Era a primeira vez que eu entrava em uma carruagem. Muito diferente do carro e muito diferente do que eu imaginava por “carruagem”. Quando era criança, eu fantasiava que era uma princesa indo para o baile dentro de uma daquelas, mas as minhas sempre eram enfeitadas e cheias de cor-de-rosa e dourado por toda parte. A carruagem de Joe, no entanto, era marrom, com quatro grandes rodas de madeira e duas
lamparinas pendiam nas laterais — imaginei que fossem os faróis. A cabine era fechada como uma caixa de fósforo, apenas duas pequenas janelas nas laterais, uma delas estava coberta por um tipo de cortina de tecido. Dentro dela, caberiam quatro ou cinco pessoas. Os assentos e as paredes eram forrados por um tecido grosso e estampado de fundo bege, uma minúscula lamparina em um dos cantos, que provavelmente servia para iluminar a pequena cabine em viagens noturnas. A viagem dentro dela era cheia de solavancos e lenta, mas supus que, num acidente de trânsito entre duas carruagens, não haveria vítimas fatais. Talvez os cavalos se ferissem.
— Claro. Sobre o que quer falar?
— Sobre hoje. — ele limpou a garganta. — Sobre o café da manhã.
Claramente, Joe estava constrangido. Suas mãos inquietas pareciam não saber onde queriam descansar
— Tudo bem — eu disse cautelosa. Não queria voltar ao assunto, especialmente por que não queria ficar irritada com ele. — Fala aí.
— Você disse — ele pigarreou outra vez e, então, começou a falar rapidamente.Para não perder a coragem, pensei, depois do que eu ouvi. — A senhorita disse algumas coisas que me deixaram confuso. Muitas palavras que não reconheci, mas algumas delas eu conheço. Fiquei espantado que uma jovem dama as conhecesse também — seus olhos se abriram um pouco mais. — E as usasse! Mas você disse algo que me deixou inquieto.
E ele estava inquieto, realmente. Imaginei que, se a carruagem fosse mais alta e ele um bom tanto menor, começaria a andar de um lado para o outro, como fazem nos filmes.
— E que coisa foi essa? — perguntei.
— Sobre ir para a cama com homens casados. — ele baixou a cabeça. Ficou mexendo nos joelhos da calça como se tivesse alguma coisa presa ali.
— Eu nunca fui, já disse! Não estou mentindo.
— Eu acredito, senhorita. Mas — ele continuava com a cabeça baixa, sua voz ficou um pouco abafada. — A questão é que me pareceu que a senhorita conhece bem o assunto. Ir para cama com um homem quero dizer. — sua voz diminuiu até um sussurro.
Oh! Esse assunto!
— E conheço. — eu tinha vinte e quatro, já conhecia há rio tempo.
— Foi o que pensei. — murmurou, levantando a cabeça olhando pela janela.
Eu não podia ver seu rosto, apenas seu pescoço e seus cabelos negros. Esperei que ele continuasse, mas ele não continuou.
—E você pensa que eu não deveria conhecer, acertei?
Ele se virou e me olhou nos olhos. Olhou profundamente. Senti a força deles me arrastando, exatamente como um ímã. A força era tanta que recuei um pouco, assustada.
— Certamente que não devia! Jovens solteiras não devem conhecer certos assuntos até que estejam formalmente comprometidas. — ele parecia muito irritado. Mais que isso, parecia furioso. — E quando digo formalmente comprometidas me refiro ao matrimônio.
— Joe... — minha voz estava um pouco rouca, com medo. Do que? Daqueles olhos? — Eu tenho vinte e quatro anos, sou solteira. O sexo faz parte da vida das pessoas com certa frequência. Onde eu vivo pelo menos é assim. E mesmo que eu não conhecesse na prática, minha mãe me explicou como tudo funcionava quando eu tinha onze anos.
— A senhorita conhece na prática? — temi que seus olhos fossem saltar das órbitas. Seus rosto se retorceu em desaprovação e... tristeza?
— Mas é claro, Joe. — talvez não fosse tão óbvio para um rapaz do século dezenove, mas eu não pretendia mentir para ele. Estava sendo muito gentil comigo, me ajudando desde que me encontrou. Ainda mais gentil por me ajudar, sem nem mesmo saber a história toda. — As coisas são diferentes por lá.
— Não gosto de como as coisas funcionam nesse seu lugar. E sua mãe fez muito mal. — sua testa estava vincada, suas sobrancelhas quase unidas. — Muito mal, realmente!
— De forma alguma! Acho que ela fez certinho. Uma menina precisa saber o que acontecesse com seu corpo na adolescência e para que servem as mudanças, ou o número de adolescentes grávidas seria maior do que já é.
— Há muitas delas grávidas? —ele parecia não acreditar no que ouvia.
— Sim, muitas. E, em sua maioria, por culpa de uma mãe negligente que não cumpriu seu papel de educadora, como fez a minha. — pensar em minha mãe sempre me acalmava. Como se ela pudesse, ainda, me acalentar.
Suspirei. Sentia uma saudade terrível dos meus pais.
— E a castidade? E a pureza? Não existe valores onde você vive? - perguntou indignado.
Eu ri.
— Ah, Joe! A virgindade não é tão importante desde mil.... Faz tempo! Eu não quebrei as regras. Acredito que ainda existam garotas virgens. Todas as de doze anos, pelo menos.
— Ouso dizer que esse lugar não é adequado para uma jovem viver!
— Bom, é adequado pra mim! — dei de ombros. — Não conhecia outra forma de viver até ontem. Gosto muito de lá. Espero conseguir voltar logo.
Joe estreitou um pouco os olhos.
— Creio que passar um tempo aqui possa lhe fazer algum bem. Novos costumes, novos conhecidos Talvez acabe gostando.
Duvido muito
— Bem, é claro que primeiro eu preciso encontrar um jeito de voltar, depois eu vejo isso.
Sabia que não conseguiria convencê-lo que sexo fazia parte da vida, assim como sentir sono ou sede. Ele devia ter sido criado pensando que garotas eram virgens até o dia do casamento, sem exceções à regra.
Ele voltou a olhar para a janela.
— Chegamos. — disse ele, depois de algum tempo em silêncio.
Era estranho demais olhar a cena. Ruas de pedras irregulares, construções sem cor e antigas — sem a ação do tempo, porém — homens vestindo casacas e com bengalas nas mãos, mulheres com vestidos antigos e bufantes, chapéus cheios de laços, sombrinhas rendadas nas mãos enluvadas. Até as crianças que vi pareciam sair de um quadro antigo, usando roupas demais para crianças. E cavalos. Muitos cavalos e
carruagens. Tudo estranho.
Eu ri. Era como se eu estivesse numa das histórias dos meus livros. Estava ansiosa demais para procurar pela tal pessoa, mal esperei a carruagem parar totalmente para descer. Joe suspirou ao meu lado, claramente insatisfeito. Imaginei que fosse por causa da conversa que tivemos.
Olhei para ele, seu semblante estava ofendido.
— Ao menos poderia esperar até que eu desça primeiro e abra sua porta? — reclamou irritado.
Oh!
— Eu... É que nunca... Ninguém nunca abriu a porta do carro... carruagem pra mim antes. Me desculpe, foi força do hábito. — sorri sem graça.
Ele suspirou novamente.
Eu não disse nada. Sabia que precisava me esforçar mais para não parecer um ET para as outras pessoas e não colocar Joe numa situação constrangedora, mas era muito difícil. Eu queria voltar logo para casa. Precisava voltar logo! Marisa devia estar maluca de preocupação com o meu desaparecimento repentino e, se eu não apareço no escritório na segunda de manhã...
— Onde deseja ir primeiro? — Joe perguntou, já ao meu lado.
— Não sei bem. Pensei que talvez pudéssemos andar por aí, perguntar sei lá. Honestamente, você não acha que se mais alguém como eu estiver de fato por aqui será meio fácil de identificar?
— Muito fácil! — e sorriu. A irritação ainda não havia deixado seus olhos, mas ele parecia mais controlado agora. — Talvez possamos pedir informações a alguns comerciantes.
— Beleza! — ele me olhou confuso. Ah!— Beleza, bacana, jóia. — ainda confuso. Suspirei. — Que ótimo!
Eu precisava tentar me comunicar melhor. Gírias definitivamente não eram boa ideia.
Joe concordou com a cabeça e fez uma mesura com o braço. Era tão surreal! Eu tinha a impressão que, a qualquer momento, o Senhor Darcy em pessoa sairia de alguma daquelas portas de madeira acompanhando Lizzy Bennet.
— Senhorita? — chamou ele, quando eu já estava alguns passos à sua frente.
— Que foi? — me virei para ver o que eu tinha feito de errado desta vez, pelo tom reprovador que ouvi em sua voz.
Ele me alcançou e me ofereceu o braço em forma de L. Continuei olhando para ele sem entender.
Joe suspirou exasperado. Pegou gentilmente minha mão e a colocou na parte interna de seu cotovelo.
— Ah! — eu disse sem graça. — Precisa mesmo?
Eu me sentia um pouco estranha quando ele ficava perto de mim daquele jeito. Meio sem equilíbrio e inquieta, até meu estômago se comportava de forma anormal.
— Devo acompanhá-la. — ele disse sorrindo. Desviei os olhos porque, novamente, seus olhos pareciam puxar os meus em sua direção.
Dei de ombros, fingindo indiferença. Estava começando a ficar irritada com as reações de meu corpo, principalmente quando Joe me tocava.
— Como tem passado, Senhor Clarke? Não o vejo desde a semana passada! — cumprimentou uma garota de vestido rosa bebê, com cabelos muito loiros, cheios de cachos que pareciam ter sido feitos no babyliss sob o chapéu branco, um laço em seu queixo, acompanhada de uma mulher mais velha, talvez sua empregada, pelas roupas mais modestas. Elas inclinaram ligeiramente.
Joe se curvou também.
— Estou muito bem, senhorita Valentina. Estive fora em uma viagem de negócios. Voltei apenas ontem. Como tem passado? — um sorriso educado se espalhou em seu rosto.
— Estou muito bem, Senhor Clarke — ela piscava repetidamente,irritantemente. — Espero que tenha feito bons negócios. Fiquei alarmada por não vê-lo aqui no vilarejo. Pensei que talvez estivesse padecendo de algum mal! — e então me notou.
Avaliou-me de cima a baixo. Seus olhos se fixaram na minha mão no braço de Joe. Que ótimo, pensei. Então medir as pessoas era um mal muito mais antigo do que eu imaginava!
— Não me apresenta sua amiga, Senhor Clarke? — ela continuou, piscando muito.
— Mas é claro. Esta é a senhorita Demetria... — ele parou incerto de como continuar.
— Alonzo. Como vai? — estiquei minha mão para cumprimentá-la.
Ela olhou para a mão estendida, depois para Joe e de volta para mim.
Ah! Deixa pra lá.
— Alonzo? — Ian perguntou, suas sobrancelhas arqueadas.
— É. Meu bisavô era espanhol. Família de sangue quente sabe como é. Quando juntava todo mundo sempre acabava em briga. O Natal era um pesadelo! — brinquei.
Ele franziu a testa ainda mais.
— Err... Certo. Senhorita Demetria, esta é a senhorita Valentina de Albuquerque. Uma antiga amiga da família, e sua criada, senhora Veiga.
— Prazer em conhecê-la, senhorita Demetria. — ela se inclinou, me encarando de um jeito estranho. — Está hospedada em sua casa, Senhor Clarke?
— Sim. Ela está em uma... Viagem de descanso. — ele mentia muito mal. Até eu, que o conhecia há apenas um dia, percebi que sua voz se alterou quando mentiu.
— Mas eu vou embora logo. — assegurei a ela, que pareceu não gostar da novidade. — Só preciso resolver umas coisinhas e aí me mando.
Ela olhou para Joe sem compreender.
Suspirei, cansada.
—Sabe que é bem-vinda em minha casa pelo tempo que desejar. — Joe me disse, gentilmente.
Sorri para ele, encantada por sua bondade. Valentina, porém, não sorriu. Seus olhos faiscaram.
Oh! Ela gostava dele! Meu sorriso desapareceu.
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Hey meninas,como vão ? Como prometido mais um lindo capitulo hoje,espero que gostem e se tudo der certo amanha tem outro,fazer uma maratona é bem legal kkk,comentem,curtam,kibem,seila,mais realmente deixem a opinião de vocês,Joe e Demi vão começar a se entender,ja sentiram um sentimento entre eles? e um ciuminho da Demi? Hehehe,essa historia é muuito boa,Beijos ,boa Quinta e ATE QUE FIM CHEGANDO O FDS.
Beijão,Nath
To achando que a Demi vai acabar com essa pureza toda do Joe kkkk
ResponderExcluiradorei o cap *-*
capitulo engraçado haha posta mais.
ResponderExcluirQue perfeito ❤️❤️
ResponderExcluirTo adorando tudo
Ansiosa aquiiii
Posta logooo
Beijos