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domingo, 9 de novembro de 2014

Perdida #24

— Posso acompanhá-la até a sala? — perguntou educadamente, me estendendo o braço.
— Não precisa, Joe. O caminho para a sala eu já conheço. Este é um dos únicos em que eu não me perco. — e ri nervosa.
— Eu insisto. — e muito deliberadamente suas mãos alcançaram a minha,colocando-a em seguida na parte interna de seu cotovelo. — Uma dama tão encantadora deve ser conduzida por um cavalheiro. Sei que lhe desagrada que seja eu o cavalheiro em questão, mas sou o único no momento.
—Você não me desagrada! De onde tirou isso? Desde que me encontrou só tem me ajudado! — Joe era a pessoa mais fantástica que conheci ali. Talvez a mais fantástica que já tivesse conhecido em qualquer época. Tão gentil e altruísta!
— Notei que fica um pouco... Agitada... — ele não pareceu encontrar palavra melhor. — quando está comigo.
— Agitada? — repeti como uma imbecil. — Não. Não. Quer dizer, eu fico agitada, mas o tempo todo. É meu estado normal. Sabe como é, sempre tendo que fazer duzentas coisas diferentes ao mesmo tempo... O corpo se habitua e não volta ao estado normal em épocas mais calmas.
— Já percebi isso. — um pequeno sorriso brincou em seus lábios. — Mas não pode negar que hoje à tarde você fugiu de mim.
— Não fugi, não! — sentir seu braço sob minha mão e o calor do seu corpo ao lado do meu estava me deixando inquieta. — Eu realmente prometi me encontrar com Elisa hoje à tarde. Não teve nada a ver com você. Não teve nada a ver mesmo! — tentei parecer firme enquanto falava.
— Não precisa se explicar. Eu compreendo — e voltou seus olhos negros para os meus. — Você não quer ficar sozinha comigo.

Senti meu rosto ficar todo quente. Joe era muito perceptivo. Notava coisas demais!

— Imagino que não queira que nos vejam juntos e tirem conclusões erradas. Entendo perfeitamente não se preocupe.
— Não é nada disso! — eu disse, incapaz de conter a língua. — Sabe que nãome importo com esse tipo de coisa.
— E então por quê? — sua testa enrugada.

Estávamos perto da sala. Com minha mão ainda em seu braço e me encarando com intensidade, Joe se colocou na minha frente, me obrigando a parar. ~

— Por que... Eu fico meio... inquieta quando você me olha do jeito que está olhando agora. — praticamente sussurrei, completamente atordoada pela intensidade e as chamas prateadas em seus olhos. — E isso não é bom. Pra ninguém aqui! Seus olhos arrastavam os meus para sua órbita inescapável. Não consegui desviar, não pude deixar de encará-lo, e isso não ajudou muito a clarear minha cabeça.
— E por que não é bom? — perguntou com a voz intensa, fazendo os pelos de meu braço se arrepiarem.
— Por que eu vou embora logo, Joe. Não tem sentido me afeiçoar a ninguémaqui.
— Mas você está aqui agora! — ele sussurrou e, gentilmente, levantou a mão livre para colocá-la em meu ombro. — Por ora, este é seu lugar.

Seu toque quente deixou minha pele formigando. Minha respiração se acelerou, senti meus joelhos falharem. Olhando dentro de seus olhos profundos, não pude dizer que estava enganado. Não consegui dizer nada, na verdade. Por que, quando ele disse que meu lugar era ali, ao menos naquele momento, com a voz cheia de emoção, fiquei completamente perturbada. Parte de mim acreditou nele. Surpresa vi minha mão se erguer sem um comando consciente e se apoiar em seu peito. Seus olhos tão escuros, tão negros na luz fraca dos candelabros, me observavam intensamente. Senti o calor que emanava de seu corpo sob a palma de minha mão. Dei um pequeno passo em sua direção, incapaz de resistir ao impulso de me aproximar mais dele. Notei que sua respiração também estava alterada. Levantei meu rosto para poder vê-lo melhor, seu rosto ficou apenas a alguns centímetros do meu. Prendendo a respiração, totalmente hipnotizada pelo brilho prateado de seus olhos, me aproximei um pouco mais, meus lábios ligeiramente separados, a mão em meu braço deslizou suavemente até minha cintura e então....
Uma gargalhada histérica vindo da sala ecoou no corredor, me libertando do transe. Vi o que estava prestes a fazer e, com um movimento brusco, tirei minhas mãos dele e recuei. Joe pareceu confuso — assim como eu —, olhando em direção à sala e depois de volta para mim, parecendo não saber o que dizer.

Foi a coisa mais estranha que eu senti em toda a vida! Pela primeira vez, eu não tive o controle sobre meu corpo. Não sabia explicar porque minhas mãos agiram da forma que agiram, porque meus pés me levaram até ele, porque minha pele pinicava e eu desejava tanto tocá-lo outra vez. Era como se meu cérebro tivesse se desconectado de meu corpo e agisse por conta própria. Eu não queria ter feito aquilo. Foi como se meu consciente fosse apenas a plateia impotente assistindo a exibição de um espetáculo encenado por meu corpo. E claramente meu corpo desejava se aproximar de Joe.  Eu já havia desejado um homem, sabia como era a sensação. Já até tinha satisfeito esses mesmos desejos, mas sempre no controle, sempre consciente do que fazia. O que eu sentia agora era totalmente diferente! Muito diferente. Era como se cada
célula do meu ser quisesse se grudar a Joe, como se ele fosse um magneto superpotente usando sua força em carga máxima e eu fosse revestida de metal. Impossível de escapar ou resistir E eu não soube o que fazer na presença de um homem pela primeira vez. Meu rosto queimou de vergonha, de raiva, de medo e, sem dizer uma unica palavra, marchei em direção à sala deixando Joe ainda paralisado ali no corredor, me encarando com olhos assustados. Tão assustado quanto eu estava.
— Senhorita Demetria! — Elisa se levantou do sofá. — Está muito elegante!

Eu ainda estava chocada demais para poder falar, apenas olhei para Elisa e tentei sorrir.

— Mas ainda reluta em usar todos os itens do vestuário, pelo que vejo. Seu vestido ficaria mais exuberante se usasse, ao menos, a crinoline. —Teodora acrescentou secamente. — Usar o vestido dessa forma a deixa com o aspecto de uma simples criada!
— Não concordo com isso, Teodora. Acho que Demi está muito bonita, de uma forma muito original! — então Joe entrou na sala, ainda atordoado. — Não concorda, Joe? Não acha que Demi está muito bonita com o vestido que escolhi para ela?

Assim como eu, Joe ainda não havia se recuperado totalmente. Pudera! Duvidei que alguma garota naquele fim de mundo alguma vez tivesse tido a audácia de quase beijá-lo! O que eu estava pensando? E por que disse a verdade a ele? O que havia de errado comigo? Eu não podia estar interessada nele, por razões
óbvias que não precisavam de maiores explicações. Dois séculos nos separavam. Dois Séculos!

Então o que tinha de errado comigo?

Não consegui encontrar a resposta. Concentrei-me em parecer normal — o meu normal pelo menos.

— Está sim, Elisa. Ouso dizer que ela está muito bonita, realmente — disse ele,desviando rapidamente os olhos quando encontrou, os meus.
— E agora, meu caro. — Teodora se aproximou de Joe e colocou as duas mãos em seu braço, exatamente onde estava as minhas estava minutos atrás. — Será que pode nos dizer quem é o convidado misterioso?
— Não é misterioso, senhorita Teodora. Eu apenas estava muito atarefado para poder dar-lhes mais detalhes — retrucou ainda perturbado — É um novo habitante da vila. Conheci-o esta tarde. Seu nome é Raul Santiago, está hospedado na pensão da viúva Herbert e não tem conhecidos aqui. Pensei que seria educado oferecer-lhe um jantar.
— Oh! Já ouvimos falar dele hoje pela manhã na Maison de madame Georgette. —Teodora se apressou. Fiquei alerta. — Parece que o pobre foi assaltado! Assaltado,Senhor Clarke. Veja a que ponto chegamos— ela exclamou, horrorizada.

Eu, entretanto, não me choquei. Apesar de desconfiar que ele não fosse um pobre homem do século dezenove, mas sim um cara do século vinte e um, mesmo que tivesse sido assaltado, ainda assim, não me surpreenderia. Assaltos eram tão comuns quanto respirar. Suspirei, desanimada. Como eu queria me chocar também! Queria que assaltos e violência não fizessem parte do meu cotidiano.

— É mesmo? — perguntou Joe, fingindo inocência. Ele sabia bem a história toda. Eu já tinha contado a ele naquela tarde no estábulo. — Que feliz coincidência! De toda forma, encontrei o cavalheiro esta tarde quando fui à vila... Resolver alguns problemas. Pelo que entendi, ele havia acabado de chegar de algum lugar. Então o convidei para conhecer minha família.

Notei que ele me fitou rapidamente quando disse isso.
Então, ele foi procurar o estranho sem mim. Mas por quê? De toda forma, estava agradecida por ter ido. Eu precisava falar com esse Santiago, não me importava onde ou como.

— Com sua licença, Senhor Clarke, o Senhor Santiago acaba de chegar.
— Mande-o entrar, Gomes. Não o deixe esperando.

O mordomo saiu apressado e, em seguida, um homem moreno e de estatura mediana entrou na sala.

— Como tem passado, Senhor Clarke? — o homem, que era mais velho do que
eu havia imaginado, se inclinou para cumprimentar Ian. Ele aparentava ter trinta e cinco ou quarenta anos, pele morena, barba curta e rala, cabelos castanhos lisos e compridos.Se não fosse pelas roupas antigas, poderia se passar por um roqueiro quarentão. Era até bonito, na verdade.

— Estou muito bem, Senhor Santiago. Deixe-me apresentá-lo à minha irmã Elisa — Elisa se inclinou ligeiramente, — Estas são a senhorita Teodora Moura e a senhorita Demetria Alonzo.

Santiago se inclinou dizendo:

— É um prazer conhecer tão belas damas.

Analisei o quadro com desconfiança. Ele não se comportava como eu esperava. Na verdade, se comportava como se fosse dali, daquele século. Talvez tenha entrado no clima mais facilmente que eu, pensei, já que não tinha que usar aqueles vestidos quentes e agir como se fosse uma boneca. Aposto que nem se importou com a casinha! Ou talvez já estivesse perdido ali há vários dias

— Está apreciando a região, Senhor Santiago? —Teodora perguntou, como se fosse a anfitriã.
— Para ser honesto, senhorita, ainda não pude admirar a beleza do local. — seu rosto ficou sério por um instante. — Não tive tempo para me familiarizar com a região.
— Soubemos de seu infortúnio, senhor. Foi lastimável!

Elisa disse, com a delicadeza de sempre.

— Sim, senhorita Elisa. Foi terrível. Ainda estou muito surpreso. Tudo aconteceu tão depressa!

Minhas sobrancelhas arquearam. Aquilo estava ficando bom!

— Pretende ficar aqui por muito tempo? — perguntei, ansiosa. Seus olhos encontraram os meus. Pensei ter visto alguma coisa neles, mas não pude dizer o que foi.
— Na verdade, pretendo voltar para casa assim que puder! — seu rosto moreno me analisava atentamente. Pensei que procurasse por alguma coisa em especial. Então fui me sentar no sofá, cruzando as pernas e deixando um de meus tornozelos a mostra. Vi quando seus olhos se fixaram em meus tênis, pois se arregalaram um pouco e a cor de seu rosto mudou.

Tinha que ser ele!

— Espero que consiga voltar para casa o mais breve possível. — disse eu, enfática.
— Sim. — ele ainda contemplava meu tênis. — Também espero. Este lugar é um pouco díspar do que eu estou habituado.
— Nem me fale! — falei revirando os olhos.

As garotas me observaram com espanto.Fomos alertados pelo mordomo que o jantar seria servido. Seguimos até a sala de jantar e eu ainda estava desconfiada das maneiras de Santiago. Ele tinha se adaptado
muito bem aos costumes daquele século! Joe se sentou no lugar de sempre, com sua irmã de um lado e Santiago do outro com Teodora a reboque, querendo mostrar a Joe que sabia entreter um convidado,
supus. Sentei- me ao lado de Elisa e observei os modos de Santiago à mesa. Ele era muito educado, se comportava como Joe, só que com menos elegância.
— De onde disse que veio, Senhor Santiago? — Perguntou Joe, me ajudando com o interrogatório.

A testa de Santiago se franziu um pouco.

— De um lugar muito longe. Não acredito que já tenham ouvido falar dele. — A-Rá! — Amanhã à tarde precisarei partir em uma pequena viagem para resolver tudo. Tenho coisas importantes me esperando em casa. Preciso voltar logo.

Era ele. Tinha que ser ele. Mas onde ele estava indo? Resolver o que?

— E volta quando? — perguntei inquieta. 

Elisa e Teodora me observavam espantadas. Joe não se surpreendeu. Tive a  sensação de que, depois do que aconteceu entre nós dois no corredor, nada mais que eu  fizesse o surpreenderia. 

— Na sexta-feira, creio eu. — ele me encarava fixa-mente 
— Extraordinário! Assim poderá vir ao baile. É claro que já foi convidado, não foi? — Teodora não esperou que ele respondesse. — Será um baile maravilhoso, Senhor  Santiago. Todas as pessoas importantes da região estarão aqui. 

Só na sexta? Mas eu tinha tanta coisa para perguntar a ele! 

— Então, eu estarei aqui, senhorita. — ele respondeu e depois voltou a me  encarar. 

Como de costume, Teodora se apoderou da conversa. Prestei atenção para ver se 
Santiago me daria alguma dica, no entanto, ele não disse mais nada que fosse relevante, 
repetiu a história do assalto e ficou me fitando durante o resto do jantar. Talvez porque 
eu o encarasse também. Voltamos à sala de visitas, onde Teodora nos ofereceu licor fala sério, licor? — 
e a conversa ainda estava animada, mas não para mim. Eles conversavam sobre a beleza da região, o quanto ele iria apreciar as famílias que residiam ali, impedindo que  Santiago me dissesse algo mais específico. Tentei desesperadamente falar a sós com ele, mas não tive chance. 

Teodora! 
Suspirei derrotada. 

Já estavam sendo feitas as despedidas e eu não tinha encontrado outra forma de  falar com ele, então interrompi alguém — Joe, percebi tarde demais e perguntei sem rodeios. 
— Ainda estará aqui no sábado? — e lancei um olhar conspiratório. 

Seu rosto surpreso pareceu satisfeito. 

— Sim, estarei, senhorita. — e sorriu de forma estranha. 
— Tem certeza? — estava desesperada pra perguntar tudo, mas com tanta gente  ali, eu não podia. 
— Sim. Prometo que estarei aqui. Até sábado devo ter conseguido tudo o que preciso e, talvez, possa voltar para casa. — e me olhou significativamente.  Bom, eu achei que fosse significativo. 
— Ótimo. Então vou esperar por você. Talvez me conte mais sobre o lugar de  onde vem. — levantei apenas uma sobrancelha. 
— Será um imenso prazer. — ele se inclinou, sorrindo. 

Logo depois da saída de Santiago, comecei a entender algumas coisas. Fosse o que fosse, ele sabia o que devia fazer para poder voltar. E no sábado talvez já tivesse resolvido tudo. Eu o pegaria no baile, nem que fosse à unha, e o obrigaria a me contar tudo o que sabia.

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CARA,VOCES SÃO FODAS. CARACA .SUAS DIVOSAS.
Como prometido postado,amanhã/Hoje,farei um desafio parecido kkkk,espero que estejam gostando,e desculpem-me pela demora pra postar. curtam,comentem,kibem. AAAH,GRANDES SURPRESAS ESTÃO POR VIR,SE PREPAREM
Beijos,Nath

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