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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Perdida #17

—Você é o melhor irmão de todo o mundo, Jooe. — ela lhe deu um abraço apertado.

Gostei disso. Gostei de ver que havia algum tipo de contato físico naquele lugar. Todo mundo parecia tão cauteloso em não tocar em ninguém, como se fosse pecado ou coisa assim. Sem abraços, beijos ou aperto de mão. Fiquei aliviada ao ver que Joe retribuiu o abraço, o rosto sorridente, e não constrangido como imaginei que ficaria.

— Não exagere, Elisa. — disse ele.
— Então iremos bem cedo! Podemos sair logo depois do café. Precisamos nos apressar. Não se faz um vestido da noite para o dia!
— Por mim, tudo bem. — eu estaria na vila bem cedo, poderia procurar informações. — Mas acho que não há necessidade de me comprar vestidos. Elisa, eu já disse que...
— O que acha, Teodora? Não é uma ótima idéia? — ela se virou para a amiga, me ignorando.
— Excelente ideia, minha cara. E poderemos escolher as fitas! Preciso encontrar uma para combinar com meu novo chapéu. Nenhuma das que vi semana passada me chamou a atenção. E, além do mais, preciso de um vestido à altura do baile que teremos! Tenho certeza que tomará todo o tempo de madame Georgette.
— Então está tudo arranjado! — Elisa disse exultante.
— Mas... — eu tentei dizer, mas Joe rapidamente me interrompeu.
— Ótimo. Poderei ir até a casa de um arrendatário aqui perto resolver alguns problemas. Não precisarão de minha ajuda para escolher o vestido, imagino.

Fiquei desapontada. Pensei que ele me acompanharia até a vila novamente. Então, ao invés de dizer isso em alto e bom som, voltei minha atenção ao quadro do cavalo.

—Você gostou dele, não é? — Joe me perguntou baixinho, quase num sussurro, depois que as duas garotas iniciaram uma discussão sobre a importância da fita de cetim.

Talvez ele não quisesse interromper o tagarelar de Teodora sobre a diferença que a escolha errada de uma fita acarretava na vida de uma garota. Aparentemente a fita devia ter algum outro significado além de enfeitar, pois ela discursava fervorosamente.

— É realmente lindo, Joe. — sussurrei também. — Nunca vi nada tão perfeito. Olhe para os olhos! É como se estivesse zombando de alguém!
— Aposto que estão mesmo. — ele riu. — De seu dono estúpido, que levou um ano inteiro para compreender que não o domaria.

Eu ri também.

— Gostaria de conhecê-lo? — ele ofereceu.
— Claro! — eu disse, mais alto do que pretendia, excitada demais. Mas aparentemente não alto o bastante para perturbar a atenção de Teodora.
— Acho que não notarão nossa ausência. Parece que nenhum de nós dois está particularmente entusiasmado com as fitas. — ele sussurrou se aproximando de meu ouvido.  Um arrepio subiu por minha coluna, me fazendo estremecer da cabeça aos pés.

O que estava acontecendo comigo, afinal? Aquele lugar definitivamente estava mexendo com minha cabeça. E eu não estava gostando nem um pouco disso.

Teodora não notou nossa saída silenciosa. Elisa notou, mas apenas sorriu conspiratoriamente e voltou sua atenção para a amiga. Eu ainda não conhecia os estábulos, ficavam muito afastados da casa.  Rústicos até a essência, feitos de madeiras imperfeitas que se uniam desajeitadamente umas às outras, me trouxe a lembrança do Toca. Claro que o bar não era tão rústico, mas, de certa forma, aquelas madeiras tortas me trouxeram um pouco de conforto. Enquanto nos aproximávamos, olhei ao redor, admirando a beleza do lugar. Era tão diferente do que eu estava habituada, sem aquela poluição de outdoors, letreiros, homem-sanduíche, cartazes, ambulantes vendendo cacarecos... Ali era tão calmo e — eu  tinha que admitir — lindo.

— Ouso dizer que você é a primeira jovem que conheço que não fica  entusiasmada com a menção da palavra baile. — Joe disse, parecendo aliviado. 
— Eu não sou muito de festas. Eu sou mais caseira. Na verdade, deveria dizer escritoreira, já que é de lá que eu não saio. — como uma prisão que eu mesma me  tranquei. — Eu não gosto muito de balada, gente falando ao mesmo tempo, bebendo, fumando e contando piadinhas machistas. Ou pior ainda, cheias daqueles carinhas que  tomam duas cervejas e depois se acham tão irresistíveis que acreditam ter o direito de  dizer pra uma garota que ele nunca viu na vida as piores baboseiras imagináveis. Mas de  shows eu gosto. Mesmo porque não dá pra ficar batendo papo num show, o barulho é  ensurdecedor. Nunca me sinto deslocada num show. Tudo que é relacionado à música  eu curto muito... Marisa me perturba por causa disso. Ela acha que eu não tenho vida,  apenas trabalho e mais trabalho, e que nunca vou arrumar um namorado se ficar  trancada em casa ou no escritório. Mas sabe, Joe, eu não me sinto à vontade saindo com
a galera. Parece que sou um alienígena que não se entrosa em lugar algum... — ele  assentiu. — Sabe quando você sente que todo mundo te olha de um jeito diferente, tipo  “o que ela tá fazendo aqui?” e depois fingem que estão interessados em ouvir o que você tem a dizer? Eu detesto isso! Prefiro ficar em casa. Mas gosto de sair com a Marisa .Só que agora ela cismou que eu... — vi um pequeno sorriso se espalhar em seu rosto. Eu ri. — Desculpe, Joe. Eu estou falando pelos cotovelos. É que é fácil falar com você. Não é estranho? Eu mal te conheço e já te contei coisas que muitas das minhas colegas de escritório não sabem. 

— Acho ótimo que pense assim. Aprecio muito sua companhia. Acho fascinante sua maneira de se expressar. — ele disse, olhando pra frente, mas sorrindo. — E também me é estranho preferir falar com uma jovem que acabei de conhecer a falar com várias jovens que conheço há muito mais tempo. 
— De onde eu venho se diz que o nosso santo bateu. — ele me encarou. — Quando duas pessoas se dão bem logo de cara, quero dizer, logo que se conhecem. E o meu decididamente bateu com o seu. — e sorri. 
— Então, acho que o meu também. 

Ele ficava tão lindo sorrindo daquele jeito! 

— Qual deles é a do cavalo do seu quadro? — perguntei, apontando com a cabeça para as baias. Havia uma dezena delas, talvez mais. 
— A terceira. — informou. — Dei a ele o nome de Storm. Significa... 
— Tempestade! — fiquei surpresa. Inglês já fazia parte do currículo escolar no século dezenove? —Você fala inglês? 
— Na verdade, leio melhor do que falo. Tive um professor de línguas que me forçou a aprender algumas delas. O inglês foi imposto por meu pai. Meu bisavó veio da Inglaterra. — bem que eu tinha estranhado seu sobrenome! — E meu pai não acreditava que era importante manter as raízes da família. O alemão foi mais difícil de aprender. Mas, uma vez que aprendo uma coisa, senhorita Demetria, não me esqueço mais. 
— Você só não consegue aprender meu nome. Estou começando a pensar que faz isso de propósito só para me irritar! — eu disse ainda muito espantada que ele soubesse (aparentemente) diversas línguas estrangeiras. 
— Não tenho mais desculpas para isso, senh... Demi — ele realmente tinha dificuldades para dizer apenas o meu nome. A única pessoa que ele chamava pelo nome era Elisa. E ele a conhecia desde que nasceu. 
— Nossa, ele é lindo! — parei assim que cheguei à baia de Storm. 

Ele era tão bonito quanto no quadro. Mas ainda maior do que eu havia  imaginado. Principalmente se comparado com os cavalos das baias a seu lado.

— Também acho! O problema é seu temperamento! Nunca conheci um animal mais cheio de vontades que este! — ele ralhou, mas o sorriso em seu rosto era afetuoso. 

Eu, entretanto, conhecia alguns animais cheios de vontade. Seu Carlos, por exemplo. 

— Vou tirá-lo dali para que a senhorita possa conhecê-lo melhor. 

Joe parou ao lado da porta baixa, retirou seu casaco e gravata e os pendurou num prego, em seguida, arregaçou as mangas da camisa branca. Fez tudo isso com tanta naturalidade, como se fizesse isso todos os dias, que não pude desgrudar os olhos dele. Ele pegou uma corda e entrou na baia. Storm relinchou e recuou um pouco, mas o espaço não era grande o bastante para que pudesse escapar do laço preciso de Joe.  Então, ambos, com extrema elegância, saíram marchando. Eu recuei um pouco. O quadro não mentia em nem um aspecto. Quase dava pra ler “encrenca” escrito nos olhos do animal. Joe o levou mais ao centro do estábulo, O bicho fez barulho, andou para trás diversas vezes, parecendo não gostar de receber ordens. E era imenso! Entretanto, Joe não se deixou vencer e, depois de um tempo, Storm ficou parado perto — mas não exatamente — de onde Joe queria. 
— Aproxime-se — disse ele. — Não tenha medo. Ele não vai machucá-la. Não vou permitir que isso aconteça. 

Não me movi. 

— Não tenha medo, os animais sentem o cheiro do medo, sabia? 
— É mais fácil dizer que não estou com medo do que não sentir de verdade. — respondi, encarando o cavalo selvagem. 
— Confie em mim. — Joe me fitou intensamente. — Acredita que eu permitiria que se aproximasse dele, a qualquer distância que seja, se houvesse a menor chance de que ele pudesse feri-la? 

Dei um passo, hesitando. O cavalo não se moveu. Experimentei outro passo. Ele continuou parado, apenas respirando rapidamente. Lentamente, vacilante, me aproximei de Joe mantendo certa distância do cavalo. 
Storm era ainda mais incrível de perto! Muito alto, muito negro, o pelo brilhante emanando toda a altivez que o cavalo visivelmente sentia. Era lindo demais! Seus olhos pareciam me avaliar, assim como os meus o avaliavam
— Ele é incrível. — fiquei hipnotizada por ele. Dei um passo à frente, tentando sentir o calor que a tela tinha me passado e sem pensar ergui a mão exatamente como fiz com o quadro.

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Hey meninas,desculpas nao postar domingo e ontem,tive uns probleminhas para resolver,a maratona vai ate o capitulo 22 se nao me engano,espero que curtam o capitulo e a historia,comentem,curtam,kibem,e deixem a opnião de vocês,fico tão feliz em saber que voces estao curtindo as historias,os comentarios ainda não são tanto,mais as visualizações são inumeras,fico feliz por saber que voces estão acompanhando a historia. Amanha tem mais um lindo capitulo. Beijão,Nath :3 

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