Deve ter sido um puta resfriado!
Peguei a cartela de antitérmico em minha bolsa e fiquei aliviada ao ver o celular dentro dela. Não me lembrava se havia guardado ou não. Engoli um comprimido com um pouco de água.

— O que é isso? — o médico perguntou curioso.

Voltei para cama trazendo a cartela — e o castiçal, só por precaução — comigo.

Desviei de Joe, coloquei o castiçal na mesinha de cabeceira e me deitei outra vez. Notei que estava usando uma roupa estranha. Um vestido horroroso e longo, bem solto. Uma camisola talvez.

—Isso é parte da minha loucura, — atirei a cartela para Dr. Almeida, que não esperava pelo meu arremesso e acabou deixando o remédio cair no chão. —Imagina que enlouqueci ao ponto de inventar que cientistas conseguiram colocar nestas bolinhas uma droga medicinal poderosa que alivia a dor e diminui a febre em vinte minutos? — disse, sarcasticamente. — Tô piradona!

Depois de pegá-la do chão, o médico examinou a cartela com curiosidade, me olhou de volta e vi o ceticismo em seus olhos.

— Pode ficar com alguns, se quiser experimentar, apenas me deixe o suficiente para o resfriado. — daí me lembrei. — Isso aí é diferente da sua gosma. Só pode tomar com intervalos mínimos de seis horas! — depois, eu ri. Achei engraçado ensinar a um médico como usar paracetamol.
—Vamos ver como seu corpo reage a isso primeiro, sim? — proferiu. Eu não era a única desconfiada ali. — Vou até a cozinha pedir para que lhe tragam uma sopa. Seu corpo está fraco demais e você precisa estar forte para combater a doença. Voltarei logo.

Dei de ombros. Não que não gostasse dele pessoalmente, não gostava dele medicamente.

— Como se sente? — Joe perguntou, assim que o médico saiu. Seu rosto angustiado.
—Como se tivesse tomado chuva a noite inteira, — estava furiosa com ele, primeiro por mentir para mim e, depois, por continuar me dando tanta atenção. O que ele pretendia com isso eu não fazia ideia.

Seu rosto ficou ainda mais infeliz.

— Como me encontrou?
— Não encontrei. Foi Storm quem a encontrou. — ele sorriu, mas era um sorriso triste. Não entendi o que ele quis dizer com aquilo, Joe percebeu e continuou. — Eu a procurei em todos os lugares... A tempestade me deixou ainda mais angustiado porque eu não sabia se você estava protegida ou se estava debaixo daquele dilúvio... Fiquei desesperado, Demi . — seus olhos aflitos demonstravam isso.

Ótimo!

— Depois de algumas horas, eu voltei para casa na esperança de que um dos criados tivesse lhe encontrado. Mas ninguém tinha notícias suas. Eu não sabia mais o que fazer e nem onde procurar. Então, sem pensar com coerência, fui até a baia de Storm, contei a ele que você havia fugido e pedi sua ajuda. Montei nele facilmente, ele me permitiu. — não vi o sorriso que esperava ver por, finalmente, ter dominado o bicho. Seu rosto estava sério. Os olhos intensos. — Deixei que ele conduzisse por um tempo e, quando notei para onde ele estava me levando, assumi as rédeas e fui o mais rápido que
pude.

Eu não disse nada. Estava feliz por ele não ter se machucado tentando montar Storm só para me procurar. Isso não significava que tinha me esquecido de suas mentiras.

— Perdoe—me, Demi , eu jamais deveria... Eu agi sem pensar! Fui um imbecil outra vez. Mas é que as coisas que me disse...
— São verdadeiras! Todas elas. Eu nunca menti para você! — enfatizei, para que ele entendesse que alguém ali mentia.
— Eu sei disso, amor. — um arrepio percorreu meu corpo todo quando ele disse a palavra de forma tão carinhosa. Tentei ignorar. — Não pode imaginar o quanto lamento!


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Hey meninas ,como estão ? a coisa ta meio tensa entre eles hein? Mais logo da uma amenizada ate a "bomba cair sobre eles" mais enfim,a fic ta acabando,e eu to sofrendo com isso,e não sei oque fazer depois que ela acabar,então me ajudem? Deixem ideias,ou livros pra adaptar,ta bem?
Comente,curtam,deixem a opinião de voces,kibem.
Um beijão,Nath

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Perdida #46

Esperei por ele por muito tempo, ansiosa para contar minha súbita descoberta, mas ele não voltava e minha paciência diminuía. Fiquei meio cismada com a expressão de seu rosto quando deixou a sala. De algum modo, ele parecia assustado de uma forma
que eu nunca tinha visto antes, nem quando caiu do cavalo, nem mesmo quando Santiago me atacou. Depois de mais de meia hora esperando desisti e resolvi procurar por ele, pra saber se mais alguma coisa havia acontecido naquela noite desastrosa.

Não fui muito longe, porém. Apenas até o escritório. Eu pretendia ir até a sala, ao baile, mas quando passei pelo escritório, vi a porta entreaberta e ouvi a voz de Joe lá dentro, me detive.

— Então, não há outra forma? — seu tom desesperado fez meu coração bater mais rápido.

O que era agora?

— Não, Senhor Clarke. Sinto muito, mas não há outra forma. — espiei pela abertura e vi o médico em pé em frente à mesa, Joe estava sentado no sofá de couro escuro, os cotovelos no joelho, a cabeça afundada entre as mãos. — Pode ser apenas uma crise. Um surto. É normal acontecer isso depois de uma situação traumática. E, pelo que me contou, creio que seja este o caso. Sei que a estima muito mas, se interná-la
agora, antes que piore, talvez dentro de alguns meses ela possa recuperar a sanidade.

Levei pouco tempo para entender o dialogo dos dois. Um milésimo de segundo apenas. ~

O médico queria internar alguém em crise. Alguém que aparentemente tinha surtado! E Joe estava desolado com a descoberta.

Senti que meu coração fora arrancado do peito.

— Você mentiu! — eu disse, escancarando a porta. Joe se levantou, assustado com minha entrada tempestuosa. — Você mentiu pra mim!

Lágrimas encheram meus olhos. Uma dor profunda e lancinante dilacerava o local onde deveria estar meu coração.

— Demi, acalme-se, por favor! Eu não menti. Apenas escute o que o Dr. Almeida tem a lhe dizer. — as mãos espalmadas numa súplica, seu rosto transformado pela dor. Não me comovi. Sua dor não era maior que a minha. Eu não tinha mais ninguém. Ninguém que acreditasse em mim. Ninguém a quem pedir ajuda!

Ninguém!

— Senhorita Demetria, o Senhor Clarke me contou o que lhe aconteceu esta noite. Talvez você apenas precise descansar um pouco, minha jovem. Conheço um lugar muito discreto onde...
— Você vai me jogar num manicômio? — gritei para Joe. As lágrimas turvavam minha visão, eu respirava com dificuldade, a dor aumentava segundo a segundo.
— Não é isso! Apenas ouça o que o Dr. Almeida tem a lhe dizer. — ele se aproximou os olhos cheios de piedade, suas mãos ainda abertas com as palmas para frente. Desarmado, diziam, assim como disseram a Storm no dia anterior. E logo em seguida, viria o bote.
— Não toque em mim. — berrei, me afastando dele.
— Demi, amor, você prec...
— Cale a boca, Jooooe! — eu berrava descontroladamente. Não me ajudava muito, contudo, me descontrolar daquela maneira quando já suspeitavam de minha sanidade, mas não pude conter a raiva. — Só... cale a boca! Eu me enganei com você. Como eu pude ser tão idiota? Eu sabia que daria nisso! Sempre soube que isso aconteceria. — minha única certeza. Um coração destroçado no final de tudo. — Pensei que você realmente me amasse! Pensei que acreditasse em mim!
— Mas eu a amo...
— Ama nada! Se me amasse, confiaria em mim. Você nem ao menos se deu ao trabalho de investigar minha história. Deduziu que eu estava louca e rapidinho arrumou alguém pra te ajudar a se livrar de mim!
— Não é nada disso! Você está...
— Como eu pude cair nessa? Esse tempo todo você só queria me levar para a cama! Como fui burra! Pensar que você pudesse me amar. Claro que nunca amaria alguém como eu, alguém que não sabe se comportar como as outras garotas, que nem ao menos consegue se expressar de forma clara, alguém usada. Eu te odeio, Joe. ODEIO!
— Está enganada! Você não está entendendo, ouça-me... — implorou.
— NÃO! — berrei e corri para meu quarto.

Ouvi ele me chamar no corredor e depois me seguir apressado, mas consegui chegar a tempo de passar a chave e a trava de madeira na porta. Ele não entraria tão rápido dessa vez. Olhei em volta e juntei minhas coisas. Enfiei tudo que era meu na bolsa.
— Demi, perdoe-me. Eu... Estou confuso. — sua voz abafada, mas cheia de angústia. — Abra, por favor! Vamos conversar. Não vou deixar que a levem a parte alguma, eu prometo!

Da mesma forma que prometeu que acreditava em mim!

Abri a janela, era ainda mais alta do que eu esperava. As batidas na porta ficaram mais fortes.
—Demi, abra, por favor! — a urgência em sua voz me fez crer que, mesmo com a trava, ele entraria naquele quarto. E não levaria muito tempo.

Pulei da janela sem hesitar
A grama amorteceu um pouco o tombo, ralei apenas um joelho e um pouco do cotovelo. Estava frio ali fora, o vento gelado trazia a umidade da tempestade que se aproximava. Não me importei com isso, eu tinha que sair dali. Precisava sair dali. Não podia suportar olhar para  Joe outra vez. Não podia suportar que ele me olhasse com piedade, depois de tudo o que vivemos.

Corri o mais rápido que pude, totalmente às cegas. Eu não tinha para onde ir, nem a quem recorrer, mesmo que tivesse que dormir ao relento pelo resto da vida, ainda seria melhor do que ser trancada em um manicômio.

As nuvens encobriam a lua e a noite escura não permitia ver para qual direção eu seguia, mas continuei em frente. Corri sem destino, na ânsia de me afastar de Joe o máximo possível. Eu queria fugir até mesmo das lembranças, que agora me dilaceravam.
A chuva fina começou a cair e deixou a grama escorregadia. Caí muitas vezes, mas não parei. Os raios e trovões iluminavam o céu vez ou outra. Agradeci por eles. Clareavam a noite sombria.
O vestido encharcado ficou pesado demais e correr se tornou impossível quando a chuva torrencial desabou de uma vez. Andei sem rumo por muito tempo. Acabei tropeçando e caindo novamente no mesmo instante em que um raio cruzou o céu.

Reconheci onde estava. Reconheci em que tinha tropeçado. Não era a primeira vez que eu tropeçava naquela pedra. Peguei o celular na bolsa e apertei a tela freneticamente.

— Por favor. — chorei, mas nada aconteceu.

Encolhi-me, tentando suportar a dor. Abracei os joelhos e deixei minha cabeça tombar sobre eles. Rezei muito para que a vendedora pudesse me ver naquele instante e acabasse com a brincadeira,
— Me leva pra casa, por favor, — rezei baixinho. — Eu não quero mais ficar aqui! Me leva pra casa!

Eu não poderia ficar naquele lugar. Nunca seria a minha casa. Nunca seria o meu lar. Não sem Joe .
Eu não podia suportar que ele me internasse num hospício. Não podia suportar que me visse como uma louca. Não poderia viver ali! Jamais! E não queria acreditar que ele me usou.

Uma noite apenas!

Eu tinha que voltar para casa pra ficar sozinha, como sempre foi. Voltar para a vida vazia de sempre. Sem amor, mas sem dor.
Rezei para que, quando eu voltasse acontecesse um milagre e, como nos filmes, eu simplesmente esqueceria tudo que vivi ali. Porque eu queria esquecer o que vivi com Joe, esquecer suas falsas juras de amor, esquecer seus sorrisos, seu cheiro, nossas conversas, o que vivemos... esquecer tudo!

Fiquei ali sentada, encolhida como uma criança assustada, por muito tempo. Eu tremia muito, convulsivamente, cada parte de meu corpo se transformou numa pedra de gelo, mas eu não sabia se era de frio ou de medo. Eu não tinha para onde ir. Não sabia o que fazer. Jamais me senti tão sozinha!

— Por favor, me leva pra casa!

Estava tão gelada que não sentia nem mesmo o calor das lágrimas que rolavam incessantemente por meu rosto. Abracei-me mais, tentando me aquecer de alguma forma, mas a chuva gélida e pesada caía impetuosamente. A consciência começou a me escapar.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, mas me pareceu uma eternidade. Como imagens fotográficas, um quadro por vez, vi algo se movimentar na escuridão. Não pude me mover, meus músculos pareciam estar congelados. A coisa se aproximava a cada vez que eu abria meus olhos. Meu corpo estava fraco e dolorido, como se milhões de agulhas estivessem enterradas nos músculos. Pisquei algumas vezes e a coisa estava bem perto agora. A coisa bufou e uma nuvem de vapor se fez visível na penumbra.
— Demi ! — alívio e desespero se misturavam na voz dele.
Joe
.
Vi quando ele desceu da coisa preta.

— Storm? — tentei dizer, mas a voz não saiu.
— Demi, você está bem? — seus lábios tocaram minha testa com urgência. — Meu Deus! Está congelando! — tirou o casaco molhado e rapidamente me embrulhou com ele.
— T-t-tire as mãos d-d-de mim. — murmurei. Tentei empurrá-lo, mas estava fraca demais, tudo doía, o sono me vencendo.
— Vou levá-la para casa. — seus braços me envolveram para me levantar do chão.
—E-eu tô t-tentando voltar para ca-casa. Me s-s-s-s-solte! — não conseguia conter o tremor, a dor nos músculos se tornava insuportável. Tentei empurrá-lo com mais força.
Não obtive sucesso. Ele nem notou que eu o empurrava. Levantou-me do chão
com facilidade.
— M-me po-ponha no chão! — ordenei.
— Vou levá-la para casa, Demi. Agora! Você precisa se aquecer! — sua voz firme, segura, não deixou espaço para réplica. Repliquei mesmo assim.
— Me-me-me s-s-s-s--solte. — sacudi os braços e as pernas, tentando descer.

Não foi boa ideia. Parecia que meus músculos se rasgava, quando eu os movia.

— Demi , você vai comigo, de uma forma ou de outra ! — ameaçou. — Ninguém lhe fará mal, eu prometo! Não tenha medo!

Desisti da luta. Não que tivesse acreditado nele, mas começava sentir a dormência dominar meu corpo inteiro. Sabia que não seria capaz de fugir, sentia a rigidez dos músculos minha força sendo sugada pela chuva. Joe  me colocou no lombo de Storm com dificuldade, depois subiu e me segurou firme com as duas mãos. Eu estava muito sonolenta, nem mesmo a chuva gelada espantava o sono. Deixei minha cabeça cair em seu peito.
— Logo estaremos em casa, você vai ficar bem! — Joe disse, me apertando mais forte

Fiquei furiosa comigo mesma por não ter ido mais adiante. Por deixar que ele me encontrasse tão facilmente e me levasse de volta sem meu consentimento. Ao que parecia, ninguém mais respeitava o que eu queria!
Escondi meu rosto em seu pescoço, exausta, tentando fazer com que a chuva parasse de alfinetar minha pele.
— Eu t-te ode-deio!— murmurei, fraca demais.
— Não me importo com isso. Não muda nada para mim. — o cavalo começou a se mover e eu comecei a escorregar para a inconsciência. — Vou amá-la por toda vida. — foi a última coisa que ouvi antes de cair no abismo escuro.
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Hey meninas,volteeeeei,uuuhl. CARAMBA ESSE CAPITULO É FODA. Confesso que quando eu tava lendo o livro eu comecei a chorar. Cara a Carina ( autora do livro ) é muito foda,esse livro pra mim é meu xodozinho kkk. Bem,espero que gostem,curtam,kibem,comentem,deixem a opinião de voces,é muito importante pra mim. As coisas vão ficar mais leves daqui pra frente,bem,ate a bomba "cair" sobre a cabeça deles kkk. Amanha eu volto.
Beijõees,boa semana.
Nath

domingo, 23 de novembro de 2014

Perdida #45


Santiago não reagiu aos golpes que recebia. Talvez só gostasse de bater em mulheres. E Joe parecia ainda mais transtornado com o fato de ele não revidar. Nunca tinha visto Joe tão furioso daquele jeito. Cheguei a pensar que, se ninguém o impedisse,acabaria matando aquele homem asqueroso.
—Já chega, patrão. Podemos cuidar disso, — pediu Gomes, com um sorriso estranho nos lábios.

Joe pareceu recuperar a sanidade e parou. Sua mão repleta de sangue do miserável.

— Cuide dele, Gomes. — ele disse, soltando a gola da camisa de Santiago, que havia servido como apoio para seus golpes certeiros, depois se levantou do chão. — Cuidem para que ele jamais volte a dar as caras por estas bandas. — os empregados assentiram, vendo a raiva homicida em seus olhos. Nenhum deles parecia estar aborrecido com a tarefa.
— Espere. — pedi. Joe me olhou confuso. — Espere. Não vai matá-lo, vai?

Por mais que eu gostaria de estraçalhar a cara de Santiago se bem que não tinha sobrado muita cara para ser estraçalhada, — Joe fez um ótimo trabalho — não queria ser a culpada da morte de ninguém.
— Demi , é claro que não! — seus olhos se acalmavam gradualmente. E pareceram sinceros quando me respondeu. — Apenas aprenderá a se comportar perante uma dama!

Concordei com a cabeça. Essa era uma lição que Santiago precisava aprender. Os dois empregados grandalhões rapidamente levantaram o infeliz do chão pelo ombro, começaram a levá-lo meio arrastado.

— Espere. — me levantei do sofá. Percebi que ainda tremia muito. Meus joelhos não estavam prontos para me sustentar. Ian me pegou antes que eu caísse. Endireitei-me e, depois de respirar fundo algumas vezes e arrumar o vestido com a dignidade que me sobrara, andei até ficar cara a cara com Santiago.
— Me diga de onde você veio! — ordenei.

Ele não disse nada, nem mesmo me olhou. Talvez não conseguisse focalizar nada com os olhos tão inchados.

— Posso pedir ao Senhor Clarke para ser mais persuasivo. — ameacei. Precisava ter certeza que ele não era a outra pessoa presa no passado.

Santiago engoliu seco, depois falou.

— De um pequeno povoado na divisa do estado.

Assenti lentamente

— E em que ano? Continuei. Senti todos os olhos na sala grudarem em mim.

Não me importei.
Santiago ficou confuso, não me respondeu

— Em que ano? — repeti trincando os dentes.
— Não sei se entendi sua pergunta.

Respirei fundo.

— Você saiu do povoado em que ano? — eu disse, observando atentamente sua cara desfigurada.
— Neste mesmo ano, em meados de Janeiro — ele se apressou em dizer assim que Joe se aproximou.
— Neste Ano. Você saiu desse povoado em Janeiro de 1830? —fui mais explícita. Não podia haver enganos.
— Certamente. Em 1830. — respondeu, me olhando como seu eu fosse louca.
— Vi um objeto prateado em sua mão naquele dia na vila. Onde ele está?

Lentamente, Santiago alcançou o bolso do casaco e me estendeu o objeto retangular. Não era um celular, era uma caixinha prateada Eu a abri e vi meia dúzia de cigarros ali. Era apenas uma cigarreira.

Respirei fundo novamente e fechei os olhos,

— Então, você realmente foi assaltado quando chegou aqui. Nada de estranho aconteceu? — eu estava confusa demais. Se ele não era a pessoa que estava ali perdida no tempo como eu, então quem era?
— Sim. Fui assaltado por três homens que me levaram tudo, até mesmo meu cavalo. Precisei ficar na cidade por alguns dias a pedido da guarda, no intuito de encontrar os mal feitores. Quando foram capturados, recuperei parte...

Minha cabeça girava, não ouvi sua explicação. Não me interessava. Então, talvez eu não soubesse como voltar. Seria tão ruim assim? Ficar ali com Joe para sempre e poder amá-lo sem medo? Mas e quanto às mensagens no celular?

Esteja preparada, dizia a última. Elas chegaram sem a interferência de Santiago... Joe percebeu minha confusão e me levou de volta para o sofá.

— Levem-no daqui! Pela cozinha, Gomes, por favor! Não quero estragar a festa da minha irmã. — ele entregou a cigarreira para Gomes, a raiva ainda em sua voz me fez estremecer um pouco.

Os quatro homens saíram rapidamente. Gomes fechou a porta ao sair.
Joe tocou meu rosto em chamas.

— Desculpe-me por não chegar a tempo, senhorita — seus olhos ficaram furiosos quando notaram o vermelho em minha bochecha. — A procurei por toda parte e ninguém a viu sair. Estava indo até seu quarto quando ouvi seu grito... — seu rosto transtornado pela fúria.
— Você chegou a tempo. — coloquei minha mão sobre a dele, pressionando-a levemente em meu rosto latejante. — Bem a tempo
— Como se sente? — indagou com delicadeza.Vi que se esforçava para manter-se calmo.— Precisa de alguma coisa? Um vinho, talvez?
— Pode ser. — eu queria tirar o gosto podre dos meus lábios Joe pegou a garrafa perto do piano e a trouxe, me serviu uma taça cheia. Virei tudo num único gole.

Senti o álcool queimar minhas entranhas e afugentar um pouco do tremor.

— Melhor? — perguntou.

Sacudi a cabeça, mais por hábito.

— E agora me explique o que aconteceu. — exigiu, sentando-se ao meu lado novamente. — Por favor — Não é ele! Eu pensei que fosse Santiago, mas não é me enganei. Não é ele a outra pessoa perdida aqui. Ele é como você, Joe. Um homem do século dezenove.
— Não sou como ele! — contestou colérico e ofendido,

Ele não entendeu a palavra-chave. Precisaria ser mais explícita.

— Claro que não! — sacudi a cabeça. — Não foi isso que eu quis dizer. Ele é como você ou Gomes ou Elisa, não como eu. A pessoa que procuro deve ser como eu. Ele me observou por um longo tempo, tentando compreender o que eu dizia. Respirei fundo. Peguei a garrafa de sua mão e enchi minha taça. Bebi um grande gole.

— Exatamente como eu. — murmurei. — Solvi outro gole de vinho. A coragem ainda não tinha dado as caras. Não tive outra alternativa se não seguir adiante sem ela.

Olhei profundamente em seus olhos e soltei a verdade. — Alguém que nasceu no século vinte e um.

Sua testa vincou. Seu rosto ainda mais confuso

— Alguém que também estava em fevereiro de 2014 e veio parar aqui no século dezenove sem saber como voltar. Exatamente como eu!

Ele piscou várias vezes, tentando absorver minhas palavras.

—  Perdoe-me, o que disse? — sua voz tremeu um pouco.
— Vou te contar toda história, Joe. Desde o início. Meu nome é Demetria  Alonzo, nasci nesta mesma região onde, daqui a muitos anos, se erguerá uma enorme metrópole. Foi nela que eu nasci, em 20 de Agosto de 1992. 

Joe abriu e fechou a boca várias vezes — quase como um peixe —, mas  absolutamente nada saiu de seus lábios. Ele pegou a taça de vinho da minha mão e a  esvaziou. 

Esperei nervosa, para que ele pudesse assimilar o que eu havia dito. Ele tornou a  encher a taça e a esvaziá-la rapidamente. Não disse uma única palavra. Tirei minhas  luvas e comecei a retorcê-las freneticamente. Depois de alguns minutos, a impaciência  me venceu. 

— Você ouviu o que eu disse? — perguntei. 

Joe piscou e depois sacudiu a cabeça. 

— Errr... Eu ... Acho... Que... Sim? — ele estava muito confuso. 

Melhor contar tudo de uma vez! 

— Vou te explicar tudo. Preste atenção, é tudo muito maluco! — alertei. 

Ele apenas assentiu. 

— Como eu te disse, eu vivia no ano de 2014 até sábado passado. Tudo isso  aconteceu por que, na sexta passada eu saí com a Marisa e o Logan. Fomos num barzinho  que a gente curte. Foi lá que Marisa me contou que iria convidar Logan para morar com ela  e é claro que comemoramos a notícia... Só que acabei comemorando um pouco demais,  exagerando na bebida. Depois de tanto chope, precisei usar o banheiro e meu celular caiu acidentalmente dentro da privada. Claro que eu não podia enfiar a mão lá dentro e 
pegá-lo! Estava todo pifado, de todo jeito. Já era! Então, no sábado, saí cedo pra  comprar um novo. Eu estranhei que não houvesse mais ninguém dentro da loja e achei a  vendedora que me atendeu muito esquisita. Ela meio que me convenceu a comprar este  celular estranho, sem me dar outras opções. Eu devia ter desconfiado disso! O aparelho  está lá no quarto, posso te mostrar, se quiser. — acrescentei. Joe apenas me observava,  os olhos insondáveis. — Só depois que saí da loja percebi que o aparelho não  funcionava. Eu já estava voltando para pegar meu dinheiro de volta, quando ele  finalmente ligou. Daí apareceu uma luz tipo... Tipo... Muito forte! Não consegui ver  mais nada e quando o clarão desapareceu, eu estava aqui, daí você apareceu e me  encontrou. — estava meio sem ar quando terminei. O rosto de Joe estava impassível. —  Entendeu agora? 

Ele sacudiu a cabeça. 

— O que você não entendeu? — perguntei desesperada. 
— Acho que quase tudo. Celular? 

Ah! 

— Desculpa, Joe. Me esqueci que você não conhece algumas coisas. Celular é  um telefone que pode ser levado para todo lugar. — os olhos grudados em mim não  compreenderam minha brilhante explicação. — Você sabe o que é um telefone, não  sabe? 

Joe sacudiu a cabeça novamente. Eu respirei fundo. Ele devia estar tão confuso  quanto eu fiquei logo que cheguei ali. 

— Telefone é um aparelho que tem um... fone... que você coloca na orelha e  consegue falar com pessoas de lugares distantes. Ou de perto se quiser. Permite falar  com pessoas que não estão presentes. Pessoas vivas, quero dizer. Não vozes do além e  essas coisas... — difícil de explicar! — Acho que é melhor eu te mostrar o meu, só que  o problema é que ele não funciona como um celular comum. Foi ele que me mandou  para cá, tipo uma máquina do tempo. 
— Máquina. Do. Tempo. — ele disse devagar. 
— Sim. — seus olhos opacos não permitiram que eu lesse nada neles. — A tal  vendedora me ligou logo depois que você saiu do quarto naquele dia em que me  encontrou. Nem me pergunte como foi que ele captou o sinal! Deve ser coisa dela!  Sinistro! Mas ela me disse que eu só voltaria pra casa depois de cumprir uma jornada  que eu acho que descobri qual é apenas ontem. Só que, se for o que eu acho que é, Joe,  não faz sentido algum... — por que se Joe era a jornada se eu tinha que realmente  encontrá-lo, como poderia deixá-lo se eu o amava tanto? — E ela também disse que eu não estava nessa sozinha. Vez ou outra, ela me manda uma mensagem, tipo um bilhete,  uma carta, através do celular. A última dizia que passei mais uma etapa e para estar  preparada. Daí, eu pensei que talvez Santiago... mas ele... — sacudi a cabeça, confusa. 

Então quem meu Deus? Quem era a tal pessoa? Onde ela estava? 

— Entendeu agora? — perguntei angustiada. 
— Não sei bem... Você bateu a cabeça ou coisa assim quando... 
— Você não acredita em mim? — minha voz subiu vários decibéis. — Você tem  que acreditar em mim! Não estou mentindo! Eu juro, Joe! Eu sei que é difícil acreditar  em tanta maluquice, mas eu juro que é tudo verdade! 
— Claro que acredito, Demi. Claro que acredito! 

Era bom! Porque se ele, que me conhecia mais que qualquer um ali — e em meu  século também, nem mesmo Marisa me reconheceria agora — não acreditasse no que eu  dizia, não me sobraria nada. Estaria sozinha, perdida, sem saber como voltar e,  provavelmente, na rua. Joe não permitiria que Elisa convivesse com uma maluca. 
— Acalme-se, por favor, — pediu ele. Sua voz retorcida com uma emoção nova. 
— Você precisa acreditar em mim, Joe. Não estou mentindo, nem inventado  nada, eu juro! — eu disse, me agarrando a sua camisa. 
— Eu sei, amor. — ele segurou minhas mãos geladas, mas, pela primeira vez,  suas mãos estavam tão frias quanto as minhas. — Tudo ficará bem. 

Olhei dentro de seus olhos procurando confirmação, mas ainda estavam opacos.  Não me diziam nada. Um arrepio subiu por minha espinha, um daqueles que não eram  nada agradáveis. 

— Ouça-me. Vou até a sala avisar Elisa que estamos aqui. Ela pode nos procurar  e ficará preocupada se não nos encontrar. Voltarei logo, está bem? E então você poderá  me contar tudo com mais calma. — não gostei do tom sua voz. Parecia... Pena. 
—Tá bem. — concordei fracamente. Eu ainda tremia um pouco. — Vou te  esperar aqui. 

E, depois de beijar minha testa mais uma vez e me olhar daquela forma estranha  novamente, ele deixou a sala.  Fiquei ali tentando me acalmar. Senti um imenso alívio por ter contado a  verdade a Joe. Senti-me muito mais leve por não esconder dele o meu grande segredo.  Agora que ele conhecia a história, talvez me ajudasse a encontrar a tal pessoa. 

Ou talvez não procurássemos ninguém! 

Talvez se eu enterrasse o celular em algum lugar, talvez não captasse mais o  sinal “mágico” e eu estaria livre! Talvez eu pudesse ficar ali. Eu poderia morar com Ian  e ajudar na administração dos cavalos ou até mesmo ajudar Gomes a lustrar talheres,  não importava. Poderia cuidar de Elisa até que fosse adulta. Sentiria falta de muitas  coisas, claro; meu banheiro ou qualquer banheiro — o computador a cafeteira, os 
enlatados, a pizza, as lanchonetes, bebidas geladas até do emprego. E sentira falta de  Marisa. Muita falta! Mas ela estava com Logan, iriam morar juntos. Ela seria feliz! Se ao  menos eu pudesse avisá-la que estava bem e feliz... 

E quanto ao resto... 
Eu sobreviveria! 

Quem precisava de cafeteira ou micro-ondas quando se tinha uma Madalena?  Quem precisava de enlatados, quando se tinha legumes frescos todos os dias? Quem  precisava de TV quando se tinha Joe para conversar? Quem precisava viver uma vida  solitária, quando tinha a chance de viver uma vida plena e feliz ao lado do homem que  ama? 
Eu sobreviveria! 
Sim, eu sobreviveria sem tudo aquilo. Só não poderia suportar viver sem Joe

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Hey meninas,perdão a demora kkk,espero que tenham gostado do capitulo ,a fic ta acabando gente,ain que dor que dá no coração </3. E sobre os proximos capitulos,será meio tenso,alias,bastante tenso,espero que gostem ,deixem a opinião de voces,comentem,curtam,kibem.
Beijão,boa madruga
Nath

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Perdida #44

Ele me apertou um pouco mais, seus olhos negros queimando nos meus. Eu tinha certeza de que os outros casais não dançavam tão colados quanto Joe e eu, mas não falei nada. Estava adorando poder ficar novamente sob seus braços protetores.
— Você disse que tinha desistido de montá-lo, mas ontem estava tentando outra vez. Por que? — voltei ao assunto. Joe perturbava meu raciocínio apenas com o olhar.

Ele hesitou um pouco. Havia algo que o constrangia.

— Não pode me dizer? — pedi.
— E que eu... Parece ridículo, mas pensei que, se eu fosse capaz de montá-lo, de vencê-lo... Talvez pudesse descobrir uma forma de fazer o mesmo com você.

Minha testa se enrugou. Uma batida dolorosa em meu coração me deixou sem ar. Não gostei disso.

— Você quer me vencer?
— Não! — ele se apressou. O horror cruzou seu rosto. — Não! Não! Claro quenão! Acho que não me expressei corretamente... Storm sempre foi um objetivo, eu queria ser capaz de montá-lo, vencê-lo, como eu disse. Mas logo que a conheci... Meus objetivos mudaram, não as dificuldades. Depois entendi que, assim como ele, você não se deixa dominar, se prender... — Seus olhos ficaram muito intensos. — Eu queria encontrar uma forma de prendê-la a mim para sempre, Demi! Que nunca mais se fosse, que eu fosse capaz de mantê-la aqui. — ele me abraçou mais forte.
— Joe... — eu comecei, sem saber o que dizer.
— Não se preocupe, você já me disse muitas vezes que não pode ficar. No entanto, não posso deixar de desejar fervorosamente que isso aconteça ainda assim. — o sorriso triste em seus lábios colocou um nó em minha garganta.
— Eu também — me ouvi sussurrando.

Ele ficou surpreso com minha resposta. Muito surpreso. Mas não tão surpreso quanto eu. O que eu estava dizendo? Eu ficaria ali se tivesse a chance?

A dança acabou e todos começaram a aplaudir e, nem ele nem eu tocamos no assunto outra vez.

Joe e Elisa se revezavam em entreter todos os convidados e eu era alvo constante de seus conhecidos. Alguns se aproximavam por pura curiosidade e, mesmo eu tentando muito me comportar educadamente, a diferença entre as outras mulheres e eu era gritante. Como Lady Catarina tão cortesmente apontou.
— Senhorita Demi, estou admirada com sua ousadia. — ela disse, o rosto pálido me analisava. — Faz muito tempo que não encontro uma jovem que não teme ser alvo da sociedade.
— Alvo? Alvo de que?
— Ora, minha cara, é preciso muita coragem para se vestir de forma tão original. Nem toda mulher tem a sua ousadia. — e examinava curiosamente minha saia de volume modesto.
— Bom, não é ousadia. É calor mesmo. Esses vestidos já são sufocantes o bastante. Acho muito engraçado as mulheres daqui usarem tanta roupa. — principalmente num lugar sem ar condicionado ou mesmo um ventilador portátil. — Tipo a moda cebola!

Lady Catarina se engasgou com seu ponche.

— Moda o que?
— Cebola. Camadas e mais camadas de roupa. — expliquei.

Ela me olhou incrédula. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, seu filho, Dimitri aquele para quem Teodora estava se desmanchando em sorrisos — interrompeu,

— Mamãe, será que se importaria em me apresentar tão formosa dama? — disse ele, me encarando de um jeito pouco lisonjeiro.
— Você já foi apresentado a ela, Dimitri. Logo que chegamos. — Lady Catarina parecia zangada.
— Oh! Quanta indelicadeza, a minha. Perdoe-me, senhorita, mas com tantas jovens encantadoras reunidas nesta sala, fica difícil lembrar-me de todos os nomes. Não tenho como me desculpar por esquecer o nome de tão bela flor! — ele esboçou o que pensei ser um sorriso sedutor.
— Não tem problema. Eu também tenho dificuldades para guardar nomes. Pobre Teodora! Era por isso que ela esperava? Um loiro sem graça com problemas de pele e que, aparentemente, era o maior xavequeiro?

Mais tarde, finalmente, Santiago apareceu. Joe logo se apressou em cumprimentá-lo e eu o segui.

— Desculpe-me pelo atraso, Senhor Clarke. Cheguei há menos de uma hora na vila. Mal tive tempo de alimentar o cavalo. — ele disse a Joe, mas seus olhos estavam em mim o tempo todo.
— Não está atrasado, Senhor Santiago. O baile mal começou.  — Joe pareceu desconfortável com o modo com que Santiago me olhava. Pra dizer a verdade, eu também não gostei muito da forma com que seus olhos se prendiam em meu decote de vez em quando.

Joe o apresentou a algumas pessoas e eu não saí do seu lado. Depois de um tempo, porém, ele foi convocado pela Senhora Almeida — muito irritada — a ajudá-la a encontrar uma faca para cortar o assado. Aparentemente, esqueceram de colocar a faca na mesa.

— Se me derem licença. — e me atirou um olhar de cautela. 
— Claro! — eu disse, confirmando que estava tudo bem. 
— Certamente, Senhor Clarke. — Santiago pareceu entusiasmado. Não pude  dizer se era pelo assado que observava ou por ficar sozinho comigo. 

Joe pareceu relutante em me deixar sozinha com o estranho, mas depois de 
hesitar por um segundo, se desculpou e saiu à procura de Gomes. Eu fiquei bem ali, ao  lado de Santiago. 
Se ele tinha alguma pista, eu precisava saber. E se sabia como voltar, eu também  precisava saber. Apesar da confusão emocional em que eu me encontrava, essa era uma  informação que eu não podia deixar passar. Mesmo que não tivesse mais certeza se  realmente queria voltar pra casa. Porque eu já me sentia em casa. 
— E então? — comecei meio insegura. —Já descobriu como voltar? — fui  direto ao ponto. Não havia motivos para rodeios. 
—Sim. — ele me fitava daquela forma esquisita outra vez. — Amanhã, se nada  sair errado, eu estarei a caminho de casa. 
— Amanhã? — Tão depressa? 

Ele assentiu. 

— Então... — era melhor saber logo, para que eu pudesse... Me preparar. — Do  que precisa? 

Ele olhou em volta para se certificar de que ninguém nos ouvisse. 

— Vejo que ainda tem interesse nesse assunto. 
— Claro que eu tenho! E você sabe bem o porquê. — ergui uma sobrancelha  sugestivamente. 

Ele assentiu outra vez, um pequeno sorriso nos lábios. 

— Então... — instiguei para que ele abrisse a boca e falasse de uma vez. Se eu  iria embora no dia seguinte.., 

Meu estômago se revirou e não consegui respirar direito a dor rasgou meu peito. 

— Creio que seria mais adequado se discutíssemos sobre isso em um lugar mais  reservado. — murmurou. 
— Claro, — estava tão atordoada que minha cabeça parecia estar cheia de  minhocas devoradoras de cérebro. — Vamos até a saia de leitura

Santiago me seguiu até a sala de leitura, mas não conseguimos entrar. A  maior parte da mobília da sala de visitas havia sido deixada ali. Seguimos, então, para a  sala de música. Estava menos amontoada, apenas um sofá e uma mesinha foram  adicionados ao cômodo. 

Entrei e fechei a porta. 

— Então, me diga logo o que descobriu. — exigi, cruzando os braços sobre o  peito. Estava ficando impaciente, queria voltar logo para perto de Joe. Ainda mais  agora! 
— Se acalme. Temos tempo para isso. — e andou em minha direção. 
— Não temos tempo! Se partiremos amanhã... 
— Mas não partiremos amanhã! — ele me interrompeu e sorriu maliciosamente,  não como Joe fazia, mas de forma assustadora e repulsiva. 
— Não? — exclamei mais alto do que pretendia, aliviada. 
— Não. Eu partirei! Não posso levá-la comigo. Tenho esposa e filhos, — ele se  aproximou um pouco mais. 

Fiquei confusa. 

— Pouco me importa se é casado ou não! Se você sabe como voltar, exijo que  me diga como fazer! Tem alguma coisa a ver com o celular? —perguntei apressada. O  jeito como ele me olhava estava me deixando mais nervosa a cada segundo. 
— Celular? — sua testa se enrugou. — Não importa! Vamos resolver o seu  problema primeiro e depois conversamos sobre minha viagem, está bem? — ele  avançou em minha direção. 

Recuei um passo e acabei batendo nas costas do sofá, ficando encurralada. 

— Meu... problema? — repeti lentamente 
—Sim, minha cara. Notei que me olha de uma forma... Diferente. — Sei o  motivo do sorriso assustador em seus lábios me disse que eu tinha me metido numa  roubada. Numa bem grande! — Não é a primeira vez que uma belezinha como você se  encanta por minha pessoa. 
— O que? — eu não tinha mais para onde ir. — Ficou louco? 
— Sim, fiquei. Esse seu vestido... — seus olhos me examinavam  minuciosamente meu estômago deu um salto, me deixando enojada. — Bem, vou  ensinar lhe algumas coisas, meu bem! 
— Meu bem o cac... 

Mas Santiago rapidamente me atacou. Tentei empurrá-lo antes mesmo que seus  lábios me tocassem, mas suas mãos grandes agarraram meus pulsos com muita força e  não pude detê-lo a tempo. Mordi seu lábio o mais forte que pude, ele gemeu e me  soltou. Aproveitei seu vacilo para dar a volta, mas seu braço me alcançou antes que eu  pudesse escapar e com um puxão, me fez perder o equilíbrio e desabar sobre o sofá.  Não sei bem como ele conseguiu ser tão ágil, mas antes que eu pudesse me  levantar, ele já estava sobre mim. Lutei com ele, empurrei com braços e pernas sem conseguir nada; ele era pesado demais.

— Saia de cima de mim! — ordenei.
— Não faça escândalos, minha cara. Não vai querer chamar a atenção de ninguém, vai? — senti sua mão em minha cintura e meu estômago reagiu.

Eu me contorci freneticamente tentando escapar dele. Pensei que fosse vomitar quando sua boca tocou meu pescoço.

— Agora, fique quieta e prometo que acabará logo. — a voz rude e assustadora.
— Tire as mãos de mim, seu porco nojento! — eu tentava desesperadamente fazer com que ele rolasse para o lado e eu pudesse fugir, mas seu peso me imobilizava.

Sua boca esmagou a minha e, com todo seu peso sobre minha barriga, acabei perdendo o fôlego. Ele levantou meu vestido e depois subiu a mão áspera por minha coxa. Meus olhos se arregalaram ainda mais e mordi seu lábio com tanta raiva dessa vez que senti o gosto de sangue em minha boca.
Ele levantou seu tórax minimamente, tocou os lábios e observou o sangue em seus dedos com olhos coléricos.

— Sua... — não pude ouvir o resto. A pancada em meu rosto fez zumbir meus ouvidos.

Fiquei desnorteada por um tempo. Meu rosto ardia e minha cabeça girava desconfortavelmente. Ele se aproveitou disso e tentou baixar o corpete do meu vestido.
—Pare! — gritei, tentando tirar suas mãos de meus seios. — Me solte, seu imbecil! SOCORRO! JOOOOOOOE! SOCORRO!— gritei até minha garganta arder. Mas duvidei
que ele pudesse me ouvir, o barulho de música e falatório que vinha da sala abafava qualquer outro som.
— Cale-se! — outro zumbido nos ouvidos.

Meu rosto latejava, queimava. Eu queimava. De raiva, de desespero, de medo, de vergonha por ter sido enganada e principalmente de nojo. Enganei-me pensando que ele pudesse me ajudar e ainda acabei dando a impressão de que estava interessada naquele animal!

Que imbecil!

Senti contra minha coxa a rigidez de seu membro. Fiquei apavorada. Aquilo não podia estar acontecendo! Tentei mover meu joelho para fazer o tradicional golpe na virilha, mas as pernas dele me impediram.
Não desisti da luta. Continuei me contorcendo, empurrando e chutando em vão. Sob a luva, a pele do meu punho estava em brasa pela fricção que as mãos de Santiago exerciam enquanto eu tentava me soltar.
—Você vai gostar, tenho certeza. Agora fique quieta, — seu rosto transformado
numa carranca horrenda.
— Me solta! — empurrei mais uma vez, meus braços já não tinham mais forças. — SAI DE CIMA DE MIM!

Vi sua mão se erguer mais uma vez e fechei os olhos esperando. Contudo, o barulho que ouvi foi diferente do que eu esperava. Primeiro, o barulho da porta sendo arrombada, seguido de um urro gutural e um POW! e o peso se foi. Abri os olhos e vi Joe sobre o monstro, esmurrando sua cara com determinação.
Gomes entrou instantes depois, com mais dois empregados ao seu lado. Eu não conseguia me mover, não conseguia parar de tremer


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Hey meninas,como estão? Santiago maluco hein? Chegamos ao fim da maratona meninas,espero que tenha curtido. Voltarei a postar amanha. Espero que gostem do capitulo,deixem a opinião de voces,comentem,curtam,kibem. 
Um beijão,boa quarta a voces.
Nath

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Perdida #43

— Alguns convidados já chegaram, então... — me ofereceu o braço. — Será que posso conduzi-la até a sala ou vai me mandar para a parede outra vez? — disse ele, mudando de assunto, mas sua expressão ainda era triste.
— Se comporte. — respondi, aceitando seu braço.

Ele tentou sorrir um pouco enquanto me conduzia. Beijou minha testa carinhosamente pouco antes de entrarmos na grande sala de baile e suspirou. Não disse nada até chegarmos ali, apenas me olhava nos olhos. Eu podia ouvir o zumbido de vozes.
— Sabe que não sei me comportar seguindo esses costumes. — eu avisei, para o caso de cometer alguma gafe e arruinar o baile de Elisa.
— Agradeço aos Céus por isso. — seu sorriso era mais feliz agora. — Não se preocupe, se sairá muito bem.

Eu assenti, mais por hábito que por confirmação. Tinha uma intuição ruim sobre o baile. Só não sabia bem o porquê.

Assim que entramos na sala, todas as cabeças se viraram para nos observar. Corei um pouco e procurei por rostos conhecidos. Encontrei Elisa, com um imenso sorriso, me olhando maravilhada. Estava parecida com uma princesa, tão delicada e encantadora com seu vestido marfim, que realçava ainda mais seus cabelos negros. Também encontrei Teodora, que não sorriu, mas também não me olhou de forma gélida. Fez um leve aceno com a cabeça e voltou a conversar com uma garota. Diferente de Elisa, Teodora gostava de coisas mais extravagantes, e seu vestido dourado e cheio de pedras era extremamente exótico.

—Tá todo mundo olhando pra mim! — cochichei para Joe.
— E por que não estariam? Não creio que algum deles já tenha visto uma jovem mais bela e encantadora tão de perto.
— Pare de brincar, Joooe! — ralhei baixinho.
— Não estou brincado. — o rosto sério, os olhos traziam o mesmo brilho da noite passada. Meu coração deu um solavanco. Tentei me distrair para não acabar arrastando Joe por uma das dezenas de salas vazias.

Observei a sala abarrotada e fiquei desconfortável. Não gostava daquele tipo de reunião social, sempre me sentia excluída. Imaginei que estar num século que não era o meu não tornaria as coisas mais fáceis para mim.

Joe se esforçou para me deixar à vontade, me conduziu pela sala até onde estava Elisa e imediatamente me apresentou as pessoas com quem ela conversava animadamente. Tentei guardar alguns dos nomes, parecia importante para Joe que seus amigos me conhecessem. Esforcei-me muito para não envergonhá-lo dizendo besteiras e gírias. Por experiência, me limitei a perguntas educadas. Como vai você? Linda noite,
não? Na verdade, estava linda apenas dentro de casa, parecia que vinha chuva pesada ainda naquela noite.
Admirei os vestidos brilhantes e cheios de plumas — tão diferentes do meu — e me perguntei se a tal gaiola era mesmo tão desconfortável quanto parecia. Nenhuma das mulheres pareciam incomodadas e, a julgar pelo diâmetro das saias, elas seguramente usavam a gaiola. Pensei que estivessem tão habituadas a ela que nem se importavam mais.
A sala imensa estava praticamente vazia de mobília. Sobraram apenas algumas cadeiras, um sofá pequeno e uma mesa grande com muita coisa sobre ela: castiçais, os talheres que ajudei a polir, taças de cristal, pratos e muita comida. Vários tipos de carne assada, batatas e legumes, bolos delicadamente decorados, frutas e pães se espalhavam sobre a mesa. Uma tigela contendo um líquido rosa e pedaços de alguma coisa me
chamou a atenção. Descobri mais tarde que se tratava de um ponche, feito com vinho tinto, conhaque e maçã picada. Eu ainda preferia chope, mas o ponche até que era bom.

Uma pequena banda no canto da sala afinava os instrumentos.

Conversei um pouco com a família Albuquerque. A mãe de Valentina não pareceu muito feliz ao me ver usando um bonito vestido. Valentina, contudo, foi mais educada e elogiou o trabalho de madame Georgette, mas seu rosto estava triste e eu sabia o motivo. Não importava onde ou com quem Joe estivesse, ele simplesmente não tirava os olhos de mim. Não fui a única que notou isso.

Senti-me mal por Valentina, mas também por mim. Nenhuma de nós duas conseguiria o que queria. Ela pertencia àquele século e queria Joe, mas não o tinha. Eu tinha Joe, mas não pertencia àquele tempo.
Talvez, quando eu fosse embora, ela pudesse consolá-lo. Quem sabe ele não acaba se apaixonando por ela e me esquece pra sempre...

Meu coração afundou no peito.

A banda — ou seria pequena orquestra? — começou uma música animada. O violino vibrante contagiou as pessoas, que se puseram em fila, homens de um lado, mulheres de outro. Fiquei olhando com incredulidade, esperando que alguém gritasse:

Óia a cobra! É mentira! Mas é claro, ninguém fez isso.

A dança era familiar, meio parecida com a quadrilha que eu conhecia, só que séria, sem brincadeiras. Fiquei observando como homens e mulheres sabiam todos os passos, sem errar nada, como num balé. Imaginei que ensinassem isso no colégio.

Vi Elisa dançando com um carinha a quem fui apresentada mais cedo. Talvez seu nome fosse Lucas, mas eu não tinha certeza. Ela parecia radiante e o rapaz não tirava os olhos dela.

Uma mão quente e grande tocou meu ombro. Senti um arrepio subir por minhas costas. Eu sabia dizer exatamente quem era o dono daquela mão antes mesmo de me virar.
— Me daria a honra da próxima dança, senhorita? — Joe perguntou sorrindo.

O rosto de Valentina desmoronou, mas ele não notou. Eu não queria magoar ninguém, nem mesmo Valentina, que mal vi duas ou três vezes na vida, mas seus olhos tristes me encheram de culpa. Só que eu também o amava, e não tinha culpa disso, aconteceu naturalmente, sem que eu me desse conta, e agora era tarde demais para voltar atrás. A culpa era daquela vendedora-macumbeira que me mandou para aquele
século sem bilhete de volta. E agora eu interferia cada vez mais na vida das pessoas dali.

O conflito interno já estava me deixando maluca.

Não seria possível simplesmente ser feliz sem magoar ninguém, sem me sentir culpada?

— Joe, eu não sei dançar assim! — fiquei apavorada com a ideia e muito  desconfortável com o olhar de fúria que Senhora Albuquerque me lançou quando, sem  pensar, o chamei pelo nome. 
— A próxima dança será uma valsa, — explicou carinhoso um sorriso nos lábios  perfeitos. — Acho que se sairá bem nessa, é bem simples. 

Mordi o lábio. Queria muito ficar perto dele outra vez, mas ainda estava  esperando que Santiago aparecesse. Já estava impaciente com sua demora. Se era para  resolver tudo logo, eu não queria mais esperar. Queria saber tudo para poder seguir com  minha vida e aproveitar o tempo que tivesse ao lado de Joe.

Encontrei seus olhos negros suplicantes e não pude dizer não a ele. 

— Tá bom! Mas já vou logo avisando que eu não sei dançar valsa. Tenho certeza que  vou acabar esmagando seu pé. 

Ele riu abertamente. 

— Creio que sobreviverei a isso! 

Eu ri também. 

Quando a quadrilha acabou, Joe pegou minha mão e colocou gentilmente em seu  braço, parecendo muito orgulhoso de me conduzir até o centro da sala, como se eu fosse  a pessoa mais especial do mundo. Sacudi a cabeça, sorrindo. Joe era incrível demais  para ser real!
Rapidamente, a sala se encheu de casais para a valsa. Quando a música  recomeçou vi os casais flutuando pela sala. Entrei em pânico. 

— Basta me seguir, Demi. Veja? — ele tentou me conduzir. Tentei seguir seus  passos e, como havia prometido, acabei pisando no seu pé. 

— Desculpe, Joe. — senti meu rosto esquentar. 
— Não se preocupe. Agora relaxe e sinta a música. — tentei relaxar. Suas mãos  em minhas costas nuas me acalmavam um pouco. 
— A valsa é uma dança muito íntima. — ele me puxou delicadamente para mais perto. — Significa deslizar, girar. Imagine que estamos sozinhos aqui, apenas você e eu. Relaxe e confie em mim. — sua voz rouca e baixa me trouxe a recordação de outros  momentos íntimos. Momentos em que confiei nele cegamente. Arrepiei-me com a  lembrança e, quando ele sorriu para mim com ternura, com paixão, soltei todas as minhas amarras e deixei que ele me guiasse, sem me importar com mais nada.  Ainda esmaguei seu pé mais uma ou duas vezes, mas acabei pegando o jeito  depois de um tempo. Provavelmente, não flutuava como as outras mulheres, mas estava  começando a me divertir muito. Rodopiamos pela sala algumas vezes. 

— Quem dera Storm cedesse às minhas súplicas assim tão facilmente! — ele  disse depois de alguns giros. 
— Está me comparando a um cavalo? — fingi estar ofendida. 
— Não com um cavalo. Com Storm. — ele sorriu. — Acho que vocês dois tem a  mesma expressão nos olhos. A mesma liberdade cravada na alma. 
— Liberdade! — zombei. — Minha alma já não me pertence mais.

Como posso  ser livre?


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Hey meninas,tudo que eu posso dizer sobre o proximo capitulo é : MUITO,MAIS MUITO TENSO,E QUE SANTIAGO É MUITO MAIS MUITO PERIGOSO.
Espero que gostem,um beijão
Nath

Perdida #42

Joe saiu primeiro para se certificar de que o corredor estava realmente vazio. Saí logo em seguida, indo na direção oposta. Tive que explicar para uma Elisa muito preocupada que me perdi na fazenda tentado encontrar o riacho sozinha e que, depois de andar por horas, consegui encontrar o caminho de volta para a casa. Meu rosto queimou de vergonha por mentir para ela. Passado o alvoroço do meu suposto desaparecimento um novo recomeçou o dos preparativos para o baile. Ajudei Elisa com a retirada dos vasos e enfeites da sala de visitas. Os empregados retiraram a maior parte da mobília. Poucos móveis permaneceram ali. Precisaremos de espaço para a dança, ela disse. Uma grande correria, parecida com a de compras de presentes de natal de ultima hora, dominava todos os habitantes da casa. Mal vi Joe durante o almoço. Estava atarefado demais explicando a Gomes tudo o que deveria ser feito. Mas no breve
instante em que nos vimos — ele gentilmente se ofereceu para acompanhar Elisa, Teodora e eu até a sala depois do almoço e estrategicamente, deixou que as duas garotas fossem na frente para ficar ao meu lado e segurar minha mão furtivamente, — o sorriso que não deixava seu rosto me garantiu que eu não tinha cometido o maior erro da minha vida. Na verdade, tinha cometido o maior acerto da minha vida!
Não o vi pelo resto do dia. E desisti de vez de ter a tal conversa com ele antes do baile, já que Elisa disse que era hora de nos vestirmos.

Tomei um longo banho. Aquela noite seria importante. Joe saberia de tudo. Eu não esconderia nada dele. E  então, por acaso, me lembrei da existência de Santiago. Ele saberia a forma de voltar? Eu teria que voltar logo também? Agora que sabia qual era a minha jornada, ele teria alguma informação que serviria para alguma coisa? Sequei meu cabelo o melhor que pude, deixei a toalha embrulhada na cabeça para terminar o serviço. Peguei minha maquiagem e caprichei no visual: olhos esfumados — em um degrade suave de cinza claro ao cinza escuro — blush, camadas e mais camadas de máscara nos cílios e batom cor de boca. Não era bem o estilo da época, eu sabia disso, mas queria me sentir bonita, estar bonita para Joe, e aquela maquiagem deixava qualquer mulher maravilhosa, não importava a roupa que ela usasse.

Que era o meu caso.

Na bagunça dos últimos dias, acabei me esquecendo de olhar o vestido. Não tinha a menor ideia do que esperar. Peguei a grande caixa, soltei a fira e retirei a tampa. Levantei cuidadosamente o vestido de cetim branco. Minha boca se abriu de surpresa. O vestido era fantástico: sem alças, com a saia menos ampla que os vestidos que eu tinha. No fundo da caixa, encontrei um tipo de saia longa com varias camadas de babados. Aquilo dava para usar! Encontrei também um par de luvas brancas. Apressei-me em vesti-lo — como qualquer outra garota normal faria —, ansiosa para ver o resultado. O espelho de meio corpo não mostrava toda a silhueta, recorri ao vidro da janela, que era grande o bastante para poder me ver de corpo inteiro, já que a noite escura o transformara num espelho perfeito.

Gostei muito do vestido. Ele aderiu perfeitamente ao busto e à cintura, abrindo levemente na saia, mas não uma saia rodada, apenas não era colada ao corpo. Não tinha todo aquele franzido na cintura. Seis pequenas pregas desciam do decote transversalmente até a lateral da cintura — onde uma delicada flor de pedras prateadas dava o acabamento — e continuavam ininterruptas, alargando-se gradualmente até
alcançarem a barra do vestido. Na verdade, lembrava muito um vestido de noiva moderno. Era maravilhoso! Calcei as luvas longas e rodopiei em frente à janela para me ver de todos os  ângulos. Fiquei feliz com o que vi ali, se desconsiderasse o pano enrolado na minha cabeça, claro. Usei os grampos que Elisa me emprestou — muito maiores que os que eu estava acostumada a ver nas perfumarias, ela os chamou de forquilhas. — e fiz o único penteado que sabia, um coque baixo, com a franja lisa caindo lateralmente na testa, terminando atrás da orelha. Usei um pouco de espuma de sabonete para fixar os fios
rebeldes da franja. Deixou o cabelo um pouco duro e meio opaco, mas eu não tinha gel ou pomada ou qualquer outra coisa para dar acabamento.

Olhei-me na janela mais uma vez e gostei muito do resultado final. Estava pronta e extremamente ansiosa para ver Joe outra vez. Entretanto, não precisei ir muito longe para isso. Assim que abri a porta, dei de cara com  ele esperando por mim no corredor. Perdi o fôlego assim que o vi. Vestia um smoking preto com o da noite da ópera, mas o colete branco substituía o preto e a gravata também branca. O cabelo penteado
para trás brilhava intensamente. Talvez ele usasse alguma coisa nos cabelos, afinal teria que me lembrar de perguntar a ele sobre isso.
Joe  arregalou os olhos e sua boca se abriu enquanto me analisava, observando cada detalhe do vestido, do meu rosto, do cabelo, atentamente. Um sorriso enorme brincou em seus lábios. Sorri também um pouco constrangida, mas muito satisfeita.
— Eu... Eu... Você... Nossa!
— Obrigada. — deixá-lo sem fala era melhor que qualquer outro elogio. — Você está lindo!
— Você está... Como foi que disse outro dia? Ah, sim! Você está um arraso! — e tocou a lateral do meu rosto delicadamente. — Mas acho que falta alguma coisa? — sua testa se enrugou e ele colocou a mão no queixo, fazendo uma expressão divertida.
— Ah! — ergueu o dedo indicador como se tivesse tido uma grande ideia. Lentamente, Joe  levantou a mão que escondia atrás das costas e me mostrou uma flor. Um lírio branco perfeito. Quebrou o talo da flor, deixando apenas um cabinho curto, e a prendeu em meu coque com muita delicadeza. Depois voltou a me observar.
— Agora está perfeita!

Eu ri de sua cara de bobo.

— Pare de me olhar desse jeito. Ainda sou a mesma garota de sempre, só que  com o cabelo menos desgrenhado. — ele sacudiu a cabeça negando, então levantei o  vestido mostrando meus tênis vermelhos como prova. 

Joe não conseguiu conter o riso, depois fingiu estar irritado, mas os cantos de  seus lábios teimavam em subir. 

— Posso perguntar por que não comprou um sapato para combinar com este  lindo vestido, senhorita Demetria? 
— Sabe que nem pensei nisso? — dei de ombros. — Além do mais, eu gosto  ndestes. Quando o baile terminar, meus pés ainda estarão inteiros, não estarão doloridos e  ncheios de bolhas. 

Ele assentiu. Um sorriso malicioso apareceu. 

— Realmente, prefiro que seus pés estejam bem está noite. Ainda teremos que  nconversar quando o baile acabar. — aquele brilho prateado se espreitou em seus olhos. 

Sua expressão divertida me dizia que ele tinha outro tipo de conversa em mente. 

— Mas conversar de verdade! É importante, Joe. Muito importante. 

Ele ficou sério, a diversão esquecida. 

— Eu também preciso conversar com você sobre uma coisa importante! 
— Importante? — perguntei apreensiva. Seu rosto estava sério, os olhos  ansiosos. — Que tipo de coisa importante? 
— Do tipo muito importante. — e sorriu um pouco. 

Fiquei mais aliviada, fosse o que fosse, não deveria ser nem um problema. 

— Beleza! Mas eu quero te contar minha história antes de mais nada! Você  precisa saber de onde eu vim de uma vez por todas. Já tô ficando maluca com esse  segredo todo! 
—Quero muito que me conte toda sua história, Demi. Talvez... talvez eu possa...  ajudá-la ou conheça alguém... que possa... — ele começou irrequieto. 
— Não, Joe. — interrompi. Pelo esforço com que ele proferiu as palavras, ficou  claro que não tinha a menor intenção em descobrir como me mandar de volta para casa.  Eu sorri. — Ninguém aqui pode. Talvez o tal Santiago saiba alguma coisa, mas isso, eu  vou descobrir hoje. 

Seu rosto ficou infeliz.



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Hey meninas,como vão? to meio desanimada,depois do capitulo 44 eu vou da um tempo na maratona,postarei sempre,mais não como na maratona,e esse baile ta cheio de surpresas,Santiago é um maluco so pra avisar. Espero que gostem,grandes coisas estão por vir nos proximos 2 capitulos.
Curtam,comentem,kibem,deixem a opinião de vocês
Beijões,Nath

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Perdida #41

Acordei com uma batida na porta. Demorei em entender onde eu estava. Olhei em volta e vi Joe — com seus braços ainda me envolvendo — dormindo ao meu lado. Eu ainda estava em seu quarto.

A batida se repetiu.

— Senhor Clarke? Preciso muito de sua ajuda, senhor. Por favor, abra a porta. — a voz abafada de Gomes suplicava.

Ah! Merda!

— Estou ficando preocupado, patrão, se não abrir, eu vou arrombar! —ameaçou.

Droga! Droga! Droga!

Joe não se moveu. Dormia profundamente. Toquei seu braço, apavorada.
— Joe, acorde! — sussurrei. Ele não se moveu. — Joe acorde, por favor! — sacudi com mais vigor.

Se Gomes arrombasse a porta e nos visse juntos, não poderia mais fingir como fez quando nos flagrou aos beijos no corredor e a casa toda saberia. Seria um escândalo, bem no dia do baile especial de Elisa. Isso não podia acontecer! Sacudi Joe outra vez,com um pouco mais de força. Ele piscou os olhos algumas vezes, depois focalizou meu rosto e sorriu.

— Bom dia, senhorita. — murmurou com a voz rouca, me puxando para mais perto. Percebi que ele todo havia despertado.

Tum! Tum! Tum!

Seus olhos se arregalaram e ele rapidamente se sentou na cama.

— Estou avisando, Senhor Clarke, vou invadir este quarto se não abrir esta porta!
— Errr... Espere um minuto, respondeu aturdido.

Rapidamente Joe já estava de pé, colocando as calças apressadamente e me olhando com cara de pânico.

— O que vai fazer? — sussurrei.
—Tentar me livrar dele, — sussurrou de volta, pegando a camisa do chão. — Não se mova.

Eu concordei com a cabeça. Não dava para sair por outro lugar que não fosse pela porta. A janela era alta demais e a queda certamente deixaria alguma coisa — ou muitas — quebrada em meu corpo.
Joe foi em direção à porta, tropeçou em alguma coisa no caminho (meu All Star), recolheu habilmente todas as minhas roupas e as atirou no canto oposto ao da porta, abriu apenas o suficiente para que pudesse passar por ela e voltou a fechá-la.

Fiquei imóvel. Tentei ouvir o que diziam.

As coisas estavam ficando cada vez piores!

Gomes alertou Joe que eu havia desaparecido. Pela manhã, um dos empregados notou que a porta do meu quarto estava aberta e que eu não estava dentro dele, minha cama estava arrumada. Vários empregados estavam me procurando por toda a propriedade, mas ninguém tinha noticias minhas.

Claro que não tinham!

Joe fingiu surpresa e eu mordi o lábio para não rir de seu falso assombro. Em seguida, garantiu a Gomes que me encontraria ainda antes do almoço, apenas precisava trocar de roupas antes de sair. Sugeriu que Gomes desse uma olhada na sala de leitura, já que Elisa lhe contou que eu era fascinada por livros.

Depois de fechar a porta e esperar um momento, correu até a cama e se sentou ao meu lado.

— E agora, Joe? — me apoiei em um cotovelo e prendi o lençol branco com os braços. — Como vou sair daqui? Eu te arrumei um problemão!
— Na verdade, isso aconteceu quando a vi pela primeira vez! — brincou tocando meu queixo.
— Não tem graça! — e não tinha mesmo, era a mais pura verdade. — Como vou sair daqui sem que me vejam?

Suas sobrancelhas arquearam e um sorriso muito significativo surgiu em seus lábios.

— Então não saia nunca.
— Tô falando sério! — ralhei. — Que horas são agora?

Ele tirou o relógio do bolso preso à calça por uma corrente dourada.

 — São exatamente dez e meia.
— Dez e meia? — levei as mãos a testa. A casa inteira estava acordada há horas!

Por que não escapei durante a madrugada enquanto todo mundo ainda dormia? Por que permiti que Joe me abraçasse daquele jeito — me prometendo que não dormiria — ao invés de voltar para o meu quarto? Era óbvio que acabaríamos desmaiando de exaustão, depois de fazermos amor durante quase a noite toda.

Sentei-me na cama, prendendo o lençol mais firme, e suspirei frustrada. Nenhuma ideia mirabolante apareceu para me livrar da enrascada.

Percebi que Joe me encarava.

— O que foi? — passei a mão pelos cabelos pra ter certeza de que não estava a cara da Medusa.
— Você está linda! — sua voz suave, os olhos intensos, — Apenas quero me lembrar deste momento. — ele tocou meu cabelo e, delicadamente, colocou uma das minhas ondas atrás da orelha. Entendi o que ele quis dizer. Queria se lembrar daquele momento quando eu já não estivesse ali. E imediatamente me lembrei do motivo que me levou até seu quarto na noite passada.
— Caramba, Joe! Acabei não te contando o que eu vim te contar! — eu disse meio enrolada.

Ele riu. 
— Eu também tenho um assunto de máxima importância que preciso discutir  com você, senhorita, mas teremos que adiar ou, caso contrário, seremos obrigados a nos  explicarmos aos criados e a Elisa. Aposto que se eu não sair daqui logo, Gomes voltará  e, desta vez, entrará no quarto a força como prometeu! 
Franzi a testa. 

— Promete que vamos conversar ainda hoje? É importante! 
— Prometo. — afirmou solene. 

Concordei com a cabeça. Joguei o lençol para o lado e me levantei na intenção  de pegar minhas coisas e sair dali sorrateiramente, mas Joe foi mais rápido. Seus braços  de serpente me puxaram e eu estava, de repente, em seu colo. 

— Não sei se gosto da ideia de deixá-la sair deste quarto. — eu já sabia bem o  que aquele brilho em seus olhos significava. 
— Joe, você mesmo disse que Gomes... — mas não pude terminar, sua boca me  impediu. E, quando uma de suas mãos começou a traçar uma trilha de fogo dos joelhos  até minhas coxas, pensei que não teria problema se eu me demorasse só um pouco, só 
mais um beijo. 
— Você precisa se vestir. — ele disse, ao mesmo tempo em que me abraçava mais firmemente. 
— Assim que você me soltar. — sussurrei, me agarrando a ele. 
— Acho melhor se vestir de uma vez. 
— Tudo bem. — murmurei desanimada, tentando me soltar dele, mas sua língua  invadiu minha boca, bagunçando minha capacidade de raciocinar. 

Ele me beijou até que, de repente, me deitou na cama, sua boca deslizando por  meu pescoço até alcançar meu coração já acelerado e querendo sair do peito, como era  de se esperar. Perdi o controle da situação. 

O que eu tinha que fazer mesmo? 
Decidi que, seja lá o que fosse que eu tinha que fazer, poderia esperar só mais  um pouquinho...


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Heey meninas,arrumei um tempinho e postei rapidãaao,kkkkk,ta chovendo muito aqui na minha cidade e o sinal da net cai as vezes,olha o que eu posso dizer agora,é que eles ficaram juntos,mais antes muita agua vai rolar debaixo da ponta kk.
Beijões,Nath

Perdida #40

Sua boca devorava a minha e suas mãos grandes e firmes me apertavam freneticamente. Fiquei sem ar. Ele percorria as curvas de meu corpo, fazendo minha cabeça girar, libertando o desejo insano que estava adormecido dentro de mim. Até aquele instante, eu tive apenas uma amostra, apenas um vislumbre do quanto eu o desejava. Uma verdadeira explosão ocorreu dentro de mim, consumindo e transformando tudo que encontrou pela frente. Mudando o meu eu, alterando minha essência. Fui incapaz de resistir ao impulso de abrir sua camisa com violência, arrancando alguns botões em minha urgência. Assim que me livrei do tecido, deslizei minhas mãos em seu peito duro, sentindo o calor de sua pele — tão quente como se estivesse em chamas — afugentar todos os meus temores. Naquele instante, éramos apenas eu, Demi,
e ele, Joe. Nada mais.

Eu arfava sob seus lábios, mas não permiti que os afastasse de mim. Ele também respirava com dificuldades, mas não pareceu se importar com isso, ao contrário, me beijava com tanta fúria, suas mãos tão urgentes, que cheguei a temer que meu vestido tivesse o mesmo destino que sua camisa. Contudo, Joe foi gentil e abriu delicadamente os pequenos botões em minhas costas. Seus lábios deslizaram em meu pescoço, assim
como suas mãos deslizaram em minha clavícula até alcançar os ombros, fazendo o vestido escorregar e cair no chão. Joe ergueu a cabeça para me olhar sob a fraca luz do candelabro. Não encontrei vestígio algum de vergonha ou constrangimento dentro de mim. Ao invés disso, quando seus olhos esfomeados percorreram cada linha de meu corpo e o sorriso malicioso que eu adorava surgiu em seus lábios, uma onda de prazer me sufocou completamente. Ele deslizou suas mãos suavemente por meus braços até alcançar as minhas, e a necessidade que eu sentia dele me tomou por completo. Lancei-me contra ele e esmaguei sua boca
com desespero, enquanto seus dedos febris percorriam lentamente as curvas de meu corpo, enviando pequenas ondas de eletricidade até o centro dos meus ossos. Tão rápido que não pude ver como, Joe passou um dos braços por trás dos meus joelhos, me pegando no colo e me levando até a cama. Colocou-me delicadamente sobre ela, cobrindo rapidamente meu corpo com o seu. Sentir o peso dele sobre mim era quase insuportável. Seus lábios exploraram meu corpo — cada milímetro dele. Joe olhou com curiosidade para minha calcinha — calcinha de verdade, para minha felicidade, não uma feita de tecido velho — mas não disse nada enquanto a arrancava. Assim que todas as nossas roupas estavam no chão, observei minuciosamente seu corpo, iluminado apenas pela luz das velas. Era ainda mais delicioso do que eu havia imaginado! Os músculos bem definidos sob a pele clara, o cabelo negro e macio emoldurando seu rosto perfeito, os olhos famintos de desejo brilhando prateado, como se fossem duas estrelas... Pude admirar cada detalhe, cada aspecto dele. E, realmente Joe tinha aspectos enormes para serem admirados.
Ele voltou a me beijar, suas mãos me acariciando de forma tão intensa, tão urgente que não pude mais suportar. Movimentei meu corpo sob o dele, procurando... Ele notou minha investida e se moveu instintivamente permitindo que eu o alcançasse. E quando finalmente — finalmente! — nossos corpos se uniram num encaixe perfeito, pensei que pudesse literalmente chorar. Ter Joe dentro de mim foi a experiência mais prazerosa, mais intensa e indescritível que eu havia experimentado até então. Cada parte de mim até mesmo as mais pequenas — se transformava enquanto ele me beijava, me tocava, me possuía.
Ele não apenas possuía meu corpo, mas também minha alma, com o mesmo ímpeto e desespero. Senti sua alma se fundindo com a minha, numa união sem retorno.

— Demi... — ele murmurava vez ou outra em minha pele.

A onda de prazer se aproximou rápida e intensa. Agarrei-me ao seus ombros, a única coisa estável no turbilhão de sensações. Ele notou quando acelerei o ritmo e correspondeu com a mesma intensidade. Fiquei à deriva por alguns segundos, logo em seguida, fui tomada pela violenta explosão de cores reluzentes. Segundos depois, ouvi Joe gemer e depois desabar sobre mim.
Ficamos ali por um tempo, arfando e flutuando na imensidão de sensações e sentimentos, tentando normalizar nossa respiração, tentando nos conectar ao planeta outra vez.
Jamais havia sentido algo tão forte, tão grandioso quanto naquele instante. Nunca havia me conectado a alguém de forma tão intensa — de corpo e alma — como naquela noite. Nunca havia sentindo tanto prazer, tanta paixão, tanta sincronia. Era como se existíssemos apenas para completarmos um o outro.
Tudo se uniu dentro de mim enquanto o amor que eu sentia por ele se acomodava em cada célula do meu ser. Então, como se uma cortina fosse retirada de meus olhos, eu soube.
 Naquele exato momento, eu soube o que procurava. Eu soube o que realmente queria. E soube o que eu tinha que encontrar ali.

Joe.

Joe era a resposta para todas as minhas perguntas. Eu não tinha mais dúvidas quanto a isso. Era por ele que eu procurava — a vida toda —, sem nem mesmo saber que procurava. Era ele que eu queria, de forma desesperada, pra toda vida. E era ele a minha jornada ali, minha missão.
Seu rosto ainda enterrado em meu pescoço e sua respiração quente em meus cabelos foram as únicas coisas que me fizeram acreditar que tudo foi real. Que aquele momento mágico realmente existiu.

— Nossa! — ele disse ainda sem fôlego. — Então, isso é o paraíso!

Eu ri.

— Não acredito que permitam esse tipo de coisa por lá. — eu também respirava com dificuldade.

Ele riu, seu corpo sacudiu o meu levemente.

— Acho que tem razão. O que eu quis dizer é que não imagino que exista algo mais extraordinário que isso.

Pensei um pouco sobre o que ele disse, ainda sentindo a letargia provocada pelo êxtase. Meu cérebro demorou para fazer a ligação, mas quando o fez, meus olhos se arregalaram com horror.

— Joe? perguntei aflita.
— Sim?
— Já esteve com outras mulheres? — ele tinha que ter tido outras, não tinha?

Ele hesitou por um momento. Talvez não quisesse me magoar dizendo números absurdos.

— Bem... — levantou a cabeça para me olhar nos olhos, então eu soube a resposta antes mesmo que ele a dissesse. — Esta foi a primeira vez.
— Ah! Não!
— As coisas são diferentes por aqui, Demi. Não é comum acontecer... o que acabou de acontecer. Não sem terminar em casamento. — ele deu um meio sorriso.

Ah! Droga! Eu vou direto pro inferno! Sem direito a escala no purgatório! Droga!

— Joe, me desculpe! Eu não imaginei que... Eu não tinha como... Você parecia tão seguro! Eu...
— Shhhh — ele colocou um dedo sobre meus lábios. — Não se desculpe. Não pode se desculpar por me dar a noite mais magnífica de minha vida. Eu a proíbo!
— Mas... — tentei dizer.
— Não! Não fiz nada que eu não desejasse. Justamente o oposto! — então, suas pupilas dilataram, a chama prateada retornou e notei que parte dele começava a ganhar vida outra vez. — E vou fazer exatamente o que quero fazer mais uma vez!

Sua boca grudou na minha e uma carícia nova e atrevida me tirou o fôlego. Não demorei muito para esquecer minha aflição e entrar no clima. Na verdade, não demorei nadinha!
Fiquei deitada na cama, tentando respirar. Imaginei que não pudesse existir uma noite mais perfeita que aquela. Aquela noite foi a primeira vez que Joe fez amor — as duas primeiras vezes para ser mais exata, ele tinha muita fome! — mas também foi a minha primeira vez. Não a primeira transa, claro, mas a primeira vez que realmente fiz amor.

E foi incrível!

Minha cabeça vagava sem destino, vazia de pensamentos finalmente em paz.

— Em que está pensando? — Joe perguntou com a voz um pouco mais  controlada, tocando meu cabelo. 
 — Em nada. Estava ouvindo uma música. — eu disse preguiçosamente enquanto  brincava com os pelos de seu peito. 
— Ouvindo? — zombou ele. 
— É, ouvindo! — sorri de olhos fechados, me deleitando com as novas e  deliciosas sensações que Joe tinha me proporcionado. — Não ouvindo de ouvir, mas  tipo pensando nela, lembrando dos acordes, da letra. 

Levantei a cabeça de seu peito para poder vê-lo. Seu rosto estava feliz. Exultante  na verdade, e indescritivelmente lindo. 

— Eu já ouvi? 
— Não, tenho certeza que não! Mas aposto que você ia gostar também. É de  uma banda incrível, fez um sucesso estrondoso no MySpace. Essa música é uma das  minhas favoritas. Acho que é perfeita! 

Apoiei meu queixo em seu peito e continuei brincando com os pelos  encaracolados. 

— Cante para mim, então. — pediu com doçura. 
— Ficou doido? 
— Por favor? — implorou com a voz macia. 
— Nem pensar! Eu canto muito mal! — exclamei horrorizada. 
—Não me importo com isso. — um sorriso brincalhão apareceu em seu rosto. —  Queria poder conhecer as coisas que você tanto aprecia... Como vou conhecê-las se  você não me mostrar? 
— Joe, de verdade, eu não sei cantar! 
— Por favor, Demi? — suplicou. 
— Mas é em inglês!— tentei fazê-lo desistir da ideia. 
— Acho que posso acompanhar. — seus olhos intensos me coagindo. — Por  favor, deixe-me entendê-la melhor! 

Suspirei. Não dava para negar nada a ele quando me pedia daquele jeito! Deitei  minha cabeça em sua barriga chata, tentando esconder meu rosto, tornei a fechar os  olhos e cantarolei baixinho, enquanto sua mão brincava em meus cabelos. Quando  terminei, ele suspirou. 

Tive que olhar para ele. 

— Eu te avisei que não sabia cantar!

Ele sorriu e, depois de alguns segundos seu rosto ficou muito sério. Meu coração  disparou assim que li o que estava escrito em seus olhos. 
— Eu a amo, Demi. 

Meu corpo reagiu imediatamente, meu pulso se acelerou, meu coração disparado  feito uma britadeira e cada parte de mim parecia ter virado gelatina. Arrastei-me sobre  ele com dificuldade até alcançar seu rosto, o segurei entre as mãos. 

— Eu te amo, Joe. Não importa para onde eu vá, nem quanto tempo passe. Vou  te amar pra sempre! — prometia olhando para as profundezas de seus olhos negros. E  eu sabia, que nunca, jamais amaria outro alguém. 

Uma de suas mãos se enroscou em meus cabelos, me puxando delicadamente  para mais perto. 

— Para sempre. — concordou, me silenciando com seus lábios. 

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MENINAS,ESSE ERA O HOT,E EU LERDEI NO CAPITULO ANTERIOR,ME DESCULPEEEM.
Espero que voces tenham gostado do capitulo suas gatonas,deixem a opinião de voces hein,o baile da chegando,a historia ta chegando no fim e eu não faço a menor ideia do que fazer depois que perdida acabar,vocês poderiam me ajudar ne? Deixem sugestão também? Por favoor?
Comente,curtam,kibem,deixem a opinião de voces. Um bom começo de semana.
Beijão,Nath
#ps : não sei se vai dar pra postar ainda hoje,mais tentarei.