— Não se preocupe com isso! Elisa lhe arrumará algo para vestir. — ele me empurrou gentilmente para mais perto do cavalo.
Eu recuei, me soltando de seu abraço.
— Sabe de uma coisa? Eu tô legal! — eu não sabia que tipo de maluco ele era, mas que não estava em seu juízo perfeito, isso era um fato. — Vou tentar descobrir como cheguei aqui e depois vou voltar para casa. Mas valeu pela ajuda, moço.
Girei para o outro lado, querendo ficar o mais longe possível daquele lunático, quando parei, petrificada. Uma carruagem surgiu na estrada. Uma carruagem de verdade, de madeira, com dois cavalos na frente e um carinha sentado quase no teto vestindo roupas engraçadas.
— Está tendo um desfile ou coisa parecida por aqui? — questionei, observando a carruagem se aproximar mais.
— Desfile?
Virei-me para observá-lo. Seu rosto ansioso acompanhava o trajeto da carruagem.
— É, desfile. Onde aquele troço antigo está indo?
— A carruagem? Não é antiga! É da família Albuquerque, eles acabaram de adquiri-la. A antiga estava causando muitos transtornos a eles.
Apenas fiquei olhando para ele, esperando encontrar sentido no que me dizia.
— Nova? — caçoei. — Aquele troço? Deve ter uns duzentos anos!
Sua testa se enrugou, as sobrancelhas arqueadas.
— Garanto-lhe que é nova. Foi construída há apenas alguns meses.
— Ah! Entendi. Ele é tipo um colecionador. — a carruagem se aproximava.
— Colecionador? Tipo? Senhorita creio que esteja um pouco desconexa neste momento. Ficarei mais aliviado após o Dr. Almeida lhe examinar. Então...
A carruagem parou na estrada e, através da pequena janela lateral, uma cabeça usando cartola — cartola!
— apareceu.
— Está tudo bem, Senhor Clarke ? Algum problema? — perguntou o homem de rosto gordinho e bigode enorme, me examinando atentamente. Os olhos se arregalaram e, quando olhou para minhas pernas, ruborizou.
O rapaz ao meu lado se colocou na minha frente, me impedindo de ver a imagem pitoresca.
— Esta jovem foi assaltada, Senhor Albuquerque. Vou levá-la para minha casa.
A pobre tem um ferimento na cabeça. — ele disse, um pouco ríspido
— Ah! Esses tempos modernos estão acabando com o sossego das pessoas de bem. — o bigodudo sacudiu a cabeça, exasperado. Por que ele também vestia roupas estranhas? — Precisa de ajuda?
— Se puder avisar o Dr. Almeida que precisarei de seus serviços imediatamente, lhe serei muito grato.
— Então irei imediatamente! Avise-me se precisar de alguma ajuda.
O rapaz assentiu. E, com um aceno de cabeça do bigodudo para o carinha sentado do lado de fora, a carruagem partiu apressadamente. Fiquei olhando até que sumisse de vista.
— Podemos ir, senhorita? — o rapaz me perguntou com a voz aflita.
— O que está acontecendo aqui? — exigi, desconfiada que ele mentisse sobre o desfile.
— Não tenho certeza se a compreendi. — e seu rosto pareceu sincero.
— Por que você fala desse jeito estranho, tá vestido com estas roupas e tem carruagens passando pela estrada?
— Senhorita... — disse preocupado. — Por favor, vamos até minha casa! Acho que pode ter tido uma lesão. A pancada que levou deve ter sido muito forte!
— Não vou pra sua casa, ficou doido? Eu sei lá o que você pretende fazer comigo? Você pode muito bem ser um psicopata que quer me fazer em pedacinhos e me guardar dentro do freezer pra comer aos poucos. Não sabe em que ano estamos? — estava desconfiada que ele fosse maluco, mas ele não parecia ser um psicopata.
Tinha alguma coisa diferente em seu rosto, o brilho em seus olhos negros me parecia familiar, seus traços bonitos e fortes o deixavam parecido com um deus da Grécia Antiga. E seu tamanho — tão grande e forte, mas não bombado me transmitia segurança. Mas, afinal, quantos psicopatas eu conhecia para poder comparar?
Nenhum. Pelo menos que eu soubesse.
— Estamos no ano de mil oitocentos e trinta e garanto-lhe que sou um homem de bem. Não tenho outra intenção que não seja ajudá-la! — ele respondeu, ofendido, à minha pergunta retórica.
Ele disse mil oitocentos e trinta?
Explodi num ataque de riso histérico, não pude controlar. O rapaz pareceu perturbado.
— Senhorita, vamos...
— Mil... Mil... Oitocentos e trinta! — eu não conseguia me conter. Respirei algumas vezes antes de poder falar. — Boa piada! Muito engraçada mesmo!
— Não lhe contei piada alguma!
— Então acha que eu tenho cara de idiota! —comecei a rir outra vez.
— É claro que não. Jamais ousaria ofendê-la, mas vejo que está muito transtornada — falou, o rosto sério. — Por isso, vou levá-la para minha casa. Então, suba logo, por favor! — e indicou a cela, obstinado.
— Mil oitocentos e trinta! — zombei.
— Não consigo entender o motivo que a diverte tanto— resmungou baixinho.
— Tá bom, maluco. Vamos até sua casa. Lá no século dezenove!
Aproximei-me do cavalo e parei. Nunca tinha subido em um antes. Parecia alto demais. O rapaz percebeu meu temor e gentilmente tocou minha cintura, colocando minha mão em seu ombro para apoio. De novo aquela sensação estranha de que já o conhecia me perturbou. Eu não tinha ideia de onde estava, mas ele, aparentemente sabia. Mesmo que fosse um maluco, ainda poderia me emprestar o telefone para chamar um táxi ou ligar para Marisa. Subi com muita dificuldade no cavalo, quase caindo do outro lado por culpa de um impulso mal calculado. O rapaz rapidamente se esticou e me pegou pelo braço, impedindo que eu me estatelasse.
— Segure-se. — ele disse enquanto subia, fazendo a cela se movimentar um pouco e eu oscilar.
Uma de suas mãos circulou minha cintura assim que ele se acomodou na cela. Fiquei incomodada com a proximidade.
— Você precisa mesmo me apertar tanto? — perguntei asperamente.
— Posso soltá-la, se estiver disposta a cair e bater sua cabeça novamente.
Olhei para o chão. Era alto demais. Segurei firme com as duas mãos o braço que me rodeava, apertando-o um pouco mais.
Ele riu baixinho.
— Não tente nem uma gracinha. — alertei. — Eu sei alguns golpes de Jiu-Jitsu. Quebro seu nariz em dois tempos!
— Estou, de fato, muito preocupado com sua cabeça, senhorita. — sua voz séria, sem vestígio de humor. — Não está dizendo palavras coerentes. Você precisa ver o Dr. Almeida.
— É. — concordei, pensando na carruagem e no sumiço repentino da cidade. — Acho que você tem razão. Preciso muito. Muito mesmo!
Isso não está acontecendo! Isso não está acontecendo! Repeti a frase para mim mesma na última meia hora, tentando desesperadamente me convencer de que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo. Tinha que ser um pesadelo! Que outra opção eu tinha? Demência? Era uma opção a ser considerada. Mas eu a deixei de lado rapidamente, já que todas as outras áreas de meu cérebro pareciam funcionar normalmente. Não me sentia embriagada. Não mesmo! O nó em meu estômago era prova de que eu já estive embriagada e agora estava na fase dois: a ressaca. Talvez a pancada na cabeça fosse a explicação. Talvez tivesse batido a cabeça com muita força e algum fio importante tivesse se soltado lá dentro e agora eu estava criando essas alucinações.
Mas parecia tudo tão real!
Como a cama imensa na qual me obrigaram a deitar ou o médico magricela que saiu do quarto enorme (de paredes verdes e altas) por uma porta dupla imensa há alguns minutos. Ou a mulher baixinha — os cabelos presos num coque bem feito, usando um vestido longo e bufante — que abriu a porta e ficou horrorizada quando me viu ao lado do rapaz. Ou os móveis antigos da sala gigantesca pela qual entrei, ou aquela casa imensa com aparência de museu, só que tudo era novo, sem desgaste do tempo. Ou as duas garotas de cabelos arrumados e roupas de princesa que me observaram assustadas. Claro que tinha uma explicação razoável para tudo isso escondida em algum lugar. Tinha que ter.
Virei-me de um lado para o outro no colchão gigante e espantosamente duro tentando encontrar uma explicação lógica e sensata, mas não conseguia pensar em nenhuma. Parecia que meu cérebro não era mais capaz de fazer ligações coerentes.
Humm. . .Talvez devesse reconsiderar a demência.
Uma batida sutil na porta me tirou do turbilhão de pensamentos.
— Hum... Entre? — o que mais eu poderia dizer?
O rapaz que me trouxe até ali entrou no quarto, o rosto sério.
Joseph
Joseph Clarke. Agora sabia o nome da minha primeira alucinação.
— Como está se sentindo, senhorita Demetria? — ele parecia desconfortável, ali em pé ao lado da cama.
— Estou bem. O médico só encontrou um galo na minha cabeça, o corte foi superficial. Nada de mais. — nada além de terem me dito que estávamos há dois séculos daquele em que eu vivia. Nada de mais. Tudo normal!
— Fico feliz em ouvir isso. — e pareceu sincero. Fiquei surpresa que um estranho se preocupasse comigo daquela forma. Fiquei olhando pra ele como uma idiota. Ele me lembrava os mocinhos dos meus romances.
Seria isso? Eu bati forte com a cabeça e estava fantasiando? Mas, se fosse isso, por que eu também não me parecia com uma das heroínas desses livros?
Joseph ficou um pouco constrangido. Também pudera eu o encarava como se ele fosse um fantasma ou uma assombração!
Depois de limpar a garganta e parecer não saber onde colocar os braços — acabou cruzando atrás das costas —, ele me perguntou com a voz instável:
— Gostaria de comer algo? Posso pedir para a senhora Madalena para trazer-lhe alguma coisa.
— Não, não. — apenas a menção da palavra comida fez meu estômago se revirar. — Eu tô legal.
— Legal? — me olhou intrigado. — A senhorita tem uma maneira muito peculiar de se expressar.
Eu não tinha, não!
— Acho que posso dizer o mesmo. Você fala tipo meu avô! — disse, um pouco ofendida.
— Tipo? Hum... É algo bom?
Ah, meu Deus!
— É como dizer que você fala como meu avô. — expliquei. Se eu realmente estava criando as alucinações, poderia ao menos criá-las de forma que compreendessem o que eu dizia.
Joseph ficou surpreso e depois constrangido.
Fala sério!
— Bem — ele pigarreou. — Fiquei muito perturbado com a forma com que a encontrei. — então éramos dois! — A senhorita foi vítima de algum saqueador?
— Saqueador? — perguntei debilmente.
Eu tinha que acordar daquele sonho maluco. E rápido.
Ou acabaria tão doida quanto todas as pessoas daquele hospício.
Joseph apenas me encarou.
— Você está falando sério? Isso tudo é um tipo de piada de mau gosto que alguém armou pra cima de mim? Por que, olha, não tem mais graça! — será que era algum tipo de pegadinha, daquelas da TV e eu estava pagando o maior mico?
Suas bochechas ficaram vermelhas outra vez.
Ah! Tem dó!
— Senhorita! Eu não sei se entendi exatamente suas palavras, mas... Eu não estou brincando. — sua voz continha toda a indignação que seu rosto demonstrava. — Quando a vi caída no chão com o rosto cheio de sangue e praticamente... — ele pigarreou — Nua, supus que...
— Nua? Gritei. Quem estava nua? — Você tá louco? Eu estou perfeitamente vestida
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Oi meninas,perdão a demora,mais voltei :),como hoje é terça,na quinta eu volto com mais um capitulo,ta meio louco,mais vcs entenderam ao desenrolar da hisotria. Boa semana a todas e COMENTEM POR FAVOR .
Beijos,Nath
Quee perfeito *--*
ResponderExcluir♡ ♥ ♥ ♥
ansiosa para saber mais...
posta logoo
Beijoss
Amo esse livro. Alias, já estou lendo a continuação dele: Encontrada. Haha boz ideia de fazer essa adaptação, adorei
ResponderExcluirAwn,esse livro é divo. Serio que vc tem ? tipo baixado ou comprado? kkkk.
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