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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Perdida #15

Sorri para ele, encantada por sua bondade. Valentina, porém, não sorriu. Seus olhos faiscaram.

Oh! Ela gostava dele! Meu sorriso desapareceu.


— Eu sei, Jo... Senhor Clarke. E agradeço a sua hospitalidade. — murmurei sem jeito.

Um momento de silêncio constrangedor se seguiu, ninguém disse nada. Eu comecei a ficar inquieta. Estava perdendo tempo.

— Senhorita Valentina. — comecei com cautela. — Por acaso, não teria visto alguém... Novo por aqui?
— Alguém novo? Aqui? — ela pareceu espantada. —Não. Ninguém novo na vila, além de você, senhorita Demetria.

Talvez ela não soubesse ainda. Assim como não sabia da minha chegada até alguns minutos atrás. Suspirei desanimada. Obviamente, não seria assim tão fácil encontrar a outra alma condenada àquele hospício cheio de regras de etiqueta!

— Bem, senhorita Valentina, — Joe disse, parecendo entender que eu queria continuar procurando. — Se nos der licença, eu e...
— Oh! Claro, Senhor Clarke, não quero interromper seus afazeres, mas posso perguntar se o baile de sábado está confirmado?

Joe olhou pra mim e depois para ela, parecendo indeciso.

— Eu havia me esquecido. Mas acredito que Elisa não tenha mudado de ideia. Até onde fui informado, o baile acontecerá no próximo sábado.
— Excelente! — ela disse, quicando e batendo palmas. — Estou muito ansiosa para o baile. Os bailes em sua residência são os melhores da região.
— Fico feliz que lhe agrade, senhorita. — e sorriu.

Pudera ela gostar dele! Cheio de sorrisos e bailes para agradá-la!

— Eu vou... perguntar por aí, Joe. Eu quero resolver isso logo. — notei que o sorriso de Valentina se fora quando sem pensar o chamei pelo nome. — Te vejo depois. Foi um prazer conhecer vocês duas. Até logo!

Sai andando, sem saber bem para onde ir. Estava irritada com aquela garota que se parecia com uma boneca de porcelana e que piscava sem parar. Ouvi Joe se despedir apressadamente.

— Você podia ficar batendo papo com elas enquanto eu procuro. Não precisa ficar me seguindo pra todo lado. — avisei assim que ele me alcançou.
— Não estou seguindo! Estou te acompanhando. Por que está irritada? — ele tentou pegar minha mão para colocar em seu braço e eu a puxei com força. — Foi pelo que disse a senhorita Valentina, sobre não haver ninguém de fora da vila?
— Foi! — menti. Mas eu não sabia dizer por que não havia gostado daquela fulana ou por que ela me irritou tanto. Talvez fosse TPM adiantada. Quem sabe os efeitos que uma viagem no tempo pode causar no ciclo menstrual de uma garota!
— Não se preocupe. Se mais alguém estiver aqui, vamos encontrá-lo. — ele disse, confiante.
— Eu espero que sim, Joe. — eu ainda estava um pouco irritada. — Espero que esteja certo.

Minha cabeça estava ficando cada vez mais confusa. Tudo ali era confuso. E, cada vez mais, eu não conseguia entender minhas reações exageradas.Andamos quase a manhã toda, perguntando a todos os conhecidos de Joe. Entretanto, não foram muitos. A maioria ainda estava na igreja. Não, ninguém novo na
vila, era a resposta de todos. Paramos para conversar com algumas garotas sorridentes e enfeitadas, que
lançavam olhares meigos para Joe e de fúria para mim. Teodora não mentiu quando disse que Joe tinha muitas pretendentes. Distraí-me diversas vezes com as fachadas rústicas do comércio e das casas e
com as maneiras das pessoas. Tudo parecia parte de um cenário gigante de um filme. Não conseguimos perguntar aos comerciantes. Era domingo, tudo estava fechado, apenas uma carroça vendia frutas e galinhas vivas.
— Talvez fosse melhor procurarmos amanhã. — Joe sugeriu, depois de algumas horas de andança.
— É — concordei desanimada. — Acho que dará mais tempo para notarem se alguém diferente apareceu por aqui.
— Podemos ir, então? Estou com um pouco de fome. Não consegui terminar meu café. — ele disse brincalhão.

Eu corei.

— Me desculpe, Joe. Não sei o que deu em mim naquela hora. É que eu estou numa situação meio... Difícil. Desculpe, de verdade.
— Não se preocupe senhorita. Já me esqueci do incidente. Vamos?
— Vamos. — concordei, aceitando seu braço sem relutância

Andamos em direção à carruagem e, dessa vez, ele se adiantou para abrir a portaantes que eu pudesse fazê-lo.
— Valeu. — agradecia aceitando sua mão como apoio para entrar nela.
— Direto para casa, Isaac. — ordenou ao rapaz que conduzia a carruagem.

Ficamos em silêncio por um tempo.

— O que achou da vila, senhorita Demetria?
— Pensei ter ouvido você prometer me chamar apenas de Demi. — lembrei a ele.
— Eu sei, mas não me parece muito educado!
— É irritante esse negócio de senhorita, Senhor Clarke. — brinquei com ele.

Seus lábios se abriram num sorriso enorme. Então, me lembrei

— Você tem muitas fãs por aqui. — tentei fazer minha voz soar indiferente.
— Perdoe-me, senhorita, tenho o que?
— Muitas fãs. Muitas garotas atrás de você. Muitas pretendentes. — foi impossível não notar seu constrangimento.

Ele corou. Pareceu não gostar que eu tivesse notado que era um ímã para garotas.

— São apenas amigas da família. — disse claramente desconfortável.
— Valentina parece gostar muito de você. — insisti.
— A senhorita Valentina e eu nos conhecemos desde a infância. Nossos pais sempre foram amigos. Mas não há nenhum interesse romântico envolvido. — sua vozestava baixa, assim como sua cabeça.
— Talvez não de sua parte. Você viu como ela me olhou? Pensei que fosse me comer viva!

Joe apoiou um braço no joelho e se virou para me encarar meio sorrindo.

— Isso é culpa sua, não minha! Creio que todos a olhavam. Não me lembro de alguma vez ter visto uma jovem sair de casa sem cobrir seus cabelos com um chapéu.

Hã?

— Uma dama jamais mostra seus cabelos soltos, assim como estão os seus agora, em público. — ele explicou, quando viu a confusão estampada no meu rosto.
— E você não pensou em me avisar sobre isso antes? — Lancei um olhar severo em sua direção.
— Depois de seu comportamento tempestuoso durante o café? — deu de ombros. — Nem que eu fosse louco! — e riu.

Fiquei observando seu rosto, completamente fascinada. Joe era lindo demais. Seus cabelos negros e encorpados caiam na testa fazendo um contraste perfeito com apele clara. Seus olhos, pretos como carvão, de alguma forma refletiam raios castanhos. Suas bochechas esticadas sobre os ossos do rosto e seu queixo o deixavam com um aspecto ainda mais másculo. Tudo isso sustentado por um corpo que faria qualquer garota perder o juízo. Poderia facilmente ganhar a vida como modelo. Percebi que Joe também me observava e, depois de nos encararmos por alguns segundos, me virei para a janela. De algum modo, seu olhar me perturbava e eu não conseguia encontrar uma explicação para isso. Ficamos em silêncio o restante da viagem. Às vezes, sentia seus olhos em mim, mas não me virei pra ter certeza. Não queria arrumar mais confusão e tinha certeza que olhar muito para Joe me colocaria numa tremenda confusão. Ele me ajudou a sair da carruagem assim que chegamos a sua casa. Ainda segurava a mão que ele me estendeu quando ouvi um barulho.

BSS. BSS. BSS.

Joe também ouviu.

— Escutou isso? — ele perguntou, procurando em volta.

Eu sabia o que era. Sabia muito bem!

— Não, não ouvi nada. — respondi rapidamente. — Eu... Eu... Preciso usar a casinha! Te encontro lá dentro, está bem?

Tentei sair correndo, mas a barra do vestido idiota enroscou numa planta. Praguejei alto, me abaixando para juntar toda a saia nas mãos, deixando meus joelhos e panturrilhas à mostra e disparei para a casinha. Não olhei para ver qual foi a reação de Joe . Entrei rapidamente tentando fechar o trinco da porta com as mãos trêmulas. 

Peguei o celular. A tela estava acesa, você tem 1 nova mensagem escrito nela.
Toquei a tela com o dedo. Ler agora? Apertei o SIM

"Muito bem, Demetria. Você iniciou sua jornada com sucesso."

Depois piscou e voltou a desligar
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Hey gente,tudo bem,mais um capitulo da maratona,eu não to muito animada hoje,então não vou falar muito,e então,espero que voces gostem,deixem a opinião de vocês ta? Se cuidem,ate amanha
um beijão da tia Nath

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Perdida#14

— Senhorita Demetria, podemos conversar um pouco? — Joe perguntou, todo educado, tirando minha atenção da janela da carruagem, quando já estávamos a caminho da vila.

Era a primeira vez que eu entrava em uma carruagem. Muito diferente do carro e muito diferente do que eu imaginava por “carruagem”. Quando era criança, eu fantasiava que era uma princesa indo para o baile dentro de uma daquelas, mas as minhas sempre eram enfeitadas e cheias de cor-de-rosa e dourado por toda parte. A carruagem de Joe, no entanto, era marrom, com quatro grandes rodas de madeira e duas
lamparinas pendiam nas laterais — imaginei que fossem os faróis. A cabine era fechada como uma caixa de fósforo, apenas duas pequenas janelas nas laterais, uma delas estava coberta por um tipo de cortina de tecido. Dentro dela, caberiam quatro ou cinco pessoas. Os assentos e as paredes eram forrados por um tecido grosso e estampado de fundo bege, uma minúscula lamparina em um dos cantos, que provavelmente servia para iluminar a pequena cabine em viagens noturnas. A viagem dentro dela era cheia de solavancos e lenta, mas supus que, num acidente de trânsito entre duas carruagens, não haveria vítimas fatais. Talvez os cavalos se ferissem.

— Claro. Sobre o que quer falar?
— Sobre hoje. — ele limpou a garganta. — Sobre o café da manhã.

Claramente, Joe estava constrangido. Suas mãos inquietas pareciam não saber onde queriam descansar

— Tudo bem — eu disse cautelosa. Não queria voltar ao assunto, especialmente por que não queria ficar irritada com ele. — Fala aí.
— Você disse — ele pigarreou outra vez e, então, começou a falar rapidamente.Para não perder a coragem, pensei, depois do que eu ouvi. — A senhorita disse algumas coisas que me deixaram confuso. Muitas palavras que não reconheci, mas algumas delas eu conheço. Fiquei espantado que uma jovem dama as conhecesse também — seus olhos se abriram um pouco mais. — E as usasse! Mas você disse algo que me deixou inquieto.

E ele estava inquieto, realmente. Imaginei que, se a carruagem fosse mais alta e ele um bom tanto menor, começaria a andar de um lado para o outro, como fazem nos filmes.
— E que coisa foi essa? — perguntei.
— Sobre ir para a cama com homens casados. — ele baixou a cabeça. Ficou mexendo nos joelhos da calça como se tivesse alguma coisa presa ali.
— Eu nunca fui, já disse! Não estou mentindo.
— Eu acredito, senhorita. Mas — ele continuava com a cabeça baixa, sua voz ficou um pouco abafada. — A questão é que me pareceu que a senhorita conhece bem o assunto. Ir para cama com um homem quero dizer. — sua voz diminuiu até um sussurro.

Oh! Esse assunto!

— E conheço. — eu tinha vinte e quatro, já conhecia há rio tempo.
— Foi o que pensei. — murmurou, levantando a cabeça olhando pela janela.

Eu não podia ver seu rosto, apenas seu pescoço e seus cabelos negros. Esperei que ele continuasse, mas ele não continuou.

—E você pensa que eu não deveria conhecer, acertei?

Ele se virou e me olhou nos olhos. Olhou profundamente. Senti a força deles me arrastando, exatamente como um ímã. A força era tanta que recuei um pouco, assustada.

— Certamente que não devia! Jovens solteiras não devem conhecer certos assuntos até que estejam formalmente comprometidas. — ele parecia muito irritado. Mais que isso, parecia furioso. — E quando digo formalmente comprometidas me refiro ao matrimônio.
— Joe... — minha voz estava um pouco rouca, com medo. Do que? Daqueles olhos? — Eu tenho vinte e quatro anos, sou solteira. O sexo faz parte da vida das pessoas com certa frequência. Onde eu vivo pelo menos é assim. E mesmo que eu não conhecesse na prática, minha mãe me explicou como tudo funcionava quando eu tinha onze anos.

— A senhorita conhece na prática? — temi que seus olhos fossem saltar das órbitas. Seus rosto se retorceu em desaprovação e... tristeza?
— Mas é claro, Joe. — talvez não fosse tão óbvio para um rapaz do século dezenove, mas eu não pretendia mentir para ele. Estava sendo muito gentil comigo, me ajudando desde que me encontrou. Ainda mais gentil por me ajudar, sem nem mesmo saber a história toda. — As coisas são diferentes por lá.

— Não gosto de como as coisas funcionam nesse seu lugar. E sua mãe fez muito mal. — sua testa estava vincada, suas sobrancelhas quase unidas. — Muito mal, realmente!
— De forma alguma! Acho que ela fez certinho. Uma menina precisa saber o que acontecesse com seu corpo na adolescência e para que servem as mudanças, ou o número de adolescentes grávidas seria maior do que já é.
— Há muitas delas grávidas? —ele parecia não acreditar no que ouvia.
— Sim, muitas. E, em sua maioria, por culpa de uma mãe negligente que não cumpriu seu papel de educadora, como fez a minha. — pensar em minha mãe sempre me acalmava. Como se ela pudesse, ainda, me acalentar.

Suspirei. Sentia uma saudade terrível dos meus pais.

— E a castidade? E a pureza? Não existe valores onde você vive? - perguntou indignado.

Eu ri.

— Ah, Joe! A virgindade não é tão importante desde mil.... Faz tempo! Eu não quebrei as regras. Acredito que ainda existam garotas virgens. Todas as de doze anos, pelo menos.
— Ouso dizer que esse lugar não é adequado para uma jovem viver!
— Bom, é adequado pra mim! — dei de ombros. — Não conhecia outra forma de viver até ontem. Gosto muito de lá. Espero conseguir voltar logo.

Joe estreitou um pouco os olhos.

— Creio que passar um tempo aqui possa lhe fazer algum bem. Novos costumes, novos conhecidos Talvez acabe gostando.

Duvido muito

— Bem, é claro que primeiro eu preciso encontrar um jeito de voltar, depois eu vejo isso.

Sabia que não conseguiria convencê-lo que sexo fazia parte da vida, assim como sentir sono ou sede. Ele devia ter sido criado pensando que garotas eram virgens até o dia do casamento, sem exceções à regra.

Ele voltou a olhar para a janela.

— Chegamos. — disse ele, depois de algum tempo em silêncio.

Era estranho demais olhar a cena. Ruas de pedras irregulares, construções sem cor e antigas — sem a ação do tempo, porém — homens vestindo casacas e com bengalas nas mãos, mulheres com vestidos antigos e bufantes, chapéus cheios de laços, sombrinhas rendadas nas mãos enluvadas. Até as crianças que vi pareciam sair de um quadro antigo, usando roupas demais para crianças. E cavalos. Muitos cavalos e
carruagens. Tudo estranho.

Eu ri. Era como se eu estivesse numa das histórias dos meus livros. Estava ansiosa demais para procurar pela tal pessoa, mal esperei a carruagem parar totalmente para descer. Joe suspirou ao meu lado, claramente insatisfeito. Imaginei que fosse por causa da conversa que tivemos.

Olhei para ele, seu semblante estava ofendido.

— Ao menos poderia esperar até que eu desça primeiro e abra sua porta? — reclamou irritado.

Oh!

— Eu... É que nunca... Ninguém nunca abriu a porta do carro... carruagem pra mim antes. Me desculpe, foi força do hábito. — sorri sem graça.

Ele suspirou novamente.

Eu não disse nada. Sabia que precisava me esforçar mais para não parecer um ET para as outras pessoas e não colocar Joe numa situação constrangedora, mas era muito difícil. Eu queria voltar logo para casa. Precisava voltar logo! Marisa devia estar maluca de preocupação com o meu desaparecimento repentino e, se eu não apareço no escritório na segunda de manhã...

— Onde deseja ir primeiro? — Joe perguntou, já ao meu lado.
— Não sei bem. Pensei que talvez pudéssemos andar por aí, perguntar sei lá. Honestamente, você não acha que se mais alguém como eu estiver de fato por aqui será meio fácil de identificar? 
— Muito fácil! — e sorriu. A irritação ainda não havia deixado seus olhos, mas ele parecia mais controlado agora. — Talvez possamos pedir informações a alguns comerciantes.
— Beleza! — ele me olhou confuso. Ah!— Beleza, bacana, jóia. — ainda confuso. Suspirei. — Que ótimo!

Eu precisava tentar me comunicar melhor. Gírias definitivamente não eram boa ideia.

Joe concordou com a cabeça e fez uma mesura com o braço. Era tão surreal! Eu tinha a impressão que, a qualquer momento, o Senhor Darcy em pessoa sairia de alguma daquelas portas de madeira acompanhando Lizzy Bennet.

— Senhorita? — chamou ele, quando eu já estava alguns passos à sua frente.
— Que foi? — me virei para ver o que eu tinha feito de errado desta vez, pelo tom reprovador que ouvi em sua voz.

Ele me alcançou e me ofereceu o braço em forma de L. Continuei olhando para ele sem entender.

Joe suspirou exasperado. Pegou gentilmente minha mão e a colocou na parte interna de seu cotovelo.
— Ah! — eu disse sem graça. — Precisa mesmo?

Eu me sentia um pouco estranha quando ele ficava perto de mim daquele jeito. Meio sem equilíbrio e inquieta, até meu estômago se comportava de forma anormal.

— Devo acompanhá-la. — ele disse sorrindo. Desviei os olhos porque, novamente, seus olhos pareciam puxar os meus em sua direção.

Dei de ombros, fingindo indiferença. Estava começando a ficar irritada com as reações de meu corpo, principalmente quando Joe me tocava.

— Como tem passado, Senhor Clarke? Não o vejo desde a semana passada! — cumprimentou uma garota de vestido rosa bebê, com cabelos muito loiros, cheios de cachos que pareciam ter sido feitos no babyliss sob o chapéu branco, um laço em seu queixo, acompanhada de uma mulher mais velha, talvez sua empregada, pelas roupas mais modestas. Elas inclinaram ligeiramente.

Joe se curvou também.

— Estou muito bem, senhorita Valentina. Estive fora em uma viagem de negócios. Voltei apenas ontem. Como tem passado? — um sorriso educado se espalhou em seu rosto.
— Estou muito bem, Senhor Clarke — ela piscava repetidamente,irritantemente. — Espero que tenha feito bons negócios. Fiquei alarmada por não vê-lo aqui no vilarejo. Pensei que talvez estivesse padecendo de algum mal! — e então me notou.

Avaliou-me de cima a baixo. Seus olhos se fixaram na minha mão no braço de Joe. Que ótimo, pensei. Então medir as pessoas era um mal muito mais antigo do que eu imaginava!
— Não me apresenta sua amiga, Senhor Clarke? — ela continuou, piscando muito.
— Mas é claro. Esta é a senhorita Demetria... — ele parou incerto de como continuar.
— Alonzo. Como vai? — estiquei minha mão para cumprimentá-la.

Ela olhou para a mão estendida, depois para Joe e de volta para mim.

Ah! Deixa pra lá.

— Alonzo? — Ian perguntou, suas sobrancelhas arqueadas.
— É. Meu bisavô era espanhol. Família de sangue quente sabe como é. Quando juntava todo mundo sempre acabava em briga. O Natal era um pesadelo! — brinquei.

Ele franziu a testa ainda mais.

— Err... Certo. Senhorita Demetria, esta é a senhorita Valentina de Albuquerque. Uma antiga amiga da família, e sua criada, senhora Veiga.
— Prazer em conhecê-la, senhorita Demetria. — ela se inclinou, me encarando de um jeito estranho. — Está hospedada em sua casa, Senhor Clarke?

— Sim. Ela está em uma... Viagem de descanso. — ele mentia muito mal. Até eu, que o conhecia há apenas um dia, percebi que sua voz se alterou quando mentiu.
— Mas eu vou embora logo. — assegurei a ela, que pareceu não gostar da novidade. — Só preciso resolver umas coisinhas e aí me mando.

Ela olhou para Joe  sem compreender.

Suspirei, cansada.

—Sabe que é bem-vinda em minha casa pelo tempo que desejar. — Joe me disse, gentilmente.

Sorri para ele, encantada por sua bondade. Valentina, porém, não sorriu. Seus olhos faiscaram.

Oh! Ela gostava dele! Meu sorriso desapareceu.
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        Hey meninas,como vão ? Como prometido mais um lindo capitulo hoje,espero que gostem e se tudo der certo amanha tem outro,fazer uma maratona é bem legal kkk,comentem,curtam,kibem,seila,mais realmente deixem a opinião de vocês,Joe e Demi vão começar a se entender,ja sentiram um sentimento entre eles? e um ciuminho da Demi? Hehehe,essa historia é muuito boa,Beijos ,boa Quinta e ATE QUE FIM CHEGANDO O FDS.
Beijão,Nath


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Perdida #13

Pela cara dele, não tinha entendido. Não o culpei. Se eu, que sabia da história toda, não entendia completamente, imagina ele, dois séculos atrasado, poderia compreender apenas uma pequena parte da história?

— Entendo. — ele disse mesmo assim. Mais por hábito, imaginei. — E a senhorita acredita que essa pessoa esteja aqui perto?
— Só pode estar!

Ele encarou seu café por um tempo e não disse nada. Parecia meditar sobre o que eu havia dito. Em seguida, seus olhos escuros e profundos voltaram ao meu rosto.

— Preciso fazer uma pergunta, senhorita Demetria. — sua voz séria e profunda. — Espero que não se ofenda.
— Pergunte.
Ele disse de uma só vez.
— A senhorita está com problemas ilícitos, não está?

Meu rosto desmoronou. Não esperava por aquela pergunta. Não imaginei que ele pudesse chegar a essa conclusão. Fiquei olhando pra ele com a boca aberta feita uma idiota.

— Eu não estou te julgando, senhorita. Mas preciso saber em que tipo de problema estou me envolvendo. 
Como sabe, sou o tutor de Elisa. Não posso permitir que ela se aproxime de... certos problemas.

Eu pisquei. Não sabia se havia entendido direito o que ele disse.

— Você acha que eu sou uma um sete um ou coisa assim? — inquiri. A incredulidade tingindo minha voz. 

Como ele podia pensar uma coisa dessas?

Bom, claro que poderia pensar uma coisa dessas, ele mal me conhecia. Mas ele me hospedou, me ajudou e até chamou um médico para cuidar do ferimento na minha cabeça. Como podia abrigar alguém que suspeitava ser uma pilantra?
— Não sei o que um sete um significa, mas...
— É a mesma coisa que safada, sem vergonha, picareta ou espertalhona farrista,como disse Teodora! — expliquei, sentindo o sangue correr mais rápido nas veias.
— Não foi isso o que eu quis dizer. A senhorita se envolveu com... — ele se remexeu desconfortavelmente na cadeira. — Algum problema de natureza... bíblica? 
— Natureza bíblica? Do que você está falando? Eu... — então me lembrei, 

Natureza bíblica, no sentido bíblico! Como Adão e Eva. Oh! — Você está falando sobre sexo? Ele se virou na cadeira enquanto fazia SHHHH pra mim, procurando ver se alguém tinha ouvido nossa conversa. 
— Senhorita Dem....
— Por que diabos transar com alguém faria... eu me perder aqui? — minhas sobrancelhas arqueadas. 

Esperei que ele se explicasse. 

— Isso não são modos de falar, minha jovem! — ralhou como se fosse meu avô. 
— E não sei o que transar significa mas... 
— É a mesma coisa que sexo, fazer amor, dormir com alguém, trep... 
— Pare com isso, o rosto duro. Já entendi o que quer dizer. 

Eu o encarei obstinadamente. 

— Então, me explique por que acha que fazer isso me colocaria em problemas. Porque eu realmente não consigo entender!— não imaginava como o sexo pudesse me colocar naquela roubada. A não ser que eu tivesse sido dopada com alguma boa-noite cinderela e ainda estava piradona sob o efeito da droga e estivesse imaginando tudo aquilo. Humm.,. 

Ele pareceu relutante em começar. Não perdi meu foco, o encarei com olhos desafiadores. E, depois de um tempo, ele finalmente falou. 

— Você disse que uma mulher a mandou aqui sem seu consentimento, eu a encontrei praticamente sem roupas e você me disse que não sabe como voltar. Deduzi que... talvez a tal mulher fosse esposa de alguém. 
— Você achou que eu estava de caso com um cara casado? — berrei. 

Não tinha a intenção de gritar. Não tinha mesmo. Mas fiquei tão chocada que ele tivesse pensado numa coisa como aquela que não pude me controlar. Estava chocada e furiosa. Por mais que o casamento não fosse prioridade em minha lista na verdade, não estava nem na lista! — eu jamais poderia me envolver com alguém casado. Jamais estragaria a vida de uma outra garota. Eu conhecia a sensação de ser traída. Conhecia bem demais. Não por um marido, claro, mas podia imaginar que doeria muito.

— Que tipo de garota você pensa que eu sou? Uma vadia que se mete no relacionamento de outras pessoas? Pois fique sabendo que eu não sou. Eu sou uma garota decente. Sempre fui. Eu nunca fui pra cama com alguém que estivesse comprometido. NUNCA! Todos os homens que passaram por minha vida eram tão livres quanto eu! — minha voz começou a subir um pouco. Minha raiva aumentando. — Como se atreve a pensar uma coisa dessas? Pensei que você fosse diferente das pessoas que eu conheço, com esse seu jeito gentil e de aparência inocente. Mas vejo que me enganei! 

Levantei-me tão depressa que a cadeira acabou caindo no chão, fazendo muito barulho. A careca do mordomo apareceu na porta, provavelmente pra ver se eu não tinha, de repente, atacado o Senhor Clarke com o bule de ferro!  Ignorei quando Joe começou a dizer alguma coisa. Dei-lhe as costas e marchei 
decidida até meu quarto. Ele me seguiu. 

— Senhorita Demetria, perdoe-me. Não tive a intenção de insultá-la. — ele corria com as palavras enquanto apertava o passo para me alcançar. — Eu fui um imbecil. 
— Foi não, você é um imbecil! — retruquei, enquanto acelerava o passo. 
— Sim, senhorita Demetria. Sou mesmo! Mas, por favor, aceite minhas desculpas Não tive intenção de lhe deixar irritada. 
— Ah! Mas eu não estou irritada. Estou furiosa! 
Entrei no quarto e peguei minha bolsa. Ele me seguiu, ficou ali parado, me encarando com cara de assustado. Juntei minhas coisas rapidamente — não havia muita coisa pra juntar. 

— Quer olhar minha bolsa? De repente, estou roubando alguma coisa. — eu disse secamente, esticando a bolsa. 
— Senhorita Demetria, por favor! — cuspiu revoltado.
— Por favor o quê, Joe? 
— Por favor, acalme-se. Acalme-se e me escute. Aceite minhas desculpas, por favor! — sua voz angustiada.

Primeiro, me insultava, e depois, queria que eu o escutasse. Igualzinho a qualquer outro homem! 

— Agradeço tudo o que fez por mim, mas não posso mais ficar aqui. Tem certeza que não quer olhar minha bolsa? Ultima chance! — estiquei um pouco mais meu braço, mas ele não se moveu. 

Joe não disse nada. Parecia não saber o que dizer. Estava tão furiosa que joguei a bolsa nos ombros e, como ele não fez movimento algum para sair da minha frente, abri caminho a cotoveladas. Entretanto, suas mãos alcançaram meu cotovelo antes que eu  chegasse a porta. 
— Ouça-me, por favor! — pediu numa voz baixa e magoada. Balancei um pouco. Aquela sensação estranha de que já o conhecia inundou meu corpo mais uma vez quando ele me tocou. 
— Me solte! — exigi, com menos convicção do que pretendia. 

Porém, Joe não me soltou. Suas mãos estavam muito quentes senti a pele de meu braço queimar. Pinicava de uma forma diferente, sem dor. 
— Perdoe-me, senhorita Demetria,Por favor Demi. Foi muito rude de minha parte pensar algo tão... Perdoe-me. Eu sinto muito por tê-la ofendido. Estava apenas tentando encontrar sentido em sua história. Não tinha a intenção de ofendê-la. Sinto muitíssimo. — Seus olhos estavam nos meus. Tão escuros quanto um buraco negro, uma estranha força me puxava para eles. Não pude desviar os olhos. Um calor repentino se espalhou por meu rosto. 

Meu Deus! Eu estava corando! Que ridículo! 

— Eu... hã... — meus pensamentos ficaram ligeiramente incoerentes. — Tudo bem. Desculpas aceitas. Acho que exagerei um pouquinho. 

Fiquei muito confusa, realmente chocada com minha reação. Por que me incomodou tanto que ele pensasse coisas ruins a meu respeito? 

— Não. Eu fui extremamente indelicado. Não sei por que pensei um absurdo  desses! — seus olhos, ainda intensos, prendendo os meus. — Perdoe-me, senhorita Demetria. 
— Nem sei se posso culpá-lo por pensar isso a meu respeito. Você não tem como entender a história. Eu mesma estou tendo dificuldades! Me... Desculpe também. — eu disse constrangida, sem saber o porquê. 
— Não tenho como entender, realmente. Mas não posso acusá-la da maneira tão cruel. Fui muito rude. Perdoe-me.-— suas mãos ainda seguravam meu braço e o calor provocado por seu toque começava a se espalhar por meu corpo todo. 

O que era aquilo? 

— Tudo bem. — murmurei. 

Eu tinha que ficar ali. Pra onde iria? Eu não conhecida nada, nem ninguém. E até que Joe foi rápido pra tentar associar o que eu havia dito com algo que fizesse sentindo. Associou totalmente errado, mas ele pensou depressa. Talvez isso fosse de alguma ajuda, afinal. Quem sabe ele não conseguiria ver o que eu estava deixando passar? E, sendo totalmente honesta, eu gostava um pouco dele. Joe era um cara bacana. Mesmo sendo um cara do século dezenove que pensava que eu estava tendo um caso com um 
homem casado. 

— Obrigado! — ele me soltou. Fiquei um pouco sem equilíbrio. Tentei me endireitar. — Agora, por favor, deixe suas coisas aqui e vamos voltar para a sala. Creio que ainda esteja com fome...? — ele sorriu timidamente, testando se tudo estava realmente bem. 

— Eu não estou com fome. — tinha uma sensação estranha na boca do estômago. Não entendi o que era. Deviam ser os nervos! 

Ele deliberou por um segundo. 

— Então, talvez deseje conhecer a propriedade? Há um riacho muito bonito aqui perto e uma pequena floresta que cerca a lateral de uma das divisas. É um passeio muito agradável. — ele parecia entusiasmado. Até tive vontade de ver como seriam as coisas por ali, mas eu tinha assuntos mais urgentes para resolver. 

— Será que a gente podia fazer isso outra hora? 
— Certamente! Deseja fazer outra coisa, senhorita? — ele franziu o cenho. 
— Demi apenas Demi,como me chamou a pouco Joe. — ele não ia aprender nunca? — E, sim, eu gostaria de fazer outra coisa. 
— Se eu puder ajudar ficarei feliz em lhe ser útil. — o rosto sincero. 
— Na verdade, pode sim. Gostaria que me levasse até a vila pra procurar a tal pessoa. 

Se é que ela estava ali. Se é que existia realmente mais alguém. 

— Como quiser. — concordou. — Pedirei aos criados para prepararem a carruagem. 

Não gostava da forma como ele se referia aos empregados. Criados! Era muito ofensivo! Se o Carlos se referisse a mim daquela maneira, eu seria capaz de fazê-lo engolir o próprio pé. Joguei minha bolsa na poltrona e fui esperar por ele na entrada da casa, mas parei antes de chegar ao corredor. Eu farei contato, a voz dela ecoou em minha cabeça. Voltei até a poltrona e peguei o celular. Eu achava meio impossível, mas como funcionou da primeira vez, talvez ele pegasse o sinal “mágico” em outras áreas também. A ligação não teve chiados nem estalos, excelente recepção!  Eu não podia andar com o celular na mão pra todo lado. Não queria ter que explicar o que era, mesmo porque ninguém acreditaria. Na falta de um bolso — ou de 
um lugar melhor — enfiei o aparelho no decote do vestido. Ainda bem que o celular não era grande, pois, com peitos de tamanho médio, não seria possível escondê-lo ali se fosse qualquer centímetro maior. Ninguém iria notar a pequena adição ao volume. Dei uns pulinhos para me certificar que estava firme. Ele não se moveu. Arrumei o vestido para escondê-lo bem e saí para me encontrar com Joe
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Heeeeeeey,como prometido,esta ai o capitulo,tenho ate o 16 ou 17 feito,se depender de mim todo dia da semana terá um capitulo ou dois,mais também depende de vocês,comentem,curtam,deixem a opinião de voces.  E mais uma vez JEMI no palco novamente FOI TÃO PERFEITO <3 Ela podia largar o Wilmer e ficar com o Joe ne? kkkk #sonho . Boa quarta pra todas,um beijãao,Nath 


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Hey gente



Hey meninas,eu ia fazer uma maratona começando de hoje,mais estou com problemas na digitação,meu computador anda dando a doida,então eu vou tentar ajeita-lo e deixarei para começar a maratona de terça pra quarta okay ?
Espero que me entendam.
                                                                 Beijos,Nath :)

domingo, 26 de outubro de 2014

Perdida #12

Coragem, Demetria. Você já enfrentou coisas piores! eu disse a mim mesma, parada em frente à casinha, me lembrando do banheiro químico que usei no último show de rock e, em vão, tentei me convencer de que a casinha não era tão ruim assim. Ela era um centro cirúrgico esterilizado comparada aos banheiros químicos. E eu não podia esperar mais, já estava no limite.Juntei coragem e fechei a porta, amaldiçoando aquela vendedora macumbeira,por não me mandar para algum lugar que pelo menos tivesse banheiros decentes. Porque ela tinha que ser uma bruxa, já que podia fazer uma garota ir para o século passado. 

Dois séculos passados, na verdade. 

Quando eu conseguisse voltar pra casa, precisaria de muita vodca pra me esquecer daquilo, pensei. E, sem dúvida alguma, jamais comeria alface outra vez na vida! Ainda era cedo, talvez umas sete da manhã, mas a 
casa toda já estava de pé. Fui para a cozinha procurar por Joe novamente, ele tinha que comer, não tinha? 

Eu precisaria da ajuda dele. Mais uma vez. 

Encontrei Madalena com a barriga colada ao fogão de lenha, terminando de passar o café num coador de pano que se parecia muito com uma meia suja e encardida.  

— Bom dia, senhorita. Gostaria de se juntar ao Senhor Clarke e à senhorita Elisa? Estou indo levar o café. — ela mexia com uma colher o líquido preto dentro da meia. 
— Bom dia, Madalena. Eu estava mesmo procurando por ele, mas posso ajudá-la, se quiser. Quer que eu leve alguma coisa? — ofereci, querendo ser prestativa. 

Ela pareceu ofendida com minha oferta. 

— De forma alguma, senhorita. Isso não é trabalho para uma convidada do Senhor Clarke. Meu Deus! A senhorita nem deveria estar aqui na cozinha! 

Realmente ofendida! 

— Tá bem. Entendi. Ninguém mexe na cozinha da Madalena. — brinquei, tentando acalmá-la. 

Ela corou e ficou meio abobalhada. 

— Não, senhorita. Não é isso. Mas os trabalhos da cozinha são tarefas dos criados. E a senhorita não é uma criada. — ela piscava rapidamente, seu rosto escarlate. 
— Ah! Tudo bem, Madalena. Eu só estava brincando. Não se preocupe. Eu não sei nem fritar um ovo! — eu sobrevivia graças aos congelados e meu microondas. — Eu vou até a sala então. 

Fui até uma grande bacia — parecida com um ofurô de madeira, só que um pouco menor — e lavei minhas mãos. Passei a mão úmida no mesmo vestido que tinha usado no dia anterior pra alisar uns amassados, depois deslizei os dedos pelos cabelos e fui pra sala. Não que eu quisesse impressionar alguém, mas sabia que Teodora estaria pronta para me analisar. E ela não perderia a oportunidade de me irritar. 

— Bom dia. — saudei assim que entrei na sala. 
— Bom dia, senhorita Demetria. — disse Joe, se levantando e fazendo uma reverência. — Como está hoje? 
— Bem, obrigada. — olhei em volta e não encontrei as duas garotas. — Onde está sua irmã? Pensei que todos estivessem acordados. 
—Ela e a senhorita Teodora acabaram de sair. O Senhor e a Senhora Moura vieram buscá-las para a missa. — ele sorriu. — Hoje é domingo. 
Ah! — até no meu tempo domingo era dia de ir à Igreja. Isso não mudou com o passar dos anos. 
— E você, não vai à igreja? — perguntei, imaginando se ele era pagão ou coisa assim. Se bem que não conhecia muitos homens que fossem à igreja sem serem arrastados por suas mulheres, namoradas, mães, casos ou coisa do tipo. 
— É claro que vou, mas como a senhorita ainda estava dormindo, pensei que seria melhor ficar em casa hoje, para o caso de precisar de alguma coisa. — ele me fitou e um sorriso meio irônico apareceu em seus lábios. — Creio que ajudar os necessitados será mais bem visto perante os olhos de Deus do que ficar sentado em um banco por quase toda a manhã. 
— Oh! Valeu. — eu disse, enquanto arrastava a cadeira para me sentar. No entanto, antes que eu pudesse fazê-lo, Joe saiu rapidamente de seu assento para empurrar a minha cadeira. 
— Obrigada. — falei meio sem jeito. Nunca ninguém tinha empurrado minha cadeira antes. Não de forma tão cortês e sem esperar pela gorjeta. 

Madalena entrou na sala com uma grande bandeja nas mãos, a colocou sobre a mesa e saiu sem dizer nada. A bandeja estava abarrotada: café, ovos cozidos, um bolo e algumas frutas. Pareceu ótimo pra mim. 
— Mas foi bom você ter ficado. — eu disse, começando a me servir. — Preciso mesma da sua ajuda. Outra vez. 

Joe me observou 

— Eu estava imaginando se... por acaso, você não encontrou mais alguém como eu? — peguei um pedaço 
do bolo. Estava muito bom! 

Suas sobrancelhas arquearam. 

— Alguém como a senhorita? — repetiu confuso. — Não. Como eu disse ontem, nunca em toda minha vida encontrei alguém como você. 
— Talvez saiba de alguém que encontrou, então? Deve ter uma cidade aqui perto. Talvez alguém que tenha os mesmos.., modos que eu. — tentei ser mais clara. 

Ele sacudiu a cabeça antes que eu terminasse

— Há uma vila há alguns quilômetros daqui, mas não vi ou ouvi nada sobre alguém... diferente como a senhorita. 
— Deeeemi! — corrigi. — Mas você esteve lá ultimamente? Pensei ter ouvido que você esteve fora nos últimos dias. 
— Como já sabe, retornei apenas ontem. Não tive oportunidade de ir até a vila. — explicou delicadamente, então franziu cenho. — Mas por que pensa que alguém como a senhorita possa estar lá? Talvez eu tenha entendido mal, mas pensei que estivesse sozinha aqui. — seus olhos intensos observavam os meus. 
— E estou! — me apressei em dizer, sentindo uma sensação estranha enquanto seus olhos prendiam os meus. — Veja só, Joe, eu vim pra cá sozinha. Mas encontrei uma... Olha, uma mulher me mandou aqui. — tentei de novo. — Sem meu consentimento e essa pessoa disse algumas coisas... Pensei muito sobre o que ela me disse e acho que acabei encontrado uma pista. 

Ele me olhava de forma estranha. Pasmo ou incrédulo, sei lá. 

—Alguém a sequestrou? Precisamos alertar os guardas... 
— Não, não. — polícia envolvida nisso seria péssimo! —Não tipo sequestrar de verdade. É mais tipo um... exílio. Não precisa chamar a polícia. Eu nem sei o nome da pessoa que fez isso! 

Ele se recostou na cadeira. Seus olhos ainda nos meus. O pobre coitado tentava entender, eu podia ver isso, mas claramente não compreendia o que havia acontecido comigo. 

— Acho que não estou aqui sozinha. — comecei. Não queria que ele pensasse que eu fosse doida e, se ele continuasse a pensar muito no assunto, com certeza chegaria a essa óbvia conclusão. — Acho que mais alguém também foi vítima daquela... mulher. Então, se essa pessoa estiver aqui também, talvez juntas possamos descobrir um modo de voltar pra casa, entendeu? 
Pela cara dele, não tinha entendido. Não o culpei. Se eu, que sabia da história toda, não entendia completamente, imagina ele, dois séculos atrasado, poderia compreender apenas uma pequena parte da história? 

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Hey gente,como prometido um capitulo . UHUUUL,ele ta pequeno,porque eu tive que sair pra votar e pá e depois tive que fazer outras coisas,sem contar numa dor de cabela muito grande que to sentindo,então me desculpem,amanha ou terça eu posto um cap fresquinho,beijocas da Nath

sábado, 25 de outubro de 2014

Perdida #11

— Se tivesse trabalhado, saberia que é difícil se manter em pé apenas provando a comida. Eu trabalho muito, das oito às seis, durante todos os dias da semana. Muitas vezes, deixo de almoçar para dar conta de toda papelada empilhada na minha mesa. Então, quando tenho a oportunidade de comer, e ainda mais uma comida tão boa quanto esta, eu como! — terminei, pegando um pouco mais da carne assada. Talvez fosse carneiro assado.

O choque em seu rosto foi hilário

— Você trabalha? — indagou Elisa impressionada.
— Sim. Num escritório financeiro, cursei administração de empresas. Não era bem o que eu queria fazer, mas às vezes a vida sai um pouco de controle e só resta seguir o fluxo. — mordi outra batata. — Fiz estágio nessa empresa enquanto ainda estava na faculdade. Acabou que gostaram do meu trabalho e me contrataram. O salário não é extraordinário, mas eu tenho um plano! — me livrar do pesadelo chamado Carlos e meu salário aumentar consideravelmente. Era um ótimo plano! Eu estava no terceiro período de marketing quando meus pais se acidentaram. Precisei repensar minha vida depois disso. Tinha que me virar sozinha, pois dali em diante estava por conta própria. Resolvi botar os pés no chão e fazer algo que tivesse mais mercado. Estudei muito para me tornar uma das melhores alunas do curso de administração.

A sala ficou silenciosa. Engoli minha comida.

— Você foi à faculdade? — perguntou Joseph, a voz baixa e levemente rouca.
— Sim, Joseph. — os empregados se entreolharam, depois voltaram às suas posições, tipo guarda da rainha. — Por cinco longos anos. Só eu sabia como foi difícil concluir meu curso, pagar por ele com a renda tão baixa. Meus pais foram pais maravilhosos, mas não tinham muito pra me deixar. Com exceção das lembranças doces, uma pequena poupança e o carro o seguro dele, já que tinha sido destruído — foi tudo que me restou. O estágio acabou salvando meu último ano, ou eu teria que ter trancado o curso e, talvez, nunca tivesse concluído.

 Joseph pareceu muito impressionado.

— Mas as mulheres não vão à faculdade! Nem mesmo na Europa. — Teodora disse, de forma desdenhosa.
— Não? — perguntei a Joe.

Ele sacudiu a cabeça lentamente, os olhos intensos cravados nos meus.

— Há apenas algumas faculdades no país, e a mais próxima fica na cidade. Faz apenas três anos que foi inaugurada.
— Apenas para a educação de rapazes não de damas. — teimou Teodora.
— Bem, não vai demorar. Logo elas irão, de toda forma. Você ainda vai ouvir falar sobre isso. — respondi friamente para Teodora.

Joe ainda me observava atentamente. De repente eu não tinha mais fome. Continuei a encará-lo, até que Madalena entrou na sala perguntando se poderia trazer mais alguma coisa.

— Está tudo perfeito Senhora Madalena. Creio que possa nos trazer a sobremesa daqui a pouco. — Elisa disse, mostrando as covinhas.
— Foi você quem fez este jantar? — perguntei.
— Sim, senhorita. Estava a seu gosto? — seu rosto redondo ficou tenso.
— Madalena, você é um gênio da culinária! Estava tudo espetacular! Poderia ganhar um dinheirão abrindo um restaurante! Nunca comi nada mais saboroso na vida. Se bem que qualquer coisa era mais saborosa que a comida congelada que eu estava habituada.

Ela corou um pouco e, sorrindo, claramente embaraçada, me disse:

— É muita bondade sua senhorita. — deu aquela abaixadinha inclinando a cabeça e deixou a sala.
— A Senhora Madalena adora quando algum convidado elogia sua comida. Aposto que ela veio aqui apenas para saber se o jantar lhe agradou. — disse-me Elisa.
Fomos até a sala de jogos depois do jantar uma mesa redonda e antiga — que, para a época era novinha, claro —, com cartas de baralho e dominó espalhados sobre ela, foi ocupada pelos três. Teodora queria jogar, mas eu estava tão cansada que recusei. Esperei que um deles se retirasse primeiro dizendo que já estava tarde. Joe já havia reclamado do cansaço. Eu não queria ser mal educada nem nada, mas como ninguém parecia querer dormir tão cedo, perguntei se eu poderia me retirar. Recebi os “boa noite” de todos e fui para o quarto.
Entretanto, alguns minutos depois voltei apressadamente para a sala, na esperança de que Joe ainda estivesse por lá. E, graças aos Céus, ele ainda estava.

— Algum problema, senhorita Demetria? Pensei que estivesse dormindo. — ele se levantou imediatamente e veio ao meu encontro. O rosto um pouco aflito.
— Estávamos agora mesmo falando de sua pessoa, senhorita Demetria. — disse Teodora.
— Eu estou indo dormir, Joseph— respondi a ele, ignorando Teodora. Imaginei que debateriam sobre o assunto, que discutiriam sobre mim, mas pensei que não perguntar sobre o que falavam deixaria Teodora mais frustrada do que acabar sendo grosseira com ela. — Mas eu queria tomar um banho primeiro. Este vestido é muito quente! Eu encontrei a banheira que você mencionou, o que eu não encontrei foi a água!

Ele sorriu, assim como eu sabia que faria. Não me senti ofendida por ele achar graça dos meus problemas. Se a situação fosse inversa, eu faria exatamente o mesmo.

— É preciso levar a água até lá, senhorita Demetria. — ele explicou, o rosto divertido.
— Demi. — o corrigi. — E onde eu pego?
— Pedirei aos criados para que preparem seu banho. Voltarei logo. — ele se curvou ligeiramente e saiu.

Fiquei ali, parada, admirando as duas moças, sentadas tão eretas e elegantes. Só podia ser por causa do espartilho. Não dava pra se afundar no sofá usando um, eu tinha certeza disso. Ouvi o tagarelar incessante de Teodora. Ela não deu a menor chance para Elisa expressar suas opiniões sobre is fitas dos chapéus. Pouco depois, Joe retornou dizendo que meu banho já estava sendo providenciado. Eu agradeci sua ajuda e me apressei em voltar para o quarto. Encontrei ,Madalena testando a temperatura da água. Ela me disse que arrumaria a bagunça pela manhã, já que eu parecia acabada e devia estar querendo cair na cama. Claro que ela não usou exatamente estas palavras, mas o significado foi mais ou menos esse. Fechei a porta e entrei na banheira. Levei minha calcinha comigo. Eu só tinha uma. Apenas uma calcinha! Depois de me deleitar na água quente por alguns minutos, alcancei alguns objetos aos quais eu ainda não havia sido apresentada. Identifiquei o sabonete. Na verdade, o cheiro dele lembrava azeite de oliva, e a cor escura e lamacenta lembrava sabão em barra para lavar roupas. Apesar de sentir um leve ressecamento na pele, funcionou até que bem. Não molhei os cabelos. Já os tinha lavado pela manhã e não tinha certeza se o conteúdo do vidro âmbar sobre o pequeno aparador era mesmo xampu. Após uns dez minutos, a água começou a esfriar e fui obrigada a sair. Alcancei o pano bege e me sequei. Devia ser uma toalha, porque era bem grosso, áspero e duro. E, pra dizer a verdade, não secava muito bem.
Espremi minha calcinha entre as mãos, dei umas sacudidas e a pendurei no encosto de uma das cadeiras da mesa, na esperança que secasse até a manhã seguinte, e me vi frente a um dilema. Eu não tinha roupas para vestir. Pela primeira vez na vida, essa máxima era real! Meditei um pouco e concluí que dormir sem roupa alguma nãoera boa ideia naquela época medieval! Então, vesti minha regata — sem sutiã — e o shortinho de quadrilha. E não é que o shortinho era confortável?
Uma penteadeira — ou ao menos se parecia com uma com uma bacia e um jarro prateado cheio de água chamou minha atenção. Imaginei que fosse o lavatório. Procurei pela pequena nécessaire que levava todos os dias para o escritório. Lá estava! Minha nécessaire com minha escova de dentes, meu creme dental, meu fio dental e um desodorante daqueles pequenininhos de viagem.
Após escovar meus dentes e dar uma arrumada na bagunça, me lembrei da caixinha do celular. Eu a peguei avidamente, à procura de alguma coisa no manual do usuário, só para me frustrar logo em seguida, O pequeno manual não tinha sequer uma única letra impressa em suas centenas de páginas, todas estavam em branco. Fui pra cama exausta, não apenas por estar me recuperando de uma ressaca física, mas também começava a sentir os efeitos da ressaca mental.
Eu estava mesmo em 1830, no século dezenove, na casa de um cara estranhamente gentil, sem absolutamente nada que pudesse me ajudar a voltar para minha casa. Nada exceto a conversa ao telefone com a vendedora Tentei repassar mentalmente toda a conversa, procurando por pistas, por alguma dica, qualquer coisa que pudesse me ajudar a voltar para casa.
Você esta exatamente onde deveria estar, ela disse. Só que eu não deveria estar ali! Eu deveria estai no meu apartamento, cheio de coisas úteis como banheiro, xampu e toalhas macias. Por que eu deveria estar no século dezenove? Não me lembrava de nenhum fato ou acontecimento importante em 1830 que fizesse uma maluca enviar uma garota inocente para lá, apenas para procurar alguma coisa.
Está na hora de começar a crer que existem mais coisas no universo além das que os seus olhos podem ver, sua voz ecoou em minha cabeça.Isso era meio verdade. Pelo menos até aquela manhã eu não acreditava nas baboseiras de magia ou destino ou sorte. Mas o que tinha de errado em se viver no mundo real? Nem todo mundo queria viver um faz de conta. Não mesmo! Não eu!
Conheço cada segredo de sua alma. Por isso precisei intervir. De fato, ela realmente parecia saber o que eu estava pensando, como na parte em que pensei que ela tivesse falado com a Marisa e ela respondeu “não” antes mesmo que eu concluísse o pensamento. Mas se isso fosse verdade — conhecer os segredos da minha alma —, mesmo que isso fosse possível, como é que ser enviada para 1830 me ajudaria? Claro que eu era fascinada por romances dessa época, mas, como regra geral, toda garota era. “o que Jane pensaria?” virou até camiseta! No entanto, gostar de um livro era muito diferente de querer viver a experiência pessoalmente. Imensamente diferente! Então, se meus romances, minha única ligação com o passado, minha resposta estaria aí? Os livros seriam minha resposta? Mas qual?
Você não voltará até que encontre o que procura. Terá que completar sua jornada. Mas terá que ficar aí até que a complete. Você não está sozinha, acredite! Certo! Encontrar o que eu procurava, mesmo que eu não tivesse a menor ideia do que fosse. Mas seja lá o que fosse essa coisa, sabia que ela 
seria a minha passagem de volta. E se o que eu procurava tinha alguma relação com livros, então...

Argh!

Eu não conseguia fazer a associação. Completar minha jornada seria encontrar o que procurava. Seria de muita ajuda se eu descobrisse exatamente o que procurar!Resolvi que tinha que começar por aí. Descobrindo o que seria a tal coisa. Uma parte resolvida! Entretanto, subitamente minha mente tomou outra direção.

Você não está sozinha.
Eu não estava sozinha?
Eu... Não... Estou.. Sozinha...?
Eu não estou sozinha!!!

Ah! Meu Deus! Tinha mais alguém perdido ali! Mais alguém que aquela mulher maluca tinha resolvido ajudar. Tão perdido quanto eu estava! Então, como o clarão daquele maldito celular, minha cabeça se iluminou e juntei algumas coisas. Tinha mais alguém ali. Se eu encontrasse essa pessoa, talvez juntas pudéssemos descobrir alguma coisa, alguma pista ou engambelar aquela bruxa e sair daquela confusão mais depressa! Poderíamos voltar pra casa mais rápido!

Isso!!!

Eu precisava encontrar essa pessoa, descobrir quem ela era e o que sabia. Não seria tão difícil, contudo, se ele ou ela estivesse tendo as mesmas dificuldades que eu. Eu precisava encontrar a outra vítima e, assim que voltássemos para casa, eu denunciaria a vendedora-bruxa às autoridades por vodu. Ela não iria brincar com a vida de mais ninguém!
Foi a última coisa que pensei antes de adormecer naquela cama dura, com as velas ainda acesas.

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Oi oi gente,mals a Demora,estou pensando em postar amanha a noite,mais depende de voces,espero que tenham gostado do capitulo,deixem a opinião d voces. 
Beijão,Nath

domingo, 12 de outubro de 2014

Perida #10

Olhei para Joseph como uma idiota, tentando entender o pé de alface e sua conotação. Então, uma gargalhada histérica explodiu de minha boca, não pude evitar. Pé de alface como papel higiênico! Sem agrotóxicos ainda por cima! Ao menos eram lavadas primeiro? Os ecologistas iriam adorar essa ideia. Totalmente biodegradável!

Joe me observou, os olhos assustados. Deduzi que ele pensava que eu era louca. E eu o apoiava incondicionalmente neste caso.

Pés de alface! 

— O que é tão engraçado? — perguntou.
— Nada. — respondi ofegante, por culpa do riso incontrolável. Lágrimas surgiram no canto dos meus olhos. — É só que... O pé de alface... — mais riso histérico. — Desculpe, só que é tão...
— Se preferir, pode usar os sabugos. — disse Joseph, o rosto sério. Parei de rir imediatamente.
— Alface tá bom. — tentei me recompor. — Alface tá muito bom. Obrigada,Joseph.
— Você precisa usar a casinha ou apenas queria saber sua localização? — ele perguntou, constrangido.

Pensei nisso por um segundo. Em algum momento eu teria que entrar ali, mas iria adiar o quanto pudesse! Disso eu tinha certeza.

— Só queria saber onde fica, podemos voltar. Era só pra saber se tinha um banheiro.

Não me senti melhor sabendo da existência da casinha. E eu que pensei que não poderia sobreviver sem computador! Eu tinha a incômoda sensação de que banheiro seria apenas uma das muitas coisas que eu iria sentir falta. Começamos a voltar para o casarão pelo caminho contrário ao que viemos. Olhei para o horizonte, vi que já começava anoitecer. Só então percebi que o lugar era bonito.

Realmente bonito! 

O gramado se estendia até o final da pequena colina onde estava a casa imensa com suas dezenas de janelas. Contudo, ela combinava perfeitamente com a paisagem: um jardim bem cuidado enfeitava a entrada, o colorido das flores enchia de vida a casa pálida cor de creme. A luz rosada do entardecer deixou o quadro ainda mais belo.
— Será que me permite fazer uma pergunta? — Joseph inquiriu casualmente.
— Claro.
— Seus sapatos são muito interessantes. — comentou, observando os meus pés.
Fiquei esperando a pergunta, mas ele não continuou.
— E? — tentei incentivá-lo.
— Eu nunca vi nada como eles. Não parecem sapatos femininos, tampouco masculinos. Na verdade, não se parecem com nada que eu já tenha visto. — eu tinha certeza disso! — Só estava pensando que tipos de sapatos seriam.
— Você está certo. Não são femininos, nem masculinos. —

Joseph era esperto! Fiquei surpresa com seu raciocínio rápido.

— São unissex, servem para os dois gêneros. Chamam-se tênis. São usados para a prática de esportes, mas a maioria das pessoas os incluiu no guarda-roupa por serem tão confortáveis e duráveis. Acho que não existe um jovem que não tenha um par de tênis em casa.
— Bem... — ele disse, com um meio sorriso no rosto. Meu estômago se contorceu levemente. — Existe
sim. Eu não tenho nenhum.

Eu ri também.

— Você ficaria de queixo caído se visse as coisas que existem onde eu moro. — se ele achava um simples par de tênis impressionante, o que não pensaria sobre a inovação das inovações chamada papel higiênico!
— Acho que posso acreditar nisso. Nunca, em meus vinte e cinco anos, conheci alguém tão diferente quanto a senhorita.
— Você também é muito estranho, sabia? — ainda mais pra quem só tinha vinte e cinco.

Joseph parecia mais velho. Não apenas na aparência, mas pelo modo de falar também. Talvez parecesse mais velho por causa da altura. Ian era muito grande. Ainda,mais alto que o Logan, só que menos bombado e, estranhamente, não era desengonçado. Eu sabia, por experiência, que pessoas grandes sempre tinham problemas de coordenação motora. E, apesar de ser uns bons vinte centímetros mais alto que eu, Joe não parecia ser tão atrapalhado. Ao contrário, cada movimento seu era tão elegante que me flagrei algumas vezes observando a forma como ele caminhava com extrema segurança, os ombros largos sempre eretos, a forma como seus lábios se moviam quando falava...

— Planeja me contar sobre ele, senhorita Demetria? Estou realmente curioso. Deve ficar muito distante daqui, pois nunca ouvi falar de um lugar onde mulheres usam roupas... Pequenas e apertadas ou sobre os tênis. — os olhos, cravados nos meus, me compeliam a falar, E por alguma razão que eu não entendia, eu queria contar a ele.

Joseph estava sendo tão gentil comigo! Mas o que eu diria? É que fica meio longe. Duzentos anos longe! Se você, por acaso, encontrar uma máquina do tempo perdida por aí, me avisa que eu te levo até o século XXI. A gente pode tomar um chope e depois cair na night! 
Claro que eu podia dizer isso a ele e, com toda certeza Joseph não chamaria o médico outra vez e nem pediria a ele para me jogar no manicômio. Claro que ele entenderia!

— Um dia eu te conto. Quando eu souber o que está acontecendo e encontrar a forma de voltar, te explicarei tudo. Prometo! Quem sabe você compreende minhas esquisitices!
— Promete? — o rosto sério, os olhos brilhavam faíscas prateadas.
— Prometo. Palavra de escoteira. — ele franziu o cenho. Mas nem os escoteiros? Valeu, Deus! — resmunguei carrancuda.

Joseph me encarou como seu eu fosse uma alienígena.

— Eu prometo. — eu disse exasperada.
Ele sorriu mais uma vez. Pensei com amargura que era uma pena as pessoas de hoje não serem mais assim, não sorrirem com tanta facilidade, como fazia Joe. Se bem que, pelo menos naquele momento, Joe era as pessoas de hoje.

Voltamos para a casa e tentei memorizar o caminho pelos corredores da mansão — para o caso de precisar da casinha com certa urgência. A casa era bonita, antiga e imponente. De fora, ocupava todo o campo de visão. Do lado de dentro, cada parede com um quadro ou cada móvel tão bem trabalhado prendia minha atenção. Joseph foi se limpar para o jantar e imaginei que isso significasse tomar banho. Então, não fui com ele. Fiquei na sala, observando sua rica decoração estilo vitoriano — quem imaginava que eu fosse conhecê-la em seus primórdios? — tentando memorizar cada padrão da madeira escura da mesa no canto da sala, cada linha do tecido estampado e grosso do sofá com braços de madeira, cada detalhe das cortinas pesadas e encorpadas das janelas. Queria me lembrar de tudo quando eu voltasse pra casa. O que conteceria em breve — eu esperava.
Eu queria tomar um banho também e me livrar daquele vestido quente que começava a pinicar minha pele. O problema é que eu não queria meter Joseph em confusão e eu só tinha uma saia curta e uma regata para vestir. Talvez, depois do jantar, eu pudesse me trancar no quarto e, finalmente, meditar sobre aquele dia confuso. Foi nesse momento que Teodora entrou na sala, usando um vestido verde claro, justo no tronco e bufante na saia. Eu tive certeza que ela usava todas aquelas coisas quê a governanta me mandou vestir quando me entregou as roupas. E, pelo espaço que sua saia ocupava, ela vestia a gaiola maluca.

— Senhorita Demetria, — disse ela, com muito entusiasmo, um pouco exagerado até.— Como está se sentindo esta noite?

Eu tinha falado com a garota há apenas uma hora atrás, por que ela agia como se não me visse há uma semana? 
— Eu tô legal. E você, como vai? — também entrei na brincadeira.
— Muito feliz em revê-la. — ela sorriu afetada.
Oh-oh! 

Sabe quando você está na cadeira do dentista com a boca toda inchada e não aguenta mais de dor por culpa de um dente inflamado e, depois de examinar, seu dentista diz com uma careta: “É canal. Mas não se preocupe. Não vai doer nadinha!” e você instantaneamente sabe que o nadinha vai ser terrível, cruel e insuportavelmente doloroso? Foi exatamente assim que me senti quando Teodora sorriu pra mim.

— Você parece estar bem melhor. Creio que o passeio pela casa na companhia do Senhor Clarke lhe fez
muito bem.

Oh! Então era sobre o Senhor Clarke! 

— Ele mostrou toda a propriedade? — ela continuou. — Deve tê-la impressionado. É uma das mais belas da vizinhança. A família Clarke tem muito prestigio senhorita Demetria. Até o duque de Bragança os visita com frequência.  Tentei responder a ela que sim, eu tinha gostado da casa. E duque de que? Mas ela não me deu chance. Apenas continuou com seu monólogo.

— Apesar de não ter título de nobreza, o Senhor Clarke é um dos homens mais respeitados de nossa sociedade. Quando seu falecido pai os deixou, há três invernos, o Senhor Clarke assumiu todos os deveres que lhe foram deixados. Inclusive como tutor de Elisa, que ainda era muito jovem. Ah! Minha querida Elisa! Ela é mesmo uma jovem encantadora, não acha senhorita Demetria?

— Eu...
— E ela tem tantos admiradores, mas o Senhor Clarke os mantém à distância. Quer esperar até que ela atinja a maioridade para poder receber seus pretendentes. Ele é um irmão muito cuidadoso! Existem muitos espertalhões farristas que pretendem fazer fortuna através de bons casamentos. — uma de suas sobrancelhas arqueou sugestivamente.
Eu entendi mal ou ela sugeriu que eu estava atrás de um marido rico? E que esse marido seria Joe? 
— Mas o Senhor Clarke é muito prudente. Claro que é capaz de notar as más intenções em pessoas de má índole. — continuou.

A garota estava começando a me dar nos nervos!

— Sabia que ele está procurando uma esposa? Oh! Sim, ele deve se casar muito em breve. É bom para um rapaz como ele, que tem uma irmã caçula e solteira sob sua responsabilidade, ter uma esposa. Há muitas jovens que têm esperanças de terem a honra de se tornarem a nova Senhora Clarke. Mas me parece que ele não demonstra ter o mesmo cuidado para consigo mesmo que têm para com a irmã.
Agora já deu!
— Escuta aqui, ô coisinha...
— Senhorita Demetria, estava à sua procura. — Elisa entrou na sala, me impedindo de dizer uma ou duas coisas para aquela garota venenosa, — Como está se sentindo?

Bem as pessoas do século dezenove só sabiam perguntar isso?
Respirei fundo para me acalmar. Aquela ruiva sardenta e sem graça realmente me tirou do sério. E eu já estava no limite!

— Espero que esteja com fome, o jantar já será servido. Vamos apenas esperar por Joseph
— Claro. — respondi. Então ela podia chamá-lo pelo primeiro nome. Claro, estúpida, eles são irmãos!
— Gostaria de tomar um licor de ameixa, senhorita Demetria? — perguntou a menina (de uns quinze ou dezesseis anos) de cabelos negros, assim como os de seu irmão, os olhos, porém, eram de um azul intenso que lembravam safiras. Eram lindos! Não sem graça como os meus olhos marrons cor de lama.
— Não, obrigada, Elisa. — notei com certo espanto que ainda não havia comido nada desde que acordara. Tudo que ingeri foi o vinho que Joe me serviu. Percebi que estava faminta. — Talvez depois do jantar.
Apesar dos cabelos negros, havia algo de angelical no rosto de Elisa. Talvez porque ainda fosse tão menina, mas dela eu gostei. Assim como seu irmão, Elisa parecia sorrir sempre. Exatamente como fazia agora.
— Depois, então.
— Boa noite, senhoritas, — saudou Joe ao entrar na sala. Vestido com um casaco preto e calças cinza, camisa, colete, gravata, as mesmas botas que usou durante o dia e os cabelos negros ainda úmidos, ele parecia um daqueles príncipes de contos de fadas. Seria muito fácil para ele arrumar uma esposa, pensei. Lindo, bem humorado, atencioso, gentil, um sorriso de tirar o fôlego... Que garota não se interessaria? Quer dizer, que garota daquele século não se interessaria? Ele não fazia meu tipo.
— Boa noite. — disseram juntas Elisa e Teodora, ao mesmo tempo em que eu disse:
— Oi!

Elisa e Joe sorriram Teodora, não. Mas que cabrinha intragável! Falava pelos cotovelos, tirava conclusões precipitadas, fazia fofoca da vida dos amigos — apesar de, aparentemente, ter a intenção de ser mais que isso — e ainda ficava de cara amarrada. Definitivamente, meu santo não deu com o dela!

—Vamos jantar? Estou faminto, o dia de hoje foi um pouco longo. — disse Joe, apressadamente.
Fiquei incomodada por ele ter dito aquilo. Não que eu quisesse que minha presença o deixasse saltitante — eu não queria! —, mas também não queria causar transtornos. Causar mais transtornos.
— Ele acabou de chegar de viagem, senhorita Demetria. — me explicou Elisa. Talvez tenha notado meu desconforto. — Uma viagem de muitos quilômetros. Você saiu da fazenda Esperança ontem à noite, Joe? — ela perguntou ao irmão.
— Durante a madrugada. Cavalguei sem parar até chegar aqui. — Joe me encarou. — Sem contar, é claro, o resgate da senhorita Demetria. Foi a única vez que desci do cavalo. Estou muito cansado. — um sorriso torto surgiu em seu rosto.

Eu desviei os olhos, envergonhada. Quando Joe me encontrou naquela manhã, eu estava bastante incoerente. E pensei que talvez ainda pudesse estar, pra dizer a verdade.

— Então, vamos, o cheiro que vem da cozinha está me deixando louco! — ele disse, esticando o braço para que fossemos na frente. Gostei da sua última sentença. Desde que cheguei ali, foi a primeira que ouvi que facilmente poderia ser ouvida em meu mundo.
— Vamos. — concordei e segui as garotas com Joe na minha cola.

Ao chegarmos à sala de jantar, dei de cara com uma mesa gigante. Contei doze cadeiras. Eles deviam receber muitos convidados.Sentei-me na cadeira ao lado de Elisa, jOE na ponta e Teodora, claro, do outro lado. Fiquei surpresa ao ver que os pratos eram mesmo pratos de porcelana. Não sei bem o que esperava, eu não tinha ideia do que já havia sido inventado em 1830. De repente, os pratos poderiam ser feitos de pedra e os copos de osso... Mas, aparentemente, o aparelho de jantar e os talheres já faziam parte da civilização naquele ano. Um grande castiçal sobre a mesa iluminava o ambiente com a ajuda de mais dois menores sobre o aparado.Então, dois empregados que eu não conhecia ainda começaram a trazer as bandejas de comida. O cheiro delicioso me atingiu como um soco. Meu estômago se empertigou a visão de tanta fartura. Reconheci a tigela com sopa e a travessa de batatas. Havia um tipo de carne assada, mas não pude identificar de qual espécie era. Decidi que era da espécie carne e que eu estava faminta o bastante para comer qualquer coisa que fosse. Os empregados nos serviram exatamente como garçons de restaurante, e me atirei na comida assim que meu prato foi colocado diante de mim. Quando o calor da sopa atingiu meu estômago, pensei que iria chorar. Tudo absolutamente delicioso, fosse o que fosse. Assim que aplaquei um pouco a fome, um pouco, eu ainda estava faminta —, pude prestar atenção aos outros. Não havia notado que eu tinha uma pequena plateia me observando. Incluindo os dois empregados.

— O que foi? — perguntei depois de engolir a comida. Eu sabia me portar à mesa. Não estava agindo como uma selvagem nem nada disso. O que eles tanto olhavam? Levei o guardanapo de linho à boca para me certificar que não tinha nada espalhado em meu rosto.
— Que apetite a senhorita tem! — Teodora observou um sorriso irônico nos lábios finos.
— Eu tô varada de fome! Não comi nada o dia todo. Perdoem-me se me portei mal, mas é que está tudo tão gostoso! — Eu disse, colocando outra batata na boca.

Os irmãos riram. 

— Nunca vi tal coisa! — exclamou Teodora. — Uma jovem que tem o apetite de um homenzarrão! — um risinho estridente escapou de seus lábios.
— Eu acho divertido. — disse Elisa. — Como pode comer tanto e ser tão magra?
— Comer feito um homem não é divertido, Elisa. É bizarro. Olhe para isso! — Teodora apontou para meu prato.
Engoli minha comida, tomei um gole de água.
— Acho que você nunca trabalhou na vida, Teodora. — respondi secamente.
— Trabalhar, eu? — o espanto em seu rosto não me surpreendeu.
— Se tivesse trabalhado, saberia que é difícil se manter em pé apenas provando a comida. Eu trabalho muito, das oito às seis, durante todos os dias da semana. Muitas vezes, deixo de almoçar para dar conta de toda papelada empilhada na minha mesa. Então, quando tenho a oportunidade de comer, e ainda mais uma comida tão boa quanto esta, eu como! — terminei, pegando um pouco mais da carne assada. Talvez fosse carneiro assado.

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Oi Gente,desculpas a demora,eu meio que esperava os coments aumentarem,como não rolou postei,enfim,espero que gostem, o capitulo ta muito longo pra recompensar,um grande beijo,bom domingo.
Nath :3