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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Perdida #7

 — Senhorita! Eu não sei se entendi exatamente suas palavras, mas... Eu não estou brincando. — sua voz continha toda a indignação que seu rosto demonstrava. — Quando a vi caída no chão com o rosto cheio de sangue e praticamente... — ele pigarreou — Nua, supus que...
— Nua? Gritei. Quem estava nua? — Você tá louco? Eu estou perfeitamente vestida!

Fiquei realmente ofendida. Era por isso, então, que ele me olhava pelo canto dos olhos e depois ficava constrangido? Como se atrevia a pensar que eu estava nua? Esperei que ele pensasse que o tom escarlate em meu rosto fosse de raiva e não do meu súbito constrangimento.Ele recuou um passo e colocou as mãos nos bolsos da calça, parecendo tão envergonhado quanto eu acabara de ficar.

— Desculpe-me. Mas suas pernas estavam descobertas e...
— E por que minhas pernas estavam à mostra você pensou que eu estava nua? Fala sério! Eu tenho saias muito mais curtas que esta, que até é bem comportadinha!

A saia ficava no meio da minha coxa. Como é que eu podia estar pelada?

Mas... se ele fosse mesmo um rapaz do século dezenove, como afirmava ser — era uma suposição muito idiota, claro, mas se ele realmente fosse — talvez ficasse verdadeiramente escandalizado ao ver pernas de fora. O que é que eu estou pensando? Ele não podia ser um rapaz 1830. Simplesmente não era possível. Eu descobriria o que estava acontecendo ali.

— Percebo que ainda está um pouco incoerente. Vou pedir criada para que lhe traga uma xícara de chá.
Eu não disse nada. Apanas fiquei observando ele se curvar e sair do quarto, fechando a porta atrás de si.

Fechei os olhos outra vez.
Vamos! Eu preciso acordar! Tá tudo bem. Eu não estou maluca. É só um sonho. Vamos!
Abri meus olhos.

Tudo estava exatamente igual. Lá estava eu, naquele quarto estranho com cama de dossel e janelas imensas. Olhei em volta, procurando por minhas coisas. Eu tinha que sair dali e arrumar um jeito de acordar. Encontrei minha bolsa jogada numa poltrona — de madeira escura e forrada com um luxuoso tecido dourado — e notei uma coisa prateada refletindo dentro dela. Meu novo celular.
Pulei da cama, peguei o pequeno aparelho e o observei por um tempo. Alguma coisa lá no fundo me dizia que aquela confusão toda começou por causa dele. E então, como se confirmasse minhas suspeitas, ele vibrou e acendeu. Dei um pulo e quase o deixei cair, mas consegui pegá-lo antes que se espatifasse no chão. Ninguém tinha aquele número. Nem mesmo eu sabia qual era o número. Nem tive tempo para descobrir isso.
O celular continuou vibrando em minha mão. Com dedos trêmulos — não sabia bem o por quê, mas tinha a intuição de que aquilo não era nada bom —, apertei a tecla verde e lentamente o levei até a orelha.
— A-Alô? — gaguejei.
— Olá, Demetria. Como está se saindo?

Pisquei convulsivamente. Aquela voz suave e baixa...

— É você? É a mulher que me vendeu este celular? Olha, ele não funciona bem... — comecei e me detive. Lembrei-me de que tinha problemas mais urgentes naquele momento. — Há... Será que você poderia me ajudar? Estou meio... Perdida. — um riso nervoso escapou de meus lábios.

— Perdida? — sua voz não pareceu nada surpresa.
— É. Eu estou num lugar muito estranho onde... onde... — era difícil dizer em voz alta. Tomei fôlego. —
Onde algumas pessoas pensam ser o século dezenove. —- ri nervosa outra vez. — Dá pra acreditar?

Um curto silêncio.

— Claro que dá! — ela disse, satisfeita. — E você não está perdida. Está exatamente onde deveria estar.

Eu pisquei. Tentei falar, mas meu cérebro não obedeceu ao comando.

— Hein? — foi só o que consegui fazer sair.
— Você está onde deveria estar! — ela repetiu convicta.
— Estou? — minha voz muito baixa, mal era um sussurro.
— Sim, está sim, querida. Fico feliz que tenha começado sua jornada.
—Jornada? — repeti debilmente. Minha voz com algum volume agora. — Que jornada? Do que você esta falando? — será que o mundo tinha enlouquecido? Ou será que tinha sido apenas eu?
—Demetria, você precisa completar sua jornada, querida. Descobrir quem realmente é.
— Eu sei quem eu sou! Não preciso de coisa alguma. — o desespero começava a me invadir.
— Precisa sim. Só que ainda não sabe disso. — ela riu Suavemente.
— Olha só... — tentei persuadi-la. — Me ajude a sair daqui e depois a gente conversa sobre isso, hã?
— Mas eu já estou te ajudando, não vê isso? — sua voz um tom meio maternal.
— Ajudando? Como?
— Você sempre foi muito cética, não é? Nunca acreditou em magia. Nem mesmo em conto de fadas ou Papai Noel. Sempre prática! Está na hora de começar a crer que existem mais coisas no universo além das que os seus olhos podem ver e finalmente começar a viver sua vida! Você sempre a deixou para depois, esperando que ela acontecesse, mas nunca fazendo nenhum movimento para isso.

Senti meu corpo se transformar em pedra. Ela tinha falado com a Marisa?

— Não. Não falei com a Marisa. — ela respondeu, parecendo adivinhar o que eu pensava. — Não preciso falar com ninguém para saber. Conheço cada segredo de sua alma. Por isso, precisei intervir.
Eu não tinha reação. Senti meu cérebro virar mingau. Nem um único pensamento coerente.
— Intervir? C-como? — não sei como ela conseguiu me ouvir, por que me pareceu que as palavras não tinham som algum.
— Intervir, Demetria. Você não voltará até que encontre o que procura. Terá que completar sua jornada. Mas terá que ficar aí até que a complete. Você não está sozinha, acredite! — sua voz ficou triste.
— Não pode estar falando sério? —comecei a tremer.
— Estou falando muito sério. Você voltará de uma forma ou de outra, mas primeiro terá que encontrar o que procura.
— Mas encontrar o que? Eu não tenho ideia do que você está falando!
— Isso — ela disse com delicadeza. — você terá que descobrir sozinha. Vamos, Demi! Você sempre foi a mais competente! Saberá o que fazer.
— Mas...
— Eu sei querida. — disse, maternalmente, outra vez. — Também queria que existisse uma outra forma! Mas tudo ficará bem, você verá! E antes que eu me esqueça, não vai adiantar tentar usar o telefone. Não vai funcionar. Ele servirá apenas para que eu possa orientá-la. Não o perca, por favor.
O celular! O clarão, as coisas desaparecidas, as pessoas estranhas, este lugar, tudo isso foi...
— Sim. Tudo causado pelo celular. — ela completou.

Eu ainda não conseguia me mover. Era demais pra mim!

— Quem é você? O que quer de mim? Por que está fazendo isso?
— Eu sou sua amiga, querida. E já disse que só quero te ajudar. É minha obrigação te ajudar! Agora, comece logo a se misturar. Pare de reclamar e comece sua busca. Quanto mais rápido começar, mais rápido poderei trazê-la de volta. E, por favor, evite confusão e não saia por aí dizendo que veio do futuro. Ninguém vai acreditar em você! — um curto silêncio.
— Eu farei contato em breve.
— Espere! — gritei, mas ela já tinha desligado.

Toc-toc!

Observei a porta com o telefone ainda pressionado em minha orelha.
Não podia ser real! Aquilo não podia estar acontecendo! Quem era aquela criatura? O que eu fiz pra merecer isso? Por que eu? Que jornada era essa? E o que eu tinha que encontrar pra ela? O que eu iria fazer agora? Eu estava mesmo em 1830? Mas era loucura! Como era possível que eu tivesse viajado no tempo? Não era possível!
As perguntas giravam em minha cabeça, me deixando tonta.

Toc toc!

— Senhorita? — perguntou uma voz masculina.
Guardei o telefone na bolsa e me virei para a porta. Eu tinha a intenção de ir até ela e abri-la, mas minhas pernas não obedeceram.
— E-Entre — esforcei-me para que minha voz saísse com um pouco mais de volume.
Joseph entrou. Tinha nas mãos uma bandeja com alguma coisa fumegante.
— Perdoe-me, senhorita Demetria. — disse, assim que pisou no quarto. — Eu mesmo trouxe seu chá. Pensei que já estivesse assustada o bastante para que outro desconhecido o trouxesse. Sente-se um pouco melhor?
— Chá? — indaguei ainda zonza. — Não tem nada mais forte? Algo com bastante álcool, de preferência? — ou talvez éter ou cianureto. Meu cérebro já parecia estar derretido mesmo!

Suas sobrancelhas escuras se arquearam.

— Forte? Um vinho talvez?
Vinho?
Suspirei. Era melhor que chá!
— Vinho tá bom. — Tanto quanto formicida.
— Esse vinho é muito bom. Vai se sentir melhor rapidamente.
Duvido muito!
Ele deixou a bandeja numa mesinha. Pegou uma garrafa toda trabalhada de cristal e serviu o vinho numa taça, aproximou-se lentamente de onde eu estava — ainda grudada no assoalho de madeira como uma árvore — e parou a um passo. Esticou o braço, me oferecendo o vinho.
Fiquei feliz ao notar que meu corpo começava a responder aos comandos de meu cérebro. Peguei a taça, um pouco hesitante, as mãos ainda tremendo, e virei tudo em um só gole.
Ele me observava atentamente. Alguma coisa em seus olhos — negros como uma noite sem lua me deixava inquieta.
— Melhor? — perguntou suavemente.
— Sim — respondi quase num sussurro.
Não era inteiramente mentira. Nada faria com que eu me sentisse bem estando ali, mas o calor do vinho correndo nas veias afugentou o frio e um pouco do tremor.
— Ótimo. — ele soriu um pouco. — E agora...
Ah! claro. Ele queria saber o que havia acontecido comigo e, com certeza, que eu desse o fora de sua casa o mais rápido possível.
— Eu... estou... perdida. — o que mais eu podia dizer? Escuta só cara, eu acordei hoje de manhã no ano de 2014 e, depois que tropecei numa pedra e meu celular criou uma coisa tipo uma Surpernova, eu vim parar, sabe-se Deus como, no século dezenove. Que doideira! — Eu vim de... outro lugar. Não sei bem como aconteceu, mas quando dei por mim, já estava aqui. E não sei como voltar. — era toda a verdade que dava pra contar a ele.

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Hey gente,boa noite,desculpas a demora,enfim postei,mais os comentarios,ta tão baixo que desanima,mais enfim,bom FDS,divirtam-se,leiam e deixem suas opiniões ta?! Um grande beijo no coração de todas. Nath :*
#COISAS BOAS E LOUCAS ESTÃO POR APARECEEER.

3 comentários:

  1. Que perfeito... Que celular esse da Demi em kkkk...ansiosa aqui para saber mais.
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    Beijos 😘😘😘

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  2. Sou nova aqui,estou amando a sua fic ,posta logo <3

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