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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Perdida #5

Que mulher mais sinistra!

— Eu fico com ele então!
— Ótimo! Vou te explicar como funciona. — ela tirou o pequeno aparelho prateado da caixa.
— É tão lindo! — exclamei incapaz de me conter.
— Sim, é. — ela disse rapidamente sem muito entusiasmo. Veja! Apenas dois botões, liga e desliga.

Oh!

— Já vem com a bateria carregada, cartão de memória e o número. Você não poderá trocá-lo. Este aparelho só funciona com este chip.
— Beleza. — meu antigo número boiava em algum lugar no esgoto naquele exato momento. — Ele é touch screen? — perguntei excitada.
—Sim. E as funções estão no manual, mas é bem simples de usar.

O aparelho era lindo. Todo cromado, a tela grande e escura, apenas dois pequenos botões embaixo dela. Muito mais bonito e moderno que o meu antigo.

— Onde eu pago? — eu queria sair logo dali pra poder fuçar nele.
— Aqui mesmo. A forma de pagamento será no cartão? — ela ainda parecia relutante de alguma forma.

Aposto que ela pretendia ficar com ele!

Desgrudei relutantemente os olhos do meu futuro novo monstrinho para procurai meu cartão na bolsa. Remexi dentro dela e não encontrei o cartão. Olhei nervosa para a vendedora, coloquei a bolsa sobre o balcão e tornei a procurar. Batom, blush, chaves, absorventes, lixa de unha, camisinha; eu era uma mulher precavida. Nada de cartão. Continuei procurando, tinha que estar ali! A última vez que usei o cartão tinha sido no almoço do dia anterior e eu tinha certeza de tê-lo guardado de volta na bolsa. Encontrei meu romance estropiado, remédio para dor de cabeça, minha nécessaire de higiene, caneta, elástico para cabelo, sache de ketchup — como é que isso veio parar aqui?

Ah! Encontrei!

— Aqui está! — Eu disse triunfante, entregando o cartão a ela.
— Volto num minuto, Sofia. — ela disse com um sorriso nos lábios.

Espera aí!

— Como sabe meu nome? —perguntei com um pequeno sobressalto.

O sorriso dela desapareceu.

— Está escrito no cartão, querida. — replicou, sem hesitar.
— Ah! — respondi um pouco desconfiada, pois me pareceu que ela não tinha olhado sequer uma única vez para o cartão.

Ela saiu e rapidamente me distrai olhando para meu novo celular. Tão lindo e moderno! Tinha certeza que caberia mais de mil músicas nele. Uma coisa muito importante para mim. Eu era movida a música. Quase literalmente. Usava música para quase tudo: pra me acalmar, pra relaxar, só por ouvir, pra tomar banho, pra ler, pra tudo. Às vezes, quando eu sonhava, alguns sonhos tinham até trilha sonora. Música era importante assim para mim.

— É só assinar aqui. — disse a vendedora, com aquela voz estranhamente agradável.
Peguei meu cartão, assinei a notinha e a devolvi para ela.
— Tudo certo então? — perguntei, guardando o cartão de volta na bolsa enquanto ela colocava a pequena caixa numa sacola.
—Tudo absolutamente certo. Espero que te traga a felicidade que procura. — e me entregou a sacola.
Sorri para ela.
— Ah, vai trazer sim!
Tenho certeza disso. — a voz séria e tão baixa que não tive certeza se tinha ouvido direito.
— O que disse?
— Boa sorte, Sofia. Espero vê-la em breve! — ela sorriu novamente e, quando o fez, seu pequeno rosto se tornou tão angelical, tão bonito, que só pude sorrir em resposta e dizer:
— Claro! Até logo. — e sai da loja apressada

Mulher estranha pensei outra vez. Mas eu tinha coisas mais importantes para ocupar meus pensamentos. Coisas muito importantes. Coisas como ligar meu celular hightech novinho! Eu poderia esperar até chegar em casa como uma pessoa normal faria, mas estava ansiosa demais para vê-lo em ação. Abri a embalagem, peguei o monstrinho e guardei a caixa dentro da bolsa de couro marrom para dar uma olhada no manual mais tarde. Joguei a sacola plástica numa lixeira da rua.

Deus abençoe o inventor das maxibolsas!

Segurei o pequeno aparelho prateado nas mãos e apertei a tecla liga. Nada aconteceu. Virei o telefone em busca de algum outro botão, mas não encontrei nada. Apertei a tecla verde novamente.   Nada! Mas que droga! Não me admira custar tão pouco. Não funciona! Tal vez fosse esse o motivo da vendedora agir de forma tão estranha e relutante. Ela sabia que estava quebrado.
Cheguei à praça praticamente deserta e tentei mais uma vez. Nada!
Nada!
Girei nos calcanhares para voltar até a loja e dizer umas coisinhas para aquela vendedora esquisita enquanto apertava freneticamente o botão verde. Então, de repente, a tela se acendeu. Gradualmente, foi ficando mais clara até se tornar insuportável e eu não consegui mais olhar para ela. Parecia que tudo ao meu redor foi envolvido por aquela luz insuportavelmente forte e branca. Cega pela luz; acabei tropeçando em alguma coisa e cai no chão.
Aos poucos, vagarosamente, a luz enfraqueceu e tentei ajustar o foco dos olhos, mas ainda não era capaz de enxergar nada. Alguns minutos se passaram antes que eu pudesse recuperar minha visão. Quando finalmente meus olhos voltaram ao seu estado normal, vi a pedra em que meu pé se enroscou, a grama debaixo de meu corpo, a luz do sol — natural e confortável outra vez.

O que foi aquilo?

O celular devia ter pifado ou coisa assim. E por que toda aquela luz? Parecia ter saído dele, mas não poderia ser isso, poderia? Não tinha ouvido nada sobre luzes ofuscantes nos novos aparelhos. Talvez tivesse entrado em curto. Ainda no chão, olhei para o celular, que estava apagado outra vez.
Foi então que percebi que algo estava diferente. Muito, muito diferente! Olhei em volta com assombro. Meus olhos procuravam por qualquer coisa familiar. Qualquer coisa que deveria estar ali. Que deveria estar ali e que não estava!
Onde estavam os prédios? Onde estava a rua? Onde estava a praça em que tropecei meio minuto atrás? — perguntei-me desesperada. Eu me encontrava no chão de um vasto gramado — como um campo de futebol — apenas uma árvore de médio porte a alguns metros. Notei uma estreita estrada de terra batida onde deveria estar a rua.
Eu devia ter batido a cabeça com muita força! Só poderia ser isso! Olhei freneticamente em todas as direções e nada estava ali. Nada! As pessoas, a cidade, tudo havia sumido. Quanto eu bebi noite passada? Talvez ainda esteja bêbada! Isso. Com certeza, bêbada!  Eu não conseguia me mover, me levantar e provar que estava tão embriagada que não podia sequer ficar de pé, que estava tão doida que tinha feito tudo desaparecer. Fechei os olhos e os apertei bem forte, rezando para que, quando os abrisse novamente, tudo voltasse ao normal. Então ouvi um barulho. Abri os olhos rapidamente. Avistei um homem em cima de um cavalo marrom claro vindo em minha direção. Estreitei os olhos para entender o que estava vendo.

Realmente era um homem e um cavalo!

Continuei a observar enquanto ele se aproximava e notei que o cavalo diminuía sua corrida. Diminuiu um pouco mais até parar bem perto de onde eu estava.  Olhei para o homem, completamente confusa. Suas roupas eram muito esquisitas e antigas. Muito, muito antigas! Vestia um casaco escuro e comprido, um colete sob ele, gravata — ou talvez fosse um lenço branco amarrado no pescoço — e botas pretas na altura dos joelhos. Ele estaria indo para alguma festa à fantasia? Ou um casamento temático, talvez?   Fiquei observando o rapaz enquanto ele descia de seu cavalo com uma expressão preocupada no rosto.

—Você está bem, senhorita? — ele perguntou, se agachando ao meu lado.

Continuei a encará-lo de boca aberta. Seus olhos procuraram alguma coisa ao redor. Assim como eu, também não encontrou nada ali, apenas a árvore, a pedra e eu, ainda caída no chão. Ele voltou a observar meu rosto, depois seus olhos avaliaram o resto de mim e sua cara assumiu um tom avermelhado quando examinou minhas pernas. Rapidamente, voltou a me encarar, sua face confusa.
— Você está bem, senhorita? — ele repetiu.
Minha cabeça girava, me deixando tonta.
—O-o que? — respondi pateticamente.
— Tem um ferimento na cabeça. Está sangrando muito. — ele moveu sua mão em direção à minha testa, mas não me tocou.
Estava tão confusa que não notei, a princípio, a umidade quente e pulsante em minha têmpora.
— Ah! — eu disse tocando minha testa debilmente. Doeu um pouco
.
Então, eu não estava sonhando! Ou tendo um pesadelo.

— O que aconteceu? Parece assustada e... suas roupas... Hã...
— Cadê a cidade? — inquiri, com a voz quase sem som.
— Foi de lá que a senhorita veio? — sua testa franziu.
— Como foi que eu vim parar aqui? Como tudo sumiu tão depressa? Cadê as pessoas? — disse eu, agarrando com as duas mãos a gola de seu casaco.

Olhei em volta, procurando uma forma lógica para explicar o que estava acontecendo, mas não havia nada ali, além da paisagem rural. Estava assustada demais para entender qualquer coisa. O rapaz se espantou um pouco com minha reação. Mas o que mais eu poderia fazer, além de ter um ataque?

— Melhor levá-la até minha casa e chamar o médico. Depois arrumarei uma carruagem para levá-la até sua casa. — seus olhos me fitavam de uma forma muito estranha. Era muito intenso. Fiquei zonza. Soltei seu casaco imediatamente . Um médico seria bom. Talvez ele me desse alguma coisa que me fizesse acordar ou sair daquele pileque mais depressa.
— Posso ajudá-la a se levantar, senhorita? — e estendeu suas mãos, para que eu as usasse como apoio.

Apenas assenti, confusa. Tinha certeza que não conseguiria ficar de pé sozinha, de toda forma. Meus joelhos pareciam feitos de gelatina. Estiquei meus braços para pegar suas mãos, quando o que ele disse entrou no redemoinho de pensamentos.
— Carruagem?
— Talvez seja mais prudente permitir que o Dr. Almeida lhe examine primeiro. Um ferimento na cabeça pode ser muito perigoso.
— Não é nada. — afirmei. — Nem sei como aconteceu. Você também viu aquela luz? — perguntei, ansiosa para poder encontrar o sentido daquilo tudo.
Ele pareceu confuso.
— Luz? Refere-se à luz do sol?
— Não! —sacudi a cabeça. — A luz branca insuportável que fez tudo desaparecer!
Ele sacudiu a cabeça lentamente.

Eu fui a única que vi, então?

— Vejo que está um pouco atordoada! Vamos até minha casa. Descanse um pouco e, depois que falar com o médico, prometo que farei o possível para ajudá-la, está bem? — sua voz baixa e rouca, os olhos intensos, não me deixaram outra escolha.
Eu nem mesmo tinha outra escolha.
— Tá. — murmurei.
Ele alcançou minhas mãos e me ajudou a levantar.
— Não é prudente que uma jovem como a senhorita fique sozinha neste lugar, ainda mais com seus trajes nestas condições. — ele passou a mão em minha cintura para me dar apoio e começou a me conduzir até seu cavalo. Senti algo muito estranho quando ele me tocou. Tipo um déjavú ou como se já nos conhecêssemos de algum lugar. Fiquei ligeiramente sem equilíbrio.
— Por que está vestido desse jeito? — perguntei, tocando seu casaco. — Estava indo para alguma festa?
— Estou voltando de uma viagem longa. — a desordem em seu rosto era parecida com a que devia estar no meu.
Viajando de cavalo vestido daquele jeito? Ele era louco?
— Não acha que seria melhor uma roupa mais confortável? E porque você foi com o cavalo?
A confusão em seu rosto se aprofundou.
— Creio que estou vestido adequadamente, senhorita. E prefiro ir a cavalo. É bem mais rápido que a carruagem. — um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, meu estômago se agitou. — Contudo, sei que é pouco prudente de minha parte. Muitas coisas mudaram nessa última década. Acredito que não seja mais seguro, com tantos vândalos e golpistas por aí se aproveitando de viajantes solitários. — e me lançou um olhar significativo.
— Ah! Não. Eu não fui atacada por ninguém. Eu não sei o que aconteceu. —parei quando cheguei perto do cavalo, seu braço ainda em minha cintura. —  Num minuto, eu estava na praça e, segundos depois, estava aqui neste... campo e tudo sumiu.
— Tenho certeza que se lembrará assim que sua cabeça melhorar. Mas penso que foi atacada por ladrões sem escrúpulos. Seria essa a única explicação para terem deixado uma dama nestas condições! — ele desviou os olhos.
— Que condições? — perguntei confusa pelo tom reprovador de sua voz.
— Suas roupas, senhorita. — ele murmurou. — Mal posso crer na audácia de tais vândalos!
— O que é que tem minhas roupas? — olhei para elas, para ver se ainda existiam ou se, de repente, não tinham desaparecido como todo o resto. Havia um pouco de grama presa na saia e nos joelhos mas, fora isso, estava tudo normal. Pelo menos com as roupas.
— As coisas mudaram muito depressa, como eu disse. Não acho prudente que mais alguém a veja praticamente sem... — ele pigarreou e baixou tanto a voz que quase não pude ouvir. —... roupas.
— Como assim sem roupas? — de que raios aquele maluco estava falando.
— Não se preocupe com isso! Elisa lhe arrumará algo para vestir. — ele me empurrou gentilmente para mais perto do cavalo.
Eu recuei, me soltando de seu abraço.

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Oi gente,mals a Demora outra vez,fiz um capitulo grande pra adiantar,a historia começa a ficar legal agora,legal e louca kkk. espero que gostem,comentem.
Beijocas,Nath

Um comentário:

  1. Kkk...que celular maluco....
    Tenso kkkk
    Posta logoooo
    Beijossss
    Ta perfeitooo u.u

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