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domingo, 26 de outubro de 2014

Perdida #12

Coragem, Demetria. Você já enfrentou coisas piores! eu disse a mim mesma, parada em frente à casinha, me lembrando do banheiro químico que usei no último show de rock e, em vão, tentei me convencer de que a casinha não era tão ruim assim. Ela era um centro cirúrgico esterilizado comparada aos banheiros químicos. E eu não podia esperar mais, já estava no limite.Juntei coragem e fechei a porta, amaldiçoando aquela vendedora macumbeira,por não me mandar para algum lugar que pelo menos tivesse banheiros decentes. Porque ela tinha que ser uma bruxa, já que podia fazer uma garota ir para o século passado. 

Dois séculos passados, na verdade. 

Quando eu conseguisse voltar pra casa, precisaria de muita vodca pra me esquecer daquilo, pensei. E, sem dúvida alguma, jamais comeria alface outra vez na vida! Ainda era cedo, talvez umas sete da manhã, mas a 
casa toda já estava de pé. Fui para a cozinha procurar por Joe novamente, ele tinha que comer, não tinha? 

Eu precisaria da ajuda dele. Mais uma vez. 

Encontrei Madalena com a barriga colada ao fogão de lenha, terminando de passar o café num coador de pano que se parecia muito com uma meia suja e encardida.  

— Bom dia, senhorita. Gostaria de se juntar ao Senhor Clarke e à senhorita Elisa? Estou indo levar o café. — ela mexia com uma colher o líquido preto dentro da meia. 
— Bom dia, Madalena. Eu estava mesmo procurando por ele, mas posso ajudá-la, se quiser. Quer que eu leve alguma coisa? — ofereci, querendo ser prestativa. 

Ela pareceu ofendida com minha oferta. 

— De forma alguma, senhorita. Isso não é trabalho para uma convidada do Senhor Clarke. Meu Deus! A senhorita nem deveria estar aqui na cozinha! 

Realmente ofendida! 

— Tá bem. Entendi. Ninguém mexe na cozinha da Madalena. — brinquei, tentando acalmá-la. 

Ela corou e ficou meio abobalhada. 

— Não, senhorita. Não é isso. Mas os trabalhos da cozinha são tarefas dos criados. E a senhorita não é uma criada. — ela piscava rapidamente, seu rosto escarlate. 
— Ah! Tudo bem, Madalena. Eu só estava brincando. Não se preocupe. Eu não sei nem fritar um ovo! — eu sobrevivia graças aos congelados e meu microondas. — Eu vou até a sala então. 

Fui até uma grande bacia — parecida com um ofurô de madeira, só que um pouco menor — e lavei minhas mãos. Passei a mão úmida no mesmo vestido que tinha usado no dia anterior pra alisar uns amassados, depois deslizei os dedos pelos cabelos e fui pra sala. Não que eu quisesse impressionar alguém, mas sabia que Teodora estaria pronta para me analisar. E ela não perderia a oportunidade de me irritar. 

— Bom dia. — saudei assim que entrei na sala. 
— Bom dia, senhorita Demetria. — disse Joe, se levantando e fazendo uma reverência. — Como está hoje? 
— Bem, obrigada. — olhei em volta e não encontrei as duas garotas. — Onde está sua irmã? Pensei que todos estivessem acordados. 
—Ela e a senhorita Teodora acabaram de sair. O Senhor e a Senhora Moura vieram buscá-las para a missa. — ele sorriu. — Hoje é domingo. 
Ah! — até no meu tempo domingo era dia de ir à Igreja. Isso não mudou com o passar dos anos. 
— E você, não vai à igreja? — perguntei, imaginando se ele era pagão ou coisa assim. Se bem que não conhecia muitos homens que fossem à igreja sem serem arrastados por suas mulheres, namoradas, mães, casos ou coisa do tipo. 
— É claro que vou, mas como a senhorita ainda estava dormindo, pensei que seria melhor ficar em casa hoje, para o caso de precisar de alguma coisa. — ele me fitou e um sorriso meio irônico apareceu em seus lábios. — Creio que ajudar os necessitados será mais bem visto perante os olhos de Deus do que ficar sentado em um banco por quase toda a manhã. 
— Oh! Valeu. — eu disse, enquanto arrastava a cadeira para me sentar. No entanto, antes que eu pudesse fazê-lo, Joe saiu rapidamente de seu assento para empurrar a minha cadeira. 
— Obrigada. — falei meio sem jeito. Nunca ninguém tinha empurrado minha cadeira antes. Não de forma tão cortês e sem esperar pela gorjeta. 

Madalena entrou na sala com uma grande bandeja nas mãos, a colocou sobre a mesa e saiu sem dizer nada. A bandeja estava abarrotada: café, ovos cozidos, um bolo e algumas frutas. Pareceu ótimo pra mim. 
— Mas foi bom você ter ficado. — eu disse, começando a me servir. — Preciso mesma da sua ajuda. Outra vez. 

Joe me observou 

— Eu estava imaginando se... por acaso, você não encontrou mais alguém como eu? — peguei um pedaço 
do bolo. Estava muito bom! 

Suas sobrancelhas arquearam. 

— Alguém como a senhorita? — repetiu confuso. — Não. Como eu disse ontem, nunca em toda minha vida encontrei alguém como você. 
— Talvez saiba de alguém que encontrou, então? Deve ter uma cidade aqui perto. Talvez alguém que tenha os mesmos.., modos que eu. — tentei ser mais clara. 

Ele sacudiu a cabeça antes que eu terminasse

— Há uma vila há alguns quilômetros daqui, mas não vi ou ouvi nada sobre alguém... diferente como a senhorita. 
— Deeeemi! — corrigi. — Mas você esteve lá ultimamente? Pensei ter ouvido que você esteve fora nos últimos dias. 
— Como já sabe, retornei apenas ontem. Não tive oportunidade de ir até a vila. — explicou delicadamente, então franziu cenho. — Mas por que pensa que alguém como a senhorita possa estar lá? Talvez eu tenha entendido mal, mas pensei que estivesse sozinha aqui. — seus olhos intensos observavam os meus. 
— E estou! — me apressei em dizer, sentindo uma sensação estranha enquanto seus olhos prendiam os meus. — Veja só, Joe, eu vim pra cá sozinha. Mas encontrei uma... Olha, uma mulher me mandou aqui. — tentei de novo. — Sem meu consentimento e essa pessoa disse algumas coisas... Pensei muito sobre o que ela me disse e acho que acabei encontrado uma pista. 

Ele me olhava de forma estranha. Pasmo ou incrédulo, sei lá. 

—Alguém a sequestrou? Precisamos alertar os guardas... 
— Não, não. — polícia envolvida nisso seria péssimo! —Não tipo sequestrar de verdade. É mais tipo um... exílio. Não precisa chamar a polícia. Eu nem sei o nome da pessoa que fez isso! 

Ele se recostou na cadeira. Seus olhos ainda nos meus. O pobre coitado tentava entender, eu podia ver isso, mas claramente não compreendia o que havia acontecido comigo. 

— Acho que não estou aqui sozinha. — comecei. Não queria que ele pensasse que eu fosse doida e, se ele continuasse a pensar muito no assunto, com certeza chegaria a essa óbvia conclusão. — Acho que mais alguém também foi vítima daquela... mulher. Então, se essa pessoa estiver aqui também, talvez juntas possamos descobrir um modo de voltar pra casa, entendeu? 
Pela cara dele, não tinha entendido. Não o culpei. Se eu, que sabia da história toda, não entendia completamente, imagina ele, dois séculos atrasado, poderia compreender apenas uma pequena parte da história? 

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Hey gente,como prometido um capitulo . UHUUUL,ele ta pequeno,porque eu tive que sair pra votar e pá e depois tive que fazer outras coisas,sem contar numa dor de cabela muito grande que to sentindo,então me desculpem,amanha ou terça eu posto um cap fresquinho,beijocas da Nath

3 comentários:

  1. Ela vai contar pra ele?
    adorei o cap

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  2. Que perfeito 😍😍😍❤️❤️❤️
    Tomara que a Demi acha alguém...
    Ansiosa para saber mais
    Beijos e posta logooo u.u

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