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sábado, 25 de outubro de 2014

Perdida #11

— Se tivesse trabalhado, saberia que é difícil se manter em pé apenas provando a comida. Eu trabalho muito, das oito às seis, durante todos os dias da semana. Muitas vezes, deixo de almoçar para dar conta de toda papelada empilhada na minha mesa. Então, quando tenho a oportunidade de comer, e ainda mais uma comida tão boa quanto esta, eu como! — terminei, pegando um pouco mais da carne assada. Talvez fosse carneiro assado.

O choque em seu rosto foi hilário

— Você trabalha? — indagou Elisa impressionada.
— Sim. Num escritório financeiro, cursei administração de empresas. Não era bem o que eu queria fazer, mas às vezes a vida sai um pouco de controle e só resta seguir o fluxo. — mordi outra batata. — Fiz estágio nessa empresa enquanto ainda estava na faculdade. Acabou que gostaram do meu trabalho e me contrataram. O salário não é extraordinário, mas eu tenho um plano! — me livrar do pesadelo chamado Carlos e meu salário aumentar consideravelmente. Era um ótimo plano! Eu estava no terceiro período de marketing quando meus pais se acidentaram. Precisei repensar minha vida depois disso. Tinha que me virar sozinha, pois dali em diante estava por conta própria. Resolvi botar os pés no chão e fazer algo que tivesse mais mercado. Estudei muito para me tornar uma das melhores alunas do curso de administração.

A sala ficou silenciosa. Engoli minha comida.

— Você foi à faculdade? — perguntou Joseph, a voz baixa e levemente rouca.
— Sim, Joseph. — os empregados se entreolharam, depois voltaram às suas posições, tipo guarda da rainha. — Por cinco longos anos. Só eu sabia como foi difícil concluir meu curso, pagar por ele com a renda tão baixa. Meus pais foram pais maravilhosos, mas não tinham muito pra me deixar. Com exceção das lembranças doces, uma pequena poupança e o carro o seguro dele, já que tinha sido destruído — foi tudo que me restou. O estágio acabou salvando meu último ano, ou eu teria que ter trancado o curso e, talvez, nunca tivesse concluído.

 Joseph pareceu muito impressionado.

— Mas as mulheres não vão à faculdade! Nem mesmo na Europa. — Teodora disse, de forma desdenhosa.
— Não? — perguntei a Joe.

Ele sacudiu a cabeça lentamente, os olhos intensos cravados nos meus.

— Há apenas algumas faculdades no país, e a mais próxima fica na cidade. Faz apenas três anos que foi inaugurada.
— Apenas para a educação de rapazes não de damas. — teimou Teodora.
— Bem, não vai demorar. Logo elas irão, de toda forma. Você ainda vai ouvir falar sobre isso. — respondi friamente para Teodora.

Joe ainda me observava atentamente. De repente eu não tinha mais fome. Continuei a encará-lo, até que Madalena entrou na sala perguntando se poderia trazer mais alguma coisa.

— Está tudo perfeito Senhora Madalena. Creio que possa nos trazer a sobremesa daqui a pouco. — Elisa disse, mostrando as covinhas.
— Foi você quem fez este jantar? — perguntei.
— Sim, senhorita. Estava a seu gosto? — seu rosto redondo ficou tenso.
— Madalena, você é um gênio da culinária! Estava tudo espetacular! Poderia ganhar um dinheirão abrindo um restaurante! Nunca comi nada mais saboroso na vida. Se bem que qualquer coisa era mais saborosa que a comida congelada que eu estava habituada.

Ela corou um pouco e, sorrindo, claramente embaraçada, me disse:

— É muita bondade sua senhorita. — deu aquela abaixadinha inclinando a cabeça e deixou a sala.
— A Senhora Madalena adora quando algum convidado elogia sua comida. Aposto que ela veio aqui apenas para saber se o jantar lhe agradou. — disse-me Elisa.
Fomos até a sala de jogos depois do jantar uma mesa redonda e antiga — que, para a época era novinha, claro —, com cartas de baralho e dominó espalhados sobre ela, foi ocupada pelos três. Teodora queria jogar, mas eu estava tão cansada que recusei. Esperei que um deles se retirasse primeiro dizendo que já estava tarde. Joe já havia reclamado do cansaço. Eu não queria ser mal educada nem nada, mas como ninguém parecia querer dormir tão cedo, perguntei se eu poderia me retirar. Recebi os “boa noite” de todos e fui para o quarto.
Entretanto, alguns minutos depois voltei apressadamente para a sala, na esperança de que Joe ainda estivesse por lá. E, graças aos Céus, ele ainda estava.

— Algum problema, senhorita Demetria? Pensei que estivesse dormindo. — ele se levantou imediatamente e veio ao meu encontro. O rosto um pouco aflito.
— Estávamos agora mesmo falando de sua pessoa, senhorita Demetria. — disse Teodora.
— Eu estou indo dormir, Joseph— respondi a ele, ignorando Teodora. Imaginei que debateriam sobre o assunto, que discutiriam sobre mim, mas pensei que não perguntar sobre o que falavam deixaria Teodora mais frustrada do que acabar sendo grosseira com ela. — Mas eu queria tomar um banho primeiro. Este vestido é muito quente! Eu encontrei a banheira que você mencionou, o que eu não encontrei foi a água!

Ele sorriu, assim como eu sabia que faria. Não me senti ofendida por ele achar graça dos meus problemas. Se a situação fosse inversa, eu faria exatamente o mesmo.

— É preciso levar a água até lá, senhorita Demetria. — ele explicou, o rosto divertido.
— Demi. — o corrigi. — E onde eu pego?
— Pedirei aos criados para que preparem seu banho. Voltarei logo. — ele se curvou ligeiramente e saiu.

Fiquei ali, parada, admirando as duas moças, sentadas tão eretas e elegantes. Só podia ser por causa do espartilho. Não dava pra se afundar no sofá usando um, eu tinha certeza disso. Ouvi o tagarelar incessante de Teodora. Ela não deu a menor chance para Elisa expressar suas opiniões sobre is fitas dos chapéus. Pouco depois, Joe retornou dizendo que meu banho já estava sendo providenciado. Eu agradeci sua ajuda e me apressei em voltar para o quarto. Encontrei ,Madalena testando a temperatura da água. Ela me disse que arrumaria a bagunça pela manhã, já que eu parecia acabada e devia estar querendo cair na cama. Claro que ela não usou exatamente estas palavras, mas o significado foi mais ou menos esse. Fechei a porta e entrei na banheira. Levei minha calcinha comigo. Eu só tinha uma. Apenas uma calcinha! Depois de me deleitar na água quente por alguns minutos, alcancei alguns objetos aos quais eu ainda não havia sido apresentada. Identifiquei o sabonete. Na verdade, o cheiro dele lembrava azeite de oliva, e a cor escura e lamacenta lembrava sabão em barra para lavar roupas. Apesar de sentir um leve ressecamento na pele, funcionou até que bem. Não molhei os cabelos. Já os tinha lavado pela manhã e não tinha certeza se o conteúdo do vidro âmbar sobre o pequeno aparador era mesmo xampu. Após uns dez minutos, a água começou a esfriar e fui obrigada a sair. Alcancei o pano bege e me sequei. Devia ser uma toalha, porque era bem grosso, áspero e duro. E, pra dizer a verdade, não secava muito bem.
Espremi minha calcinha entre as mãos, dei umas sacudidas e a pendurei no encosto de uma das cadeiras da mesa, na esperança que secasse até a manhã seguinte, e me vi frente a um dilema. Eu não tinha roupas para vestir. Pela primeira vez na vida, essa máxima era real! Meditei um pouco e concluí que dormir sem roupa alguma nãoera boa ideia naquela época medieval! Então, vesti minha regata — sem sutiã — e o shortinho de quadrilha. E não é que o shortinho era confortável?
Uma penteadeira — ou ao menos se parecia com uma com uma bacia e um jarro prateado cheio de água chamou minha atenção. Imaginei que fosse o lavatório. Procurei pela pequena nécessaire que levava todos os dias para o escritório. Lá estava! Minha nécessaire com minha escova de dentes, meu creme dental, meu fio dental e um desodorante daqueles pequenininhos de viagem.
Após escovar meus dentes e dar uma arrumada na bagunça, me lembrei da caixinha do celular. Eu a peguei avidamente, à procura de alguma coisa no manual do usuário, só para me frustrar logo em seguida, O pequeno manual não tinha sequer uma única letra impressa em suas centenas de páginas, todas estavam em branco. Fui pra cama exausta, não apenas por estar me recuperando de uma ressaca física, mas também começava a sentir os efeitos da ressaca mental.
Eu estava mesmo em 1830, no século dezenove, na casa de um cara estranhamente gentil, sem absolutamente nada que pudesse me ajudar a voltar para minha casa. Nada exceto a conversa ao telefone com a vendedora Tentei repassar mentalmente toda a conversa, procurando por pistas, por alguma dica, qualquer coisa que pudesse me ajudar a voltar para casa.
Você esta exatamente onde deveria estar, ela disse. Só que eu não deveria estar ali! Eu deveria estai no meu apartamento, cheio de coisas úteis como banheiro, xampu e toalhas macias. Por que eu deveria estar no século dezenove? Não me lembrava de nenhum fato ou acontecimento importante em 1830 que fizesse uma maluca enviar uma garota inocente para lá, apenas para procurar alguma coisa.
Está na hora de começar a crer que existem mais coisas no universo além das que os seus olhos podem ver, sua voz ecoou em minha cabeça.Isso era meio verdade. Pelo menos até aquela manhã eu não acreditava nas baboseiras de magia ou destino ou sorte. Mas o que tinha de errado em se viver no mundo real? Nem todo mundo queria viver um faz de conta. Não mesmo! Não eu!
Conheço cada segredo de sua alma. Por isso precisei intervir. De fato, ela realmente parecia saber o que eu estava pensando, como na parte em que pensei que ela tivesse falado com a Marisa e ela respondeu “não” antes mesmo que eu concluísse o pensamento. Mas se isso fosse verdade — conhecer os segredos da minha alma —, mesmo que isso fosse possível, como é que ser enviada para 1830 me ajudaria? Claro que eu era fascinada por romances dessa época, mas, como regra geral, toda garota era. “o que Jane pensaria?” virou até camiseta! No entanto, gostar de um livro era muito diferente de querer viver a experiência pessoalmente. Imensamente diferente! Então, se meus romances, minha única ligação com o passado, minha resposta estaria aí? Os livros seriam minha resposta? Mas qual?
Você não voltará até que encontre o que procura. Terá que completar sua jornada. Mas terá que ficar aí até que a complete. Você não está sozinha, acredite! Certo! Encontrar o que eu procurava, mesmo que eu não tivesse a menor ideia do que fosse. Mas seja lá o que fosse essa coisa, sabia que ela 
seria a minha passagem de volta. E se o que eu procurava tinha alguma relação com livros, então...

Argh!

Eu não conseguia fazer a associação. Completar minha jornada seria encontrar o que procurava. Seria de muita ajuda se eu descobrisse exatamente o que procurar!Resolvi que tinha que começar por aí. Descobrindo o que seria a tal coisa. Uma parte resolvida! Entretanto, subitamente minha mente tomou outra direção.

Você não está sozinha.
Eu não estava sozinha?
Eu... Não... Estou.. Sozinha...?
Eu não estou sozinha!!!

Ah! Meu Deus! Tinha mais alguém perdido ali! Mais alguém que aquela mulher maluca tinha resolvido ajudar. Tão perdido quanto eu estava! Então, como o clarão daquele maldito celular, minha cabeça se iluminou e juntei algumas coisas. Tinha mais alguém ali. Se eu encontrasse essa pessoa, talvez juntas pudéssemos descobrir alguma coisa, alguma pista ou engambelar aquela bruxa e sair daquela confusão mais depressa! Poderíamos voltar pra casa mais rápido!

Isso!!!

Eu precisava encontrar essa pessoa, descobrir quem ela era e o que sabia. Não seria tão difícil, contudo, se ele ou ela estivesse tendo as mesmas dificuldades que eu. Eu precisava encontrar a outra vítima e, assim que voltássemos para casa, eu denunciaria a vendedora-bruxa às autoridades por vodu. Ela não iria brincar com a vida de mais ninguém!
Foi a última coisa que pensei antes de adormecer naquela cama dura, com as velas ainda acesas.

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Oi oi gente,mals a Demora,estou pensando em postar amanha a noite,mais depende de voces,espero que tenham gostado do capitulo,deixem a opinião d voces. 
Beijão,Nath

4 comentários:

  1. Perfeito ,vc demorou desta vez ,acho que uma maratona seria mais do que bom

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    1. Eu demorei mesmo meu amor,eu to pensando em fazer uma maratona mesmo,to pensando em postar amanha a noite ou segunda pela manha ou tarde,mais a maratona vai rolar durante essa ultima semana de outubro. uuuhul
      beijos linda

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  2. Adorei o capitulo será que a Demi vai encontrar alguém?

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  3. Capítulo perfeito
    Tomara que a demi
    Consiga sair dai logo
    To ansiosa para mais
    Posta logoo
    Beijos

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