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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Perdida #43

— Alguns convidados já chegaram, então... — me ofereceu o braço. — Será que posso conduzi-la até a sala ou vai me mandar para a parede outra vez? — disse ele, mudando de assunto, mas sua expressão ainda era triste.
— Se comporte. — respondi, aceitando seu braço.

Ele tentou sorrir um pouco enquanto me conduzia. Beijou minha testa carinhosamente pouco antes de entrarmos na grande sala de baile e suspirou. Não disse nada até chegarmos ali, apenas me olhava nos olhos. Eu podia ouvir o zumbido de vozes.
— Sabe que não sei me comportar seguindo esses costumes. — eu avisei, para o caso de cometer alguma gafe e arruinar o baile de Elisa.
— Agradeço aos Céus por isso. — seu sorriso era mais feliz agora. — Não se preocupe, se sairá muito bem.

Eu assenti, mais por hábito que por confirmação. Tinha uma intuição ruim sobre o baile. Só não sabia bem o porquê.

Assim que entramos na sala, todas as cabeças se viraram para nos observar. Corei um pouco e procurei por rostos conhecidos. Encontrei Elisa, com um imenso sorriso, me olhando maravilhada. Estava parecida com uma princesa, tão delicada e encantadora com seu vestido marfim, que realçava ainda mais seus cabelos negros. Também encontrei Teodora, que não sorriu, mas também não me olhou de forma gélida. Fez um leve aceno com a cabeça e voltou a conversar com uma garota. Diferente de Elisa, Teodora gostava de coisas mais extravagantes, e seu vestido dourado e cheio de pedras era extremamente exótico.

—Tá todo mundo olhando pra mim! — cochichei para Joe.
— E por que não estariam? Não creio que algum deles já tenha visto uma jovem mais bela e encantadora tão de perto.
— Pare de brincar, Joooe! — ralhei baixinho.
— Não estou brincado. — o rosto sério, os olhos traziam o mesmo brilho da noite passada. Meu coração deu um solavanco. Tentei me distrair para não acabar arrastando Joe por uma das dezenas de salas vazias.

Observei a sala abarrotada e fiquei desconfortável. Não gostava daquele tipo de reunião social, sempre me sentia excluída. Imaginei que estar num século que não era o meu não tornaria as coisas mais fáceis para mim.

Joe se esforçou para me deixar à vontade, me conduziu pela sala até onde estava Elisa e imediatamente me apresentou as pessoas com quem ela conversava animadamente. Tentei guardar alguns dos nomes, parecia importante para Joe que seus amigos me conhecessem. Esforcei-me muito para não envergonhá-lo dizendo besteiras e gírias. Por experiência, me limitei a perguntas educadas. Como vai você? Linda noite,
não? Na verdade, estava linda apenas dentro de casa, parecia que vinha chuva pesada ainda naquela noite.
Admirei os vestidos brilhantes e cheios de plumas — tão diferentes do meu — e me perguntei se a tal gaiola era mesmo tão desconfortável quanto parecia. Nenhuma das mulheres pareciam incomodadas e, a julgar pelo diâmetro das saias, elas seguramente usavam a gaiola. Pensei que estivessem tão habituadas a ela que nem se importavam mais.
A sala imensa estava praticamente vazia de mobília. Sobraram apenas algumas cadeiras, um sofá pequeno e uma mesa grande com muita coisa sobre ela: castiçais, os talheres que ajudei a polir, taças de cristal, pratos e muita comida. Vários tipos de carne assada, batatas e legumes, bolos delicadamente decorados, frutas e pães se espalhavam sobre a mesa. Uma tigela contendo um líquido rosa e pedaços de alguma coisa me
chamou a atenção. Descobri mais tarde que se tratava de um ponche, feito com vinho tinto, conhaque e maçã picada. Eu ainda preferia chope, mas o ponche até que era bom.

Uma pequena banda no canto da sala afinava os instrumentos.

Conversei um pouco com a família Albuquerque. A mãe de Valentina não pareceu muito feliz ao me ver usando um bonito vestido. Valentina, contudo, foi mais educada e elogiou o trabalho de madame Georgette, mas seu rosto estava triste e eu sabia o motivo. Não importava onde ou com quem Joe estivesse, ele simplesmente não tirava os olhos de mim. Não fui a única que notou isso.

Senti-me mal por Valentina, mas também por mim. Nenhuma de nós duas conseguiria o que queria. Ela pertencia àquele século e queria Joe, mas não o tinha. Eu tinha Joe, mas não pertencia àquele tempo.
Talvez, quando eu fosse embora, ela pudesse consolá-lo. Quem sabe ele não acaba se apaixonando por ela e me esquece pra sempre...

Meu coração afundou no peito.

A banda — ou seria pequena orquestra? — começou uma música animada. O violino vibrante contagiou as pessoas, que se puseram em fila, homens de um lado, mulheres de outro. Fiquei olhando com incredulidade, esperando que alguém gritasse:

Óia a cobra! É mentira! Mas é claro, ninguém fez isso.

A dança era familiar, meio parecida com a quadrilha que eu conhecia, só que séria, sem brincadeiras. Fiquei observando como homens e mulheres sabiam todos os passos, sem errar nada, como num balé. Imaginei que ensinassem isso no colégio.

Vi Elisa dançando com um carinha a quem fui apresentada mais cedo. Talvez seu nome fosse Lucas, mas eu não tinha certeza. Ela parecia radiante e o rapaz não tirava os olhos dela.

Uma mão quente e grande tocou meu ombro. Senti um arrepio subir por minhas costas. Eu sabia dizer exatamente quem era o dono daquela mão antes mesmo de me virar.
— Me daria a honra da próxima dança, senhorita? — Joe perguntou sorrindo.

O rosto de Valentina desmoronou, mas ele não notou. Eu não queria magoar ninguém, nem mesmo Valentina, que mal vi duas ou três vezes na vida, mas seus olhos tristes me encheram de culpa. Só que eu também o amava, e não tinha culpa disso, aconteceu naturalmente, sem que eu me desse conta, e agora era tarde demais para voltar atrás. A culpa era daquela vendedora-macumbeira que me mandou para aquele
século sem bilhete de volta. E agora eu interferia cada vez mais na vida das pessoas dali.

O conflito interno já estava me deixando maluca.

Não seria possível simplesmente ser feliz sem magoar ninguém, sem me sentir culpada?

— Joe, eu não sei dançar assim! — fiquei apavorada com a ideia e muito  desconfortável com o olhar de fúria que Senhora Albuquerque me lançou quando, sem  pensar, o chamei pelo nome. 
— A próxima dança será uma valsa, — explicou carinhoso um sorriso nos lábios  perfeitos. — Acho que se sairá bem nessa, é bem simples. 

Mordi o lábio. Queria muito ficar perto dele outra vez, mas ainda estava  esperando que Santiago aparecesse. Já estava impaciente com sua demora. Se era para  resolver tudo logo, eu não queria mais esperar. Queria saber tudo para poder seguir com  minha vida e aproveitar o tempo que tivesse ao lado de Joe.

Encontrei seus olhos negros suplicantes e não pude dizer não a ele. 

— Tá bom! Mas já vou logo avisando que eu não sei dançar valsa. Tenho certeza que  vou acabar esmagando seu pé. 

Ele riu abertamente. 

— Creio que sobreviverei a isso! 

Eu ri também. 

Quando a quadrilha acabou, Joe pegou minha mão e colocou gentilmente em seu  braço, parecendo muito orgulhoso de me conduzir até o centro da sala, como se eu fosse  a pessoa mais especial do mundo. Sacudi a cabeça, sorrindo. Joe era incrível demais  para ser real!
Rapidamente, a sala se encheu de casais para a valsa. Quando a música  recomeçou vi os casais flutuando pela sala. Entrei em pânico. 

— Basta me seguir, Demi. Veja? — ele tentou me conduzir. Tentei seguir seus  passos e, como havia prometido, acabei pisando no seu pé. 

— Desculpe, Joe. — senti meu rosto esquentar. 
— Não se preocupe. Agora relaxe e sinta a música. — tentei relaxar. Suas mãos  em minhas costas nuas me acalmavam um pouco. 
— A valsa é uma dança muito íntima. — ele me puxou delicadamente para mais perto. — Significa deslizar, girar. Imagine que estamos sozinhos aqui, apenas você e eu. Relaxe e confie em mim. — sua voz rouca e baixa me trouxe a recordação de outros  momentos íntimos. Momentos em que confiei nele cegamente. Arrepiei-me com a  lembrança e, quando ele sorriu para mim com ternura, com paixão, soltei todas as minhas amarras e deixei que ele me guiasse, sem me importar com mais nada.  Ainda esmaguei seu pé mais uma ou duas vezes, mas acabei pegando o jeito  depois de um tempo. Provavelmente, não flutuava como as outras mulheres, mas estava  começando a me divertir muito. Rodopiamos pela sala algumas vezes. 

— Quem dera Storm cedesse às minhas súplicas assim tão facilmente! — ele  disse depois de alguns giros. 
— Está me comparando a um cavalo? — fingi estar ofendida. 
— Não com um cavalo. Com Storm. — ele sorriu. — Acho que vocês dois tem a  mesma expressão nos olhos. A mesma liberdade cravada na alma. 
— Liberdade! — zombei. — Minha alma já não me pertence mais.

Como posso  ser livre?


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Hey meninas,tudo que eu posso dizer sobre o proximo capitulo é : MUITO,MAIS MUITO TENSO,E QUE SANTIAGO É MUITO MAIS MUITO PERIGOSO.
Espero que gostem,um beijão
Nath

Um comentário:

  1. Jemi tão fofos
    Ansiosa para saber mais...
    Agora fiquei com medo do Santiago...doida para saber o que ele vai aprontar kkk
    Posta logoo
    Beijos

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