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domingo, 16 de novembro de 2014

Perdida #39

Ele entregou as galinhas ao moleque que passava.

— Cuide disso, por favor. — pediu, parecendo cansado.

Depois foi até a “torneira” ao lado do cocho e meteu a cabeça na água. Seus cabelos ensopados brilhavam um tom de azul muito escuro. Um pouco da água escorreu pela camisa. O tecido grudou em seu peito, cada músculo bem definido ficou exposto através do tecido transparente. Foi impossível desgrudar meus olhos, mas ele não pareceu notar meu olhar de cobiça.

Joe se aproximou e sorriu afetuosamente.

— Onde aprendeu aquela palavra? — perguntei, queimando de curiosidade.
— Qual? — ele disse confuso.
— Porra! Onde aprendeu isso?
— Ah! Perdoe-me, Demi! Eu não imaginei que você pudesse ter ouvido.
— Não se desculpe. Eu adorei! Só fiquei curiosa pra saber onde aprendeu um palavrão desses. Pensei que não existissem essas palavras aqui.
— Eu leio muito. — explicou envergonhado.
— E aprendeu isso num livro? — instiguei ainda mais interessada. — Um livro que tem porra escrito nele? De verdade?

Ele corou.

—Sim. E não repita o que eu disse, por favor.
— Que livro é esse? Deve ser um autor revolucionário! — Ele relutou, parecia
muito embaraçado. Mas acabou me dizendo.
— Bocage. — sua voz tão baixa que mal pude ouvir
— Acho que já ouvi falar. Não é aquele carinha português que escrevia poemas eróticos? — eu me lembrava de parte da poesia, o pessoal de Letras adorava citá-lo... “Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou vida folgada, e milagrosa; Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.”
— E como é que você sabe disso? — Joe inquiriu, exasperado.
— Faz parte do que eu tenho pra te contar. — apontei.

Ele suspirou.

— Que tal conversarmos na margem do rio? Creio que não correremos o risco
de...
— Senhor Clarke, que bom que o encontrei! — Gomes desceu os degraus da cozinha com o rosto em pânico. — Aconteceu um acidente com as carroças de entregas, patrão. Uma delas acabou batendo na outra por acidente e os dois cavalheiros não estão se entendendo. Estão muito exaltados. Temo que acabem perdendo a cabeça. Os olhos aflitos do mordomo não deixavam dúvida quanto ao que seria esse
“perdendo a cabeça.”

— Não em minha casa! — Joe vociferou e depois saiu quase correndo, com o mordomo em seu encalço.

Estava começando a pensar que o destino não queria que eu contasse minha história a ele! Tudo acabava dando errado de alguma forma toda vez que eu tentava. Tentei falar com ele outras vezes naquela tarde, mas toda vez alguma emergência aparecia e lá ia ele salvar o mundo. Pensei que poderíamos conversar depois do jantar. Eu ainda não entendia por que tanto carnaval só por causa de um baile.

— É como as pessoas se lembrarão da família. — Joe me explicou, enquanto seguíamos para a sala de música. Elisa queria tocar um pouco antes de dormir. — Lembra-se do que disse a Senhora Albuquerque sobre o baile que o marquês ofereceu?

— Claro. — homens que se comportaram mal a fizeram sair mais cedo da festa.
— Então, por mais que o marquês ofereça outros bailes, bailes melhores que qualquer um já tenha ouvido falar, ele sempre será lembrado por este, em que os convidados foram obrigados a se retirar porque alguns cavalheiros não souberam se comportar perante as damas.

Sentei-me ao lado dele, Teodora ao lado de Elisa no piano. Imaginei que estivesse nos dando um pouco mais de privacidade. Começava a gostar de Teodora.

— E por que você se importa com isso? — ele não parecia ser tão vaidoso a ponto de querer dar o baile mais perfeito que já existiu.
— Na verdade, não me importo, mas Elisa se importa.— ele olhou para a irmã com ternura. — Quero que tudo ocorra como ela planejou.

Também observei Elisa, que começara a tocar uma música familiar. Reconheci de imediato, tinha aquela música no meu mp3! Só que era tocada por uma banda “dinossáurica” de rock, juntamente com uma filarmônica. Sorri. A primeira coisa em comum até agora! Bem, com exceção do palavrão de Joe.
— Gosta dessa? — Joe indicou o piano com a cabeça.
— Muito! — respondi entusiasmada, agarrando seu braço com as duas mãos. —

Eu tenho essa música. É uma versão um pouco diferente, bem mais pesada, mas é a mesma! Tive muito trabalho pra baixá-la na internet. Eu não conseguia enc... — parei no instante que a ruga em sua testa se aprofundou. Eu tinha que conversar com ele logo. A situação estava ficando insuportável.

— Pretende me contar algum dia onde fica esse tal lugar? — perguntou, depois de algum tempo de silêncio, exceto pela música.
— Na verdade, pretendo te contar hoje. Tenho que te contar tudo, Joe! Acha que pega mal se fossemos conversar lá na sala de visitas? Só nós dois?
— Não sei. O que é pegar mal? — perguntou educado como sempre.

Argh!

— É tipo... Ruim. Ofensivo ou indecoroso. Não fica bem...
— Senhor Clarke! Ainda bem que lhe encontrei. — era Gomes outra vez.

Ah! Pelo amor de Deus!

Não prestei atenção em qual era a emergência que Joe simplesmente tinha que resolver naquela hora da noite. Esperei impaciente que ele voltasse, mas a hora foi passando, ele não voltava, Teodora e Elisa estavam cansadas e resolveram se retirar. Fiz o mesmo. O que mais poderia fazer?
Não consegui dormir, é claro. Na verdade, nem tentei. Fiquei andando de um lado para o outro, esperando que ele viesse me procurar. Esperei mais algumas horas e desisti de esperar por ele. Abri a porta decidida e vi o corredor totalmente escuro. Alguém devia ter apagado as velas e eu nem ao menos percebi. Peguei a vela do quarto e andei pelo corredor, tentando não fazer barulho e chamar atenção. Encontrei a sala igualmente escura e vazia. Continuei em frente. Eu iria falar com Joe! Nem que precisasse ficar sentada na porta de seu quarto esperando a noite toda. Bati levemente na porta quando a alcancei. Elisa dormia poucos metros dali e eu não fazia ideia de qual era o quarto de Teodora. Ouvi alguma coisa lá dentro.

Ele estava no quarto. A porta se abriu um pouco e pude ver que ainda estava de camisa.
— Ainda está acordado. Que bom! — sussurrei. — Vamos conversar? Agora! — exigi.

Ele abriu a porta um pouco mais, seu rosto perturbado

— O que está fazendo aqui a essa hora? — sussurrou me reprovando.
— Eu te esperei até agora e, como você não me procurou, resolvi te encontrar, e te encontrei. Agora, vai me deixar entrar ou vamos conversar no corredor e acabar acordando a casa toda?
— Demi, eu não posso deixá-la entrar! Você enlouqueceu?
— Tem alguém aí dentro com você? — essa seria a única coisa que me impediria de entrar e ter esta conversa com ele.
— É claro que não! — respondeu, horrorizado e ofendido. Sua voz mais alta que meus sussurros. — O que você está pensando?
— Não estou! Agora me deixe passar. — não esperei que ele respondesse, me enfiei entre ele e a porta e entrei.
Joe olhou para os dois lados do corredor antes de fechar a porta.

— O que acha que está fazendo, Demi? — ele foi até uma mesa (como a do meu quarto com o jarro e a bacia) e lavou as mãos cheias de tinta. A água ficou negra quando as cores se misturaram. — Se alguém souber que está aqui... Vai arruinar sua reputação!
— Tenho coisas mais importantes para resolver agora que me preocupar com minha reputação! — não tirei os olhos dele. Vestido novamente apenas com camisa e a calça. — Tenho que dizer muita coisa. É importante. Não saio daqui até que você me escute!

Ele secou as mãos e, depois de colocar o pano sobre a mesinha, se aproximou.

— Não pode esperar até amanhã?
—Não!
— Muito bem, então. — suspirou. — Vamos conversar.
— Vamos. — concordei.
Mas, de repente minhas palavras fugiram e eu não sabia por onde começar. Respirei fundo algumas vezes, juntando a coragem, que já não era muita. Joe me observava atentamente.

— Talvez... — comecei hesitante. — Talvez queira se sentar para ouvir tudo o... — fiz um gesto apontando para a cama e parei de falar.

Acho que de respirar também.
Havia um quadro ao lado da cama. Uma tela inacabada. Meus pés foram atraídos até ela sem que eu me desse conta disso. Levantei a vela que ainda segurava para iluminar melhor o retrato e arfei.

Mas era...
Eu!

O quadro inacabado era uma cópia perfeita da noite em que fomos a ópera. Eu usava o vestido rosa, a flor presa em minha trança, meus olhos brilhantes. Minha figura estava quase pronta, meus cabelos, meus olhos, minha pele, meus lábios. O vestido, porém, tinha apenas um pequeno contorno de tinta rosa no colo.
Levantei a mão para tocá-lo. Era tão real que parecia um espelho. Um espelho de meio corpo que refletia a imagem mais bonita que a original.

— Não toque! — pediu ainda do outro lado do quarto. Virei-me para vê-lo. A tinta ainda está úmida. — Vai borrar — ele parecia desconfortável, assustado, inseguro.

Olhei para o quadro mais uma vez. Essa mulher linda no quadro sou eu?É assim que ele me vê?

— Joe — minha voz distorcida por culpa do nó em minha garganta. —  Por que me pintou? Pensei que não gostasse de retratar pessoas!

Ele não respondeu. Virei-me para encará-lo, a pergunta ainda em meus olhos. Nós nos encararmos por um minuto eterno antes que ele me respondesse.

— Porque não posso perdê-la, Demi ! Porque, se tudo que posso ter é este retrato... — e apontou para a tela com um gesto derrotado.
— Joe — deixei a vela no apoio de tintas e me atirei em seus braços.

Joe  ficou muito surpreso com a forma brusca com que me joguei em seus  braços, mas assim que meus lábios tocaram os seus, a surpresa desapareceu  instantaneamente dando lugar a outra coisa. 
Agarrei-me ao seu pescoço, tentando aproximá-lo mais de mim, suas mãos  enormes em minha cintura fizeram o mesmo. Meu coração martelava loucamente dentro  do peito. E a certeza de estar em casa me sufocou tão intensamente que calou  definitivamente os gritos dentro da minha cabeça que pediam para que eu parasse  porque ele sofreria ainda mais depois disso. Não pensei em mais nada, apenas que ele 
me queria ali com ele.  No entanto, seus lábios deixaram os meus e suas mãos seguraram meus ombros, 
me restringindo. 

— Joe? — eu tinha dificuldade para falar. Dificuldade para respirar. 
— Não posso fazer isso com você! Não posso desonrá-la dessa maneira. — sua  voz também instável, aflita. — Não podemos! 
—Podemos, Joe, Podemos sim! — eu tentava recuperar o fôlego para poder me  explicar direito. 
— Devemos esperar um pouco mais. Eu pretendia lhe dizer isso de forma mais... 
— Mas nós não temos mais tempo! — eu o interrompi sacudindo a cabeça.
—Você não entende? Eu... eu não sei quanto tempo eu tenho. Mas tenho certeza  que não é muito. Eu nem sei se ainda estarei aqui amanhã,Joe! 
— Mas é errado, Demi! — ele colou sua testa na minha, fechou os olhos  sacudindo a cabeça. Parecia tão torturado! — Tão errado! Você mesma disse! 

Toquei seu rosto. 

— Não é errado. O que sinto quando estou com você é... É a coisa mais certa  que já senti na vida! Joe, pela primeira vez eu sei aonde pertenço! 

Ele abriu os olhos. 

— Pertence a este lugar? — perguntou confuso. 
— Não, pertenço a este lugar. — eu sorri e deslizei minhas mãos de seu pescoço para os braços fortes e firmes, para que ele entendesse exatamente ao que eu me referia. 

— Pertenço a este lugar — coloquei minha mão sobre seu coração, que batia tão rápido  quanto o meu. — Como pode ser errado? 

Vi a luta através de seus olhos negros, a moral e a honra duelando contra o  desejo louco que sentia. Vi quando seus olhos se escureceram ainda mais e a luta  terminava. E vi a expressão em seu rosto — desesperada e faminta —, antes que  voltasse a me beijar outra vez.  Senti a urgência de seus lábios quando voltaram a tocar os meus e a verdade de  minhas palavras penetrar em cada célula de meu corpo enquanto ele me puxava  impossivelmente para mais perto.  Não me importei com mais nada. Não me importei com o manhã. Com o que iria  acontecer depois. Nada mais importava. Apenas o agora. 
Apenas Joe

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Hey meninas,eu acho que esse foi o HOT,eu esperava algo mais,mais no livro ela não detalha muito
#bosta . Fiz tanta campanha do hot ne? Me desculpem,eu tentei mudar mais ia tirar a personalidade do livro e pa. Me desculpem mesmo. Enfim,espero que tenham gostado,comentem,curtam,kibem,deixem a opinião de voces minhas lindas.
Beijão,Nath

5 comentários:

  1. Comentando kk'
    Se quem escreveu tava com dificuldade, devia ter ido pegar inspiração em GOT kk'
    Mas acho até que foi bom assim. A história tem essa coisa de pegação, mas não é nenhum 50 tons pra detalhar tudo kk' Assim ficou bom ^^
    Posta mais ^-^
    Beijos~

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  2. Ai que lindossssss
    Adorei o capítulo
    Esses dois ❤️❤️
    Perteitooooo viu
    Posta logooo
    Beijos

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  3. Mas eu fiquei sabendo que tinha uns detalhizinhos na primeira vez deles .-. nada muito explicito claro kkk mas ok posta mais.

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  4. acho que rola mais 'pegação' no hot pq eu lembro que ja vi uns trechos do livro em um site e tinha uma parte assim mas não lembro muita coisa faz tempo que vi isso nem conhecia a historia direito então nem lembro muita coisa. posta mais ^^

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  5. finalmente *-*
    posta logo

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