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domingo, 9 de novembro de 2014

Perdida #23

— Tudo bem. — respondeu lentamente. — Me permite lhe fazer uma pergunta?
— Manda. — eu estava perturbada. Minha cabeça girava com a confusão de sentimentos que eu sentia. Joe  ficou confuso também. — Faz a tal pergunta. —expliquei.

Já estava ficando cansativo ter que explicar todas as palavras que saiam de minha boca.

— Fiz alguma coisa que lhe desagradou? — perguntou ansioso.
— Não. — assegurei a ele, nervosa.
— Então, por que está fugindo?

Ai, droga!

— Eu? Fugindo? Que ideia! — ele tinha notado. Claro que tinha notado.

Será que notou meu constrangimento depois que o toquei? Pior! Será que notou a... curiosidade que surgiu em meu rosto quando o toquei? Ainda pior! Será que as fantasias em minha cabeça estavam nítidas também em meus olhos?
ARGH!

— Eu mal cheguei aqui e você se apressa em voltar para a casa. Pareceu-me que estava se divertindo com Storm e, de repente, ficou tão nervosa! Por que não fica um  pouco mais? Podemos conhecer o resto da propriedade. Acredito que irá gostar muito e o passeio nem é tão longo...
— Não dá. Eu tenho mesmo que voltar. Prometi a Elisa. Quem sabe outra hora? — e sai apressada, sem me importar com o que ele iria pensar disso.
 Que pensasse que eu era covarde! Melhor assim. Bem melhor que pensar que eu estava interessada nele ou naqueles braços rígidos e fortes que pareciam feitos de granito. E eu realmente não estava interessada!

Definitivamente não estava!

Fiquei fascinada com os livros que encontrei na sala de leitura. Livros de todos os gêneros, como filosofia, história da humanidade, livros de pesquisas e  clássicos, incontáveis clássicos.  É claro que eu sabia que em 1830 diversos livros já haviam sido publicados, mas  fiquei realmente impressionada ao encontrar alguns autores ali. Edgar Alan Poe, Lord  Byron, Denis Diderot, Goethe, Shakespeare, Antoine Galland, muitos de Walter Scott e  alguns outros que eu não reconheci. Mas um deles atraiu meu interesse assim que passei
os olhos. Com os dizeres By a lady, London, 1811 na primeira pagina e uma capa de couro marrom, tilintando de nova. Peguei-o com extremo cuidado, não que precisasse,  só era estranho demais fazer meu cérebro entender que aquele livro era tão antigo — mas, segundo a primeira página, havia sido publicado há apenas alguns anos — não iria  se desfazer quando eu o tocasse. Folheei algumas páginas para ter certeza, e lá estava Elinor Dashwood, Norland Park, Edward Ferrars. Virei o livro em minhas mãos com 
muito cuidado,como se fosse feito de um fino cristal que pudesse facilmente estilhaçar-se

— Não é possível! — exclamei surpresa. 
— Algum problema, senhorita Demetria? — perguntou Elisa alarmada. 
— Problema? Não, Elisa. — respondi sem tirar os olhos do livro. — Você sabe o que é isto?

Ela ficou confusa.

— É um livro. — disse lentamente. — Um romance. Meu irmão o comprou há alguns anos. Veio da Europa.
— Sim. É um romance, o primeiro romance que Jane Austen publicou! — eu estava maravilhada em poder segurá-lo em minhas mãos. — É o original! Primeira edição! Veja! Aqui diz que foi publicado pela própria autora!
— Jane Austen?
— Isso. Você tem um verdadeiro tesouro aqui! — pelo menos para alguém apaixonada por livros (e por Jane) como eu era. Não conseguia passar uma única semana sem encontrar algum livro novo para ler. Claro que tinha minha autora favorita. Segurava naquele instante uma obra dela em minhas mãos e tinha um outro guardado na bolsa ali no quarto. 
— Acho que ainda não ouvi falar dela. — Elisa estava sentada ao lado da mesa  onde diversos livros estavam empilhados. — Você a conheceu? 
— Todo mundo conhece Jane! — então, pela confusão em seu rosto, percebi que  nem todo mundo a conhecia. Ainda.—Você ouvirá falar dela, tenho certeza. Eu adoro  os romances dela. Este aqui é um dos melhores! 
— Gostei muito desta história também. Entretanto, demorei um pouco para  terminar de lê-lo. — ela sorriu timidamente. — Meu inglês não é tão bom quanto o de Joe. 

Teodora parecia entediada. Como sempre ficava quando eu estava presente.  Imaginei que este não fosse seu estado natural, pois Elisa parecia gostar dela verdadeiramente.  Passei o resto daquela tarde me deleitando com a perfeita escrita de Austen. Estava tão absorta na leitura que, quando Ian irrompeu a sala, tive um pequeno sobressalto. Eu sempre me “perdia” em meus livros. Entrava fundo nas histórias como 
se eu mesma fosse parte dela, fosse um romance, um policial ou um terror sobre vampiros. 
Então lá estava eu, em mil oitocentos e pouco, esperando que Elinor e Edward finalmente se entendessem quando Joe entrou na sala me trazendo de volta para mil oitocentos e pouco! Fiquei confusa por um instante. Era como se ainda estivesse dentro do livro! Eu ri da idiotice da situação. 

— Senhoritas, teremos um convidado para o jantar desta noite. Pensei que as  damas gostariam de ser alertadas com antecedência. — Joe falou apressado
— Um convidado? — indagou Teodora se levantando. — Algum conhecido, Senhor Clarke? 
— Sim. Pode-se dizer que agora é um conhecido. Então, se me derem licença,  tenho algumas tarefas para terminar antes do jantar. — ele se inclinou e saiu rapidamente sem ao menos dar chance a Teodora de fazer mais perguntas, o que ela  claramente pretendia. Saiu sem nem mesmo me dirigir um olhar. 

Não que eu me importasse com isso. 

— Oh! Senhorita Elisa, devemos nos apressar! O sol já está se pondo e, em breve, o convidado de seu irmão estará aqui! Não podemos recebê-lo vestidas desta forma! — Teodora andava de um lado para outro enquanto falava. Acabei ficando meio tonta. 
Ela estava totalmente vestida; vestida e maquiada e o cabelo ruivo arrumado num penteado complicado cheio de cachos. Ela pretendia se enfeitar ainda mais? 
— Sim. Precisamos nos apressar. — concordou Elisa, também agitada. —Você também, Demi! Seria indelicado se o convidado de Joe chegasse e não estivéssemos prontas para recebê-lo. 

Eu tinha que me arrumar porque alguém vinha jantar? Pela expressão ansiosa de Elisa, ela não estava aberta a discussões, então deixei essa passar e, suspirando, fui para a cozinha. Havia três empregados ali, parecendo muito ocupada correndo de um lado para o outro para ajudar Madalena nos preparativos do jantar. Observei o quadro por um tempo, pensando se o tal convidado não seria o rei ou coisa parecida. Ninguém notou minha presença. 
Andei na direção da porta da cozinha e, lá fora, havia mais empregados correndo aparvalhados. 

— Hei, moço? Onde eu pego água por aqui? — perguntei a um deles que passava com os braços cheios de pequenos tocos de madeira. 
— Perdão, senhorita. Como disse? — seu rosto suado e brilhante. Ele mal me olhou. 
— Onde eu pego água? 

Sua testa enrugou, mas ele não me respondeu. 

— Você entendeu o que eu disse? Quero saber onde eu posso encher o balde? — será que ele não falava a mesma língua que eu? 
— Ah... É ali, senhorita, — finalmente respondeu, indicando o local com a cabeça, depois se inclinou e correu apressado para a cozinha.

Virei-me para onde ele havia apontado. Um cano de ferro com quase um metro de altura se erguia do chão. Embaixo dele, uma espécie de cocho de pedra e uma grande alavanca de madeira na ponta, como se fosse um “L” de ponta cabeça. Voltei para a cozinha e encontrei um balde perto do fogão de lenha. Ninguém se incomodou em me perguntar nada. Fiquei olhando para a engenhoca por algum tempo. Toquei a alavanca suavemente. Nada aconteceu. Empurrei com um pouco mais de força e um fio de água surgiu no pequeno orifício.Tentei com mais vontade, bombeando para cima e para 
baixo, e a água começou a jorrar. Arrumei o balde na posição correta e voltei a 
bombear. Meus braços começaram a doer depois de um tempo, mas continuei sem parar 
até o balde transbordar um pouquinho. Passei as costas das mãos em minha testa e tomei um pouco de fôlego. As empregadas não precisariam se preocupar um dar tchauzinho por ali, pensei, ofegante. 
Meus tríceps pulsavam pelo esforço, mais doloridos que depois de puxar ferro na 
academia! Peguei a alça larga feita de couro e tentei levantá-lo. 

Caramba! Que peso! 

O balde de ferro já era um pouco pesado por seu tamanho, cheio de água, como estava, parecia pesar uma tonelada. 

Que saudade do meu banheiro! 

Levantei o balde desajeitadamente e entrei cambaleante na cozinha, deixando um pequeno rastro de água pelo caminho. Quando alcancei o corredor, meus braços já tremiam. Soltei o balde com cuidado para não derramar a água e sacudi os braços tentando aliviar a dor. Respirei fundo e voltei a pegar a alça, mas acabei tropeçando e quase derrubei toda a água. 

Não estava dando certo! 

Desisti de levantá-lo, mas eu realmente precisava de um banho, ainda mais depois de todo aquele esforço. Sentia o tecido grosso grudando em minha pele. Eu iria tomar meu banho! 
Encarei o balde com raiva, agarrei-o pela borda e o empurrei pelo piso liso de madeira, Era mais fácil — porém, muito mais estrondoso — que levantá-lo. Empurrei até meu quarto, até chegar à banheira. 
Um! pensei, enquanto arqueava minhas costas. E seria apenas um. Não buscaria outro de jeito algum! 
Suspirei desanimada, em seguida prendi a respiração. Num último esforço, ergui  o pesado balde e o coloquei dentro da banheira — não apenas água, mas o balde com a água ainda dentro dele. Peguei o jarro da mesinha, retirei minha roupa e tomei meu banho — de água fria e canequinha. Não lavei o cabelo, não havia condições para isso. Sequei-me com aquele pano que não enxugava direito, depois me enrolei nele e escovei os cabelos. Se eu tivesse ido para 1980, meu cabelo estaria perfeito, pensei um pouco irritada. 

Volumoso e indomado. Como sempre! 

Molhei as mãos no pouco de água limpa que restara dentro no balde e umedeci os fios. Fiz uma trança para tentar domá-los um pouco. Ficaria melhor se eu tivesse um pouco de creme para pentear... Precisava pensar numa solução para o cabelo volumoso com urgência. Elisa e Teodora achavam importante estarem bem vestidas, então eu não deveria envergonhar meus novos e únicos amigos. Fiz uma maquiagem leve apenas blush, mascará para cílios e gloss rosa claro. Escolhi o vestido cor de vinho e me vesti. Soltei a trança. Ficou um pouco melhor, ainda longe de estar glorioso, mas pelo menos eu me parecia com uma mulher outra vez, e não uma vassoura. Dei uma olhada no espelho e gostei um pouco do resultado. A cor do vestido combinou com meu tom de pele e destacou o dourado dos meus cabelos. Ainda me sentia muito ridícula naquelas roupas — não conseguia acreditar que eu estava realmente usando aquilo — mas pelo menos o vestido cobriu meu tênis, evitaria mais 
perguntas. Respirei fundo e sai do quarto. Andei apenas alguns passos antes de dar de cara 
com Joe. Ele me olhou de cima a baixo, me analisando. Duas vezes. Pelo visto, ninguém havia ensinado ainda que medir as pessoas daquela forma não era educado! Ele me examinou meticulosamente, me deixando constrangida. Depois de algum tempo, Joe resolveu falar. 

— Vejo que meu presente lhe caiu muito bem, senhorita. — um sorriso de admiração surgiu em seu rosto. 
— Obrigada. — disse eu, encabulada. De onde vinha todo aquele embaraço quando Joe estava por perto, eu não fazia ideia. — Já estou pronta. Estava indo agora mesmo procurar por você e Elisa. 
— E eu vim justamente saber se estava pronta! — ele sorriu. — Está encantadora esta noite, senhorita Demetria. 
— Obrigada, Joe. — corei e baixei os olhos.

 De repente, eu não sabia onde colocar as minhas mãos. Eu estava agindo como uma tímida adolescente

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Heeeeeeeeey,posteeeei kkkk,e voces são as melhores cara <3
E deixo aqui mais um desafio,5 comentarios antes de 1 da manha eu posto mais um capitulo lindo kkk,agora é com voces minhas lindas.
Beijão,Nath 

6 comentários:

  1. to achando que a demi conhece esse tal convidado
    posta mais *-*

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  2. morrendo de ansiedade aquiiii

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  3. mas o joe ta gostando dela tbm??? o.O

    Posta Mais :)

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  4. Eu nunca comentei aqui mas caraaaaa essa fic ta me matando sério é perfeita demais to ate pensando em comprar o livro depois *O* *O* *O* posta mais meninaaa

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  5. Kkkkkkk ❤️❤️❤️❤️
    Joe e Demi tão fofos juntos.
    Ansiosa para saber mais.
    Posta logooo
    Beijos

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