balé. E lá estava eu, afundada na poltrona como sempre, enquanto as duas pareciam se equilibrar na beirada do sofá. Tentei copiar a postura de Elisa, mas desisti depois de uns quinze minutos. Meu corpo já tinha memorizado a postura: encoste as costas no sofá,solte os ombros e se afunde, cruze as pernas. Cruzar os braços em caso de irritação ou frio. Por mais que tentasse copiá-la, aos poucos meu corpo voltava à posição despojada. Eu não pertenço a este lugar. Se elas se comportassem do mesmo modo em 2014, seriam taxadas de esnobes. Tentei me convencer disso, mas não funcionou muito. Os movimentos delicados que Elisa fazia para bordar um pequeno pedaço de tecido eram mais graciosos que qualquer gesto que eu pudesse fazer. Pensei que as mulheres acabaram ficando sem tempo para detalhes como esse.
Depois do jantar fui até a cozinha falar com Madalena
— Eu queria te pedir um favor, Madalena.
— O que quiser, senhorita Demetria.
— Por acaso, não teria um pedaço de tecido sobrando por aí? — notei a curiosidade em seu rosto. — Algum tecido velho que eu possa usar para fazer uma... Coisa.
— Na verdade, tem sim. Sempre precisamos de tecidos para fazer alguns remendos num lençol ou em uma roupa. Precisa de quanto?
— Ah, só um pedaço pequeno basta.
— Vou pegar meio metro então. — e me fitou com suspeita.
— É mais que o bastante! Também vou precisar de tesoura. — acrescentei.
— Claro. — ela se inclinou ligeiramente. — Voltarei num instante.
Madalena me entregou o tecido bege e uma tesoura de ferro muito pesada. Corri para meu quarto. Estiquei o tecido sobre cama. Procurei a caneta em minha bolsa, peguei minha calcinha — minha única calcinha — e a coloquei sobre o tecido. Risquei em volta da parte da frente, depois da parte de trás, sem interromper o desenho. Tracei fitas de dois dedos de largura nos dois desenhos. Peguei a tesoura e comecei a recortar.
Meu Deus! Como é pesada!
Também pudera, parecia feita de metal fundido. Puxei algumas linhas soltas quanto terminei e provei. Parecia mais um biquíni de amarrar muito mal feito que uma calcinha — o tecido não era de lycra, claro, então facilitava muito ter as tiras para o ajuste. Só esperava que não desfiasse muito! Claro que eu já tinha usado roupas sem nada por baixo. Mas sempre com roupas justas, onde a calcinha marcava e deixava o visual meio cafona. Era diferente estar tão à vontade com aquele vestido rodado que podia se inflar como um balão a qualquer sinal de vento. Melhor garantir.
Dobrei o resto de tecido — sobrou mais que a metade — e o guardei dentro da cômoda de madeira escura que combinava com a cama. Nenhuma das gavetas estava ocupada. Deixei a tesoura no aparador ao lado da banheira. Dessa vez, assisti o preparo de meu banho. Achei engraçado vários empregados com baldes cheios de água indo e vindo, Madalena com um balde enorme cheio de água escaldante tomando cuidado para que o pano que protegia sua mão não escorregasse. Tudo muito complicado para uma ação que eu estava acostumada ser tão simples.
— Gostaria que eu voltasse depois para pegar seu vestido para ser lavado, senhorita? — Madalena perguntou, prestativa como sempre.
— Será que ele secará até amanhã? — bem que estava precisando ser lavado. Eu o estava usando há dois dias! — Vou precisar dele para ir até a vila amanhã.
— A noite está bastante quente. Acho que secará a tempo.
Fechei a porta e tirei o vestido. Quando o entreguei a ela, notei seu rosto vermelho.
— Madalena, você não precisa ficar envergonhada. É uma mulher também. — ela assentiu. E, mais depressa do que eu imaginei que fosse possível, saiu do quarto.
Descobri que o conteúdo do vidro âmbar era algo parecido com xampu. Na verdade, mais parecido com detergente de cozinha que xampu, mas fez bastante espuma e pareceu limpar bem minha cabeça. No entanto, deixou meu cabelo um pouco espigalhado. Não encontrei condicionador. Depois de me vestir — com alívio, com minhas próprias roupas — saí para procurar por Joe. Entretanto, não foi necessário. Ele estava ali, com a mão ainda erguida para bater na porta quando eu a abri.
— Joe, precisava mesmo te encontrar! — exclamei satisfeita.
— E eu também. — ele riu parecendo satisfeito com minha euforia por vê-lo ali.
Depois seus olhos percorreram meu corpo e um vermelho intenso se espalhou em seu rosto. — Por que está vestida assim?
— Madalena tá lavando meu vestido. Ou uso estas roupas ou roupa nenhuma. — avisei. Por que eu não usei calças ontem? Calças não me deixariam pelada.
Ele ficou desconcertado.
— Mas, senhorita...
—Você já me viu com elas, não precisa ficar todo estranho por causa disso. É só uma regata e uma saia. Totalmente inofensivos. Agora entre logo que eu quero falar com você.
Joe pareceu relutante.
— Algum problema? — perguntei.
Sua cabeça se inclinou um pouquinho para frente enquanto ele me dizia:
— Não é adequado que eu entre em seu quarto, senhorita. Ainda mais durante a noite e com você... vestida com estes trajes.
Ah! Pelo amor de Deus!
— Deixa de ser tão antiquado, Joe. — alcancei seu braço para dentro. —Vou deixar a porta aberta, está bem? Não vou te atacar. — brinquei.
Ele não riu. Mas acabou se deixando arrastar, só um pouco. Dois passos depois ele disse:
— A Senhora Madalena me procurou há pouco. Disse que a senhorita precisa de algumas roupas e eu gostaria de ajudá-la, mas creio que terá que esperar até amanhã de manhã. Com certeza, madame Georgette terá algum vestido que sirva em você.
— Por isso mesmo queria falar com você. — Fui até minha bolsa e peguei minha carteira. — Você já viu algumas destas?
Estendi a mão para que ele pegasse as notas.
— Não. Nunca. O que são? — ele examinava o dinheiro atentamente.
Não dava para acreditar!
— São notas de dinheiro. — expliquei desanimada. — Você usa para comprar coisas...
— Sei o que é dinheiro, senhorita Demetria. Apenas nunca vi um que fosse feito de papel. Não deve ter valor algum.
— Tem muito valor! Cada uma vale mais que as outras, Veja, o número impresso nela determina seu valor, o número maior é para a que vale mais e...
—Você não usa moedas? — perguntou surpreso.
— Ás vezes, para pequenas coisas. Elas não valem muito. — daí entendi. — Vocês usam apenas moedas, não é?
Ele assentiu e aproximou a nota de seu rosto para examiná-la melhor.
—Então, eu tô lisa! — com certeza a Mastercard não teria colocado uma máquina de cartão de crédito no atelier da madame sei-lá-oque. — Como é que eu vou pagar pelo vestido amanhã? — eu disse, mais para mim mesma.
— Isso deve bastar. — Joe tirou do colete três moedas douradas e estendeu a mão para que eu as pegasse. Peguei as moedas automaticamente. Olhei para elas por um minuto — tinha uma coroa desenhada em alto relevo e depois estiquei a mão para ele.
— Não. Não posso aceitar. Você já tem feito muito me hospedando em sua casa e me alimentando. Não posso aceitar seu dinheiro também.
Ele apenas me encarou. Os olhos obstinados
— Guarde isso, Joe. Eu não quero. — estiquei teimosamente o braço.
Ele não fez movimento algum.
Então eu fiz. Aproximei-me dele e, como ele não se deu ao trabalho de me estender sua mão, a agarrei e coloquei as moedas dentro dela.
— Senhorita Demetria, por favor! Irá precisar de um vestido para o baile. E, apesar de o vestido que Elisa lhe emprestou destacar sua beleza, está muito claro que não pode ter apenas um. — ignorei o elogio. Ele apenas tentava me convencer a aceitar o dinheiro. — Você não sabe quanto tempo ficará aqui. Não pode passar todo o tempo apenas um vestido!
— Eu me viro. — dei de ombros. — E tenho minhas próprias roupas.
— E acho que deveria guardá-las. Se algum cavalheiro mais... Inescrupuloso a visse vestida desta forma..— ele sacudiu a cabeça e não continuou.
— Obrigada pela preocupação. Tá vendo? Você está se preocupando comigo sem ter nem uma obrigação pra isso. Eu já estou te incomodando demais! — então, de repente, tive uma ideia. — Mas talvez eu possa vender alguma coisa!
— Não lhe restou nada! Vender o que? — ele não gostou da minha ideia, tive certeza disso.
— Ainda não pensei nessa parte. — e corri para minha bolsa. Tinha que ter alguma coisa ali que tivesse valor.
Joguei o conteúdo dela sobre a cama e me ajoelhei no chão, procurando por alguma coisa que pudesse interessar a alguém naquele lugar atrasado. Tirei o livro, o celular e a caixinha dele do caminho e os guardei— não poderia vendê-los por diferentes razões, mesmo que morresse de fome — e remexi em minhas coisas. Minhas únicas coisas, tentando encontrar qualquer objeto que pudesse ter algum valor.
Joe se aproximou da cama, olhando minha bagunça com curiosidade.
— O que é isto tudo? — indagou.
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HEEEEEEEEEEEEEEEEEEEY,volteeeeeeei kkk,espero que gostem do capitulo,to animada hoje,AVALANCHE SAIU E TA LINDA,QUE VOZ DEMETRIA <3
Curtam,kibem,comentem,buguem,a coisa vai ficando legal agora hehehe :3
Beijos meninas,inté amanha suas gatonas
Tia Nath
#vocessãoasmelhoresleitorasdomundo
Eu quero mais :3
ResponderExcluirSe vai ficar legal, quero ainda mais kk'
Maratona seria uma boa, né... haha'
Beijos~
Ja estamos em maratona linda,um cap em cada dia kkkkkk,eu demorava pra postar pakas
Excluir#nath
Ai que perfeito
ResponderExcluirEsses dois ❤️
Posta logoo
Beijos